Deixe o Amor Nascer. escrita por Kira Urashima


Capítulo 1
Sementes




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YuYu Hakusho não me pertence.

Minha primeira fic. Espero que gostem! Enjoy!

Era tarde e seguramente já passava das 23h. Botan estava sozinha no quarto do hotel. Keiko e Yukina resolveram dar uma volta e a guia espiritual não as acompanhou porque não se sentia muito disposta. Suas costas estavam doendo.

Olhando o céu estrelado, um suspiro pesado veio à tona, resultado de algumas lembranças.

Por que pensava tanto nele ultimamente? Ela mesma se desconheceu ao chorar e se desesperar tanto por alguém assim.

Nunca foram próximos, aliás, achava até que ele a evitava por ela ser tão "abobada", falante e atrapalhada.

Sentia-se completamente sem jeito perto daqueles olhos verdes. Com Yusuke e Kuwabara era tão fácil: havia uma sincronia entre eles; sempre prontos a falar, a brigar, a provocar um distúrbio qualquer. Com essa dupla, sentia-se à vontade, não fazia rodeios, mas, como era diferente quando aqueles olhos verdes estavam por perto! Até preferia estar longe pra não sentir um incômodo dentro do peito, que começava a ser frequente e que ela não sabia bem como definir.

Pensando nos últimos acontecimentos, Botan deixou a mente resgatar as lembranças sobre a luta de Kurama contra Karazu - na final do Torneio das Trevas.

Apertou as pálpebras com firmeza, tentando afastar as recordações ruins que se seguiam: aquele tinha sido, sem dúvida, o pior confronto que vira até agora. Era quase possível ouvir os gritos de dor de Kurama, ver as feridas expostas, sangrando, escutar o sarcasmo de Karazu dizendo que "como presente, não destruiria seu lindo rosto".

Quanta raiva ela sentiu! Ele não tinha esse direito: zombar de seu amigo, sempre tão inteligente, perspicaz e forte, mas que estava quase indefeso naqueles momentos... E ela lá, com o coração a sair pela boca, lágrimas surdas correndo pelo rosto e uma dor, uma indignação fervendo no sangue. Queria ir até a arena e acabar com Karazu, humilhá-lo até a última ponta de seu ser e resgatar Kurama de lá. Protegê-lo daquele monstro, vingar toda a dor que sofrera...

Mas não pôde; só pôde sofrer também, de longe. Só pôde torcer e esperar pelo melhor. E aconteceu: Kurama venceu! Ele venceu, porém aquilo tudo a deixara muito abatida.

Começou a relembrar dos sentimentos que experimentou depois que Kurama foi tirado da arena: como estaria? Havia algo que ela pudesse fazer para aliviar sua dor? Queria ajudá-lo, ser útil, queria estar perto dele; queria mostrar que estava ali, mas não pôde, teve que ficar na arquibancada com as meninas.

Botan suspirou longa e pesadamente e se recordou da dorzinha de despeito que sentiu quando foi procurar Kurama no quarto do hotel, para saber como estava e ele simplesmente disse:

Estou bem Botan, obrigado. – disse educadamente, mas de maneira fria, de tal forma que ela não se sentia à vontade para ficar mais.

Saiu do quarto nervosa e engoliu seco, sentindo-se frustrada. De alguma forma, a habitual educação do jovem ruivo a irritara. Havia se preocupado tanto, chorado tanto, não via a hora de estar em sua companhia e vê-lo melhor, entretanto, a única coisa que recebeu foi um "obrigado" polido e gélido. Isso doeu nela de forma estranha e nova.

Deitada na cama, ainda a olhar para o céu, Botan remoía todos esses pensamentos, tentando colocar a cabeça em ordem. Amanhã voltariam ao ¹Ningenkai e ela não estava confortável com a ideia.

Apesar de todo desgaste físico e emocional que sofreram no torneio, ela não queria estar longe dos seus amigos. Gostava de tê-los perto, de ver as brigas quase constantes de Yusuke com Kuwabara, de Yusuke com Keiko, de Kuwabara com Hiei. Gostava de ver aqueles olhos verdes, sempre calmos, tentando amenizar as rusgas.

Kurama passava um ar tão seguro, quase altivo; uma segurança e firmeza no falar que mexiam com ela. Gostava da presença dele, daquele ar meio ponderado, de quem está analisando e observando tudo.

Nada passava despercebido daqueles olhos verdes.

