Cheguei em casa sem enxergar um palmo há minha frente devido as lágrimas. Foi eu pisar fora do hospital e a ficha realmente caiu. Eu teria TRÊS meses de vida.

Ron ainda não estava em casa. Ele costumava chegar lá pelas dez da noite. Olhei no relógio, tinha uma hora e meia para chorar amargamente.

Percebi que tinha uns 20 recados na secretária eletrônica. Devia ser Gina, me xingando por não estar em casa e ter sumido. Não consegui rir com isso. Larguei minha bolsa em cima da mesa e me encolhi numa bola perto da mesma.

Eu queria fazer tanta coisa da minha vida, tinha tantos sonhos, nunca pensei que morreria tão rapidamente.

Sempre acreditei que depois da guerra eu viveria muito tempo e teria filhos com o Ron. Ficaria velhinha ao lado dele, me descabelaria por causa dos fios brancos, choraria por ver meus netos indo para Hogwarts, contaria as histórias pelas quais eu, Ron e Harry passamos. Talvez com o tempo eu me esqueceria de algumas coisas, mas sempre me lembraria dos meus melhores amigos e de Ron.

Mas agora eu não veria isso, não teria filhos, muito menos netos. Eu estava com meus dias contados literalmente.

Afundei minhas mãos nos meus cabelos encaracolados e senti soluços rasgarem meu peito. Como que eu ia contar aquilo para Rony? Espera, eu não contaria isso para ele. Sofreria demais por mim. EU tinha três meses, não suportaria vê-los sendo assombrados pelo olhar triste dele. Tinha que dar um jeito em minha vida, aproveitá-la da mesma forma que aproveitaria se vivesse 60 anos.

Tinha que esconder de todos que estava morrendo. Eu tinha que ser forte e deixar uma lembrança boa na cabeça deles. Eu tinha que pela primeira vez na vida mentir muito bem, para que ninguém desconfiasse.

Mais lágrimas caíram enquanto me desesperava outra vez. Eu não ia conseguir. Era muita pressão, era muita... Dor. Pensei enquanto sentia minhas costas doerem.

As dores haviam começado. Rapidamente engoli um dos comprimidos que comprara na farmácia trouxa e corri para o banheiro secar minhas lágrimas e dar um jeito naquela cara de choro. Eu tinha três meses de vida, não passaria eles me lamentando por estar prestes a morrer. Eu aproveitaria tudo que pudesse.

Dando um trato em meu rosto, peguei uma caneta e um papel e comecei a pensar. Se fosse meus últimos dias, que na verdade eram, o que eu faria.

Queria ter filhos.

Mas como? Não poderia ter uma gravidez de três meses, era biologicamente e magicamente impossível.

Pensei em Tom Riddle, aquela criança do orfanato que causou tanta dor, mas que antes era apenas um garotinho que sofria também. Quantas crianças ficaram sem pais nesta última guerra? Várias, só em Hogwarts eram várias. Mais muitas outras estavam em orfanatos bruxos, sem pais e novas demais para entender o que acontecera.

Eu não poderia ter filhos, mas poderia adotar filhos. Proporcionar felicidade a um rostinho infantil sofrido. Ser mãe.

Era isso que faria, adotaria uma criança.

Queria ir para Disney.

Sim, aquilo era ridículo para uma bruxa como eu, mas era lá que a verdadeira magia acontecia.  Lá que  o felizes para sempre acontecia, as princesas existiam e meu sonho de criança vivia. Eu queria ir para Disney. Eu iria para Disney.

Queria pular de para quedas.

Sim, eu morria de medo de altura e não gostava de voar, mas sinceramente? Adoraria experimentar aquela sensação de adrenalina correndo pelo meu corpo.

Queria escrever um livro.

Como em três meses eu faria isso? Era pouco tempo para escrever uma obra.

Suspirei. Eu morreria e não escreveria um livro. Perfeito! Pensei com sarcasmo.

Poderia ter pesado nisso antes. Tantas pessoas como eu pensam que vão viver para sempre e não vivem. Deixam de fazer tantas coisas e só tem a ficha caindo quando se é tarde demais. Se eu pudesse fazer com que todos vivessem a vida como deveriam viver...

AH! È isso, eu escreveria um livro dos meus últimos dias. Talvez aquilo fizesse os outros acordarem para a vida.

Sorri aliviada.

Queria ir para um desfile na fashion week de Paris.

Sim, desejo de patricinha mimada, mas quem não queria olhar as tendências da moda antes de qualquer um. Mas essa era fácil, teria em Fashion week semana que vem. Roubaria a capa do Harry e visitaria o desfile.

Queria dançar na chuva com Rony.

Essa é fácil, chove todo dia em Londres mesmo!

Queria ouvir desculpas do Malfoy por ter me chamado de sangue-ruim minha vida inteira.

Estava ai uma tarefa impossível! Mas acho que viveria, ou melhor, morreria sem ela.

Queria ter um dia só de amigos como tinha com meus amigos trouxas quando criança. Ir ao shopping, correr por ele, fazer guerra de balões de água, chorar assistindo algum drama da Disney.

Talvez não fosse impossível. Afinal, eu tinha amigos que topariam tudo para se divertirem.

Queria mergulhar em algum mar onde existisse corais e peixes bonitinhos.

Me fixei nessa ideia desde quando vi um programa sobre isso na teve.

Queria ir em um show de uma banda trouxa que eu gostasse muito de ouvir. Talvez no do Black eye peas ou no do Linking Park.

Era só comprar o ingresso. Outra fácil.

Queria ter um cachorro de estimação. De preferência um Golden Retriver.

Talvez Ron precisasse tomar alguns poções para alergia, por que eu teria um Golden nem que Jesus me impedisse.

Queria casar na igreja, de véu, vestido branco, um padre trouxa, uma festa linda e alianças de ouro branco.

Mas isso não só dependia de mim, dependia do Rony. Se eu conversasse com ele, adiantaríamos o nosso casamento para o meio do ano, e não o final.

Queria, um dia pelo menos, fazer a caridade por algum país que necessitasse de ajuda.

Bom, espero que Rony não se importe em ir comigo para algum país pobre da África.

Queria ver os elfos domésticos livres da escravidão

Outra coisa na qual eu morreria sem ver.

Escutei a porta da sala sendo aberta e eu guardei aquele papel com minha lista de desejos. Corri para abraçar Ron e o enchi de beijos. Afinal, eu só tinha 3 meses para aproveitá-lo.