Every Rose Has Its Thorn escrita por apataeavaca


Capítulo 12
Heartbreak Hotel


Notas iniciais do capítulo

AEAE, demorou mas chegou, prontinho pra vocês *-*



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“And although it's always crowded, you still can find some room.”


08 de março de 2003 – Algum lugar nos arredores de Louveira.
Willian P.O.V

- EU-NÃO-ACREDITO! – gritou Maely enrolando o cabelo encharcado.

- Desencana, já chegamos – falei, apontando para um prediozinho no fim da estradinha de chão com uma plaquinha pendurada em cima da porta que dizia “Pousada da Trude”.

- Fantástico – exclamou ela de volta com sarcasmo, correndo na frente para fugir da chuva.

- Pra que correr? Já está toda encharcada mesmo…

Quando cheguei na “pousada”, Maely estava socando freneticamente um sininho em cima de um balcão de madeira.

- JÁ VAI! – gritou alguém de uma porta atrás do balcão. Um momento depois, apareceu uma velhinha com um vestido florido e uma touca de banho – Pois não?

- SEGUINTE! – berrou Maely, apontando o dedo pra velhinha, como se ela fosse a culpada pela chuva. Antes que ela dissesse qualquer outra coisa que arruinasse nossas chances de poder ficar ali, me coloquei na frente dela para falar com a velhinha.

- Então, dona…

- Trude – disse a velhinha tirando o sininho das vistas da Maely.

- Certo, Trude. Nós perdemos nossa carona para casa e, como vê, começou a chover…

- De montão! – interrompeu Maely. Ignorei.

- …, então será que tem algum quarto vago?

- Até tem – disse a velhinha.

- Beleza, eu quero um quarto de solteiro que, por favor, tenha uma banheira e…

- Não – interrompeu a velhinha virando-se para Maely – não tem nenhum quarto de solteiro. Só tem um quarto vago, e é de casal.

- Ótimo, pode ser – falei, querendo estrangular a Maely. O que ela estava pensando, que pagaríamos dois quartos por dez reais cada um?

- O valor do quarto, por uma noite, é trinta reais – disse a velhinha, pegando uma chave num quadro com números atrás dela. Fudeu, vamos ter que dar uma voadora na velha e roubar a chave – Mas a última pessoa que esteve aqui deixou esse quarto um pouco, digamos, “bagunçado”, então eu faço para os dois por vinte reais.

- O que você quer dizer por “bagunçado”? – perguntou Maely imitando a velhinha e fazendo aspas com as mãos.

- Não importa – falei, antes que a Maely ou a velhinha desistissem do acordo.

A velhinha nos deu a chave e nos acompanhou escada a cima até uma porta de mogno azul celeste, depois nos deixou lá, no escuro.

- Vai ver que eu to meio por fora desse negócio de energia elétrica, mas é impressão minha ou essa luz realmente não acende? – disse Maely clicando o interruptor sem parar.

- Sai pra lá, deixa eu ver isso – falei, empurrando ela par o lado e testando o interruptor eu mesmo – É, ta quebrado.

- Eu DISSE que estava quebrado – gritou Maely, com a voz ficando mais longe. Ouvi um barulho de água – Aqui tem um banheiro e o chuveiro ta funcionando. Aaah, água quente!

- Certo, então vem pra cá pra eu poder tomar banho e…

- NEM PENSAR! – berrou ela batendo a porta que, por sinal, eu nem mesmo tinha encontrado ainda. Ouvi a porta abrindo outra vez. – Will?

Só tive tempo de escutar meu nome e sentir Maely me estapeando.

- Ei!

- Ah, você ta aqui – concluiu ela, apoiando as mãos nos meus ombros – Que roupa eu ponho depois?

- A minha que não – respondi, tateando para tentar achar a porta. Ouvi Maely abrir um zíper e depois o barulho de coisas caindo em alguma coisa macia.

