Todo Criminoso Tem Um Vizinho escrita por Ohana_GF


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Capítulo originalmente betado por Tsuki.



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Observava tudo ao meu redor. O espaço era amplo, a estrutura parecia a de um grande U. Algumas árvores eram distribuídas pelos cantos, dando uma aparência leve ao local, junto com a cor trigo que repousava pelas paredes. Dezenas de pessoas caminhavam animadamente, encontrando velhos amigos, ou fazendo novos.



Meu Deus, que coisa entediante! Sentei-me em um banco – próximo a imensa porta de entrada – e fiquei ali, apenas observando. Como aquilo parecia com uma escola primária! Dizem que na faculdade todos somos mais maduros e as famosas panelinhas de desfazem. Pura balela. “Panela” não é nada mais do que uma coisa normal, irritante, mas normal. É algo do ser humano sentir-se atraído pelas pessoas semelhantes a si próprio, o medo pelo diferente e desconhecido sempre será maior. Analisando todo o lugar, pode se observar as mulheres chamadas “patys”, os badboys, os negros, os gays. Sempre existiram as panelas e as tribos. Você deve se perguntar então qual seria a minha. Pois eu lhe digo que não faço a mínima idéia. Tenho meu próprio jeito, se me sinto atraído por alguém simplesmente me aproximo, ou, deixo se aproximar, nunca parei para pensar sobre isso, e antes que nesse instante pudesse, senti alguém sentando-se ao meu lado.



– Beleza?



Olhei a figura pelo canto dos olhos. Um homem. Por que nunca é uma gostosa que se senta ao seu lado?



– Beleza. E você?



Quis ampliar o assunto. Naquela noite estava, digamos que, no clima. E como tudo estava entediante de mais, começar uma conversa poderia fazer o tempo passar mais rápido. Ainda não estava na hora da aula, faltavam uns dez minutos. A UNIVAG era realmente próxima a minha casa. Fui a pé e ainda cheguei cedo.



– Beleza. Começando hoje?



– Sim e você?



– Não, as minhas aulas começaram há uma semana.



– Qual é o seu curso?



– Turismo.



Antes que pudéssemos prolongar um pouco mais o assunto, algumas garotas que se encontravam relativamente distantes de nós, começaram a balançar os braços alucinadamente, gritando. E como gritavam. Chamavam um tal de professor Adam. Será que esse bendito não estava escutando? Dirigi os olhos para o homem ao meu lado, que dava indícios de se levantar.



– Bom, acho que estão me chamando. Foi um prazer.



Começou a se distanciar e logo virou rapidamente, como se esquece-se de algo.



– A propósito, me chamo Adam, e você?



– ... Kim



– Até mais, Kim.



E correu em direção das garotas com um grande sorriso nos lábios. Acho que ele esqueceu de mencionar que não era um aluno de Turismo, e sim o professor. Fiquei meio chocado na hora, ele nada se parecia com um professor. A principio nem o observei, mas então, quando já se encontrava distante, despertou meu interesse. Era um tanto quando diferente.



Seus cabelos eram muito curtos, praticamente raspados. Pela distância não pude observar a cor de seus olhos, apenas que eram grandes e exuberantes. Extremamente magro e esguio, pele branca. Suas roupas eram apenas uma calça de pano bege, acompanhada por uma camiseta de manga longa branca, sem nenhuma estampa. Seus dedos estavam cobertos de anéis e... Não pude dar fim a minha análise, pois percebi que o pátio estava praticamente vazio e nem mesmo ele se encontrava mais no mesmo lugar. Corri para dentro.



Nem me pergunte como era a estrutura do local por dentro, não vi nada a minha frente, só fui parar para observar algo quando já estava em frente à porta – já fechada – da classe onde eu deveria estar sentado em uma carteira invés de ali, parado que nem tonto. Bati de leve na porta, alto o suficiente para que o professor escutasse. Um senhor de baixa estatura, com seus quilinhos a mais, abriu a porta. Não poderia dizer que seus fios eram brancos, já que ele não possuía nenhum.



– Sim?



– Desculpe o atraso, me perdi pelo campus. Aqui é a aula de Sociologia aplicada, certo?



– Claro, por favor, entre e se ajeite em uma carteira.



– Obrigado.



