Antes de irmos para casa, Tio Noiaki passou numa loja de conveniências aberta 24h, daquelas que o fiscal sanitário olha de longe e já multa, para comprar alguma coisa para comer, e umas 5 caixas de cigarro pra ele.

-Vai querer o que?

-Hun... Ainda tô em dúvida entre o sanduíche com aspecto de mofado, ou o enroladinho com recheio de bolor.

-Escolhe logo, garoto. Uma coisa que eu aprendi é que enquanto não se prova, não se pode criticar.

-Que merda de ditado é esse? Tá parecendo que você tá é me paquerando.

-Quer calar a boca e pegar logo?

Eu não sabia qual era menos pior, então fiz uni-duni-tê e resolvi pegar o sanduiche.

Pelo menos ele só tinha o aspecto de mofado.

-Ei, tio Noiaki...

-Pode me chamar de Noiaki, garoto. Eu não gosto desse “tio” aí que você coloca.

-Tá, tá. Como se eu ligasse para o que você pensa... Enfim, eu ia lhe falar sobre o jogo de baseball que tá passando na TV. Não é o Red Albanis?

-Aé? Hum...

-Eu vou ver se é mesmo, ok? Enquanto isso cuidado para você não se aporrinhar com o seu próprio mau humor, tá?

-Aham...

É, eu tava enganado. Noiaki é um CÚ.

Não ia perder meu jogo preferido na TV, por causa daquele ser desagradável.

Aliás, não sei se já disse isso, mas eu sou fã dos Red Albanis desde quando eu nem me considerava gente ainda.

Eu tinha 7 anos quando fui à um jogo deles com meu pai.

O gramado, o campo, a bola: Tudo.

Tudo me chamava atenção. Mas nada me chamava mais atenção quanto o batedor dos Red Albanis.

Ele era realmente, e unicamente perfeito. Parecia que o baseball foi feito especialmente para ele jogar.

Era chamado de Red King.

Se eu não me engano, em 3 meses de estadia no time, ele já tinha feito mais Home Runs do que minha avó tem de idade.

Mas por um acidente misterioso, nas finais do campeonato, ele apareceu com uma fratura no braço esquerdo: o braço que ele jogava.

Eu lembro que me enfiei debaixo da cama do meu pai, e chorei por 3 horas seguidas, quando soube disso.

Aquele foi o fim do reinado dos Red Albanis.

-Puxa vida, eu queria tanto que o Red King voltasse... [Disse o cara que estava no caixa da loja, vendo TV]

-Sem ele, o Red Albanis é uma merda. [Disse o cliente que estava esperando o caixa da loja passar o produto, mas também estava concentrado na TV] Hey, você vai passar isso, ou vai ficar vendo TV? [Disse o cliente, se recompondo novamente para seu trabalho como consumidor]

-Ah! C-claro senhor! São $34,56.

De repente, aparece um cara com um moletom preto, encapuzado e com uma arma na mão.

-PASSA TODA A GRANA DO CAIXA! ISSO É UM ASSALTO, TÁ LIGADO?? [Disse o malfeitor enquanto apontava a arma para todos da loja]

Eu fiquei paralisado.

Não é POSSÍVEL que no meu segundo dia em Tokio, eu já esteja sendo assaltado.

-C-claro! Eu vou te dar tudo! Só não machuque ninguém! [Disse o caixa, assustado]

Nessa hora, tio Noiaki levanta da cadeira onde estava sentado, e vai em direção ao ladrão.

-E-EPA TIÔ! FICA DE BOA AÍ, PRA VOCE NÃO GANHÁ UM FURO NA CABEÇA, MORÔ? [Disse o ladrão, já recuando]

Tio Noiaki estava sério.

Ele continuou andando até chegar perto da porta.

-Tio Noiaakiii!! Tu quer morrer, homem?? Volta aqui!

Ele pega um cigarro, e ascende.

-VOCE TÁ PEDINDO PRA MORRER, CARA!! [Disse o ladrão, enquanto dava vários disparos em direção ao tio Noiaki.]

-Tio...

Depois do fuzuê, e dos vidros quebrados no chão, tio Noiaki, ainda fumando o mesmo cigarro, estava de pé, encostado na porta.

O FDP conseguiu se esquivar dos 4 TIROS que o assaltante disparou.

3 palavras: CO-MO ISSO???

Será ele um Power Ranger?

-H-hey, cara... C-como vo-voce fez isso???[Disse o malandrinho, já quase se rendendo]

-T-ti-ti-ti-ti-ti-tio No-no-no-no- [Estava eu, ga-gaguejando de surpresa.]

Tio Noiaki, larga o cigarro, recolhe os cacos de vidro e vai andando em direção ao malfeitor.

-Peça desculpa ao gerente. [Disse tio Noiaki, o encarando seriamente]

-O-o que?? Tá maluco cara! E-eu vou te matar!

-Impossível. Eu conheço essa arma, e ela só pode ser carregada com 4 balas, e você gastou todas elas comigo. Agora, vamos. Se desculpe, ou eu te deixo em cubinhos de 3 cm³.

-E-eu tô falando sério!!

-E eu também. [Disse tio Noiaki, enquanto apontava descaradamente o caco de vidro contra o ladrão, e enquanto pegava calmamente a arma da mão dele]

Dito e feito.

Tio Noiaki guiou o assaltante até a delegacia. Claro, só depois de se desculpar pelo assalto, desconforto e erros de português à todos da loja.

-Tio Noiaki... VOCE É O SUPERMAN??

-...Má que PORRA de pergunta é essa?

-Bem, eu só vejo essa explicação plausível pra aquilo lá.

-Ah... Aquilo das balas? Aquilo é facinho...

Ah. Claro.

Deve ser bem “facinho” sim. Por que você não pula de um penhasco de 1923787487894 metros de altura, só pra relaxar?

-Tá de brinca-

Neste momento, meu celular toca.

-Tio Natsu?? [Disse eu, lembrando que eu não tinha dado meu celular para nenhum deles ainda, e aliais, lembrando também que eu não me lembrava de ter nem trazido meu celular]

-Natsu?? Ai Jesus... Tamo fudido... [Disse tio Noiaki, já mudando a expressão de “soufoda” para “OMFG”]

Tio Natsu, apenas queria dizer que estava preocupado por que já faziam 2 horas que tínhamos saído do hospital, e não tínhamos voltado para casa.

“Já que vocês estão na rua, será que vocês podem comprar umas salsichas?”

Esse foi o grande pedido da noite.

E lá saímos eu e tio Noiaki, procurando salsichas às 5 da manhã.