Todo Criminoso Tem Um Vizinho escrita por Ohana_GF


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Capítulo originalmente betado por Tsuki.



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Estava parada as minhas costas, sua voz doce – inesperada – assustou-me. Virei lentamente, preparando-me para encará-la. Seus olhos me fitavam perdidos, como se realmente não me enxergassem. Foi então que compreendi o porquê de não ter me notado àquela hora na sala dos arquivos. Era cega. Os orbes castanhos nada viam além da escuridão. Nossa, isso foi realmente filosófico! Mas era a mais pura verdade. Tive um pouco de pena.



– E você, quem é?



– Perguntei primeiro. Não vai me responder?



Suspirei. Seu tom demonstrava uma personalidade forte. A voz doce apenas enganava.



– Kim Search. Mas, então, qual seu nome?



– Hum, tente descobrir. Qual seria meu nome?



Soltou um pequeno riso abafado pela mão que fora levada à boca. Mãos pequenas, condizentes com seu tamanho. Fiquei intrigado quando não me irritei com aquele gesto, pelo contrario. Mas logo arranjei um motivo para aquilo. Pena. Só podia ser a pena que senti há poucos instantes, afastei então isso de minha mente, respondendo sua pergunta – mais para mim do que para ela.



– Não preciso de mais jogos de adivinhações. Já estou intrigado demais com outro.



– Ora, tantas pessoas se recusam a dizer seus nomes assim?



Olhei-a distraidamente, estava a poucos metros de mim, próxima à guia. Vi que se dirigia em passos extremamente lentos para mais a minha frente. Perguntei-me se estaria seguindo minha voz.



– Não. Com certeza as pessoas não me negam dizer seus nomes. Mora por aqui?



– Sim, na rua dois, e você KIM...



Assustei-me com seu grito. Ao levantar os pés para subir na calçada escorregou, sendo jogada ao chão. Corri, estendendo-lhe a mão, procurando ampará-la. Mas simplesmente a afastou, dizendo com voz rouca:



– Não preciso de ajuda. Posso me virar sozinha, obrigada.



Levantou cambaleante. Ela era o quê? Idiota? Mas que merda! Qual era o problema em ajudá-la? Neste momento,sim, senti uma pontada de raiva. Que logo desapareceu, quando vi seu vestido, que ia até os joelhos, sujo de terra. Ela não podia fazer tudo sozinha. Seus olhos ainda não enxergavam.



– Humf, odeio essas coisas, me desculpe. Que vergonha.



– Não tem do que se envergonhar, a não ser pela sua roupa. Esta toda suja de terra.



– Essa não! E agora? Vou ter que voltar a casa pra me trocar. Me arrumei tanto para sair...



Começou a se distanciar. Fiquei apenas observando. Ela parecia ter realmente uma personalidade forte, não combinando nada com sua face de criança. Já um pouco distante ela parou. Virando-se rapidamente.



– O que esta fazendo aí parado? Não vai acompanhar uma dama toda desgrenhada até sua casa? Mas que falta de educação!



Uma de minhas sobrancelhas elevou-se, mostrando-me estupefato. Aquela menina realmente viajava. Além de cega deveria possuir alguma outra deficiência, como uma doença mental. Porque só poderia estar delirando.



– E então, vem ou não vem?



– Nem mesmo sei quem é você, sequer o nome. Como quer que eu te acompanhe?



– Se esse é o problema, está tudo resolvido. Vai ou não acompanhar a senhorita Flora Pearcy?



Fiquei um minuto hesitante. Mas, por fim acabei indo na direção da garota. Que mal haveria em acompanhá-la? Precisava conhecer alguém naquela cidade, e por incrível que pareça havia simpatizado com Flora. Seu jeito “atrevido” e orgulhoso nada tinha a ver com aquelas aeromoças que já lhes disse, dando-lhe um grande ponto a favor.



– Muito obrigada pela companhia, Kim.



– Hum.



Ela riu. Parecia nem mais se importar com a roupa. Aparentava agora mais interesse em mim, pois logo começou a falar.



– E então, mora aqui? Onde?



– Rua 8, casa 13.



– Oh! Você é vizinho do Forward.



– Pelo amor! Todo mundo conhece esse homem?



Todo mundo parecia ter conhecimento de sua existência. Não era uma figura que passasse despercebida. Isso sim me incomodava. Tudo bem que ele já morava ali há mais de dez anos, mas ainda sim... Era capaz que encontrasse pôsteres com seu rosto estampado, espalhados pelo condomínio.



– Pois é. Ele realmente é um homem especial.



– Pelo jeito sim, “homem maravilhoso” como me disseram.



Olhei-a e senti algo diferente. Suas feições mudaram, um sorriso de canto, estranho, fez-se em sua face. Não consegui decifrá-la.



– Não, homem maravilhoso, não. Apenas... Especial. Diferente



– Hum? Como assim?



