Todo Criminoso Tem Um Vizinho escrita por Ohana_GF


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Betado Por Dio Bob



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Avisos: Grande indice de palavras de baixo calão; Em negrito seria um "grito"

Algumas gírias de gangue e de presidiários foram usadas no texto. Abaixo está o significado real de cada uma. Na linguagem dos próprios, podendo ser interpretadas – algumas – como apelidos ofensivos. Não aconselho e nem concordo com o uso de algum dos termos, foram apenas utilizados de maneira inofensiva para o realismo proposto na história.

Piá: Homossexual que não comercializa o corpo, mas mantém relações sexuais voluntariamente.

Dragão: Revolver.

Patrão: Chefe/ Chefe de gangue

Maquina: Revolver.

Penosa: Mulher que saiu com muitos homens / galinha

Fita: Atuação/ Fato qualquer

Perseguida: Órgão Sexual Feminino

Psicopata: Tarado Sexual

Puto: Homossexual que comercializa o corpo espontaneamente

Truta: Membro de quadrilha/Homem de confiança pessoal/Pessoal leal

Boiola: Homossexual.

Boa Leitura cambada ;P

As imagens voltaram com toda a força, me torturando novamente. Apenas um aperitivo daquilo que teria que suportar por toda vida. Já não estava em uma salinha de fundos de faculdade, estava em um ambiente frio, escuro e vermelho.

A respiração fraca, os olhos vidrados. Meu corpo completamente imóvel em um chão coberto por sangue. E os cadáveres! Oh, aqueles cadáveres! Tão próximos... Tão palpáveis... Tão... Comuns.

O objeto preto reluzia em minhas mãos, firmes em sua estrutura. Por que uma situação como aquela me pareceu tão assombrosamente familiar? Por que eu não havia enlouquecido, ensandecido, padecido? Qualquer coisa. Menos aquela imensa frieza. Menos a enorme pedra de gelo que eu encarnava. Uma pessoa normal teria agido daquela maneira? Teria ficado horas decorando a estrutura de uma arma asquerosa? E teria se sentido bem ao exterminar a pessoa que não deveria, mas odiava?

Talvez a única coisa que me salvasse, seria a grande saudade e tristeza que me abatera pela primeira morte. Pela pessoa que eu amava. É! Talvez eu não fosse tão ruim assim.

O objeto reluzira novamente. Uma arma. As iniciais cravadas em sua superfície mostravam-se descartáveis por um primeiro momento. Mas agora...

As imagens cessaram. E eu retornava...

Repleto de raiva.

________________________

Caixa postal.

Tento de novo.

Caixa postal!

Para que merda uma pessoa possui um celular que não atende? Encarei o objeto por um tempo. O que mais eu poderia fazer para achá-lo. Diante daquelas circunstancias era obvio que não o encontraria em qualquer lugar “comum”. Aquela maldita família!

Adam já se encontrava de pé, me olhando angustiado. Era de se entender. Há poucos instantes – mesmo após aquelas revelações – nós estávamos em um clima completamente oposto. O ambiente fumegava de tanto calor, a temperatura de sua pele, apesar de sempre fria, queimava. Huum, se ele tivesse mantido aquela corrente onde estava... 

Apertei o celular com força. Minha vontade era de esmagá-lo. “Se não tem tu, vai tu mesmo”, certo?

O simples e não tão inofensivo pensar, já era suficiente para que meu corpo se arrepiasse. E eu, com aquele sentimento de liberdade. Mas que merda eu estava pensando! Certas coisas nunca acabam. O problema é que nunca se percebe cedo o bastante. É necessário experimentar sensações e momentos diversos, para aí então, se dar conta de que você está, irrefutavelmente, ferrado.

Enquanto eu me perdia em pensamentos, Adam se aproximava e punha o mais delicadamente possível as mãos em meus ombros. O soco que recebera anteriormente não parecia ter sido desferido por mãos tão leves.

- O que tinha naquela corrente, Kim?

