A Menina que Colecionava Máscaras. escrita por Vivian


Capítulo 20
Para Cameron


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, estou tentando escrever com mais frequência!
Fatos reais estão contidos nesse capítulo, se quiser deixar um review ou perguntar algo, eu até agradeço!
Beijos e boa leitura! ♥



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Depois de ter dito a Cameron que iria lhe contar sobre meu perturbado passado, quase consegui vê-lo sorrindo como uma criança que acaba de ganhar um doce. Ele disse que eu poderia passar em sua casa e que tomaríamos café-da-manhã juntos, desligou logo em seguida apressadamente. Estavam evidentes em sua voz a expectativa e ansiedade pelas revelações que eu lhe diria. Aprontei-me em alguns instantes e fui a pé até o apartamento mediano de meu melhor amigo, que não ficava muito distante de meu lar.

No caminho, minha mente não conseguiu se dispersar da imagem de Lucas e o que possivelmente ocorreria ao nosso destino.

Chacoalhei a cabeça de um lado a outro quando cheguei ao portão desgastado e cinzento do prédio em que Cameron morava. “Xô, Lucas. Saia da minha cabeça!”, tentava comandar internamente. Toquei o interfone, o porteiro me reconheceu de prontidão e disse que eu poderia entrar. Abri o portão e sorri para ele, o porteiro James. Subi os oito andares de elevador e nesse meio tempo minhas mãos não cessavam o tremor. Eu estava hesitante. Uma parte de mim preferia fugir dali, queria esquecer o que havia ocorrido com Jonathan e todo aquele sofrimento; outra parte tinha vontade de colocar tudo aquilo para fora e desabafar de tal forma que não tinha feito nos últimos quatro anos em que fiquei calada, o coração doendo sozinho.

Eu sabia que aquele era o momento em que a dor finalmente acabaria.

O elevador parou no oitavo andar e, para minha surpresa, a porta do octogésimo segundo estava aberta, o cheiro convidativo de waffles exalando da cozinha do pequeno apartamento de paredes brancas. Minhas pernas trêmulas saíram de dentro do elevador e se encaminharam para dentro da residência. Bati na porta algumas vezes, bem de leve, como aviso de que havia chegado.

-Cam, estou aqui... – disse para aquele vazio que prevalecia na sala de estar. A televisão estava ligada e um programa tosco no estilo “Vai Dar Namoro” passava em um volume relativamente alto. Peguei-me indagando a razão de Cameron estar assistindo a tal baixaria. O sofá estava cheio de cobertores dobrados cuidadosamente: ele havia arrumado a casa antes de eu chegar. Sorri. Que gracinha ele era. Segui o perfume de comida e dirigi-me à sua cozinha.

Encontrei um Cameron em um avental de gatinhos fazendo waffles – ou uma tentativa esforçada deles- e sorri.

-Bom dia, dona Bolacha! – cumprimentou-me enquanto mexia em uma panela suja de uma pasta amarelada.

-Ahn... Oi, Cam. Pelo visto acordou animado, hein? – ri de sua “arte” culinária. Ele ficou desajeitado e ruborizou.

-Diríamos que era para ser uma surpresa, mas acho que acabou demorando mais que o previsto... Não sei como fazem isso tão rápido na Internet!

-Entendi... – murmurei entre risadinhas. Ele era um cara excepcionalmente cômico. – Bom... Nesse caso, aceita uma ajudinha? – ofereci.

-Não precisa! Eu vou conseguir fazer sozinho, agora é questão de honra de homem.

-E desde quando você é um? – satirizei sua masculinidade afetada. Ele riu e atirou um pedaço de biscoito em mim, que eu não consegui segurar. O fragmento caiu no chão e se espatifou. Olhei as migalhas com dó, minha barriga roncava e eu estava tentada a agachar e colocar o biscoito na boca, mesmo sendo apenas farelo.

-O que você tanto olha no chão? Gostou do porcelanato? Paguei caro neles, sabe...

-Estou com fome e dor de barriga, Cameron... E você desperdiçou um precioso biscoito bem na minha frente!

-A barriga dói? O que aconteceu?

-Fome. E ansiedade, muita ansiedade.

-Ah. Você vai me contar tudo, né? – ele abaixou o tom de voz, como se estivesse acanhado de estar me fazendo aquela pergunta. Mexia concentrado na massa dos waffles e não fazia contato visual. – Por que decidiu assim, de repente?

-Por nada... Mas sabe, Cam, guardei isso dentro de mim por quatro anos e ninguém nunca perguntou, ninguém nunca quis saber, ninguém nunca notou...

-Notou o quê? – ele perguntou, claramente confuso.

-Que eu estava sofrendo muito. E como não falaram nada, sofri em silêncio, as máscaras foram minhas companheiras. Mas agora elas se foram, e percebi que era a hora de contar para alguém sobre isso. Eu não passei os quatro últimos anos em um estado muito saudável e decente.

-Sinto muito.

-Não precisa sentir. – sorri. – Agora eu tenho você, certo?

-Mesmo assim, eu não estive ao seu lado quando você realmente precisou. Desculpe-me eternamente, Bolacha. – ele disse e percebi algo similar a lágrimas saindo dos cantos de seus olhos esverdeados. Esbocei um sorriso e abracei-o longamente, sentindo lágrimas brotarem em meus olhos também.

-Seu bobo. – solucei e limpei os cantos dos olhos. – Os waffles vão queimar e eu estou com fome demais para comer carvão. – rimos e choramos juntos, depois eu fui para a sala de estar e ele terminou de cozinhar.

Não vou dizer que o café-da-manhã foi ruim, mas não estava lá às mil maravilhas. Comemos em silêncio, como se estivéssemos apreciando a comida. Ao fim, comecei o assunto:

-Bom, Cam... Eu vim hoje com um objetivo, certo? Preciso lhe contar se não morro de nervosismo.

-Certo. – ele assentiu. Respirei fundo.

-Tudo começou quando estávamos na escola. Lembra-se daquele menino do qual eu te falei na oitava série?

-Jonathan, né? Aquele anãozinho de jardim... – ele falou em uma voz de antipatia e eu ri.

-Ele não era tão baixo assim. Tinha uns dois centímetros a mais que eu. – protestei.

-Carol, você não é muito parâmetro de altura...

-Ok, que seja. Voltando, então, eu me apaixonei por ele naquela época e chegamos a namorar. Eu não te contei porque tinha vergonha, mas foi isso que aconteceu... Só que não ficamos juntos por muito tempo. Ele era bem mais velho que eu e foi para a faculdade.

-Nossa, que história dramática. – Cam murmurou, impressionado com a novela que era a minha vida. Eu soltei uma risada. Ele estava realmente curioso.

-Pois é... Ele foi embora. E à distância são raras as coisas que duram... – pausei e tentei conter o choro. – Terminamos, voltamos, terminamos de novo... Até o dia em que não deu mais e decidimos ficar separados mesmo.

-Deixe-me adivinhar: aí as máscaras apareceram?

-Exatamente.

-E pode me dizer o motivo delas terem desaparecido justo agora, de repente?

-Bom, Cam, - parei e olhei fixamente para seus olhos avermelhados. – É essa a pergunta que não quer calar. Estou tentando descobrir a resposta ainda.


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Notas finais do capítulo

Continua no capítulo 21, rumo ao fim da fic!
Deixem reviews e façam uma autora medíocre feliz! XD
Beijinhos ♥



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