Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 7
Imprevisto




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Era fim de tarde quando o avião pousou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, ou Galeão. Estava ensolarado pelo que eu via nas outras janelas. A minha veio a viagem toda fechada e como primeira classe nunca lota nesses vôos, eu não tinha ninguém do meu lado para reclamar.

No saguão, senti logo o cheiro conhecido da minha espécie. Um pouco à frente, acenando, estava Ricardo, ao lado de Joana, sua parceira. Não era um vampiro muito alto, de cabelos castanhos escuros e sorriso simpático. Ela era da minha altura, talvez um pouco mais alta, cabelos encaracolados e negros.

Abracei os dois. Não era comum estar entre amigos, visto que a lista não era muito grande. O maior sinal de amizade possível para nossa espécie era um abraço, porque era tão contra nossos instintos mais básicos entrar na área mais forte de outro vampiro que só se fazia isso quando confiava quase que totalmente no outro. Mas esses eram um dos poucos que eu podia me desligar quando estava por perto.

-Andou sumida, dona. Pensei que não ia aparecer nunca mais! – Disse Ricardo, sorridente como de costume.

-Ao contrário de você, eu sou uma pessoa ocupada, sabe...

-Eu juro que tentei convence-lo de que você não estava sem entrar em contato porque era má e impiedosa. – Joana riu quando Ricardo bufou.

-Pelo menos alguém aqui me defende. Onde estão os outros dois?

-Estacionando o carro, vamos andando.

-Bem, espero que você tenha uma boa programação, aqui é um dos territórios mais não-vampiro que eu conheço. – Eu brinquei enquanto andávamos para fora do aeroporto. Eles trocaram um olhar tenso meio que disfarçado, mas eu percebi. Acho que não seria uma simples visita. – O que foi?

Ricardo gemeu, não era para eu ter percebido. Eles ainda não tinham aprendido que essas coisas eu não deixava passar.

-Depois que você se instalar direito, precisamos conversar. Por isso pedi para você vir aqui, mas não quis te alarmar.

Ótimo trabalho não querendo me alarmar, muito obrigada mesmo. Ignorei isso quando encontramos Márcio e Cristina, o outro casal do clã. Márcio era bem alto com cabelos extremamente escuros, fazendo contraste com a pele. Cristina era baixa, a mais baixa do clã, cabelos castanhos escuros e muito bonita, mesmo para a espécie. Também eram ótimas pessoas, e ri um pouco enquanto conversávamos no carro.

A casa deles era na Barra da Tijuca, perto da Avenida Airton Senna, uma área um pouco isolada, em uma casa que tinha acesso por uma estradinha de terra meio que disfarçada. Logo, a casa impossível de se ver à distância surgiu. Não era muito diferente da minha em Forks, só que era bem mais aberta e clara e perfeitamente adaptada à vegetação, parecendo pertencer ao lugar desde sempre.

Por dentro, todos os cômodos eram muito confortáveis e modernos, ao contrário de mim, eles não gostavam muito de coisas tradicionais. O microondas intocado na cozinha era a prova disso. Na minha só tinha uma geladeira desligada, um fogão, uma pia, mesa e armários, mas a lista de eletrodomésticos deles era algo meio grande demais, tinha coisa que eu nem sabia para que servia.

Eles me levaram a uma suíte, aonde pude largar a minha mala e tomar um banho para tirar o cheiro de humano do corpo. Desci assim que me arrumei para encontra-los novamente na sala.

-Sabe, comprar uma roupa de uma cor que não seja preto. Branco é legal, verde, amarelo...

Ignorei. Eu tinha meus motivos para só usar preto. Ao pensar nisso, minha toquei discretamente no anel que eu usava na mão esquerda. Afastei algumas memórias quando me sentei no sofá.

-Então, o que vocês querem falar comigo?

Os quatro se olharam rapidamente, então Márcio começou.

-Nós te pedimos para vir aqui para isso. Esperávamos que você viesse com o resto do clã.

-Eu não podia deixar o território desocupado no momento, tive que deixa-los lá.

-Um vampiro entrou nas nossas terras e veio até nós. – Continuou Ricardo. – Ele começou tentando nos convencer de que você estava planejando uma espécie de holocausto. Todos aqueles que um dia desobedeceram a mais insignificante regra iriam ser perseguidos até a morte, e você estaria montando um exército para isso. Isso é verdade?

-Claro que não! Eu nunca faria algo assim, é normal alguns deslizes de vez em quando, eu nunca criaria uma carnificina por algo tão besta. Vocês não podem ter acreditado nisso! Conhecem bem quais são as infrações mortais.

-Não acreditamos porque te conhecemos. Mas... Giuliet, ele é bem convincente, tem ótimos argumentos.

-Ótimos argumentos? Como alguém tem ótimos argumentos de algo que não é nem um pouco verdade?

-Ele usa o fato de vocês não terem aparecido muito nos últimos anos e de permanecerem apenas por dez anos no mesmo lugar. Segundo ele, é o tempo perfeito para criar vários novos vampiros e transforma-los em máquinas de guerra.

-Não me convenceria.

-Você não ouviu ele falando. Ele se parece muito com você falando quando quer levar um grupo para uma batalha, sério. Se bem que, olhando bem... – Cristina parou no meio da frase, me encarando como se tivesse descoberto algo que não estava em mim cinco segundos atrás.

