Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 8
A Capital - 1567




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1567. Setenta anos de idade completos, contando com os dezenove humanos. Vampira, nômade, sem a menor importância no mundo, tendo passado os últimos dois anos na Grécia tendo que ser ensinada a usar o próprio poder. Simplesmente patético.

Assim era a minha vida. Os últimos cinqüenta e um anos haviam passado tão lentamente que me pareciam cem. Era sempre a mesma coisa, andar, andar mais um pouco, caçar, matar, encontrar um vampiro perdido, passar desapercebida ou entrar em um problema, acionar meu poder sem querer e depois de me livrar do meu problema ficar horas a fio parada tentando acionar de novo, sem sucesso. Por isso que dois anos antes, quando conheci Kratos, um vampiro alto demais, fortão demais, irritante demais, de dois mil anos – o mais velho que eu conhecia – mas que tinha um poder totalmente inútil para ele, mas surpreendentemente útil para o resto da espécie. Ele podia identificar o poder, fosse ele de qualquer tipo, e saberia exatamente como funciona. Ainda tinha o fato de ser meio bipolar, em um momento:

-Não se estresse Giuliet, seu poder é realmente muito complexo e forte. Um dos mais fortes que eu já vi. É comum ter problemas para dominar poderes dessa dimensão.

No momento seguinte:

-Ah, quase setenta anos e tudo que você tem é fumaça? Pode trabalhar em um teatro fazendo efeito de névoa, no máximo!

E assim foi, até que eu consegui apagar ele e fiquei alguns dias me vingando dele com essa informação. Quando finalmente fui embora, ele me deu uma informação importante.

-Você não precisa ficar andando por aí perdida. Nosso governante vive na Rússia, em um lugar altamente isolado. É uma espécie de cidade vampira lá, não muito grande, mas a maior que temos. Chamamos de “A Capital”, nada criativo, mas não é minha culpa. Poucos vampiros novos sabem da existência dela. – Ele me entregou um papel. – Chegando lá, procure por Salazar, e entregue isso à ele. Diga que foi Kratos quem mandou. Ele vai te dar um lugar para ficar. Um pouco de civilização não vai fazer mal à ninguém.

Depois de me passar as coordenadas de onde ficava o lugar, achei uma boa idéia rumar para lá. Algo me dizia que eu deveria ir, como se algo maravilhoso me esperasse lá. Só mais um daqueles sentimentos malucos que nós temos de vez em quando. Bem, isso era o que eu acreditava na época, mas o “sexto sentido” sempre esteve lá, de qualquer forma.

Custei um pouco para encontrar o lugar, mas quando encontrei, fique impressionada. Era em um ponto tão frio da Rússia que nenhum humano naqueles tempos ousaria viver. Tinha umas duzentas casas espalhadas, cada uma com um estilo de uma região do mundo. Até mesmo algo coberto de neve que lembrava muito uma tenda beduína. E no centro, algo que só provava que os vampiros eram os humanos evoluídos em tudo. Tudo mesmo, até a necessidade de se mostrar superior aos outros. Havia no centro um castelo, não muito grande, mas não deixava de ser um castelo. Todo de pedra, imponente, o dono daquilo deveria se sentir totalmente no controle. Aí eu lembrei que o dono daquilo era o governante e me dei conta de que ele realmente estava no controle. Comecei a entrar na cidade quando ouvi uma voz próxima de mim, na minha direita.

-Posso ajuda-la? – Disse o sotaque italiano do meu lado, em inglês.

Me virei rápido, não havia percebido a presença dele, já que estava altamente distraída. Era um vampiro mais alto do que eu uns dez centímetros, nem magro, nem forte demais, de cabelos loiros e, mesmo não o conhecendo, eu podia apostar que eram verdes na sua época humana, combinava bem demais. Não devia ter mais do que vinte e cinco anos quando foi transformado. Ele sorria, e me pareceu que sorria mais do que alguém normal faria. E por mais que ele fosse um total estranho, me parecia ao mesmo tempo familiar, como se eu o conhecesse e não lembrasse. Isso me deixou desconfortável, e para um nômade, desconforto é igual a perigo. Me afastei uns dois passos, pronta para correr se algo acontecesse.

-Não vou te atacar. Você é nova aqui, não? Só quis ajudar, fica tranqüila. – Ele disse, a voz transparecendo inocência, o sorriso bem mais fraco. – Deixe eu me apresentar. Andreas Volturi, passando por aqui quando imaginei que precisasse de ajuda.

Do mesmo jeito que veio, o desconforto foi. Agora eu achava que devia realmente falar com ele.

-Para ser sincera, estou procurando por um Salazar. – O sorriso voltou quase por completo quando comecei a falar. – Você por acaso conheceria?

-Por acaso, sim. Me acompanhe, vou te levar até lá.

