— Acho que temos tempo. – Harry achava que quanto mais ela falasse, mais calma ela ficaria. Isso se devia ao fato de ela não estar parecendo mais àquela garota que estava prestes a chorar de alguns minutos atrás.

Safira suspirou e percebeu que Harry não desistiria de tentar descobrir alguma coisa sobre ela.

— Eu nasci no exterior. – ela começou. – Minha mãe estava viajando enquanto estava grávida de mim, e eu acabei nascendo no sul da Hungria. Um tempo depois minha mãe voltou para Grã-Bretanha, e se acomodou em uma cidade pequena. Lupin me disse que ela entrou em contato com ele logo depois, para conversarem.

“Quando ele finalmente pode vir, minha mãe lhe falou sobre mim, ele foi o primeiro para quem ela contou, e ela pediu para que ele fosse meu padrinho”.

— O Lupin é seu padrinho?! – Harry interrompeu.

— É – ela respondeu como se fosse uma pergunta com uma resposta óbvia – Você achou que eu o chamei de tio porque ele era irmão da minha mãe ou coisa parecida? – ela parecia ter se divertido com a possibilidade.

Harry pensou que seria a única coisa que fazia sentido.

— Em todo o caso... – Safira continuou – No começo, pelo que eu soube, ele não achava uma boa ideia, ele me contou que sempre tentava convencer minha mãe de que poderia ser perigoso, de que as pessoas iam ficar falando. E sabe o que minha mãe dizia para ele? – Harry balançou a cabeça, Safira não olhou estava olhando, mas tinha um sorriso de orgulho – “O que elas têm a ver com a minha vida e com as escolhas que faço?”. Minha mãe nunca se importou com o fato de Lupin ser um lobisomem, porque eles eram amigos na escola. Lógico que ela não era tão íntima dele quanto Sirius e o seu pai, Tiago, mas eles se davam bem e ficavam estudando juntos na época em que estavam em Hogwarts. Minha mãe era da Grifinória como eu. E foi lá que ela conheceu Sirius Black.

Harry começou a se perguntar por que o Lupin nunca tinha falado para o Sirius que ele tinha uma filha. Teria que descobrir isso depois.

— Demorou mais um tempo para a minha mãe se fixar em algum lugar, não sei direito quanto. – ela começou a se concentrar mais ainda nos fatos que saiam de sua boca. – Depois passamos a morar em uma cidade pequena, na verdade não era muito longe de Godric's Hollow.

 "O Lupin nos visitava muito frequentemente. Menos no meu aniversário. – ela olhou para o Harry, e ao perceber que ele não interromperia, continuou. – Eu nasci no dia 21 de janeiro, e quase sempre caia em época de lua cheia."

Harry tentava imaginar como Lupin se sentiria se, acidentalmente, acabasse machucando sua afilhada, ou coisa pior. Ele nunca se perdoaria, disso, Harry tinha certeza.

— Por um tempo eu pensei que ele não gostava muito de mim, – Harry perdeu a linha do pensamento quando Safira voltou a falar. – já que ele NUNCA foi aos meus aniversários. Eu lembro de perguntar para a minha mãe porque o Lupin nunca vinha nos visitar nessa época. Ela me dizia que ele estava passando por muitas dificuldades, mas eu nunca acreditei muito nisso. Então quando eu tive uma oportunidade de ficar sozinho com ele fui direto ao ponto e perguntei "Porque você nunca vem me ver no meu aniversário? Você não gosta de mim?" – ela imitou a voz de uma criancinha – eu era uma criança muito curiosa e agitada.”

“Só que minha mãe estava escutando e... seu lá, acho que ela esperou  alguma autorização, ou coisa assim. Ele disse que sim, mas, - Safira parecia que nem tinha mais consciência da existência do Harry, era como se tivesse voltado para o passado, e estivesse vendo tudo acontecendo novamente – eu pude perceber que ele parecia triste com isso.”

Uma imagem passou rapidamente pela cabeça de Harry. Há dois anos, quando estava na Casa dos Gritos, a expressão que Lupin havia feito quando Rony, depois de descobrir sobre o fato de seu professor ser um lobisomem, pediu desesperado, que Lupin se afastasse dele. Harry apostaria sua Firebolt que Lupin devia ter medo que a sua afilhada lhe olhasse daquele mesmo jeito.

— E então minha mãe me contou que ele era um lobisomem. – Harry começou a imaginar como ele se sentiu. – E sabe como eu reagi? – Safira olhou para o Harry quando perguntou.

— Não. – ele respondeu dessa vez. Mas já tinha uma ideia do que aconteceu.

— Eu gritei, – Harry já esperava por isso. – “Nossa que incrível!” – Safira imitou a voz de uma criança que vê um truque de mágica pela primeira vez, Harry não esperava por ISSO. – Eu comecei a pedir para que ele se transformasse. Eu achava a coisa mais legal do mundo. – quando ela olhou para Harry parou de sorrir na mesma hora. – O que foi?

Demorou um tempinho para Harry perceber que ela estava falando com ele.

— Como assim?!

— Foi assim mesmo que ele reagiu. – e então ela voltou a sorrir. – Ele não conseguiu compreendeu a minha reação, mas, – ela parou de falar por um segundo, e depois continuou. – de alguma forma, ele parecia, sei lá, meio feliz.

É claro que o Lupin ficaria feliz, afinal, a sua própria afilhada não se importava com o que ele era.

— Minha mãe falou que era para eu não contar para ninguém, e é claro que não fiz objeção. As coisas se tornaram mais fáceis depois que me contaram a verdade. – ela parecia feliz quando falou isso. – Mas, – parecia que a parte feliz da história havia acabado.

"Um tempo depois, teve uma noite que eu acordei muito cedo, e minha mãe estava no andar de baixo. Nunca descobri porque ela estava acordada. Mas eu fiquei com ela durante a noite, e quando eu estava quase dormindo, – Safira estremeceu com a lembrança. – minha mãe ouviu um barulho estranho do lado de fora da casa. Ela ficou muito agitada, me pegou no colo e me pôs dentro do armário. Ela me disse para ficar quieta e fechou a porta. – poderia ser só impressão do Harry, mas parecia que Safira estava tremendo. – Pouco tempo depois alguém bateu na porta da frente. A porta do armário tinha vários vãos, então eu pude ver um pouco do que estava acontecendo. Minha mãe apanhou a varinha e foi para a porta bem devagar. Só que antes de abri-la, alguém escancarou a porta pelo lado de fora.