Fiz Ron ir trabalhar no ministério ameaçando de mata-lo se não fizesse. Acho que pelo meu olhar assassino ele se convenceu disso e foi dizendo que Gina viria para me fazer companhia. Lê-se: me observar e ver se não desmaio.

Mas eu iria para o hospital sozinha, eu queria ir sozinha.

Sabe quando você sente que algo de ruim vai acontecer? Pois é, eu sentia isso naquele momento e não queria ninguém tendo que se preocupar comigo além do necessário. Já estava decidido, se eu tivesse algo sério me trataria escondido, pouparia as dores para mim. Simplesmente não aguentaria olhar naqueles olhos azuis que eu amava e ver a preocupação, o medo ou qualquer coisa do tipo. Desde a morte de Fred, jurei a mim mesma que só faria Ron sorrir, nunca mais queria vê-lo triste. Não seria começando por mim que eu quebraria a promessa.

Peguei minha bolsa correndo antes que Gina chegasse e aparatei em um beco escuro, perto do hospital de Londres.

Entrei nele com calma, não estava passando tão mal quanto antes. Cheguei na recepção e me levaram para um clinico geral me atender. Dei sorte por não estar cheio ou com fila para isso. Entrei no consultório do médico trouxa e sorri, me deparando com olhos verdes e cabelos castanhos. Ele era mais velho do que eu, mas não passava dos seus 35 anos. Parecia competente, mas mesmo assim me senti insegura. Foram tantos anos sendo tratada pela medicina bruxa que a trouxa já não me dava 100% de confiança.

O médico por sua vez se levantou e me cumprimentou com um aperto de mão formal.

-Boa tarde, sou o doutor Vasquez, em que posso ajudar? – perguntou sorridente.

Respirei fundo e disse todos meus sintomas, a frequência com que sentia tontura e as vezes que desmaiei. Ele foi anotando tudo em um caderno, me parando para fazer perguntas simples, que eu respondia com eficiência. No final da consulta, me encaminhou para o laboratório do hospital, me entregando um papel cheio de exames pelos quais eu passaria. Dei uma lida neles, muitos nós fazíamos na medicina bruxa, outros eu nem sabia como eram feitos.

Malfoy tinha razão quando disse que a medicina trouxa tinha mais acesso a um diagnóstico completo do que a bruxa. A quantidade de exames que tinha ali era absurda.

Fiquei a tarde inteira os fazendo. Passei por exames de urina, fezes, sangue, tomografias, ressonâncias e ultrassons do abdômen e da coluna. Em alguns eu tinha que tomar muita água, em outros me injetaram doses de contraste. Metade do que eles falavam, usando aqueles termos técnicos, eu desconhecia. Aquilo me fez acordar um pouco. Eu havia abandonado meu mundo, aquele que me viu crescer e me acolheu. Eu simplesmente havia esquecido que antes de ser bruxa eu era trouxa. Eu tinha que fazer algo em relação a isso.

Depois de algumas horas monótonas no hospital, o médico me chamou outra vez, me avisando que os exames estavam na sala dele, todos prontos para ele avaliar. Eu o segui pelos corredores longos e confusos do hospital, que cheiravam fortemente a éter. Entrei em sua sala calma, não havia passado mal naquela tarde, talvez não fosse nada.

Com os olhos críticos, ele analisou cada exame e depois de ler todos, me olhou de uma forma estranha.

-Senhorita Granger... – ele começou.

Bem que eu queria que fosse nada.