O pior disso tudo, eu fui. Podia ser uma armadilha contra invasores, podia ser qualquer coisa que fosse terminar comigo em uma fogueira, mas eu não pensava muito bem nessa época.

Sendo imprudente, mas não a esse ponto, a toda hora eu olhava ao redor, enquanto andava com ele pelas ruas do lugar. Vi alguns vampiros, o cheiro deles estava por toda a parte, mas a maioria parecia estar trancada dentro das casas. Nós não sentimos frios nem ficamos doentes quando expostos ao clima mais pesado, mas não é por isso que gostamos. É bem mais confortável dentro de uma casa confortável.

Demorou um pouco para chegar, e o meu lado sensato já começava a se preocupar. Aonde é que eu estava com a cabeça, mesmo? Ouvir conselhos do Kratos não era a coisa mais saudável do universo. Mas esse lado sentiu um certo alívio quando paramos em frente a uma casa pequena de pedra, de onde saía uma fumaça. Dava para ouvir a lareira lá dentro.

-Ele mora aqui. Meio inconveniente de vez em quando, tente não irritá-lo. E é isso, só bater na porta. Eu tenho que ir agora. Posso saber seu nome?

-Ah... Giuliet. Collins. – Desde quando eu tenho problemas para falar o meu próprio nome.

-Certo. Até mais, então!

Ele se retirou me deixando lá, boquiaberta com o jeito totalmente humano dele agir. Ou talvez eu estivesse tanto tempo afastada de um pouco de civilização que me esqueci como era. Que seja, havia despertado uma curiosidade acerca daquelas pessoas. Antes de bater na porta, ouvi uma voz grossa lá dentro.

-Entre, seja lá quem for.

Abri a porta devagar e entrei, pedindo licença, não havia esquecido completamente os modos. A casa era apertada pelos móveis, tinha uns três cômodos, e precisava de uma limpeza. Havia um vampiro em frente à lareira, que se levantou quando eu entrei.

-O senhor é Salazar?

-Quem você quer, garota?

-Eu... Kratos me mandou aqui. Pediu para eu lhe entregar isso. – Peguei a carta na bolsa que carregava e estendi.

Ele se aproximou para pegar a carta. Fora transformado com idade avançada. Os cabelos eram cinza, com alguns fios já bem brancos, e, mesmo não sendo feio, conservava a maioria das rugas da idade. Os cabelos iam até os ombros e estavam bagunçados.

Leu a carta rapidamente, resmungando algo incompreensível e depois resmungou mais alto um pouco quando terminou de ler, mas não deixou de ser incompreensível. Só consegui entender algo parecido como “ele só me arruma problemas”.

-Ele me pediu para deixar você ficar por aqui. Larga suas tralhas em qualquer lugar por aí e tente não fazer muito barulho.

-Obrigado, senhor. – Eu não estava certa se queria realmente ficar ali, então o agradecimento foi meio falso.

-É, que seja...

Ele voltou para sua lareira e ficou lá, parado, encarando, enquanto eu ficava ali no meio da... do... o que aquele cômodo era mesmo? A bagunça era tanta que eu nem sequer conseguia identificar. Larguei a minha bolsa com alguns pertences e me dirigi à saída, mas antes o vampiro se dirigiu à mim.

-Não saia com nenhum metido a revolucionário. Se você for presa, eu não vou te ajudar.

-E como vou saber quem é metido a revolucionário e quem não é?

-Não falando com ninguém que conviva com Andreas Volturi já é um bom começo. Ou então Lionel King.

Nossa, que animador, já havia começado bem. Dei de ombros, como se não soubesse quem era e saí. Presa? Tinha uma guarda ali? Que ótimo, soldados vampiros devem ser muito gentis...

Kratos havia me metido em uma coisa complicada. Eu sabia das regras em que vivíamos, de como a sociedade funcionava, mas uma cidade assim era algo meio que pouco natural há uma espécie que não gosta de se cruzar normalmente. Minha confirmação de que nem tudo eram flores se deu quando ouvi um barulho de briga em uma espécie de praça que havia ali perto.

Dois vampiros brigavam, falando alto e trocando ofensas. Eu não entendia a língua, mas isso era óbvio. Suas parceiras tentavam segura-los no lugar, vai e vem trocando olhares feios umas com as outras. Ninguém tentava impedir, os que olhavam pareciam ansiosos para um pouco de ação. E a ação aconteceu quando eles conseguiram se desvencilhar das mulheres e se atracaram. Elas gritavam alguma coisa, provavelmente tentando impedi-los, mas é quase impossível sair de uma briga depois que entra nela. As mulheres agora também entraram, mas para tentar afastar os homens, sem sucesso.

