-Você está realmente bem? - É a frase do dia, por um milhão de vezes ouço alguém me perguntar.

Não, eu não estou bem. Mas estou agindo como se estivesse. Então, por favor, não interrompa minha performance.

Ainda bem que sou educada o suficiente para dizer apenas um “estou claro” e ir embora.

Se perguntarem onde estou, por favor, diga que passei mal e fui para casa, por que ninguém vai acreditar onde eu estou agora. Como se eu não tivesse nada para fazer, estou sentada na ultima cadeira, da ultima fileira do teatro, assistindo o ensaio de uma peça se desenrolar. Impressiono-me em como o desempenho dos atores é bem melhor que o meu. A garota, que faz a personagem principal de um livro não muito antigo, jogos vorazes ou algo assim, se enrola em algumas falas, mas o garoto que faz o papel de Peeta não parece excitar em nenhuma, fico realmente impressionada.

Na verdade não consigo ver muito bem, já que estou escondida, não quero que ele me veja. Apesar de ele estar de costas conversando com a garota que faz a que faz a Prim. Ela parece um pouco nervosa, pelo que parece, aqui no Texas High School eles recebem muito mais aplausos e homenagens pelo seu trabalho do que no meu antigo colégio. Pergunto-me por que eu não vim para aqui antes.

Levanto vagamente da cadeira correndo para fora do teatro em procura de me esconder novamente. Tenho mais uma aula livre, mas na próxima, vai ser mais difícil me esconder.

Não estou tentando parecer uma fugitiva, ou até mesmo atuar como uma. Eu estou realmente fugindo. Não só de uma, mas de duas pessoas. Afinal, sou a pessoa menos procurada, mas a mais sem vergonha desse colégio. Eu devia começar a bater minha cabeça na parede, mas isso não vai adiantar muita coisa.

Will não pode me encontrar, tenho medo de não conseguir fingir o suficiente e começar a chorar, por que eu não sou uma pessoa boa. Travis também não pode me encontrar, ou ele dirá alguma coisa sarcástica pelo fato que aconteceu há duas noites.

Você não se lembra? Bem, o fato é que eu beijei Travis Stoll. Sim, eu. Ele me provocou e acabou ganhando um beijo por recompensa, um beijo muito bem dado vamos disser, mas que está me gerando sérias conseqüências.

Eu devia ter dormido essas noites, devia ter atendido as ligações de Will, devia ter comido para não parecer tão magra. Mas é meio difícil com o fato dançando em sua cabeça. Katie, aceite, você não deveria estar assim. Foi só um simples beijo, sem significado algum, você gosta muito do Will e ele é que é seu namorado.

Mas sabe, a carne é fraca.

E a minha? Mais ainda.

Escutei um assobio, então vejo que o sinal já havia tocado e todos estavam transitando para outras aulas. Então o assobio se intensificou, lá estava ele, meu namorado, sorrindo e vindo até mim. Minha face corou rapidamente, não por vergonha, mas por... É, por vergonha mesmo, mas nesse caso, vergonha pelas coisas que eu andava fazendo.

Ele me deu um rápido beijo pegando meus livros de minhas mãos e dizendo algo como “deixa que eu levo para você”. Então ele parou em minha frente, olhando para meu rosto corado e deixando escapar um olhar de dúvida.

-O que foi? - perguntei rapidamente passando a mão pelo meu cabelo – Tem alguma coisa no meu cabelo?

Ele negou com a cabeça, então segurou meu queixo e virou meu rosto para fita-lo.

-Estou procurando um problema, quer me ajudar a achar?

Afastei-me dele pegando meus livros.

-Estou bem Will, só um pouco cansada.

Então me virei de costas e corri para o banheiro, sim, ótima idéia, banheiro feminino. Mas olhem para o meu lado, todos estão em aula, o que significa que eu esteja faltando, mas mesmo assim, o banheiro é o único lugar onde eu posso enlouquecer em paz.