Sociologia aplicada, o primeiro assunto que veria no curso que iria fazer: Tecnologia em Marketing e Vendas. Bem a cara do meu pai, não pude nem mesmo escolher o curso que faria. A sala era gigantesca, parecia um auditório, alguns olhares curiosos das dezenas de alunos que ali se encontravam me acompanhavam. Sentei em um lugar no meio daquela multidão. Tanto calor humano! As aulas com certeza não seriam agradáveis. O senhor baixinho logo começou a falar.



– Boa noite, senhores. Me chamo Carlos Henrique Macedo, serei o professor de Sociologia aplicada de vocês. Primeiramente farei a chamada, e depois explicarei como funcionara o meu sistema de aulas. Essa será a única chamada que farei em voz alta, será apenas para que poça conhecê-los. Nas próximas aulas peço que assinem a lista antes de saírem. Bom, vamos começar...



Suspirei. Até que ele chamasse todos os “senhores” daquela sala a aula já estaria próxima do fim. Haja paciência. Fiquei apenas observando os rostos, as vozes, os nomes. Não tinha mais nada interessante para fazer, o silêncio era descomunal. Não gosto muito do silencio.



– Kim Search?



– Aqui.



– Ah sim, o senhor atrasado. Espero que tente evitar esse problema.



– Sim, senhor.



Falei em meio a um bocejo. Algo suficiente para tirar algumas risadas da sala. Bom, pelo menos diminuiu aquele silêncio insuportável. A chamada teve continuação. Alguns R’s* depois e eu dei um pulo na carteira. Não, não podia ser! Aquilo era coincidência demais. Tudo bem que a cidade era pequena e tudo o mais, mas era muita coincidência. Após o nome ser chamado procurei desesperadamente por aquele que responderia. Estava não muito distante de mim, apenas algumas fileiras a baixo. Não era apenas seu sobrenome, era muito mais. Sua pele, seus cabelos, e seus olhos. A semelhança era incrível! Não pude evitar uma pequena risada, que até mesmo ele notou. Acho que foi meio alta, já que dirigiu seus olhos azuis a mim, com a famosa cara de poucos amigos. Deve ter achado que ria dele. Mas não ria. Estava apenas deslumbrado com como o mundo conspirava, como as coisas podiam ser assim inusitadas.



Seu nome era Ricardo Forward. Os cabelos negros, longos, presos em um rabo de cavalo baixo, a pele branca – aquela pele branca como nunca havia visto – e os olhos azuis – que apenas um se estampava na face daquele que dominava meus pensamentos durante dias. Alguma ligação eles tinham, e mais tarde iria descobrir qual era.



A aula passou de forma rápida, nem mesmo olhei para o homem que berrava alucinadamente para que sua voz pudesse ecoar por aquele enorme ambiente, meus olhos ficaram presos nele – Forward. Que coincidência! Logo a aula chegou ao seu fim, mas não tive tempo nem mesmo de me levantar da carteira, a segunda aula já tinha começado. Quem era o professor, e qual era o assunto? Não faço a mínima idéia. Como se eu tivesse observado mais alguma coisa aquela noite se não fosse ele.



Seus olhos ficavam vidrados nas explicações, raramente conversava com uma garota gordinha de cabelos ruivos que se sentava ao seu lado. Pareciam conhecidos de longa data. Quando finalmente dera onze horas e fomos liberados, soltei um longo suspiro de alivio, secando junto o suor em minha testa. Muito calor humano como disse. No breve minuto que me distrai, ele sumiu de minha vista. Procurei desesperadamente pela sua figura, mas não o encontrava. Já deveria ter saído. Foi então que o avistei sentado no mesmo banco em que ficara com Adam. A ruiva se encontrava ao seu lado. Dirigi-me até eles.



– Boa noite. Você é Ricardo Forward, não é?



Seus pequenos olhos azuis dirigiram-se hesitantes a mim, quando tomaram foco, pareceu-me que se estreitaram.



– E você é o garoto risonho, certo? Tinha alguma coisa estranha com a minha cara?



Cara de poucos amigos? Com certeza. Agora viria a explicação.



– Na verdade não há nada estranho com a sua cara, ri porque achei coincidência encontrar alguém com o mesmo sobrenome que meu vizinho.



Suas feições pareceram-se suavizar. Junto um pequeno sorriso se formou no mover de seus lábios. Nesse pequeno instante ele para mim nada se pareceu com Vitor. Merda! O sorriso é algo que muda tanto assim uma pessoa? Se mudar, não soube se naquele momento mudou para melhor ou para pior.



– Ah é? E quem seria esse vizinho? Agora fiquei curioso. Seu nome é?