Sentiu um arrepio ao lembrar-se do olhar de Kurama: intenso e sereno, que parecia decifrar a alma de qualquer um. O rosto começava a corar, ligeiramente, quando Keiko entrou no quarto fazendo barulho:

–Hahahaha, vem, Yukina! – Keiko gargalhava com a amiga.

Botan assustou-se com a entrada brusca e deu um salto da cama, o rosto corado de nervoso, como se as duas pudessem ler seus pensamentos.

–Nossa, voltaram cedo hein! – levantando, foi fechar a janela, torcendo para que ninguém fizesse nenhuma pergunta.

–Cedo nada, perdemos até a hora! E você, melhorou? – perguntou Keiko.

–Sim, senhora! – a guia bateu uma continência para a amiga.

–Que bom! Queria que estivesse com a gente, estava uma delícia lá na praia, né, Yukina?

–É mesmo, Keiko, o céu e o mar estavam lindos e os meninos nos divertiram bastante!

–Ah, os meninos estavam também é? – a guia perguntou com uma curiosidade além do normal.

–Apareceram por acaso. Depois de um clima tão tenso, foi bom vê-los sorrindo, brincando – disse Keiko com os olhos brilhando – Estava com saudades disso! – sorriu com satisfação.

–Nem me fale! Eu também fico muito aliviada por tudo isso ter passado! – emendou Botan – Aliás, já fizeram as malas?

–Ainda não! Era isso que eu tinha que fazer! Não quero me atrasar amanhã, me deixa começar logo! – a garota morena respondeu.

Yukina estava sentada na cama enquanto Keiko reunia as peças de roupa e colocava na mala.

Botan quis voltar ao assunto da praia:

–Kuwabara e Hiei brigaram muito, Yukina? Hahahaha!

–Não, eles nem se falaram hoje. Hiei estava quieto no canto dele como sempre – respondeu a ²koorime meigamente, enquanto se preparava para dormir.

–Ai que bom! Pelo menos deram uma folga para os nossos ouvidos! Hihihihi e o que mais que aconteceu?

–Kazuma e Yusuke ficaram competindo para ver quem dava os melhores saltos mortais na água e nós e o Kurama ficamos assistindo. – completou Yukina.

Uma certa palpitação agitou o peito da guia ao ouvir o nome de Kurama – E ele não quis saltar também?

–Não, preferiu ficar conversando com a gente.

Keiko entrou na conversa:

–Falando nisso, eu fico boba em ver como o Kurama é inteligente, sério! No tempo que ficamos lá, ele estava nos explicando tantas coisas! Me pergunto: como é que pode uma pessoa concentrar tantas qualidades? Além, claro, da super gentileza né, Yukina?

–Sim Keiko, Kurama é um rapaz muito inteligente e gentil, ele se preocupa tanto com a gente! – emendou a moça de forma doce.

–É verdade, estou pra conhecer alguém mais cuidadoso do que ele...E mais bonito também! – disse a jovem de cabelos castanhos, dando uma risada sapeca e mostrando um lado que a guia nunca tinha visto.

Sentiu-se fisgada pelo ciúmes e antes que percebesse, a frase, levemente indignada, escapou:

–Kurama é mais bonito que Yusuke, Keiko? Eu pensei que você achasse o contrário – provocou a guia. Claro que sabia que as amigas o achavam atraente, contudo, não era algo que ela gostasse de ouvir.

Keiko corou nervosamente e olhou a amiga com certa raiva pela pergunta. Só pôde dizer um falso e infantil: - Hunf, lógico que sim! Agora chega desse assunto que estou cansada!

Yukina e Botan se olharam e riram quando escutaram uma batida na porta.

–Eu abrooo! – antecipou-se Botan, agitada. Mal abriu a porta, foi dominada por uma sensação de ansiedade, que acelerou seu coração e trouxe uma secura desconfortável para sua boca.

–Olá Botan, como você está? Melhorou? – Kurama perguntava.

–Eu, eu estou melhor sim! –disse apressadamente, a respiração levemente ofegante.

Kurama sorriu, cumprimentou Keiko e Yukina:

–Meninas, por favor, estejam no saguão do hotel às 8h para não perdermos o navio. Sei que é um pouco cedo, mas é bom evitarmos atrasos. Tudo bem para vocês?

–Tudo ótimo! Não vejo a hora de estar em casa! – respondeu Keiko.

–Pra mim também está bom, Kurama – acrescentou Yukina.

–Pra mim também! Vamos nessa! Hahahaha! Bora pra casa! – arrematou Botan forçando um pouco no entusiasmo para disfarçar o nervosismo que sentia.