- Ah, achei você! – disse Maely com um brilho na mão que quase me cegou no escuro. Era um dos celulares – Ué, quem pode ter colocado o celular na minha bolsa e… Suzannah. – concluiu sozinha. É sério, eu tenho medo – Eu vou matá-la! Como ela coloca o celular na minha bolsa e NÃO ME DIZ?! Eu podia ter usado pra ligar pra eles e não ficar dois anos procurando!

O celular começou a emitir um ruído estranho que logo percebi que era o toque de uma melodia. Maely colocou o treco na orelha.

- Alô! – disse ela quando um barulho alto saiu do aparelho. Era música e, cara, não acredito que era Macho Man.

- MAELY? – gritou a voz da Suzannah saindo do aparelho celular.

- SUZANNAH! – gritou Maely de volta, aparentemente para igualar o tom de voz – EU VOU MATAR VOCÊ!

- POR QUE? NÃO ME MATE! OLHA SÓ, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR! A GENTE FOI PRO PONTO DO ÔNIBUS PRA VER SE VOCÊS JÁ ESTAVAM LÁ, PORQUE AFINAL VOCÊS DOIS TINHA SUMIDO! O WILL TÁ COM VOCÊ? ENFIM, DAÍ O MOTORISTA NÃO QUERIA ESPERAR VOCÊS, ENTÃO A GABRIELLE COMEÇOU A DISCUTIR COM O CARINHA QUANDO, ADIVINHA, O PAULO APARECEU! ELE TEM UMA VAN IGUAL A DO SCOOBY DOO, MANO! ENTÃO A GENTE SUBIU NA VAN E ELE LEVOU A GENTE PRA CASA DO JORGE, SABE, O JORGE É O FICANTE DELE, SABIA?! É UM DISPERDÍCIO, EU SEI, MAS ELES ESTÃO FICANDO! ENTÃO AGORA A GENTE TÁ AQUI NA CASA DELE, NUMA CIDADE PERTO DO HOPI HARI CHAMADA LOUVEIRA, JÁ OUVIU FALAR! É PEQUENININHA, PEQUENININHA! - Olha quem fala, pensei. – ONDE VOCÊS ESTÃO?

- TAMO NA POUSADA DA TRUDE, FICA PERTO DESSA CIDADE AI – gritou Maely colocando o telefone perto do ouvido outra vez, porque tirara quando Suzannah começara a tagarelar sobre o que tinha acontecido.

- AH BELEZA, ENTÃO A GENTA VAI PASSAR AI PRA PEGAR VOCÊS E… ESPERA, TÁ CHOVENDO, ENTÃO AMANHÃ A GENTE PASSA AI E… GABRIEEEEEEL, COMO OUSA JOGAR ESSE TRAVESSEIRO EM MIM? EU VOU TE MATAR!

E desligou.

- Ah, ótimo – reclamou Maely colocando um dedo no ouvido e girando, provavelmente tentando voltar com a audição normal, e remexendo na bolsa à luz fraca do celular – desliga na minha cara! Vou achatar aquela tampinha! Agora nós estamos nessa cidadezinha findomundolandia, encharcados até os ossos e... ACHEI!

Foi uma coisa mística. Num momento Maely estava com um rolinho de alguma coisa não identificável nas mãos e, no segundo seguinte, ela chacoalhou o treco e ele se desdobrou. Cara, era um vestido. Como as garotas conseguem fazer essas coisas?

- HÁ! – gritou ela e eu só pude senti-la passando por mim, já que não estava enxergando nada novamente – Agora eu vou tomar um banho e vestir roupas SEQUINHAS!

Dito isso, ela bateu a porta do banheiro mais uma vez. Aproveitei o momento sozinho pra tirar a calça de couro e a camiseta e jogar em um canto aleatório, já que não estava vendo absolutamente nada. Tateei pelo quarto até achar a cama e percebi que havia uma veneziana de madeira. Abri e AH, luz! Não que ajudasse muito, afinal de contas, era só uma luzinha fraca de uma lâmpada pendurada para iluminar a fachada da pousada.

Fiquei lá por um tempo, apenas esperando e olhando para o pouco que eu podia ver do nada (?).