Mirei seus olhos, agora firmes novamente. Cogitei por um breve segundo a hipótese, antes de descartá-la, de que a fragilidade de Adam fora apenas encenação. Como podia surgir àquela expressão contendida em instantes, não saberia responder. Talvez, no fim das contas fosse somente seu trabalho.

-... Você sabe me dizer algo sobre Ricardo?

- O sobrinho de Forward?

- Sim.

Levou uma das mãos aos lábios, enquanto a outra escorregava por meu braço. Aderiu a uma face pensativa, buscando em sua mente o que eu queria saber.

- Fiz uma pequena investigação, como com todos os outros parentes de Forward, mas como nenhum deles aparentava ter um relacionamento mais próximo, descartei. Só que há uns dias... bem... o moleque se encontrou com um dos seus capangas , aí botei alguém em sua cola , mas nada significativo até o momento. Se ele for tão esperto quanto o tio, vou ter problemas!

Uma pequena falha no comentário de Adam me chamou atenção. Após um encontro suspeito de Ricardo com um dos homens de Forward, alguém passou a vigiá-lo. Isso eu havia entendido. Mas, se antes ninguém o observava, como chegou aos ouvidos de Adam tal informação?

Os únicos que deveriam ter conhecimento desse incidente eram os próprios envolvidos e alguém relacionado a Vitor. Não Adam. Por isso...

- Algum dos homens de Forward, é seu informante!

Afirmação. Não uma pergunta. Era óbvio que algum canalha filho da mãe estava traindo Forward. Repassando informações para um agente da Interpol, para Adam. Esse fato me frustrar tanto, não me pareceu questionável naquele momento. Naquele.

- Preciso que você o localize para mim. Se alguém o está seguindo, deve saber onde ele se meteu.

O “suposto professor” me encarou sério, com os braços agora cruzados frente ao peito. Ele ainda estava cansado, ainda estava frágil. E ainda, definitivamente, não estava à-vontade com a minha participação em toda aquela história.

Ficou naquela posição por alguns segundos, até desviar seus olhos e suspirar baixinho. Havia se rendido. Já estava mais do que na hora de perceber que eu não voltaria atrás em minhas decisões. Iria até o fim de tudo aquilo, principalmente se minhas novas suspeitas se confirmassem. Merda! Eu estava tão ferrado.

O celular se espremeu mais entre meus dedos.

- Tudo bem! Mas, ao menos me diga o porque.

Fui em direção á porta, estiquei o braço e segurei a chave, girando-a logo depois. Parei ao sentir o frio da maçaneta sob minha pele. Olhei discretamente para trás, fitando Adam com o canto dos olhos.

- Esteja preparado, seu trabalho irá dobrar... Agora vamos!

E então saí, para aquele imenso e silencioso corredor. Sentindo, por algum motivo, que não voltaria a andar por ele, nunca mais.

__________________

De acordo com o relógio no painel eram exatamente quinze horas. De um dia nublado, propenso a chuva e mortes. O homem sentado ao meu lado se encontrava inquieto, os dedos agitando-se freneticamente sobre o colo. Não o culpava. Ele não poderia estar comigo naquele momento. Sua investigação estava sendo posta em risco, o nome e vida lhe recém dados, extremamente próximos de serem desmascarados. Todo seu trabalho e esforço, a vida de seus companheiros perdidos, tudo simplesmente não podia ser desmerecido somente por causa de sua preocupação exacerbada por um moleque metido a Sherlock Holmes. Adam era sensato.

Mas mesmo assim, havia feito aquela ligação. Durou poucos segundos, o suficiente para conseguir a localização. Um bairro não muito distante de onde estávamos. Para onde Adam prontificou-se a me levar, um pouco a contra gosto. Eu ainda não havia lhe contado o porquê de tudo aquilo.

Várzea Grande era uma cidade relativamente iluminada e organizada, porém, aquele lugar estava muito longe de tal imagem. A rua se iniciava em um beco, atrás de algumas construções abandonadas, e era particularmente composta por terrenos baldios. Uma ou outra casa se salientava por entre todo aquele mato a muito não aparado.