–Está certo! Nos vemos amanhã! Boa noite, meninas! – Kurama despediu-se.

–Tchau, Kurama!

–Até amanhã Botan! – e saiu, sorrindo.

–Até... -Botan segurou a respiração sem piscar, fechando lentamente a porta, dando um suspiro profundo.

–Tudo bem, Botan? –a voz meiga de Yukina a tirou de seus pensamentos.

–Hahaha! Claro que sim! Só me bateu um sono agora! Preciso deitar se não, não acordo amanhã e vocês vão me deixar aqui! Hahahaha!

–Então vamos logo que eu já acabei aqui – disse Keiko espreguiçando-se.

–Vamos sim! Boa noite meninas! – disse Yukina aninhada em sua cama.

–Boa noite, queridas! Fui! – despediu-se Botan deitando agitadamente.

Depois de alguns minutos fez-se silêncio completo no quarto. Keiko e Yukina já estavam dormindo, mas, para Botan, o sono custava a chegar.

De costas na cama, ela mantinha – na cabeça - a cena de Kurama parado na porta. Ele, seus olhos verdes, a camisa branca entreaberta, a voz tão gentil, o perfume... -o coração acelerava.

–Botan, se liga! – censurava-se mentalmente – Kurama é bonito? É, mas não é o fim do mundo! – sentia-se boba por pensar nessas coisas.

E a mente voltava a focar no sorriso, nos cabelos vermelhos que pareciam tão macios. E sem querer o comparava com os outros meninos, um por um e voltava a sentir o coração disparar quando se lembrava dos olhos verdes de Kurama.

Tá, ele estava muito bonito hoje. Ele é bonito sempre, mas isso não é nenhuma novidade, Botan! Durma, mulher, se não você não acorda amanhã! –a censura continuava.

A guia revirava-se na cama, nervosa, como se o fato de ter se dado conta da beleza óbvia de Kurama a incomodasse. Na verdade, o que a estava incomodando era ele ser quem era, isso estava mexendo com ela.

Não havia como negar que ele chamava a atenção das mulheres e dela também, contudo, era uma admiração formal, distante, como a que Keiko e as meninas sentiam:

"Kurama é um bom partido" – as meninas concordavam. Mas não para ela. Para alguém, em algum lugar.

Soltou um suspiro impaciente e afastou os lençóis, sentindo calor.

–Ele nunca olharia pra mim... –constatou e, na mesma hora, sentiu-se ridícula por ter pensado algo assim.

–Acorda, Botan! Ou melhor, durma! Quanta asneira! – virou-se de lado, cansada e aborrecida com o turbilhão que assaltava sua mente. Seu aborrecimento, em partes, era porque de alguma forma, sentia-se incapaz de fazer Kurama olhar pra ela.

–Só porque ele é bonito? – riu de si mesma e acabou aceitando que queria ter aqueles olhos verdes sobre ela, queria saber se chamaria a atenção do lendário Youko Kurama. A vaidade latente dentro dela alimentava essa ideia.

A cena da porta voltou à sua mente: lembrou-se da voz melodiosa se despedindo dela e daquele sorriso meigo, mas tão sedutor ao mesmo tempo, sorrindo para ela. Suspirou profundamente remexendo-se na cama.

–Hum... Botan? 'Tá tudo bem? – indagou a voz sonolenta de Keiko.

Assustada, a guia respondeu num fiozinho de voz:

–'Tá...Desculpa, tô sem sono.

Não houve resposta.

Fechou os olhos e pensou nele, no rosto dele, nos olhos tão lindos, tão misteriosos.

–Mas não é o fim do mundo! Yusuke, Kuwabara e Hiei são bonitos também e você não fica sem dormir por causa deles! – sentenciou-se mentalmente, disposta a acabar com aqueles pensamentos e finalmente dormir. Já passava das 2h.

Realmente, não era o fim do mundo. Era apenas o começo, de um novo mundo.

Cena 2

Naquele momento tudo fazia sentido. Depois do que ouvira Shizuka comentar, cada pequeno detalhe se encaixava.

Está certo que não conseguiu discernir os sentimentos de Botan por ele, afinal ela nunca demonstrou nada e sempre manteve certa distância.

Com certeza a amizade que ela tinha com Yusuke não era a mesma que eles partilhavam. O detetive e a guia tinham liberdade, eram agitados e falantes. Kurama até chegou a pensar que ela nutrisse algum sentimento pelo amigo, mas não, como tinha escutado hoje, se havia algum sentimento, não era por Yusuke.

