Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 6
Tratado




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Foi uma noite agitada tentando convencer meu clã de que eles não deveriam partir para o ataque. Eles levaram muito para o lado pessoal. Para mim, não fazia diferença nenhuma, fora o fato de eu gostar daquela blusa. Eles quase que ignoraram o fato de eu ter lutado com três vampiros, fora a parte que eu ajudei os lobos a vencerem. Essa eles lembraram muito bem.

-O quê? Você é quase morta por eles e ainda ajuda? Devia ter deixado os vampiros fincarem as mandíbulas deles no coro daqueles animais! – Matt era tão estressado de vez em quando que eu tenho vontade de apaga-lo e só lembrar dele um mês depois.

-Ei! Quase morta não, não exagera. E é claro, eles estavam atrás de nós, só adiantei o serviço.

-Só porque você teve um “irmão” que virou lobisomem não quer dizer que esses sejam legais também. Só lembrando que você era humana quando aquilo tudo aconteceu. – Gabi estava calma, contrastando com Matt, que andava de um lado para o outro.

-Eu não estou obrigando vocês a andarem de mãos dadas com eles. É só não sair por aí procurando uma guerra territorial, simples. Vocês são tão incapazes de derramar sangue assim?

E assim foi durante alguns dias, até que eles perceberem que eu não iria permitir o que eles queriam. Acho que acabaram se acostumando com a idéia, não insistiram mais.

Quanto aos lobos, agora era uma situação estranha. Existem certas coisas que é impossível fazer junto sem ao menos se respeitar um pouco depois. E lutar contra vampiros estava perto do topo da lista. Estávamos fazendo um favor a nós mesmos: cada um fingindo que o outro não existia. Mesmo quando comecei a ir com freqüência na reforma da loja no centro da cidade, era como se não nos víssemos. Eles ficavam lá dentro, quando estavam todos lá, e eu ficava na obra. Aliás, essa obra era algo meio que inovador para o que costumava a fazer. Dessa vez, iríamos abrir uma Discoteca. Eu não era muito fã da música moderna, mas combinava muito bem com o lugar. Um pouco de ironia nos fez escolher um tema mais obscuro, portanto o nome seria Dark Dance. Considerando que a cidade não havia nenhum ponto de dança noturna, ou, como chamam hoje em dia, nenhuma balada, havia grandes chances de o negócio dar certo.

Porém, eu não sabia o quanto a calmaria demoraria. Durante um mês, bolei uma forma de acabar com qualquer chance de guerra, luta, ou qualquer situação de constrangimento. Pelo que eu havia pesquisado, eles viviam em uma reserva indígena a uns poucos quilômetros de Forks. Tribo Quileute, pela placa. A população se concentra principalmente em uma comunidade pequena, chamada La Push. E o mais longe que eu consegui chegar era que eles tinham uma espécie de governo próprio, um conselho tribal. E eu podia imaginar perfeitamente como que era esse conselho.  Eu só não conseguia imaginar muito bem pessoas de 16 anos participando do conselho de qualquer coisa além do grêmio escolar.

E nós vivíamos exatamente do lado contrário, que dava acesso por uma estradinha de terra batida que saída da estrada, também isolado. Estávamos situados em dois pólos afastados, então era fácil resolver esse problema. Nesse dia, fui para a cidade com meu Corvette  Z06, da Chevrolet. Eu tinha milhares de precauções com discrição, mas uma espécie de vício eram os carros esportivos de luxo. Eu podia passar horas limpando e cuidando dos carros que eu tinha, de tempos em tempos trocando. Estava para nascer o homem que me ganhasse discutindo mecânica.

Encostei na porta da lanchonete e buzinei. Repeti a buzina até que um bombado veio para o lado de fora, e eu abaixei o vidro. Ele me olhou com a sobrancelha levantada.

-Posso falar com a sua amiga? – Quando ele ficou parado no lugar, eu revirei os olhos. – Por favor?

-O que você quer? – Ele perguntou, a voz rouca.

-Falar com ela, já disse.

-Deixa que eu resolvo, Rafa. – Ouvi a voz atrás dele, meio impaciente, e ele saiu do caminho. Andou até metade da calçada e parou. – O que você quer?

-Precisamos conversar. Vai demorar. Seus... – Devo dizer filhotes? – amigos podem vir no carro de trás.

Ela ficou um tempo me encarando como se esperasse uma pegadinha. Era tão estranho eu convidar um lobisomem que tentou me matar uma vez para conversar em um carro de luxo? Tá, não responde.

-De jeito nenhum eu vou entrar aí.

-Você não acha que se eu quisesse fazer alguma coisa com você, eu acho que não me daria ao trabalho de ficar um mês pensando em um acordo que servisse para ambos os lados.

Ela pensou, olhou para o pessoal da lanchonete, olhou para o carro, para o pessoal de novo, e eu já estava quase revirando os olhos quando ela aproximou do carro, abriu a porta e entrou. Ah, meu estofado cheiroso e limpinho...