Uma habitação em especial se destacava por seu estado mais apresentável, não que fosse grande coisa, ainda era uma espelunca. Como todas as outras por perto, não possuía muros em seu contorno, apenas um pequeno portão de metal, que ia até a altura da cintura. As janelas se encontravam muito bem vetadas, não permitindo a passagem de nenhuma provável luz. Essa que não se encontrava também no lado de fora, imergindo todo o ambiente em sombra. Estávamos em plena tarde, mas as nuvens espessas acinzentaram não somente o céu. Parecia noite.

O carro fora estacionado o mais distante possível. Impossibilitando a visão de terceiros. E naquele momento estávamos, parados apenas observando, há exatamente dez minutos. Uma movimentação mais intensa foi feita ao meu lado e uma mão foi posta carinhosamente em meu pescoço.

- Por favor, me prometa... Me prometa que no menor sinal de perigo você correrá para fora daquele lugar. Por favor, não se machuque. Eu não sei o que fa...

- Eu prometo! Espere por mim aqui. Logo eu volto, e sem nenhum arranhão.

Retirei a mão suave e fria de minha pele, encarando o mais profundamente possível aqueles olhos negros. Suspirei e parti para a rua.

Conforme chegava mais próximo daquele casebre, meus passos se tornavam mais pesados e a respiração mais acelerada. Não percebi que meus punhos se encontravam fechados. Contraindo as unhas contra a palma da mão recentemente ferida. E pelo mesmo motivo. Talvez devesse comprar luvas. Sim, luvas seriam interessantes.

Parei em frente ao portão enferrujado, pronto para ultrapassá-lo, quando uma mão rude agarrou meu ombro com força, fazendo com que me encolhesse instintivamente. Um ser alto de porte avantajado e pele bronzeada, coberto por um longo casaco preto, me encarava com face de poucos amigos. Quando meus olhos fincaram-se nos seus, o aperto foi intensificado.

- O que cê’ pensa que ta’ fazendo, moleque?

Ok! Pelo jeito a casa estava sendo muito bem vigiada. Um brutamonte daquele, saindo sabe-se lá de onde, só queria dizer uma coisa. Alguém precisava de proteção.

- Não que isso seja do seu interesse, mas vim falar com alguém. Agora, será que da pra me soltar?!

Afastei-me rapidamente, desfazendo seu aperto em minha carne. Aquele Zé ninguém não iria se por em meu caminho.

- Sai vazado seu viadinho. Cê’ não sabe onde ta’ se metendo.

Meus punhos se contraíram ainda mais. Esses malditos capangas que não se colocam em seus lugares. Era lógico que em relação à força física eu não teria a mínima chance contra aquele gorila, por isso usei a única carta que poderia usar, sem ser espancado ou morto depois. O que eu esperava ao menos.

- É melhor que controle sua língua, idiota! Vim falar com Forward. E se por um acaso você não sair da minha frente, providenciarei para que amanhã você esteja nadando com os peixes. Entendeu ou quer um desenho?

E com um muxoxo desgostoso a grande figura se pôs para o lado, liberando-me a passagem. Até que havia sido fácil. Normalmente os homens desprovidos de massa cefálica, se acuam com um leve levantar de voz e lógico, a menção ao chefe. Que graças à ação do homem, já possuía um nome evidente.

Ouvi o tilintar do portão as minhas costas e o homem, ainda bufando. Se estivesse com humor, talvez risse de tamanha ignorância. Mas definitivamente não estava com o tal, então apenas me dirigi à porta, que constatei rapidamente ser nova demais para aquela casa envelhecida.

Olhei a minha volta, algo mais instintivo do que realmente calculado. Estudando o lugar onde estava me metendo. E com uma leve surpresa vislumbrei algo sobre minha cabeça, ao lado direito. Uma pequena câmera presa entre o telhado – que se salientava um pouco para fora da estrutura da casa – e a parede, dirigida a mim como se me olhasse fixamente. Foi inevitável o sorriso sarcástico. Segurei-me para não dar um “olá”. Principalmente após ver que descansando sob meus pés havia um tapete com o dizer “Bem vindo”. Irônico.