Alguém finalmente entrou na história, conseguindo, depois de certo esforço, afastar os dois. Falou baixo com eles, algo que só eles entenderam, e os dois se encolheram, depois de irem cada um para o seu lado, com o rosto irritado. Quando o outro se virou, reconheci. Era Andreas, e assim que pude, saí de perto, para que ele não resolvesse conversar ou algo do tipo. Tarde demais, no último instante ele me vira no meio de um monte de outras pessoas e veio na minha direção. Eu estava levando a sério o conselho de Salazar, até porque eu me sentia estranha perto do Volturi.

-Olá, Giuliet! Como foi com Salazar? – Ele perguntou, caminhando ao meu lado.

-Ele me deixou ficar por lá.

-O conhece de onde?

-Lugar nenhum. Um amigo meu me falou desse lugar e mandou que eu procurasse Salazar.

-E ele falou muito sobre os “pilantras da cidade” para você?

-Para ser sincera, ele falou que eu não deveria andar com nenhum metido a revolucionário.

-Especialmente com um tal de Lionel?

-Como você sabe? – Ele hesitou um tempo, como se tivesse dado um deslize. Refiz a pergunta. – Vocês são famosos por fazer algum tipo de besteira?

-Salazar é meio conservador, não gosta de inovações. Ele acha qualquer um que queira mudar qualquer coisa um verdadeiro bandido. Sabe, lutou muito ao lado de Hugh – Hugh era o governante da época – em algumas guerras, fiel demais.

-E vocês são o partido contrário?

-Por aí. É meio que escondido, ninguém pode se opor à ele aqui na Capital. A maioria das pessoas desconfiam de algo, mas não sabe que formamos uma revolta.

-Como você sabe que eu não vou sair contando isso?

-Primeiro porque você não pode provar, segundo que você não vai.

-Como tem tanta certeza?

-Você não tem cara de quem dedura os outros.

Revirei os olhos. Só faltava eu ser recrutada.

-Não está querendo me recrutar, está? – Perguntei, depois de um tempo.

-Não exatamente. Você parece legal, acho que deve saber o que se passa por aqui. Acho que Salazar não te explicou o sistema, certo?

-Só me falou para não andar com você. Portanto, já estou desrespeitando a primeira regra. – Ele riu, e continuou.

-É tudo muito simples. Se você quer uma roupa, você pede para fazerem. Existem quinze vampiras que fazem isso, é só encomendar o que quiser e esperar para elas te entregarem. Em troca, você deve fazer algo por elas. Pegar lenha, ajudar a tirar a neve da porta, essas coisas. E assim vai com todas as pessoas. Para caçar, a cidade é dividida em dezenove setores. Cada dia é um setor diferente, e cada setor tem um lugar específico para viajar para caçar. Salazar e conseqüentemente você vivem no setor sete e caçam em Moscou. Lembre-se de não deixar vestígios, mas isso você já sabe. Se não tiver aonde esconder o corpo, simule as marcas da Peste Negra.

-Como?

-Peste Negra. Não atinge quase ninguém, mas muito útil se você é um vampiro que pode caçar. Infelizmente, nossas regras quanto à discrição pecam um pouco, então simplesmente espanque o humano antes de mata-lo. Horrível, eu sei, mas é o que o nosso “chefe” – havia um tom de desdém na voz – ensina a fazer. Se você só quiser deixar o corpo em qualquer lugar, não tem problema, mas é o que nós da resistência fazemos. Não queremos expor a espécie, e sabe como os humanos são criativos na hora de inventar lendas.

-Tudo bem, eu consigo fazer isso.

-Ótimo. Bem, vou te deixar andar por aí explorando o lugar. Você pode conhecer o pessoal amanhã, se enturmar, algo assim. Encontre comigo amanhã de manhã naquela mesma praça, combinado.

-Combinado. – Combinado, Giuliet? Você disse “combinado” mesmo? Você não conhece ninguém e já está combinando de sair com gente? Qual o seu problema?

-Certo. Até amanhã.

E foi embora, enquanto eu continuei andando. Eu estava disposta a evitar uma pessoa, e vinte minutos depois eu combino com ela de sair com a turma por aí. Nossa, que genialmente suicida. Enquanto parte do meu cérebro me chamava de idiota, a outra parte estava adorando. Ia ser legal se misturar. Mas tinha a parte da revolta, que eu não queria me envolver. Será que não queria mesmo? A verdade é que, quando Andreas saiu andando, eu quis perguntar aonde eu me alistava.

Quando voltei para a casa naquela noite, Salazar estava no exato mesmo lugar. Sem falar nada, entrei em um cômodo que tinha uma cadeira, me sentei e encarei a janela do outro lado. Uma neve leve caía do céu, se acumulando aos poucos na janela. E ali eu passei a noite, enquanto os dois lados do meu cérebro discutiam.


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