Depois de algumas horas a sala de jantar estava cheia. Os mais novos estavam mais cansados do que nunca, especialmente Harry. Depois da conversa que teve com Safira ficou com a cabeça cheia de pensamentos e conclusões.

— Comam rápido, meus queridos. – a Sra. Weasley chamou a atenção dos garotos, tirando Harry dos seus devaneios. – Depois que tomarem o café da manhã nós vamos continuar a faxina. – um gemido de tristeza passou pela garganta de Rony.

Quando quase todos estavam terminando de comer ouviram o ranger dos degraus das escadas. Safira apareceu pela porta, estava com as pálpebras pesadas, seus pés se arrastavam pelo chão, quando ela sentou na cadeira a direita de Sirius, que parecia o seu lugar permanente, soltou um grande bocejo.

— Dia pessoal. – assim que cumprimentou a todos começou a esfregar os olhos.

Todos na casa ainda não estavam muito acostumados com a nova inquilina, principalmente pelo fato de descobrirem de forma tão pouco conveniente. A Sra. Weasley era a que aparentava mais desconforto, e ficava olhando de Safira para Sirius, provavelmente imaginando se eles tinham semelhanças que não fossem físicas, e era perceptível pelo expressão que tinha nos olhos.

Mas Harry reparou que a garota não parecia mais se importar com o que os outros pensavam sobre ela, mas ele não sabia se era pelo fato de ter desabafado com ele a poucas horas, ou se era simplesmente o sono.

Ou, quem sabe, pensou Harry, ela possa ter percebido que não adiantaria de nada ficar se escondendo dos outro e de quem ela era.

— Tome querida. – tentando ser educada, a Sra. Weasley colocou um prato com torradas, ovos e um copo de suco na frende da garota sonolenta.

— Muito obrigada. – provavelmente para não cair de sono, Safira apoiou a sua cabeça na mão esquerda, e ficou comendo com a direita. Harry era quem prestava mais atenção nela, a exceção de Sirius, e, pelo ponto de vista de Harry, ela estava quase caindo de cara no prato de tanto sono, e isso seria engraçado.

— Filha, você está bem? – Sirius colocou a sua mão na testa da menina, como se tentasse ver se ela estava doente, nem deve ter cogitado a possibilidade de ser uma simples abstinência de sono, apesar de ela ter sido a última a descer para o café da manhã.

Mas, Harry percebeu que se não soubesse o que ela tinha, também acharia que ela estava doente. Seus olhos estavam ligeiramente vermelhos e ela tinha alheiras arroxeadas em torno deles, como se tivesse levado um soco no nariz e só agora ele tivesse parado de sangrar.

Sirius demorou muito para tirar a mão da testa dela, e nem reparou em como tudo isso parecia estranho, vê-lo agir desse jeito, como um verdadeiro pai super-protetor.

Safira parecia que ia falar algo, mas outro bocejo a impediu de emitir qualquer ruído. Foi Hermione que falou por ela.

— Ela só esta cansada Sirius. – Hermione falou de um jeito educado, mas parecia que estava revelando algo obvio, como dois mais dois é igual a quatro. – Harry falou que ele desceu mais ou menos às sete e meia da manhã, e ela já estava acordada.

— Isso mesmo. – Safira falava enquanto se espreguiçava. – Então subi para ver se conseguia dormir um pouco mais, só que não consegui pregar o olho.

— Por que você não sobe para dormir um pouco?

— Sirius. – a Sra. Weasley parecia estar controlando sua indignação com o que ele acabara de falar. – Ela precisa ajudar a arrumar a casa. Não podemos trata-la de modo especial. Do pouco que vi, acho que você mima muito essa menina.

Harry bateu a mão na testa. Vai começar tudo de novo, ele pensou.

— Mas não tem como você evitar, certo? Afinal, você deve estar tentando compensar todo o tempo em que esteve ausente na vida dela.

Sirius parecia que estava se preparando para um ataque, suas mãos estavam serradas em punhos. Todos que estavam na mesa olhavam para ele, menos Lupin, que estava apertando o seu osso nasal com o indicador e o polegar, parecia que não estava mais aguentando as brigas constantes entre aqueles dois.

Houve um barulho muito alto de mãos colidindo com a mesa, mas para a surpresa de todos, foi Safira que se levantou, e parecia que não estava com um pingo de sono.

— Com todo o respeito Sra. Weasley, – ela parecia estar realmente zangada, mas sua voz não estava mais alta que o normal, apenas se tornou mais potente e cheia de autoridade. – mas a senhora não pode falar assim com o meu pai.

O queixo de Harry caiu com o susto, os olhos de Hermione estavam bem abertos com o acontecimento, e Rony, que estava devorando o resto do seu café da manhã, deixou escorrer de sua colher uma boa quantidade de ovos mexidos, que estavam a poucos centímetros de sua boca, e acabaram caindo nas suas calças.

— O que? – a Sra. Weasley não conseguiu disfarçar seu espanto com o que acabara de ouvir.

— Eu sei que vocês dois discutem muito, mas não acham que deveriam dar um exemplo melhor para os seus filhos?