Sua face retornou ao normal assim que sua risada ecoou pelo ar. Não entendi a situação de segundos atrás. Aquela expressão. Muito menos suas palavras. O que ela quisera dizer com especial? Senti que em pouco tempo obteria essa resposta. Esperaria ansiosamente por esse momento.



– Nada, nada. Esqueça.



Depois disso não dissemos mais nada. Caminhamos em silêncio e pelo canto dos olhos a observava. Andando confiante, como se soubesse o caminho exato a se tomar. O vestido branco, agora sujo de terra, marcava suas curvas – que eram muitas. O rosto de criança não combinava com o corpo de mulher. Quantos anos teria? Fiquei curioso. Mas antes que perguntasse ela parou.


– É aqui.



– Ah .. Sim



– Muito obrigada pela companhia, Kim



– De nada.



Virei às costas. Estava há alguns metros quando me chamou.



– Kim.



– Sim?



– Gostaria de fazer alguma coisa amanhã?



Encarei-a por um instante. Sinceramente a primeira coisa que me veio à mente, era que aquilo poderia ser útil, principalmente para alguma ajuda no futuro. Estar próximo a ela poderia ser conveniente.



– Claro. Passo aqui amanhã às dez e vinte. Até.



Não vi qualquer expressão em seu rosto, pois antes que pudesse já estava longe. Não podia e nem queria ficar ali por muito mais tempo. Ter ido com a cara dela me deixava inquieto.



Voltei para casa, e lá fiquei pelo resto do dia, azendo absolutamente nada. Um porre, isso sim. Na verdade eu fiz algo. Arrumei minhas coisas para a primeira aula na faculdade. Muito animador, não? A aula em si não faria diferença em nada para mim – apesar de estar um pouco mais interessado no assunto–, o que eu realmente queria era reajustar o meu meio social.



Professores influentes, jovens alucinados e milhares de pessoas pedindo por mais uma pobre alma em sua vida – exatamente o que eu precisava. Expandir-me. Acredito sim que quanto mais gente você conhece mais portas lhe serão abertas. Não necessariamente precisaria gostar da pessoa, apenas do que ter a sua companhia poderia me proporcionar. Sei que isso soa realmente muito mal, mas é a realidade em que fui criado. Convivo com essas pessoas como conviveria com quaisquer outras, em nenhum momento sou falso com elas, em nenhum momento digo que sou seu amigo. Tenho sim pessoas a quem aprecio. Essas que são poucas, mas á quem daria minha vida em troca de sua felicidade. Também possuo meus conceitos.



E pensando assim acabei adormecendo no sofá do quarto, acordando um pouco antes das seis da tarde. Minhas aulas iniciariam às sete horas, comecei a me aprontar.



Como de praxe, demorei uma eternidade na banheira, relaxando cada músculo do meu corpo, realmente me apagando da realidade. Passeei nu pelo quarto, enquanto escolhia o que usar aquela noite. Fazia frio, sentia as gotas de água que deslizavam por minha pele demorarem a secar. Depois de tanto pensar acabei optando por uma calca jeans preta e uma blusa de manga longa preta e branca. Um all star prata repousava em meus pés, combinando com os anéis de mesmo “material“ que reluziam em meus dedos. Para esse primeiro dia achei melhor retirar os piercings que embelezavam meu rosto, junto à faixa preta em meu pescoço. Com certeza sentiria sua ausência.



Coloquei a mochila nas costas e desci as escadas – ninguém ainda havia retornado. Tranquei a porta de casa e me dirigi para a calçada. E, então, vi Vitor Forward. Ele estava parado a sua porta, como se estivesse apenas me esperando sair. Os cabelos ainda com gel e a roupa exatamente como havia imaginado aquela manhã. Encarava-me sério, analisado meus olhos – ou seria minha alma? Virei meu rosto lentamente, soltando um pequeno sorriso, discreto, antes de me distanciar. Ele teria notado? Claro que ele notou.














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Notas finais do capítulo

OOK ! Nada a comentar sobre o capítulo. Só sobre a pequenina Flora. E aí o que acharam dela?
Esse capítulo eu postei rapidinho hem, mesmo atolada de provas *chora chora, se descabela* tento arranjar tempo para minha história e a tão viciante internet HOHOHO. O 7° talvez demore um pouco mais a sair, jah que por causa das provas *chora chora, se descabela* não estou tendo nem um pouco de inspiração para aumentar meu estoque, e também ele será o maior cap. até agora *----*.
Gostaria de agradecer a todos que estão comentando, fazendo criticas boas e ruins, que sempre deixam o meu dia mais feliz. Escrevo ainda com mais gosto. Se alguma coisa não estiver agradando por favor digam,e se agradar DIGAM MAIS AINDA, hehe!!
E aqueles que leram mas não deixaram um review, obrigada também, ao menos voces leram! MAS se deixarem um review vão me fazer pular de alegria aqui, uma luizinha na minha vida, haha. Bom depois dessa biblía, até a próxima!
Bjaoo**