- É isso ai – disse Maely abrindo a porta e se assustando com a luminosidade repentina. Pulei na cama, que por sinal era minúscula e olhei para ela, que tropeçou na minha roupa. Ah, foi ali que ela foi parar. – Mas que diabos…? AHÁ, eu sempre soube que esses shortinhos eram cuecas!

Ela apontou para o meu “shorts” vermelho.

- Não são cuecas, são shorts! – falei, cruzando os braços.

- Meu Deus, não vai me dizer que você fez a proeza de conseguir colocar algo por baixo disso ai?! É indecentemente impossível!

- Olha quem fala. Você por um acaso não roubou esse vestido ai da Suzannah, roubou?! – falei, analisando o “vestido” que mal cobria o que devia.

- Para de me encarar, vai tomar banho! – respondeu ela, abaixando a barra do vestido o máximo possível e dando a volta na cama.

Fiz o que ela mandara, quase tropeçando eu mesmo nas minhas roupas e entrei no minúsculo banheiro. Fechei a porta e, bem, depois disso não vi mais nada.

- É simplesmente impossível – estava dizendo Maely quando abri a porta depois do banho. Medo de pessoas que falam sozinhas – Não tem como nós dois dormirmos nessa caminha!

- Fácil, eu durmo na cama e você dorme no tapete – falei com um sorriso, pulando para cima da cama.

- O que? Nem pensar! – gritou ela me puxando pelos pés e me derrubando da cama.

- Ai, isso dói – respondi, ficando de pé e a encarando – Eu NÃO VOU dormir no tapete.

- E eu muito menos – disse ela com a cara emburrada.

- Se você prometer não roncar, eu divido a cama com você.

- Que história é essa? Eu NÃO ronco! Era EU quem devia estar dizendo isso!

Ignorei e pulei de volta na cama. Ela me empurrou para o lado e se sentou.

- Certo, vamos estabelecer os limites – disse Maely – Esse é o SEU lado da cama e esse aqui é o meu.

Ela deu um sorrisinho. Isso porque a minha parte da cama mal caberia a Suzannah. É, era pequena assim, mesmo.

Depois de um tempo, acabamos nos acomodando de algum modo. Estou certo de que a minha parte da cama ainda era ligeiramente menor que a da Maely, mas resolvi ser cavalheiro só um pouquinho, pra variar.

- Estou totalmente nervosa com a última fase do campeonato de bandas – disse Maely de repente se virando para o lado. – quero dizer, aquela outra banda, Hellcats ou seja lá o que for, aquela só de garotas, ela é realmente muito boa.

- É, é boa mesmo – respondi olhando para o teto – Mas a gente é melhor – acrescentei me virando de frente para Maely.

- E se nós ganhássemos? – perguntou Maely, agora virando-se para olhar para o teto.

- Então nós precisaríamos escrever novas músicas – respondi, voltando a olhar para o teto também.

- Mas não é como se fosse muito fácil sair por ai e simplesmente escrever uma música. Pelo menos não uma que valha a pena.

- Eu só acho que… pra escrever um música, é só ver o que você está sentindo agora e fazer o máximo para torná-la boa de verdade. – falei, voltando a me virar para Maely. – O que você está sentindo agora?

- Fome – respondeu ela sem parar para pensar. Ri, mas era bem uma verdade. – A Gabrielle está nos devendo uma por ser tão mão de vaca e nos dar só dez reais cada um. Porque não é como se nós estivéssemos pobres nem nada.

- Certo, vamos escrever uma música sobre comida – disse de brincadeira.

- Tá falando sério? – perguntou ela assustada. – Porque, sabe, falar sobre comida vai dar mais fome ainda e…

- Maely? – chamei para que ela se virasse para mim e parasse de tagarelar sozinha.

- Sim?

- Você até que é bem legal, sabia?! Quer dizer, quando não está tentando me socar ou me xingando pelo fato de que meu cabelo é melhor que o seu.

Ela deu um soquinho no meu braço e riu.

- Sinceramente, é uma sacanagem divina homens terem cabelo liso. – disse ela, virando-se para o outro lado. – Boa noite, Will.