Mas estão o momento foi cortado, e meu corpo direcionado alguns passos para trás. Em um rompante a porta havia sido aberta, e um homem baixinho e musculoso me encarou com uma expressão de descaso. Não parecia muito feliz em estar ali. Se fosse um dos subordinados – o que com certeza era –, pensei que logo estaria se rebelando ou quem sabe pior, traindo seus superiores. Aquela expressão não enganava.

- Entre! Siga pelo corredor, terceira porta a esquerda.

Demorei um pouco para assimilar suas palavras. Havia me exaltado com a abertura da porta tão de repente e depois a aparição daquela figura desproporcional, que surgiu em meio a um foco de luz que antes não existia. Meus olhos pouco a pouco se acostumaram à claridade vinda do interior da casa. Comparado com o exterior, estava bem iluminado. O que não era muito difícil.

Meus pés se moveram automaticamente, me levando para trás do homem, dentro do casebre, em meio a uma sala, assustadoramente arrumada. Tudo estava limpo até demais, os móveis bem distribuídos pela pouca extensão do ambiente. Na realidade, quando digo móveis, me refiro a uma grande mesa de vidro com umas tantas cadeiras, umas duas estantes lotadas de caixas e um abajur grande acesso no canto.

Somente depois notei que as tantas cadeiras estavam ocupadas, e em cima da mesa haviam cartas de baralho desorganizadas. Cerca de cinco homens de faces mal encaradas me fitaram, abaixando seus jogos sobre o vidro. Um deles, o mais próximo de mim, levou rapidamente a mão a uma Taurus M44 ¹, perfeita em toda sua extensão brilhante, feita com Aço Inox.  Lógico que naquele instante eu não poderia lhe informar isso, muito menos dizer que a mesma era perfeita. Somente empinei o queixo e o encarei de maneira superior. Que aquele cara fosse à merda com seu jeitinho enfezado e sua arminha. Tinha outras coisas para me preocupar do que com uma sala cheia de marmanjos armados.

Assim que avistei o corredor, fui em sua direção, contando as portas com meus olhos. Mas não foi muito difícil deduzir qual seria. Claro que era a única em que um homem se encontrava estático com uma Metralhadora Sub PM 12A ², atento ao que fosse. Um arrepio percorreu minha espinha. Alguma coisa me dizia que eu com certeza não sairia dali sem um arranhão.

- Vai entrar ou não, Piá? Ele tem o dia todo não.

Nem mesmo dei atenção à pessoa com a Sub, estava concentrado demais em meus punhos que se fechavam novamente. Podia sentir a pele sendo ferida e marcada. Levei um deles ao alcance de meus olhos, alongando os dedos, visualizando então as manchas avermelhadas e os já cicatrizando, machucados daquela manhã. Talvez minha personalidade distorcida não fosse algo tão convidativo.

Tencionei-me para frente e abri a porta.

No mesmo instante uma música violenta entrou por meus ouvidos, em uma altura que a tornava quase incompreensível. E junto daquelas fortes batidas de bateria e guitarras, um cheiro forte de cigarro, que passou por minhas narinas rapidamente, me deixando tonto. Fazendo com que meus olhos lacrimejassem.

Com a visão ainda embaçada, pude observar um cômodo grande, as paredes possuindo isolamento acústico e o chão de um piso preto lustroso. O som extremamente alto vinha do canto esquerdo do ambiente, de gigantescas caixas de som que tremiam com os próprios ruídos que criavam. Próximo as mesmas uma mesa redonda e verde, própria para um jogo de cartas. Alguns homens a estavam usando naquele momento, por isso – e pela música – não notaram minha presença.