Eu sabia que só estava adiando minha ida também, afinal eu estava super apertada. Mas mesmo assim, logo depois deitei em um sofazinho rosa que havia no banheiro, deixando meus cabelos embaraçados se espalharem pelo veludo cor de rosa. Meninas, bolhas e rosa. Isso é o banheiro feminino, sem esquecer a fofoca claro.

Escuto a porta abri fortemente, uma garota dar um beijo em um garoto e fechar a porta suspirando e rodopiando, sem notar minha presença. É então que ela se vira para ir lavar as mãos, joga a bolsa de costas no chão e...

Me vê a olhando curiosa.

É quando me lembro de quem estamos falando, é a garota do meu ano que quase nunca aparece nas aulas, ele não é exatamente forte, mas age como se fosse, tem os cabelos ruivos e lisos mal cuidados, está sempre usando calça e moletom, nunca saias, nunca batas. Têm olhos cor de ébano que te fitam fixadamente e por vezes age como um garoto, é, estamos falando da garota que acabou de beijar Chris Rodriguez. Estamos falando de Clarisse Le Rue, e pelo seu olhar, ela não gostou nenhum pouquinho de me ver aqui.

-Se você contar a alguém o que viu...

-Não se preocupe – eu digo rapidamente, ainda sem me levantar – se você não contar que estou aqui, não conto o que vi.

Pode não parecer nada demais eu ter visto uma garota suspirar e rodopiar de amor, mas se lembre, estamos falando de Clarisse Le Rue.

Então ela se dâ conta de quem eu sou e que estou ali, como uma babaca, deitada no sofazinho cor de rosa olhando para o nada e faltando aula.

-Por que está aqui? - Dou de ombros fechando minha boca para não falar mais besteira do que o normal - E não com suas amigas líderes de torcida?

-Você fala como se fossemos odiosas.

Ela levanta uma sobrancelha, então ri em escárnio.

-E não são?

Eu reviro os olhos, então me sento, por que meu pescoço já começa a doer.

-Você não parece achar Silena odiosa, então não diga nada sobre mim.

-Silena é a presidente da turma, ela não é líder de torcida e além do mais, é impossível não ser amiga dela.

-Oh, ela é a única que se salva.

Eu digo com ironia, mas ela me olha como se não houvesse ironia nenhuma em minha voz. Levo minha mão até o bolso da minha calça, um pacote de Roll Tootsie que Connor havia me dado escondido de Miranda. Seria errado, mas o doce é tão bom que é impossível não resistir a engordar uns quilinhos.

-Quer?

Eu pergunto levantando o saquinho, Clarisse me olha espantada, como eu não pudesse ser simpática com ela. Mas claro, eu ainda posso ser a velha Katie Gardner, líder do falido clube de teatro.

Clarisse assente se aproximando de mim e me deixando colocar alguns Roll Tootsie em sua mão.

-Então, o que esta fazendo aqui?

Ela me pergunta, sentando no chão, ainda receosa, como se eu fosse alguma espécie de animal, um animal que está bem longe de ser um unicórnio.

-Fugindo.

Digo sem pensar, então ela levanta uma sobrancelha.

-Você não parece uma líder de torcida.

Bem, eu não sou, ou pelo menos era até alguns meses atrás.

-Obrigada se isso foi um elogio.

-Fugindo de quê exatamente?

Bem, se ela contar alguma coisa eu tenho provas contra ela, então, por que não abrimos as cartas agora?

-Will, não quero me encontrar com ele.

-Ah, o Solace – ela diz como se houvesse algo de grotesco só em disser o nome – Não havia lembrado que você era a namorada do conquistador.

-Você não deve lembrar nem de quem eu sou.

Ela logo solta uma gargalhada que se espalha pelo banheiro feminino.

-Não saber quem você é? Todos sabem quem você é, a garota nova que conquistou todo mundo.