– Kim Search. Moro num condomínio aqui perto. Vitor Forward, conhe....



– Rica, esse é o seu tio! Ele é um homem maravilhoso!



A ruiva respondeu praticamente aos berros. Mais uma que achava aquele homem maravilhoso. Tive que conter-me para não cair na gargalhada. Nem mesmo me irritava mais, estava se tornando realmente algo hilário.



– Isabel, não grite! Você fica tão ansiosa quando se trata dele que berra e nem mesmo percebe.



– Desculpe, acho que me empolguei.



A conversa finalmente retornou a mim.



– Mas, que coincidência meu tio ser seu vizinho. Não o vejo há algum tempo. Como ele está? Toda a família esta morrendo de saudades.



– Com certeza ele está muito bem. [bota bem nisso]



– Ótimo! Ele ficou um pouco distante de nós nos últimos tempos por causa do trabalho, acho que as coisas andam agitadas.



– Pois é, ele parece um homem realmente ligado ao trabalho.



– Bom, eu e Isabel temos que ir agora. Prazer em conhecer você, Kim. Espero que a gente possa conversar mais amanhã. Mande um olá para meu tio.



– Com certeza.



E então ambos se despediram e desapareceram de minha vista. Sobrinho de Vitor Forward... Sabia que alguma ligação eles teriam. Uma grande coincidência.



Estava tarde. O céu coberto de estrelas. Uma noite como aquela era algo muito incomum de onde vim. Várzea Grande tinha suas qualidades. Uma delas era um céu como aquele. Gostava de olhar as estrelas, sempre tão distantes. Mas, ao esticar de um braço, parecia que tínhamos a chance de alcançá-las. Isso me atordoava quando criança. Olhar as estrelas com meu pai, era uma das poucas lembranças que tinha ao seu lado. Em meio à tamanha nostalgia nem percebi quando já me encontrava no condomínio. Deixei as estrelas de lado. Juntando ar em meus pulmões e uma grande coragem que teria de ter para encará-lo. Como já disse, tinha medo de sair machucado de toda aquela situação. Mas, agora não era mais hora de voltar atrás.



Nenhuma luz ultrapassava aquelas janelas redondas, tudo apagado. Como seria sua cara de sono? Que idiotice me perguntar algo assim. Sacudi a cabeça, limpando minha mente. Ao lado da gigantesca porta, uma campainha, não hesitei em tocá-la – se o fizesse acabaria dando meia volta e partindo dali.



Tentei não pensar em nada, ou melhor, apenas no que diria a ele. Porém, com certeza, tirá-lo da cama quase a meia noite valia qualquer coisa. Uma janela do segundo andar foi acessa, parecia que podia ouvir seus passos pela escada, cansados depois de um dia de trabalho. E finalmente a maçaneta se moveu, lentamente. A porta já aberta pude ver sua figura. Um homem alto, cabelos negros totalmente desalinhados, com alguns fios que lhe caiam por sobre os olhos – estes que se encontravam meio cerrados. O peito desnudo, definido, com as famosas “trincadinhas”, a única peça de roupa era uma calça de pano larga. Senti um frio na espinha. Meu Deus, onde estava meu ódio? Quando falei, praticamente gaguejei. Que merda!



– Bo...Boa noite!



Seus olhos abriram totalmente em um estalo, encaravam-me meio incrédulos, mas isso foi em apenas um segundo, pois logo sua expressão de “nada” voltou e sua voz aveludada chegou aos meus ouvidos. Voz aveludada? Eu não poderia ter arranjado uma definição menos...gay?



– Kim Search... O que quer a essa hora da noite? Acho que você errou de casa, a sua é essa aqui ao lado.



Fechei os olhos por um segundo, limpando minha mente, tirando qualquer pensamento idiota e arrancando qualquer possibilidade de gaguejar outra vez. Falei com a face séria.



– Na realidade, sei muito bem onde estou, na casa de Vitor Forward. Na sua casa. E vim aqui pois queria falar com você. Quanto à hora, foi apenas um capricho.