No outro extremo do quarto, um imenso sofá roxo descansava. E sentados sobre seu estofado, três homens. Cada um com uma mulher semi-nua em seus braços. O mais espalhafatoso deles, se contorcia enquanto uma loira de longos cabelos lhe proporcionava um bom boquete.  

Mas meus olhos ficaram extáticos com a visão bem a minha frente. Preso a parede um quadro luminária ³ – que não contribuía muito para a iluminação –, e logo a baixo deste um grande sofá preto aveludado, com um corpo estirado confortavelmente em sua superfície.

As pernas longas adornadas por uma justa calça de couro, que marcavam com perfeição suas formas. O tronco despido, deixando a mostra o corpo magro e levemente musculoso. Destacando-se na pele extremamente branca, uma gigantesca Tribal, que como se fosse chamas, consumiam metade de seu peito e subiam para o ombro, aparentemente alcançando também as costas e o braço direito.  Os cabelos longos se confundindo com o negro do sofá e de seus lábios rosados pendendo um cigarro devidamente acesso. Além daquele vicio, outro também se encontrava próximo ao seu corpo, na forma de várias garrafas de cerveja e vodka.

O homem se remexeu, retirando o antebraço de cima de seus olhos absurdamente azuis. Para então direcioná-los a mim e... sorrir como nunca antes havia visto.

Fora tudo rápido de mais. Não ouvi quando a música parou, não senti quando o chão começou a mexer-se sob meus pés e definitivamente não notei quando eu já não estava mais em frente à porta, e sim do outro lado do cômodo, segurando Ricardo pelos cabelos e socando sua cara.

O sangue que escorreu de seus lábios esparramaram-se pela minha pele, se misturando com aquele que escapava pelas feridas em minhas mãos. Mas eu não via mais cores. Mais uma vez me perdia em plena raiva.

Seus dígitos agarraram meus pulsos com força, procurando afastar-se de minha loucura. Mas foi em vão. Nada me pararia naquele momento, nada. A não ser o cano gélido de uma arma contra minha nuca.

Quando meus movimentos cessaram, senti meu corpo sendo puxado para trás. Para longe da forma encolhida sobre o sofá. Meus braços foram agarrados com força, e a arma posta agora contra a espinha dorsal. Respirei fundo, recobrando os sentidos e principalmente minha sanidade. Eu teria que dar um jeito nesses ataques súbitos.

Enquanto me recompunha e notava como todos no cômodo interromperam o que faziam, e estavam olhando fixamente para mim, Ricardo sentou-se lentamente. Esticou um de seus braços para o lugar onde antes havia uma pequena mesa de vidro retangular – que estava estilhaçada, após eu ter passado por cima –, retirando de entres os cacos uma pequena toalha branca. Levou-a até o rosto, a empreguinando com o vermelho de nossos sangues.

Quando fitei sua face, vi o estrago que havia feito. Cortes profundos em seus lábios, que já começavam a inchar. Um dos olhos abria apenas parcialmente. Em ambos os supercílios cortes que dificilmente parariam de sangrar. E o nariz...

- Caralho! Alguém me trás a merda de um saco de gelo, que esse filho da puta quebrou a porra do meu nariz.

Após a ordem – que seus capangas logo foram cumprir – dirigiu seus olhos a mim. Tentou dar um sorriso de escárnio, mas foi em vão. Seus lábios estavam machucados de mais para tal expressão. E isso me proporcionou uma gostosa sensação de dever cumprido.  O que ainda assim não amenizou minha fúria.

- Não pensei que fosse ficar tão irritado, Kim. E você nem sabe toda a merda da história!

Aquele desgraçado! Tentei me soltar do forte aperto em meus braços para acabar com a porcaria do serviço naquele rostinho perfeito. Mas não adiantou. O aperto só se intensificou e a arma espremeu-se mais contra minha coluna.

- O que eu sei seu desgraçado, é que você matou a droga da minha família. RF? Belas iniciais, filho da puta!