Nossa, não sabia que era tão adorada. Será que tenho um fã clube? Eu sempre quis ter um fã clube!

-É difícil me acostumar com isso.

-Você é o que todas queriam ser, é líder de torcida, namorada do que elas chamam de príncipe encantado e ainda é popular.

-Não fale assim, você namora um dos garotos do time, não é tão diferente.

Ela levanta a sobrancelha, como se a diferença fosse obvia.

-Sabe, você deveria saber que todos já sabem.

Eu digo depois de um tempo.

-Sabem do que?

-Do seu namoro com o Chris, Rachel contou para todos. Grover deve ter espalhado também...

Clarisse cera os punhos, a raiva a invadindo evidentemente.

-Odeio essa Dare, ela e a Chase são a mesma coisa. Dizem que são amigas, mas vivem brigando por um garoto idiota. Percy nem é tão legal assim...

Pergunto-me se ela conhece Percy.

-Elas são legais.

-Com você, já que é bonitinha, encantadora e fofa. Claro que elas iam gostar de você.

Ela diz com sarcasmo, levanto as duas sobrancelhas, deixando pequenas ruginhas aparecerem em meu rosto.

-Por que odeia tanto elas?

-Odeio líderes de torcida.

-Ou seja, me odeia.

-Você não parece uma líder de torcida.

-Isso não me impede de ser uma.

Ela assente, então escutamos alguém bater na porta e gritar pelo nome dela, evidentemente Chris. Clarisse olha para mim, então um meio sorriso aparece em seu rosto. Forçado ou não, um sorriso.

-Sabe, você é até legal Katie Gardner.

Então ela se vira, pega a mochila e sai pela porta.

Pelo menos eu teria um minuto de privacidade.

Eu parei novamente na frente do espelho, indecisa de quanto tempo eu ficaria ali, era obvio que a idéia de matar mais uma aula no banheiro me passou tentadoramente pela cabeça, afinal, sociologia era um grande tédio.

-Você não tem nenhuma criatividade para esconderijos.

Eu dei um pulo de uns três metros de altura, quase batendo minha cabeça no teto. O que aquele idiota estava fazendo ali?

-Você não pode entrar aqui - Será que ele tinha noção disso? - É o banheiro feminino.

-Eu sei - Travis disse olhando em volta com avaliação - Eu sempre quis entrar aqui, pena que ele esta vazio - Ele disse parecendo desapontado.

Como alguém pode ser tão canalha?

-Preciso falar com você - Ele disse ficando serio.

-Porque você não pode agir como uma pessoa normal? Só pra variar de vez em quando.

-E porque você esta fugindo de mim? - Ele rebateu minha pergunta.

-EU NÃO ESTOU FUGINDO DE VOCÊ - Será que ele podia parar de agir como se a terra rodasse em volta dele?

-Grover viu você entrando aqui, sozinha, depois de ignorar Will – Levantei uma sobrancelha para ele.

-Você não tem nada a ver com isso.

-Não, não tenho. Mas sei que está assim por causa do nosso bei...

-CALE A BOCA! Não ouse falar sobre isso. Eu proíbo você! Nada aconteceu, nada!

Ele riu em escárnio e se aproximou mais de mim, logo me imprensando contra a parede. Arregalei os olhos rapidamente, desejando que alguém abrisse a porta e eu pudesse me livrar dele, mas Travis apenas se aproximou mais, dando um longo e quente beijo perto dos meus lábios.

Sim, as malditas borboletas, elas andam aparecendo muito ultimamente. Não poderiam ser unicórnios? Eu sempre gostei mais de unicórnios.

Mas tudo bem, eu mato as borboletas quase que instantaneamente.

-Só queria disser que... – fecho os olhos, esperando pelo beijo – Quero meu trabalho de Física na terça.

Mas pela força do destino, beijo nenhum acontece. Ele só sorri sarcástico e sai pela porta, deixando não só uma Katie enfurecida, mas uma Katie muito confusa para trás.