Ele sorriu. Um pequeno sorriso de canto. Controlei minha vontade de voar em seu pescoço, para arrancar-lhe aquele sorriso idiota da face. Mas, então me veio a imagem de Ricardo, que a algum tempo tinha sorrido de mesmo modo para mim. E minha pergunta foi respondida tão rapidamente. O sorriso havia mudado o seu rosto para melhor ou pior? Pois eu digo pior. Não que ele fosse pior, apenas que comparado ao Vitor, era. Aquele homem realmente tinha alguma coisa de especial. Como Flora havia me dito mais cedo, é como se ele pudesse encantar as pessoas, chamá-las para si. E percebi que desde a primeira noite que ouvi sua voz em meus sonhos, já havia sido capturado por esse encanto. Que me levou a onde estou hoje, tentando descobri seus segredos, tentando saber quem ele é, e como pode mexer assim com a vida dos outros. Acho que essa minha pequena análise demorou mais tempo do que pensei, pois fui retirado de meus pensamentos por uma voz que me chamava irritada.



– Kim. Kim.



– Oi?



– Vai ficar ai parado que nem um idiota me olhando ou vai dizer logo o que quer?



Dessa vez quem sorrio fui eu. Saber que ele era assim tão especial e que podia interferir tanto na vida das pessoas, até mesmo na minha, aumentou a vontade de descobrir o que escondia, aquilo que ele não queria que eu soubesse, ou que espalhasse pelos cantos. A diversão dobrou.



– Vim aqui para lhe fazer um convite.



– Um convite?



– Sim, quero que jante comigo e minha família no sábado. Às sete da noite. Essa hora você já estará em casa.



Ele me olhou como se me analisasse, tentando invadir meus pensamentos, e não conseguindo soltou um suspiro derrotado.



– Pois bem. Parece que um problema veio bater a minha porta. Mas, eu aceito o convite e com certeza estarei lá às sete da noite.



Então ele começou a se aproximar, foi lento, devagar, mas minhas pernas não tiveram forças para se afastar quando viram sua aproximação. Por mais uma vez ele estava perto demais, causando-me arrepios. Colocou seus lábios próximos ao meu ouvido.



– Espero que não tenha esquecido do que disse. Agora, querendo ou não, logo iremos continuar com a nossa brincadeira. Boa noite, Kim.



Estremeci. Seus olhos trocados rapidamente encontraram os meus – que olhos eram aqueles! –, se distanciando logo depois, acordando-me após o bater da porta. Brincadeira? Não sabia se estava pronto para essa.



Quando minhas pernas puderam se mover normalmente, voltei para casa. Mesmo sendo tarde como era, vi meu pai sentado ao sofá, com um livro caído sobre o colo, adormecido. Com certeza tivera me esperando para recepcionar-me após o primeiro dia de aula. Apesar de sua ausência durante minha criação, de seus modos para comigo nada tradicionais e principalmente de suas imperfeições, eu o amava como meu pai. E queria apenas sua felicidade. Sei que tudo pelo que havia passado nos últimos tempos afastou isso dele, e desejava sim que ela pudesse retornar. Principalmente a alegria que transbordava nas noites que observávamos as estrelas. Senti vontade de abraçá-lo, mas não o fiz, apenas subi para meu quarto. Acho que sempre me faltará coragem na hora de demonstrar meus sentimentos.



Já deitado em minha cama, sentia meus olhos pesarem. Entretanto, ainda tinha Forward nos pensamentos. Sentir-me tão estranho ao observá-lo vestido daquela forma em frente a porta, sua voz tão próxima a mim, e aqueles olhos tão diferentes. Fiquei incomodado. Minha repulsa por ele pareceu sumir rapidamente. Por enquanto não sabia qual definição poderia dar ao que estava sentindo. Então deixei como sendo uma mistura de raiva e admiração o sentimento que por ele existia. Raiva essa justamente por admirá-lo. Nunca quis que o sábado chegasse tão depressa.












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Notas finais do capítulo

R's - Letras r mesmo =D
Hello! Bom, aparição de 3 personagens novooos: Ricardo O sobrinho, Adam O professor e Isabel A nada (kukuku, acho que ela não tera um papel muito efetivo na história, kkk).
Falando sério agora *hohoho como se eu falasse sério alguma vez =P*, mesmo tendo avisado peço desculpas pela demora do cap. e já aviso que o 8° tbm irá demorar um pouco maias.AI, desculpem! Mas as coisas pro meu lado não andam NADA bem e estou um tiquinho *leia-se MEGA SUPER ULTRA* preocupada, por isso não tenho cabeça para nada =/!
Espero que tenham gostado do cap. que foi ralativamente grande *-----* e que deixem reviews pleeease. Quem sabe assim minhas preocupações não diminuem e eu posto mais rápido =P
Até mais!
Bjaoo**