- Ah! Então ela fez mesmo? Achei que não teria coragem. Ela chegou aqui toda cheia de marra, como se já tivesse matado trinta. Pff! Foi só ver o Dragão que tremeu nas bases. E ainda por cima nem tinha grana pra pagar por aquela porra. Se não fosse pelo patrão, eu mesmo teria metido bala na penosa, invés de dar a porcaria da maquina.

Meus olhos se arregalaram. Eu não podia acreditar que aquele homem a minha frente, falando e agindo daquela maneira, era o mesmo Ricardo totalmente passional e educado. Tão doce ao ponto de me irritar. Seus gestos, sua fisionomia – mesmo desfigurada –, tudo ao inverso do amigo que supostamente fiz. Alguém naquela merda de cidade era o que realmente aparentava?

- Você não deve ta’ entendendo é nada, né moleque? O patrão que me desculpe, mas não banco mais a porra da babá.

Ricardo fez um gesto com a cabeça, que pelo jeito fora uma ordem para que me soltassem. Os braços foram libertos, e a pressão da arma desapareceu das minhas costas, sendo trocada pelo metal da cadeira em que meu corpo foi empurrado. Naquele momento tive certeza. Por algum motivo ele não podia me ferir.

- A fita é a seguinte, Kim. Quem matou a porra da sua família, foi qualquer um menos eu, pegô? Só segui ordens do patrão, que disse pra eu dá a maquina pra tua mamãe. E tu sabe que eu faço tudo que ele manda. Quem não faz, não é?

- Até dá a bunda praquele desgraçado eu já dei.  Isso por que eu curto perseguida. Mas aqui entre nós... O psicopata faz um serviço bom pra caralho! Lembro daquela gozada até hoje. Mas... Você já deve ter experimentado. Com essa cara de puto, nem deve ter demorado muito pra liberar.

Levantei-me em um rompante. Indo em sua direção e agarrando seus cabelos mais uma vez. Senti os outros homens na sala se movimentarem. Mas logo pararam com o levantar das mãos de Ricardo, ordenando que não continuassem. Ele não podia me ferir. Eu tinha certeza. Não sabia o motivo, mas estava óbvio. Como também era óbvio o nome do tal “patrão”.

- Ok, ok! Mals aí, Kim. É que eu nem resisti. Mas você, todo espertinho como sei que é, já deve ter percebido que não posso feri-lo. Por isso, seja mais tolerante com essa minha boquinha e não termine de foder com o meu rosto, certo?

- E você Ricardo, todo espertinho como sei que é, vai controlar a porra da boquinha e me contar de uma vez por todas que história é essa de Babá e, principalmente o que seu patrãozinho Vitor Forward, quer comigo... E por favor, fale como gente.

Soltei seus cabelos e senti-me novamente. Não poderia me desestabilizar por mais uma vez. Eu estava perdendo naquela troca de insultos. E eu não podia perder, em hipótese alguma para aquele “amigo da onça”. Minha raiva deveria se direcionar a outra pessoa. A outro assassino.

- Humf! Então escuta bem, que eu só vou falar uma vez truta. E como gente, claro!... Há alguns meses atrás Vitor me procurou, dizendo que tinha um trabalho. Disse que era algo mais pessoal, e que só confiava em mim para o serviço. De cara achei que seria algo grande, bem grande. Mas quando ele explicou melhor, vi que seria somente a porra de uma babá. A sua babá, Kim.

- Sabe, eu não tenho merda nenhuma de dezoito anos. Tenho vinte e cinco. E a essa idade, cuidar da porra de um fedelho de dezessete, é quase um insulto. Sem querer ofender você, logicamente... Primeiro ele disse que eu devia me matricular nas aulas de Tecnologia em Marketing e Vendas, e então me enturmar contigo. Com uma personalidade totalmente diferente. Você tem a mínima noção de como foi asqueroso agir quinem um puto boiola?! Sem contar que eu ainda tive que montar o maior teatro na minha casa. Ou você acha mesmo que eu arrumaria a porcaria de um brinquedo pro meu irmão? Que aquele pirralho se virasse sozinho.

