Apocalypse escrita por DianaCK
Os meio-sangues quase chegavam até as barreiras do acampamento, mas o cachorro de duas cabeças estava os alcançando.
Eles iam morrer se eu não fizesse nada.
Corri na direção deles, ignorando o braço, a cabeça e a pancada.
Eu tinha que matar Ortro, nem que fosse a última coisa que eu fizesse!
- Vem cá, seu vira-latas! Cachorro de liquidação! – gritei, ele não me deu bola e avançou mais rápido da direção do garoto e da garota.
Ele devia saber que precisava matar os dois, apenas eles, mas se matasse os outros depois seria lucro.
Eu estava quase alcançando Ortro, quando a menina tropeçou e caiu no chão. Ela fez uma careta de dor e tirou um punhal da cintura.
- Emily não! – o menino gritou com a voz totalmente rouca.
Ortro pulou em cima dela, a cabeça da esquerda uivou, como se estivesse com dor.
A da direita se abaixou e Emily gritou.
As duas bocas agarraram uma parte do corpo de Emily, elas as puxavam para os lados, cada uma tentando pegar a menina inteira para si.
O cão, com suas duas cabeças, puxava de um lado para o outro a semideusa, mordendo-a com força e arrancando pedaços de sua carne, as duas cabeças de Ortro estavam brigando por ela como se fosse um ossinho de borracha. Emily gritava, berrava e chorava.
Seus gritos de dor e sofrimento deviam ser ouvidos no acampamento inteiro.
Ela sangrava muito, devia ter perdido a metade do sangue há essas alturas.
Enfim alcancei Ortro, Sunny estava roxa de tanto a cobra se enrolar nela e apertá-la.
Corri até ela e cortei a cobra fora, minha amiga caiu de costas no chão. Ortro se virou com os olhos em chamas e com uma Emily viva e toda esquartejada em bocas, ele avançou com a menina berrando e espirrando sangue para todos os lados. Os gritos de Emily eram pura agonia de sentir cada parte de seu corpo sendo rasgada e os dentes mais afiados do que navalhas atravessando-a.
Parecia tão feliz em ter ela nas bocas que apenas veio correndo na minha direção.
- Iááááá! – gritei.
Puxei a espada para trás e cravei na testa de Ortro, empurrei para dentro de sua carne negra e monstruosa com toda a força.
Um líquido denso e amarelo, parecendo pus saiu do grande ferimento que minha espada causara.
Ortro afastou as cabeças, puxando a cabeça de Emily para um lado e as pernas para o outro, o corpo dela se rasgou ao meio, fazendo jorrar sangue na minha camiseta do acampamento e um terrível grito abalou quilômetros.
Eu jamais ia me esquecer do grito de Emily.
O cão largou a carcaça sangrenta no chão e usou as últimas forças para atacar o menino.
Ele pulou em cima do meio-sangue e usou uma das patas para machucá-lo antes de virar pó.
Olhei para o chão, para a carnificina que virara o antes bonito corpo de Emily.
Minhas mãos tremeram e minhas pernas fraquejaram, senti meu sangue sumir. Eu teria caído se Sunny não tivesse me segurado.
Ela estava tão branca quanto eu, dando um bonito e assustador contraste com seus cabelos alaranjados.
Levantei a cabeça, fechei os olhos e engoli em seco.
Desviei do corpo sem vida de Emily e corri até o garoto.
Estava deitado no chão com um enorme arranhão de garras no peito. A camisa estava rasgada e a calça suja.
Ajoelhei-me ao seu lado e coloquei a cabeça no seu peito para ouvir seu coração.
Ele ainda batia.
As garras de Ortro não tinham sido fatais para ele.
Ainda.
Olhei bem para ele; ele tinha cabelos loiros sedosos e desgrenhados. Eu queria poder ver a cor de seus olhos, mas eles estavam fechados.
- Charlie? Charlie! Temos de levá-lo a enfermaria se não ele vai morrer!
Acordei para a vida novamente e fiquei de pé.
- E Emily?
- Ela morreu.
- Mas...
- Charlie, ela estava viva há pouco tempo, seus olhos estavam abertos. Faz apenas poucos segundos que ela os fechou pela última vez e partiu para o Mundo Inferior. Não tem nada que possamos fazer para ajudá-la. Lamento que tenha morrido.
- Como você sabe? – a fitei.
- Meu pai é o deus da medicina, e sei que, mesmo com o coração batendo, ela jamais iria sobreviver. Tinha perdido muito sangue.
Apertei o cabo da espada.
- Nós falhamos – sussurrei.
- Falhamos?
- Nós duas devíamos ter ajudado esses meio-sangues a chegarem vivos no acampamento, devíamos ter matado Ortro de primeira. E se eu não tivesse sido jogada longe, se eu não tivesse ficado parada...
- Não foi culpa de ninguém, Charlie! As Parcas reservaram esse destino para Emily. Pelo menos nós conseguimos salvar ele – ela olhou para o garoto.
Respirei fundo e coloquei a espada na bainha, outra vez.
- Você tá certa.
- Pega as pernas dele – disse ela – Que eu o carrego pelos braços.
Segurei as pernas dele e Sunny os braços, como dissera. Assim que o levantamos uma faca caiu no chão. Sunlight olhou para baixo.
- O que é isso?
Larguei as pernas do meio-sangue de volta na grama.
- É um punhal – falei – Emily tentou matar Ortro com ele, mas pelo visto não é de bronze celestial.
Peguei o punhal.
- Metal – disse Sunny.
Acedi com a cabeça para ela.
- Metal – confirmei.
- Deixe isso aí, pegamos depois. Temos que levá-lo.
Joguei o punhal no chão e segurei novamente as pernas do semideus. Depois cuidaríamos do corpo de Emily e de Spencer, se é que o sátiro não estava morto. Mas não era hora para pensar nisso.
Peleu desceu do céu choramingando, se enroscou no pinheiro e lambeu onde antes tinha uma pata de dragão.
- Você foi ótimo – falei para ele – Já vamos cuidar disso, ok?
Ele soltou fumaça pelo nariz e fechou os olhos.
Deve mesmo ser terrível ter uma mão arrancada fora.
Quíron subia a Colina Meio-Sangue com vários filhos de Apolo, irmãos de Sunny. Uns com três daquelas macas de pano para carregar os feridos e cinco com arcos e flechas apostos.
- Tarde demais – falei em pesar.
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Fim do capítulo 1