Sirius apoiou seu queixo nas mãos que estavam com os dedos entrelaçados, e abaixou seus olhos, mas não conseguiu reprimir o leve sorriso que apareceu em seus lábios. O rosto da Sra. Weasley estava ficando rosado, e a sala de jantar estava repleta de um silencio mortal, ninguém em seu juízo perfeito havia falado assim com ela.

— Escute aqui. – sua voz assumiu o tom de uma pessoa que usa todas as suas forças para não explodir de raiva. – Eu não vou tolerar que fale comigo dessa forma.

— E eu não vou tolerar que você fale com o meu pai dessa forma. – de rosa, o rosto da Sra. Weasley passou para vermelho. – Você fala como se ele realmente fosse culpado de ter ido para Azkaban. Como se ele tivesse feito aquelas coisas. Só que armaram para cima dele, e tudo por culpa de uma pessoa que ele achava que era seu amigo. – ela começou a ficar realmente brava, só que não era com a Sr.ª Weasley, mas sim com pessoa que acabara de mencionar. Harry, assim como Sirius e Lupin, teve a mesma reação, pois nenhum deles gostava de lembrar-se do “amigo” e traidor que provocou a morte de seus pais, Pedro Pettigrew.

— Eu nunca...

— Eu, sinceramente, não intendo porque a senhora trás esse assunto a tona. – Safira interrompeu a Sra. Weasley quando ela ia começar a falar. – Mas basta dessa história. Vocês dois estão do mesmo lado, caso tenham se esquecido, – seus olhos corriam de Sirius para a Sr.ª Weasley, e percorreram rapidamente os rostos de todos que estavam presentes, como se estivesse se certificando de que ninguém pretendesse interrompe-la. – então acho que seria melhor se vocês aprendessem a conviver juntos, antes que essas brigas ridículas acabem prejudicando alguém, ou a vocês mesmos.

Ao mesmo tempo em que todos estavam paralisados pela surpresa, Harry percebeu que quase todos que estavam presentes gostariam de ter enfrentado a Sra. Weasley dessa forma antes, mas parecia que a expressão dela foi o suficiente para que essa vontade morresse e lembrá-los do porque nunca fizeram isso.

— Perdi o apetite. – Safira empurrou se prato, caminhou em direção á porte e subiu as escadas.

Assim que se sentou, a Sra. Weasley parecia que estava a beira de um ataque de nervos.

— Molly... querida... – o Sr. Weasley olhou para a sua esposa, na esperança de que conseguisse acalma-la.

— Não quero ouvir Arthur. – ela respondeu levantando o dedo para silencia-lo, e começou a respirar lenta e profundamente.

Quando ela parecia estar mais controlada finalmente falou.

— Sirius. – parecia que ela havia retirado Sirius de sua linha de pensamento, pois quando ela o chamou, ele desviou, sem a menor vontade, sua atenção da porta pela qual sua filha havia acabado de passar. – Por mais que eu odeie admitir, ela tem razão. Estamos agindo como muita infantilidade. Mas ainda acho que você deveria ensinar sua filha a ter mais respeito com os outros. – quando terminou de falar ela levou seu copo de chá á boca e ficou calada por um tempo.

Sirius não respondeu, mas ele lançou um olhar para Harry e seus amigos, que pareci querer dizer que ele não pretendia mudar nada nos modos da sua filha. Ele parecia estar orgulhoso do modo como ela agiu.

Depois que o choque do momento passou, todos voltaram a conversar normalmente, e Rony tentava limpar os ovos da sua calça.

Assim que finalmente terminaram de comer, voltaram a limpar a casa. Só que dessa vez eles tiveram que enfrentar vários Bandinhos, que se encontravam ou debaixo de tábuas soltas, ou em cantos escuros.

Eles lembravam manchas de fungos bem nojentas e esverdeadas dotadas de olhos, era uma das coisas mais asquerosas que Harry já vira na vida, principalmente quando Fred e Jorge começaram a assustá-los de propósito e pareceu que brotaram várias perninhas finas neles.

Pelo menos dois subiram pela perna do Harry e de Hermione, e o cheiro deles era insuportável, parecia uma mistura de carniça e umidade. Mas a Sra. Weasley se livrava deles habilmente usando Feitiços de Limpeza.

Harry não pode deixar de notar que os gêmeos pareciam interessados nessas criaturas. Só que não sabia no que eles iriam usá-las.

Quando se deu conta, Safira estava do seu lado e usava calças jeans, uma blusa preta, e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo.

— Sra. Weasley. – sua voz estava ligeiramente baixa e seus olhos miravam o chão.

— Sim? – ela respondeu.

— Me desculpe por ter falado com a senhora daquela forma. Mesmo tendo ficado aborrecida, nada justifica minha falta de respeito com a senhora. – ela realmente parecia estar constrangida.

— Bem. – a Sra. Weasley ficou envergonhada com a situação. – Você estava querendo defender o seu pai. E isso foi muito nobre de sua parte.

Quando levantou os olhos, Safira estava mais feliz e tranquila.

— A senhora quer a minha ajuda?

— Bem... Ajuda é sempre bem vinda.

As duas conseguiram lidar, quase sozinhas, com os Bandinhos. Enquanto a Sra. Weasley lançava Feitiços de Limpeza, Safira colocava-os dento de um saco de lixo. E todos pareciam satisfeitos que a Sra. Weasley não pretendesse guardar rancor.