- Bom, resumindo... Eu tinha que cuidar de seus passos dentro da faculdade, passar informações suas para ele, e o que eu não havia entendido... passar informações dele pra você.  E é isso aí... Mals, mas cansei de brincar de casinha. Pode vazando agora! Que eu vou dá um jeito na porra do nariz que tu quebrou. Bosta!

Ouvi tudo. Cada detalhe, ponto e vírgula, que desceram feito pedra por minha garganta. A cabeça começou a latejar e minha visão anuviar. Encarava o piso negro como se minha vida dependesse daquele ato. Um filme se formou em minha mente. Um negativo repleto de falhas, mas que aos poucos eram superadas. A história quase completa. Poucos fatos, poucas duvidas a serem sanadas. Mas por quê? Porque ainda sim aquele vazio? O sentimento de que tudo estava longe de acabar. De que a chama de minha raiva não se apagaria nunca.

Levantei-me da cadeira. Sentindo minhas pernas leves de mais. Mas o peso sobre as costas, quase insuportável. Dirigi-me a porta, mas parei com o som daquela bendita voz.

- Oh! Estava quase esquecendo. Se você quer alguém a quem culpar pela morte da sua familiazinha, culpe Vitor Forward. Quem mandou Anna aqui foi ele. E aposto todas as minhas fichas em que ela jamais mataria seu pai se ele não a induzisse a isso. Aquele homem consegue tudo o que quer, não se esqueça! Corra e acerte um belo soco na cara dele por mim. Adeus moleque!

Meus punhos se fecharam.

-... Não será por você!

Por onde eu passava com meus passos apresados e respiração arfante, homens se levantavam as minhas costas prontos para atirar, mas quando levantavam as armas não me encontravam. Eu corria como nunca. E não via nada. Somente a imagem daquele maldito homem.

Enquanto eu me dirigia para fora daquela casa, do lado de fora, dentro de um carro não muito distante, um agente em estado de nervos recebia uma ligação. Uma informação que abalaria seus sentidos. E principalmente seus ideais.

_______________________

Não notei que o céu não estava mais cinza. E sim escuro como a noite. E que a chuva, que somente ameaçava cair, encharcava tudo em que tocava. Passei pelo portão enferrujado em uma velocidade recorde. Os pingos gelados batendo em minha pele com violência não me incomodavam. Nada me faria parar. Nem mesmo o homem que vinha em minha direção, empalidecido. Sem chão sobe seus pés. Passei por ele. Sequer olhei em sua face. Eu era um monstro?

- Quando você ia me contar que virou um assassino, Kim?

Em um lapso de consciência, pensei: Ele merece... Ele merece... ao menos isso. Então, diminuindo minha velocidade e olhando para trás apenas por um instante, gritei para que ele me escutasse.

- Me perdoe.

E voltei minha atenção para o caminho que teria de percorrer, murmurando um ”por favor”, que simplesmente se perdeu.

_______________________

Quanto tempo demorou? Quando eu finalmente coloquei meus pés em frente aquela porta? Não. Eu não saberia nunca responder. Tudo correu tão rápido. Eu não via. Eu não escutava. Somente sentia que precisava correr mais rápido. Antes que minha raiva se esvaísse e, eu não fosse capaz enfrentar aquele homem.

Sem hesitar ultrapassei o ultimo obstáculo entre eu e meu alvo. Ele estaria ali. Eu sabia que sim. Meus olhos correram ligeiros por cada canto, procurando sua figura. No andar de baixo não havia nada. Então no andar de cima. E lá era obvio onde ele se encontraria. O único quarto com visão para as janelas redondas.

Minhas mãos fechadas em punho tremiam. O que era aquilo? Eu estava em que tipo de estado? Tinha nomeação para algo degradante como aquilo? Eu não sabia. Eu não sabia de nada.

O quarto estava claro. As luzes acessas, iluminando o corpo deitado sobre a cama. Ressonando baixo. Seu tórax subindo e descendo lentamente. Os cabelos negros bagunçados sobre o lençol branco. Aquela forma perfeita e divinamente esculpida. Que eu queria ver se desfazendo entre minhas mãos.