- Boa noite – respondi e virei para o lado oposto.

Depois de ficar um tempo pensando em nada, acabei dormindo, mas fui BRUTALMENTE acordado com uma perna na minha barriga. Sentei-me assustado e olhei para o lado. Maely estava esparramada na maior parte da cama e, como se não bastasse o espaço que estava ocupando, resolveu usar minha barriga também para se esticar.

Tentei colocar a perna dela para o lado para poder respirar direito sem o peso extra, mas a coisinha fala sozinha enquanto dorme.

- Hm, eu prometo que pago a conta amanhã – disse ela com a voz embargada de sono, esticando os braços e me dando um tapa inconsciente na cara.

- Isso dói – sussurrei, colocando o travesseiro entre nós para evitar outro destes. Algo me dizia que dormir naquela noite estava, bem, simplesmente fora de questão.

- ACOOORDA, ACORDA, ACORDAAA!

E, sim, foi isso que me acordou no outro dia. Na verdade, não isso especificamente, foi mais o fato de que a cama começou a balançar de repente. Abri os olhos assustado e eis que me deparo com a Suzannah pulando na cama e gritando a todo pulmão.

- WILL! – berrou ela, pulando para cima da minha barriga e se inclinando para puxar minhas pálpebras – ABRE OS OLHOS DIREITO!

Não consegui responder, só fiquei lá durante um tempão engasgando com o ar – que não tinha.

- Ae, cambada! – gritou Gabrielle entrando no quarto.

- Waah – bocejou Maely se esticando. A questão é que, lá estava eu, com os olhos sendo forçadamente abertos por uma coisinha vermelhinha que estava sentada na minha barriga e, para ficar melhor, é claro, Maely me cumprimentou com outra mão na cara (onde foi parar o travesseiro estrategicamente colocado entre nós na noite anterior?!).

- Maely! – gritou Suzannah, sem largar meus olhos. – Dormiu bem?

- Foi uma noite ótima! – respondeu Maely. Ah, fala sério, noite ótima só pra ela!

- Suzannah, eu sei que meus olhos são lindos, mas será que dava pra me soltar? – pedi com um restinho de fôlego vindo das profundezas do meu pulmão.

- Ah, você abriu os olhos! – disse ela, pulando para o lado e finalmente me largando.

- Qual é a da demora? – falou Gabriel aparecendo na porta. – Ah, Will! Bom dia pra você e seu shorts é totalmente indecente, você sabe disso.

- O que é indecente? – perguntou J.C chegando ao lado dele.

- Com certeza são os shorts do Will – respondeu Matheus vindo atrás dele.

- Onde estão os shorts do Will? – gritou Paulo entrando no quarto correndo como desvairado… desvairada. Ah, sei lá.

Pulei pra fora da cama – isso pra não dizer que caí de cara no tapete. Preciso achar minhas calças… e minha camisa. Não que vá mudar muita coisa, mas beleza.

- Paulo, deixe-me lembrar que você tem namorado – comentou Gabrielle.

- O termo correto é “ficante” ou “rolo” – retrucou Paulo se encostando no batente da porta.

Sentado no tapete – inteligentemente escondido pela cama, porque afinal, cair no tapete foi uma manobra estratégica totalmente proposital -, estava pensando em como faria para chegar até minhas calças… bem, na verdade, como faria pra vestir a calça!

- Will, o que você está fazendo ai? – perguntou Suzannah me encarando de cima da cama com as mãos na cintura como se eu fosse uma formiguinha. Fala sério.

- WILL! – gritou Maely chamando minha atenção – Eu tropecei outra vez nessas roupas e… elas ainda estão molhadas.

Ah, meu Deus!

Fiquei de pé e corri para trás da Gabrielle, tentando me esconder o máximo possível e puxando Gabrielle comigo para perto das minhas roupas, afinal, ela estava me servindo de escudo.

- O que você está fazendo? – perguntou ela andando de lado comigo até a porta do banheiro.

Não respondi, apenas peguei minhas roupas, corri pra dentro do banheiro e fechei todos para fora.

