Somente agora, que a explicação foi dada, Harry percebeu que aquela garota que estava parada bem na sua frente, realmente tinha muitas semelhanças com Sirius Black. Seus longos cabelos eram pretos como o breu e bem ondulados, como as leves marolas do mar, seu rosto tinha a mesma palidez que o do seu pai, só que era ligeiramente oval, os seus olhos tinham o mesmo formato, mas, a cor estava completamente errada porque, ao invés de serem escuros, eram de um azul penetrante, profundo e puro, que faziam um contraste incrível por causa da cor de sua pele e da moldura preta que seu cabelo fazia no resto de sua face.

Harry percebeu uma coisa. Safira era uma garota muito bonita.

Ele provavelmente teria ficado admirando-a por muito mais tempo, e tentando encontrar mais semelhanças entre ela e seu pai, se não fosse pelo pontapé que ele recebeu de Hermione por baixo da mesa.

Ele começou a ficar envergonhado novamente, mas reparou que ninguém, exceto Hermione, estava prestando atenção nele.

— Sirius. – a Sra. Weasley estava com os olhos arregalados e sua voz falhou algumas vezes. – Que... que história é essa da VOCÊ ter uma filha?

Harry estava prestes a abrir a boca para pedir mais explicações também. Mas foi interrompido.

— A culpa não é dele. – Safira parecia desesperada para proteger seu pai. – Até certo tempo atrás ele também não sabia.

— Como alguém pode não saber que tem uma filha?! – parecia que uma briga ia começar

— É uma longa história Molly. – Lupin disse, ainda em seu lugar, percebendo no que ia resultar se a Sra. Weasley não se acalmar-se logo – Não acha que seria melhor deixar Safira acomodar-se primeiro?

— Obrigada, tio Lupin. – depois que disse isso, a expressão de Safira passou de serene e grata, para assustada.

— Do que ela te chamou? – Harry não conseguiu conter-se e começou uma série de perguntas, que surgiram em um jato. – Que coisa é essa de tio? Como ela pode ser sua filha Sirius? Porque nunca me disse nada? Há quanto tempo ela...? – Harry parou as perguntas quando Sirius levantou a mão.

— Acho melhor deixarmos essa conversa para amanhã. – ele não parecia estar se sentindo muito à vontade com essa situação, e todos perceberam que Sirius queria adiar essa conversa o máximo possível.

Harry queria protestar. Queria dizer que não aguentava mais ficar no escuro, que queria respostas imediatamente. Mas, um lampejo da expressão de Safira foi o suficiente para lhe deixar calado, pois, ela parecia triste, preocupada, nervosa e... com medo.

— Tudo bem. – Harry disse com um mau humor mal disfarçado.

— Ótimo. – Lupin disse num tom alegre, provavelmente tentando amenizar o clima tenso no ar, o que parecia uma missão impossível. – Acho melhor nós voltarmos para as nossas casas e continuarmos nossa conversa amanhã. Boa noite.

Ao passar por Sirius e Safira os três trocaram um rápido olhar que parecia dizer mais do que simplesmente boa noite.

Nessa noite surgiram novos mistérios, e no dia seguinte as respostas viriam.

Depois de alguns minutos Harry, Rony e Hermione subiram. E o assunto não podia ser outro se não a nova moradora daquela casa que caia aos pedaços.

— Como nós nunca vimos essa garota antes? – Rony parecia indignado com isso.

— Vocês que não prestam atenção mesmo, não é? – disse Hermione. – Ela se senta a três carteiras de distancia de nós na aula de poções. E na aula de Herbologia ela fica na nossa frente.

— Vocês conversam muito no dormitório? – Harry perguntou, na esperança de obter o máximo de informações possíveis sobre Safira... Black.

— Na verdade não. – Hermione ficou envergonhada, come se ela tivesse confessado um crime, e começou uma rápida explicação. – Ela quase nunca para no dormitório, e quando esta lá não fala com ninguém. No segundo ano foi quando ela ficou mais reservada. Deve ter sido por causa daquela confusão da Câmara Secreta, mas, se ela é filha do Sirius, – ao dizer isso Harry sentiu como se fosse atingido por um balaço – então ela não é nascida trouxa, não tinha com o que se preocupar, certo?

Todos pararam para pensar no assunto. Realmente Safira não tinha com o que se preocupar na época, pois, no mínimo, ela deve ser mestiça.

— Será que ela já sabia nessa época? – Harry parecia se esforçar para não fazer uma pergunta mais completa.

— Quem sabe! – Hermione deu um leve suspiro e pensou mais sobre o assunto.

— Vamos descobrir amanhã. – Rony se deitou na sua cama e bocejou. – Pelo menos é o que eu espero.

— Hoje foi um dia muito cheio. – Hermione se levantou e andou em direção à porta. – Noite, pessoal.

— Noite, Mione. – os dois disseram ao mesmo tempo, e quando Hermione saiu, o quarto ficou escuro.