E como fora com Ricardo, fora com Vitor. Não ouvi quando o barulho de chuva parou, não senti quando o chão começou a mexer-se sob meus pés e definitivamente não notei quando eu já não estava mais em frente à porta, e sim sobre o corpo perfeito, movendo um de meus punhos contra sua face.

Mas não ouve o contato. Antes que pudesse acertá-lo, uma mão amparou a minha no ar, indo contra a força usada. E frente a mim, aqueles olhos magníficos se abriram. A raiva desmoronou, junto com meu mundo idealizado.

- Você demorou meu amor!

Deus! Por que naquele instante a única coisa que pude fazer foi me agarrar aquele homem e derramar lagrimas somente dele?

- Por quê? Por quê?

- Calma! Eu vou te explicar tudo, Kim. Tudo!


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Notas finais do capítulo

Taurus M44 ¹ - http://www.taurususa.com/images/imagesMain/44SS6.jpg
Sub PM 12A ² - http://headshots2004.tripod.com/pistolapm12s.jpg
Quadro luminária ³ - http://img.blogs.abril.com.br/1/artenativamoveis/imagens/figura2.jpg
OBS: Não sou a favor de armas e muito menos quero fazer apologia a elas. Sua menção e visualização foram feitas apenas para o melhor desenvolvimento da fic e realismo.
____________________________
GENTEEEEEEEEEEEm ! Quando tempo ;P. SIm, sei que demorei muuuito a postar. Mas tenho um bom motivo Ho hO Ho. Hoje, baby's, são completados um ano meu no Nyah! UHUUUUl que liindo *----*. E amanhã, um ano de TODO CRIMINOSO TEM UM VIZINHO! UHUUUUl que liindo *-----* [2] Por isso vamos comemorar o aniversário cambada. COOOOM, surpresinhas.
A primeira delas é: Isso mesmo que eu sei que vc está pensando pessoinha esperta. DOIS CAPÍTULOS GIGANTES para a nossa satisfação!
A Segunda delas é: Os capítulos em sí. Isso mesmo! Ambos os dois recheaaaaados de revelações.
A terceira delas: O segundo capítulo será..... Rhá! Não vou contar agora. Só amanha no próximo post u.u kk
E a última delas : Capa novaaa. AAAAH como eu demorei pra montar essa porcaria! Isso mesmo, nem fico muito boa. Mas eu gostei e AI de quem reclamar, UHAUAHA. Sim aquele alí é o Ichigo, pelo simples fato de que imagino o Kim muito parecido com ele, apenas um pouco mais magrinho e os cabelos um pouco mais longos e menos arrepiado. Além dos outros detalhes como olhos, os pircing's e afins. E siiim meu povo, aquele ali com cara de NADA é o Forward (@___@). Mas imaginem ele com mais cara de homem macho, AHUAHAUA.
_____________
AHHHHHHHH como eu to feliz genteeem! UM ano Oh yeahhhhh baby! KKKKK Capítulo suuuuper do mal esse hem? Finalmente a verdadeira face de Ricardo. Um cara do mal, paga pau do Vitor, "hetero", com uma tatoo muuuuito sexy e agora todoooo arrebentado pelo Kim! MUHAHAHA Ninguém meche com o meu Laranjinha gostoso, humf u.u!KKKKKK Adam total desestruturalizado, tadinho! O que ele ira fazer? E o Forward, o que tem a contar?
Não percam o PRÓXIMO e os seguintes caps. finais. Siiim, acho que em uns três ou quatro caps. ela ira acabar T___T AAAAh mas eu acho que vai ter outra surpresinha antes tbm, UHAUAHA. Ao som de Sexy Bitch, baby! UIA
Booom, deixa eu parar por aki, que já falei muuuito. EEEE eu quero cometários NOS DOIS CAPÍTULOS, hem. Data especial!
Até amanhã
Bjaoo**



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