Começou a recordar das vezes que estiveram juntos e das olhadas furtivas que Botan lançava-lhe. Lembrou-se de quando ela ficou ao lado dele enquanto Yusuke lutava contra Tiyu. Ela estava nervosa e ofegante. Talvez não fosse apenas pela luta.

–Não seja tão pretensioso.– disse pra si mesmo.

Quando lutou contra Karazu- na fase final do torneio das trevas- notou a preocupação dela, mesmo não dizendo nada, ela o olhava com uma expressão aflita.

–Botan chorou muito na primeira luta – lembrou-se do comentário de Shizuka, quando a turma estava conversando depois da final.

–Ah é, Botan? Hahahahaha! Tá apaixonadinha? – Yusuke debochou.

–Seu besta! Eu me preocupo com todos vocês! –a guia irritou-se, e, calando-se, abaixou a cabeça.

Kurama gostava do jeito de Botan: era alegre, festeiro e tantas vezes coberto de uma ingenuidade adorável. Ela era extrema na preocupação, muito protetora e ele apreciava essa qualidade dela, pois o fazia lembrar-se de sua mãe, Shiori, a quem tanto amava.

Botan era naturalmente notável, ela tinha esse brilho próprio.

–Um brilho muito atrapalhado na maioria das vezes! – sorriu ao lembrar-se disso.

E então, depois do que ouvira sem querer, saber que aquela moça de cabelos azuis sentia algo por ele, fez nascer uma curiosidade dentro de si.

Começou a lembrar-se dos detalhes do rosto de Botan: a pele branca, que corava com muita facilidade, os grandes olhos rosados, tão expressivos e de longos cílios, que brigavam com a espessa franja azul. A boca fina, tagarela e sorridente, o queixo delicado.

A mesma peculiaridade que enfeitava o rosto da garota refletia-se em seu corpo: ela era magra, com curvas delicadas e de estatura mediana. Sem dúvida, uma mulher bonita e atraente, embora o jeito de menina dela escondesse, e muito, esse fato.

Kurama permitiu que outras recordações somassem-se a seus pensamentos, levando-o aos tempos de Youko, quando era corriqueiro ter a companhia que desejasse. Mulheres dos mais diversos tipos queriam estar consigo. Elas gostavam dele e faziam de tudo para passarem a noite em seus braços. Sempre se dera bem com elas sem qualquer tipo de esforço e mesmo agora, vivendo como Shuichi, as coisas não estavam diferentes. O jovem despertava furor por onde passasse, porém, hoje em dia, ele tratava o assunto de outra maneira, driblando os constantes assédios e mantendo-se mais reservado.

Às vezes, sentia falta de ter uma companhia, porém, logo se ocupava em uma atividade qualquer e acabava por esquecer-se disso, rebaixando sua importância para segundo, terceiro plano, contudo, naquele dia, pela primeira vez depois de muito tempo, o fato de saber que uma garota gostava dele o fez pensar. Tentou lembrar se alguma vez dera margem para que isso acontecesse.

–Não, nunca dei. –constatou categórico. A gentileza com que a tratava era a mesma dispensada a todos os outros e isso o fez sentir-se menos culpado, tendo certeza de que não iludira Botan de alguma forma.

Então, o que faria? Apesar da guia ser uma mulher interessante, Kurama não queria se envolver com ela, pois acreditava que, por terem o mesmo círculo de amizade, se algo não desse certo, criaria um clima desagradável e incômodo para todos.

–Bom, continuarei sendo o mesmo de sempre e as coisas vão se ajeitar – pensou em tom conclusivo – Não há porque me preocupar. Essa atração que Botan possa estar sentindo vai passar logo. Não é o fim do mundo– era o que ele esperava.

Levantou-se da cama, foi tomar banho e se arrumar. O relógio já marcava 6h30min e ainda precisava terminar de ajeitar as malas para a viagem de logo mais. Não queria se atrasar, já que fora ele mesmo que pediu pontualidade a todos da turma.

Dirigiu-se ao banheiro.

Continua...


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Notas finais do capítulo

¹Ningenkai: é o mundo onde os humanos e os animais vivem. A palavra "Ningen" significa "Homem, Humano" e "Kai" significa mundo.
²koorime: raça de mulheres provenientes das Terras geladas do Makai. Possuem vida extremamente longa e são frutos de uma concepção imaculada, já que as mulheres do gelo não precisam ter relações com homens para engravidar.



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