- Qual é a do momento ninja do Will? – ouvi Suzannah dizer do outro lado da porta enquanto tentava freneticamente entrar na calça de couro molhada.

Fala sério, porque a minha roupa não podia ter secado como uma roupa normal?! Talvez seja pelo fato de que eu apenas joguei-a em um canto, mas isso não importa. O problema maior era que por causa disso, eu simplesmente não conseguia colocar a calça e algo me dizia que a viajem até em casa seria longa.

- Will? Você se afogou na privada? – perguntou Gabriel batendo na porta do banheiro. Eu não poderia mais adiar.

Abri a porta e saí, tentando puxar a camiseta para baixo o máximo possível, mas era quase como se eu estivesse vestindo um dos vestidos da Suzannah.

- Você sabe que isso parece uma camisola, certo?! – disse Gabriel se referindo a blusa.

- Haha, Gabriel, sempre muito sincero! – falei rindo sem humor.

- Mas ele ta certo – comentou J.C.

- Sem piadas – respondi.

- Eu… Eu… - gaguejou Paulo – Nós, eu, err… Vamos embora.

Desta vez, me escondi atrás do J.C e HÁ, agora sim! Isso é que é escudo de verdade! – agradeci mentalmente por não ter dito isso alto, porque Gabrielle me esfolaria.

Segui o fluxo até a saída da pousada, sem me preocupar em dizer tchau pra Trude e esperando sinceramente que alguém tivesse pagado a conta.

Na verdade, não.

Paramos em frente a uma van e, cara, realmente era uma réplica perfeita da Máquina de Mistérios, o que foi bem estranho. Paulo foi dirigindo e Suzannah e Gabriel pularam para o seu lado antes que alguém pudesse sequer cogitar a idéia de ir na frente, de modo que o resto de nós teve que se espremer na parte de trás.

Já estávamos na estrada havia uma meia hora quando um barulho alto fez com que todos olhassem diretamente para mim. Demorei um segundo pra perceber que era meu próprio estômago, então entrei na defensiva.

- Que é, eu to com fome! – reclamei. Outro barulho se fez ouvir, mais alto ainda e todo mundo me olhou espantado – Espera, esse não foi o meu estômago. Quero dizer, eu sou humano e não um urso há cinco dias sem comer.

- EI! – gritou Maely – Qual é, eu to com mais fome que você!

Ignorei o comentário, porque afinal de contas estávamos sem comer durante o mesmo tempo. Isso se excluirmos - e eu excluí - o Jack Daniels na hora da roda gigante.

Nessa hora Gabriel ficou de joelhos no banco da frente e se virou para nós, encheu o pulmão de ar e fez uma cara bizarra.

- Tomo guaraná – cantou ele numa voz estranha –, suco de caju, GOIBADA PARA A SOBREMESA! Ah, é! Tomo guaraná, suco de caju, goiabada para a sobremesa! Tomo guaraná…

- Err, qual é a de você imitando o Tim Maia? – interrompeu Suzannah.

- Ah, é pra sacanear – respondeu Gabriel no momento em que meu estômago roncava mais uma vez.

- Beleza, vamos falar de comida – concordou ela, virando-se para o Paulo e começando a cutuca-lo sem parar – PAULO, ensina a gente a fazer o “Strogonofe Super Secreto do Paulo”?

- Se é super secreto, eu não deveria…

- Ah, e que tal aquela macarronada de outro dia? – perguntou Gabriel todo sorrisos.

- Que macarronada? – perguntei. Porque, partindo do princípio de que era eu quem cozinhava naquela casa, eu realmente não me lembrava de ter feito macarronada nenhuma.

- Ah, aquela que o Paulo fez e que você não comeu.

- Porque estava babando no MEU sofá – reclamou J.C todo encolhido de um jeito estranho entre Gabrielle e Maely.

- Ou então, ou então… PASTEL! É isso ai, pastel, eu adoro pastel, principalmente quando…

Mas nunca ficamos sabendo de que tipo de pastel Gabriel gostava, porque algo voou em sua direção quando ele estava falando. Um momento depois ele virou para trás outra vez com cara de poucos amigos e uma bota preta nas mãos.

