Apocalypse escrita por DianaCK


Capítulo 4
Capítulo 1 - Parte III




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Os meio-sangues quase chegavam até as barreiras do acampamento, mas o cachorro de duas cabeças estava os alcançando.

Eles iam morrer se eu não fizesse nada.

Corri na direção deles, ignorando o braço, a cabeça e a pancada.

Eu tinha que matar Ortro, nem que fosse a última coisa que eu fizesse!

- Vem cá, seu vira-latas! Cachorro de liquidação! – gritei, ele não me deu bola e avançou mais rápido da direção do garoto e da garota.

Ele devia saber que precisava matar os dois, apenas eles, mas se matasse os outros depois seria lucro.

Eu estava quase alcançando Ortro, quando a menina tropeçou e caiu no chão. Ela fez uma careta de dor e tirou um punhal da cintura.

- Emily não! – o menino gritou com a voz totalmente rouca.

Ortro pulou em cima dela, a cabeça da esquerda uivou, como se estivesse com dor.

A da direita se abaixou e Emily gritou.

As duas bocas agarraram uma parte do corpo de Emily, elas as puxavam para os lados, cada uma tentando pegar a menina inteira para si.

O cão, com suas duas cabeças, puxava de um lado para o outro a semideusa, mordendo-a com força e arrancando pedaços de sua carne, as duas cabeças de Ortro estavam brigando por ela como se fosse um ossinho de borracha. Emily gritava, berrava e chorava.

Seus gritos de dor e sofrimento deviam ser ouvidos no acampamento inteiro.

Ela sangrava muito, devia ter perdido a metade do sangue há essas alturas.

Enfim alcancei Ortro, Sunny estava roxa de tanto a cobra se enrolar nela e apertá-la.

Corri até ela e cortei a cobra fora, minha amiga caiu de costas no chão. Ortro se virou com os olhos em chamas e com uma Emily viva e toda esquartejada em bocas, ele avançou com a menina berrando e espirrando sangue para todos os lados. Os gritos de Emily eram pura agonia de sentir cada parte de seu corpo sendo rasgada e os dentes mais afiados do que navalhas atravessando-a.

Parecia tão feliz em ter ela nas bocas que apenas veio correndo na minha direção.

- Iááááá! – gritei.

Puxei a espada para trás e cravei na testa de Ortro, empurrei para dentro de sua carne negra e monstruosa com toda a força.

Um líquido denso e amarelo, parecendo pus saiu do grande ferimento que minha espada causara.

Ortro afastou as cabeças, puxando a cabeça de Emily para um lado e as pernas para o outro, o corpo dela se rasgou ao meio, fazendo jorrar sangue na minha camiseta do acampamento e um terrível grito abalou quilômetros.

Eu jamais ia me esquecer do grito de Emily.

O cão largou a carcaça sangrenta no chão e usou as últimas forças para atacar o menino.

Ele pulou em cima do meio-sangue e usou uma das patas para machucá-lo antes de virar pó.

Olhei para o chão, para a carnificina que virara o antes bonito corpo de Emily.

Minhas mãos tremeram e minhas pernas fraquejaram, senti meu sangue sumir. Eu teria caído se Sunny não tivesse me segurado.

Ela estava tão branca quanto eu, dando um bonito e assustador contraste com seus cabelos alaranjados.

Levantei a cabeça, fechei os olhos e engoli em seco.

Desviei do corpo sem vida de Emily e corri até o garoto.

Estava deitado no chão com um enorme arranhão de garras no peito. A camisa estava rasgada e a calça suja.

Ajoelhei-me ao seu lado e coloquei a cabeça no seu peito para ouvir seu coração.

Ele ainda batia.

As garras de Ortro não tinham sido fatais para ele.

Ainda.

Olhei bem para ele; ele tinha cabelos loiros sedosos e desgrenhados. Eu queria poder ver a cor de seus olhos, mas eles estavam fechados.

- Charlie? Charlie! Temos de levá-lo a enfermaria se não ele vai morrer!

Acordei para a vida novamente e fiquei de pé.

- E Emily?

- Ela morreu.

- Mas...

- Charlie, ela estava viva há pouco tempo, seus olhos estavam abertos. Faz apenas poucos segundos que ela os fechou pela última vez e partiu para o Mundo Inferior. Não tem nada que possamos fazer para ajudá-la. Lamento que tenha morrido.

- Como você sabe? – a fitei.

- Meu pai é o deus da medicina, e sei que, mesmo com o coração batendo, ela jamais iria sobreviver. Tinha perdido muito sangue.

Apertei o cabo da espada.

- Nós falhamos – sussurrei.

- Falhamos?

- Nós duas devíamos ter ajudado esses meio-sangues a chegarem vivos no acampamento, devíamos ter matado Ortro de primeira. E se eu não tivesse sido jogada longe, se eu não tivesse ficado parada...

- Não foi culpa de ninguém, Charlie! As Parcas reservaram esse destino para Emily. Pelo menos nós conseguimos salvar ele – ela olhou para o garoto.

Respirei fundo e coloquei a espada na bainha, outra vez.

- Você tá certa.

- Pega as pernas dele – disse ela – Que eu o carrego pelos braços.

Segurei as pernas dele e Sunny os braços, como dissera. Assim que o levantamos uma faca caiu no chão. Sunlight olhou para baixo.

- O que é isso?

Larguei as pernas do meio-sangue de volta na grama.

- É um punhal – falei – Emily tentou matar Ortro com ele, mas pelo visto não é de bronze celestial.

Peguei o punhal.

- Metal – disse Sunny.

Acedi com a cabeça para ela.

- Metal – confirmei.

- Deixe isso aí, pegamos depois. Temos que levá-lo.

Joguei o punhal no chão e segurei novamente as pernas do semideus. Depois cuidaríamos do corpo de Emily e de Spencer, se é que o sátiro não estava morto. Mas não era hora para pensar nisso.

Peleu desceu do céu choramingando, se enroscou no pinheiro e lambeu onde antes tinha uma pata de dragão.

- Você foi ótimo – falei para ele – Já vamos cuidar disso, ok?

Ele soltou fumaça pelo nariz e fechou os olhos.

Deve mesmo ser terrível ter uma mão arrancada fora.

Quíron subia a Colina Meio-Sangue com vários filhos de Apolo, irmãos de Sunny. Uns com três daquelas macas de pano para carregar os feridos e cinco com arcos e flechas apostos.

- Tarde demais – falei em pesar.


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Notas finais do capítulo

Fim do capítulo 1