-O que foi?

-É que por um momento... não, nada.

-Tem mais uma coisa. – Continuou Ricardo, me distraindo do momento estranho. – Quando nós questionamos como ele pretendia te vencer, que muitos haviam tentado formar exércitos antes e falharam, ele disse que tinha um elemento surpresa, algo que você teria dificuldades para lidar. Ele disse que tinha uma coisa que você não gostaria de abrir mão, uma coisa tão importante que você faria de tudo para ter novamente. Você faz alguma idéia do que seria?

Pensei por um instante. Nada material poderia me fazer ter essa reação, não pude pensar em nada mesmo.

-Não faço a menor idéia. Qual o nome desse infeliz?

-Ele disse que era Michael Carter. Mas provavelmente estava usando um nome falso.

-Agora a pergunta que não quer calar: por que vocês deixaram ele ir embora?

-Aí está a parte mais estranha. – Ah, claro, a parte mais estranha ainda estava por vir, que bom. – Quando armamos o bote para prende-lo, não conseguimos mover nem mais um passo. Ficou tudo escuro, não conseguíamos enxergar, e ele era muito bom para se perseguir sem a visão. Quando voltou, ele estava longe demais para se alcançar. Tudo que conseguimos descobrir é que ele estava indo para o Norte antes do rastro se perder quase na Bahia.

Recostei no sofá, suspirando. Tudo que eu não precisava agora era uma revolução feita por um maluco desconhecido. Eram nesses momentos que eu sentia falta do tempo em que tudo era tão fácil, mesmo amaldiçoada eu ria sem me preocupar se o riso não estava alto demais e algum inimigo me ouvisse. Mas esses tempos pareciam tão distantes, uma outra vida. Senti meu peito apertar. Aquele pressentimento, o mesmo que me fizera voltar para os lobos um mês antes, me dizia que não era um inimigo aleatório. E lá eu iria, colocar meu clã, minha família, as únicas pessoas que me restavam, em perigo novamente.

-Obrigada por me avisarem. Acho que nunca vou poder agradecer o que vocês fazem por mim às vezes.

-Claro que pode! Ficando conosco durante essa semana até a data do seu vôo.

-Desculpa Ricardo, mas eu não estou indo de avião para casa. Há algum lugar aqui perto onde eu possa alugar um carro?

-Carro?

-Eu vou voltar para casa em terra. Talvez eu ache algum vestígio de alguma coisa sobre esse tal Michael. Não posso ficar parada, tem uma revolta se formando.

-Droga, Giuliet! Deveríamos ter te contado isso no final da viagem.

-Vocês fizeram bem. Me desculpem, mesmo, eu adoraria ficar mais um tempo. Prometo que assim que puder eu apareço.

-Você acabou de chegar.

-Sinto muito.

Busquei minhas coisas e me despedi deles, realmente triste de ter que ir embora. De uma hora para outra a casa pareceu tão acolhedora que eu precisei me convencer de que era realmente o melhor, mesmo sendo tão óbvio de que era mesmo o melhor. Eu não conseguiria lidar com a idéia de que eu estava me divertindo em uma cidade tropical enquanto meu clã poderia ser atacado a qualquer momento. Márcio se ofereceu para me levar até um aluguel de carros, mas disse que não, eu precisava ficar sozinha para planejar o que eu faria. Caminhei o caminho todo até o primeiro centro de qualquer bairro que encontrei, por sorte era um grande, e depois de perguntar um pouco, consegui chegar em uma loja de aluguel de carros, que já quase fechava. Com pressa de ir embora logo, o atendente rapidamente me entregou o carro e fez todos os procedimentos. Meia hora depois, já estava dirigindo pelo lugar, em direção ao norte, com janelas abertas, atenta a qualquer cheiro diferente do comum. Peguei o celular e disquei.

-Giuliet?

-Hecate, está tudo bem por aí? –Minha voz saiu mais nervosa do que eu queria.

-Tudo, claro. O que aconteceu?

-Explico quando chegar, estou indo para casa.

-Que horas chega o seu vôo.

-Não vou de avião. Vou por terra, no máximo em cinco dias estou aí.

-Mas...

-Presta atenção em qualquer coisa estranha e se prepare para um ataque. Pouco provável que já venha a acontecer, mas vigilância nunca é demais.

-Espera...

Desliguei o celular, para que ela não retornasse. Ordens dadas, sem explicações.

Com as mãos no volante, voltei a encarar o anel. Aquele anel era provavelmente mais velho que o país que eu estava, e o valor comercial dele não era nem um pouco baixo. O problema era que o valor sentimental também era um tanto alto. Era de prata, exceto pela rubi perfeitamente lisa acima, com um símbolo preto no meio, em ônix. Um trabalho complicado de se realizar e raro de se ver atualmente. O desenho era o símbolo da família Volturi, a original, italiana e humana. Ele não era meu originalmente, mas acabei herdando. Por vezes, eu olhava para aquele anel e me lembrava de coisas antigas, que faziam parte daquela outra vida, quando eu era livre e sem problemas e não sabia disso. A minha vida antes de fazer parte da única revolução bem sucedida em quase setecentos anos. A minha vida antes de virar uma Volturi.


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