- QUEM FOI A CRIATURA DESPREZIVEL QUE OUSOU JOGAR ESSA, ESSA… MONSTRUOSIDADE NA MINHA PESSOA? – berrou ele balançando a bota feminina.

- Fui eu – disse Maely ficando de pé com uma bota em um dos pés e o outro só de meia – Por que? ALGUM PROBLEMA?

- Ah, nada, nadinha, nada não! – respondeu Gabriel abrindo um sorrisinho amarelo, o que é perfeitamente compreensível; acredite, deu medo, deu mesmo – Toma aqui sua, hm, bota. Apropósito, eu já disse que ela é lindona? Ta arrasando, vai por mim.

Literalmente; isto é, arrasando os dentes de algumas pessoas.

- Beleza, cambada, pulando pra fora – disse Paulo ao parar na esquina da “nossa casa”.

- GABRIELLE! – berrou Maely assim que pusemos os pés dentro de casa. Gabrielle, que estivera brizando até pouco tempo, deu um pulo e se escondeu atrás do Gabriel. – VOCÊ ESTÁ NOS DEVENDO UMA REFEIÇÃO DECENTE! E EU QUERO UMA PIZZA, UMA INTEIRINHA, SÓ PRA MIM!

Coloquei as mãos nos ouvidos para tentar salvar qualquer coisa na minha audição.

- WILL! – berrou ela, virando-se para mim. Contive um impulso de me esconder atrás do Gabriel também – VOCÊ TAMBÉM VAI QUERER PIZZA?

- Eu acho que…

- É ISSO AI, SÃO DUAS PIZZAS! UMA SÓ PRA MIM E OUTRA SÓ PRA ELE! ENTENDEU?

- POR QUE VOCÊ ESTÁ GRITANDO? – perguntou Gabrielle, sem ousar sair de trás do Gabriel, que sinceramente estava petrificado ou algo assim. Ou talvez fosse a cara de bocó habitual dele, não sei dizer.

- É porque eu to com fome! – respondeu Maely com voz de choro – Will, me abraça, eu to com foome!

Ela me abraçou – digo, me esmagou – e ficou lá resmungando com voz de choro. Tentei fazer alguma coisa para acalmá-la, mas eu estava sinceramente morrendo de medo dela.

Gabrielle se endireitou e saiu de trás do Gabriel – que saiu do estado de transe quando Maely “se acalmou” – e olhou para o Paulo.

- Ô Paulo, você por um acaso não sabe fazer pizza, né?!

- Bom, eu até sei, mas não tem ingredientes e…

- GABRIELLE! – berrou Maely bem do lado da minha orelha e me apertou, como se eu tivesse culpa da Gabrielle ser insensível e mão de vaca. – NÃO VOLTE COM O PÃO-DURISMO! VOLTE COM DUAS PIZZAS! WILL!

- QUE FOI? – gritei de volta.

- POR QUE VOCÊ ESTÁ GRITANDO? – gritou Maely, descolando o rosto do meu ombro pra olhar pra minha cara.

- Por que VOCÊ está gritando? – perguntei, realmente pensando que aquilo só podia ser sintoma de TPM.

- Aaah, eu to com fome! – respondeu ela na mesma voz de choro de antes e deitou a cabeça no meu ombro outra vez. Senhor, eu tenho medo. Quero dizer, não é como se ela fosse a única morrendo de fome.

Nota mental: nunca deixar a Maely sem comida, causa riscos à audição.

- Tá, ta, ta bom! – disse Gabrielle voltando a se virar para Paulo – Pede três pizzas grandes. Vai logo.

- Por que eu? – perguntou Paulo, sendo empurrado por Gabrielle até o telefone.

- Por que sim, oras. – respondeu ela, jogando-se na poltrona babada do Gabriel.

Que nojo.


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Notas finais do capítulo

Cá entre nós, o título do capítulo e a frase de início foram geniais, fala sério u_u



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