Rony estava certo. Amanhã Harry teria as suas respostas, não tinha como esconder mais um segredo dele. Safira ia ficar na casa até o começo das aulas provavelmente, nem que ele tivesse que ficar enchendo a paciência de todos até chegar o dia de ir para Hogwarts, ele teria respostas, não só o que é necessário ele saber, mas toda a verdade. Ele nunca mais ia ficar no escuro.

Então Harry tirou seu óculos e foi dormir.

Na manhã seguinte, o dia parecia estar melhor, mais tranquilo. O dia de ontem não parecia mais que um sonho. Harry acordou cedo, não eram nem sete e meia da manhã, só que, quando desceu, não havia ninguém em parte alguma da casa. Ele tomou o máximo de cuidado ao descer as escadas, para não acordar ninguém, muito menos o quadro da Sra. Black. Como não tinha nada para fazer, resolveu ir para a cozinha.

Ao passar pela porta, percebeu que não era a única pessoa acordada na casa. Sentada no lugar que Sirius sempre ocupava durante as refeições, estava à mesma garota de cabelos pretos que apareceu misteriosamente na noite anterior.

— Harry! – Safira se assustou com a presença repentina do garoto e se colocou de pé. – Dia.

Os dois ficaram se olhando por um bom tempo, e Safira não parava de ficar mexendo em suas mãos. Ela estava usando uma camisola de cetim amarelo sob um roupão vermelho fino.

— Quer... quer beber um chá ou alguma outra coisa? – ela estava tentando ser gentil.

— Obrigado. Quero sim. – então ele foi se sentar na cadeira à direita de Safira.

Enquanto ele se acomodava na cadeira ficou observando a garota andar para o armário onde guardavam as xícaras, e depois ir até aquele fogão velho pegar um bulhe com água quente. Depois de colocar o açúcar depositou a xicara na frente do Harry e sentou-se em seu lugar timidamente.

— Então... – Harry começou a ficar nervoso para receber suas respostas, mas tentou tornar o clima menos tenso. – Porque você acordou tão cedo?

— Devia perguntar o mesmo para você. – uma tentativa de sorriso passou pelo seu rosto, mas não deu certo. – Não consegui dormir. – ela finalmente respondeu a pergunta. – Estava pensando no que aconteceu ontem à noite, e... fiquei nervosa. – ela começou a brincar com a própria xícara. – Tudo aconteceu tão... de repente, eu não estava pronta para contar para as pessoas que Sirius Black é meu pai. Eu queria esperar até a situação em que ele esta melhorasse, mas... – o nervosismo aumentou e ela começou a falar bem depressa. – mas eu fui posta contra a parede, tinha que explicar o “porque” deu estar aqui, como eu sabia da Ordem, como eu sabia sobre ESTE lugar. Só que eu não queria mentir, se todos descobrissem a verdade depois seria pior para mim e para o meu pai também. Todos estavam querendo resposta, e você... – ela parou repentinamente como se tivesse alguma coisa presa na sua garganta, ela não conseguia falar mais nada. Ela colocou o rosto sobre as mãos e parecia que ia começar a chorar.

Harry começou a se sentir culpado. Foi ele que deixou se levar e começou o “interrogatório”. ELE deixou Safira nervosa e preocupada.

— Desculpa. – ele falou sem graça, e a garota tirou o seu rosto das mãos. Ela ia dizer alguma coisa, mas que interrompeu dessa vez foi o Harry. – Eu não devia ter ficado... desesperado daquele jeito, e lamento muito.

— Você teve seus motivos Harry. Ah... posso te chamar assim?

— Claro que pode.

— Você é o afilhado do Sirius, certo? – ele respondeu com um aceno de cabeça que demonstrava que tinha muito orgulho disso. – Se eu estivesse no seu lugar, e tivesse essa relação forte que vocês tem um com o outro, também ficaria bem chateada se descobrisse, por um simples acaso, que ele tinha uma filha, e que nunca me contou sobre isso. – ela lançou para o Harry um olhar doce, come se esperasse que ele parasse de se culpar por algo que, de certa forma, ele não fez. – Mas espero que ninguém o culpe por isso. – seu olhar agora era de compaixão. – Até alguns anos atrás ele realmente não sabia que tinha um filho em algum lugar por ai.

— Mas você já sabia, não é? – inconscientemente, ele começou a ansiar pelas respostas que tanto queria.

— Que sou filha dele? – ela completou a pergunta. – Também só descobri há pouco tempo. Minha mãe nunca me contou quem era meu pai.

— Por quê? – não era mais a curiosidade que fazia com que Harry perguntasse aquelas coisas, ele realmente começou a se interessar pela história. – Ela não queria que vocês tivessem contato um com o outro? Sirius também nunca me falou que se casou com alguém.

Antes que pudesse se sentir triste por ter outro fato que lhe foi omitido, Safira disse:

— Não tinha como ele te contar isso. Afinal, ele nunca se casou. – ao mesmo tempo em que ela falava de modo indiferente, parecia desapontada com o fato.

— Mas... – a cada nova descoberta que fazia, cem novas perguntas apareciam. – Como assim?

— É uma longa história. – e Safira parecia não ter um pingo de vontade de contá-la.