Depois de arrancar com o carro e andar devagar, comecei a falar. O desconforto de ambas as partes era tão óbvio que causava ainda mais desconforto.

-Bem, eu não quis falar com você para passear pela cidade. Eu realmente tenho uma proposta para te fazer, mas antes acho que você precisa entender algumas coisas.

-Estar dentro de um carro com um vampiro só pode ter esse objetivo. – Apesar das palavras não muito delicadas, a voz parecia controlada. Bom sinal.

-É nisso que eu quero chegar. A visão de vocês é que nós somos seres sem sentimentos que matamos por prazer e devemos ser eliminados, certo?

-Isso chega perto. Não me diga que vocês são bonzinhos e que isso é preconceito porque não é! Vocês matam pessoas para viver, não é algo muito bom.

-Eu não disse que nós éramos “bonzinhos”. – Pensei um pouco antes de continuar. – Por mais que vocês ignorem isso, um dia, todos nós fomos humanos. Nós tivemos uma família, amigos, uma vida. E isso foi tirado de cada um de nós tão brutalmente e inesperadamente que quando percebemos, já estamos correndo atrás de sangue. É de se esperar que alguns de nós queiram seguir um caminho mais frio. – Algumas lembranças vieram à minha cabeça antes de eu terminar. – Dói menos.

-Isso poderia ser resolvido. Por que não caçar animais? Não mataria humanos. – Eu suspirei, esquecendo de que iria me arrepender disso.

-Aqui vai uma situação hipotética. Digamos que você esteja andando a três dias no deserto, sem nem ver sinal de água. Então, você vê dois copos. Um com água gelada e refrescante, que mataria a sua sede tranqüilamente. O outro tem uma água quente e ruim, que só aliviaria sua sede por instantes. Porém, se você beber o copo de água gelada, alguém morre. Qual a sua escolha?

-Eu não ia viver com a idéia de que alguém morreu por minha causa. Escolheria o outro, com água ruim.

-Então nunca sentiu sede de verdade. – Certo, eu estava fazendo isso da maneira mais estranha o possível. Aliás, eu tinha um histórico meio grande de coisas estranhas que deram certo, esperava que esse entrasse na lista. Continuei depois de um silêncio tenso. – Comparado a outros clãs, não somos tão ruins assim. Nós tentamos controlar o resto. Sorte sua não ter visto o mundo como era antes de nós.

-Claro, a existência de seis vampiros mudou tudo, com certeza. – Por que todo desinformado lança um sarcasmo desse tipo?

-Somos o clã dominante. Regramos cada vampiro lá fora. Somos tipo... – eu odiava falar isso – uma família real. Só que sem a frescura de títulos, castelos e isso tudo. Na verdade, era assim antes de nós, acabamos com isso. O antigo governante estava no poder durante os períodos mais negros da humanidade. Sabe a peste negra? Foi uma das doenças mais devastadoras da história humana, e vocês nem sequer sabem que na maioria dos casos eram ataques de vampiros que espancavam as vítimas para recriarem as manchas perfeitamente para disfarçar os ataques. Isso é só um exemplo do que nossa espécie fazia antigamente. As regras eram muitas e ineficazes, sem fiscalização, e o mundo era um inferno. Hoje em dia, a maior preocupação humana é a temperatura do planeta.

Ela ficou em silêncio esse tempo todo, e o silêncio se estendeu mais um tempo. Eu havia acabado o discurso de “podia ser pior” sem ter a menor idéia se tinha funcionado.

-O que você quer? – Ela falou, por fim.

-É simples. Eu entendo a importância dessa terra para vocês. E também entendo que é muito difícil conviver com a gente, vai contra a própria natureza de vocês. Porém, agora é meio tarde para irmos simplesmente embora. Já nos acharam. Então, quero fazer um acordo provisório. Vocês vivem na reserva, e a gente do outro lado. Então, para que todo mundo passe a noite tranqüilo, nem nós podemos entrar na reserva, nem vocês podem passar de três quilômetros para lá de Forks, que seria uma área neutra. Assim, cada um fica em seu devido lugar, sem que haja chance de se encontrar. E também não podemos nos atacar, claro, senão não serviria para nada o acordo.

-Esse seu “nós” se aplica a quem?

-O clã. Não posso me responsabilizar por uma espécie inteira.

-E se alguém desrespeitar o acordo?

-Aí é guerra. Na hora.

-E se eu disser “não”? – Mais um pouco de silêncio tenso.

-Bem, aí eu vou refazer os termos do acordo até que todo mundo fique feliz.

-Por que vocês simplesmente não lutam conosco? – Cheguei a apertar um pouco demais o volante depois dessa. Estávamos dando uma volta na cidade, não indo para o Texas de carro para eu responder isso pacientemente.

-Aceita ou não aceita?

Ela olhou pela janela, talvez procurando um ar mais fresco sem cheiro de vampiro para respirar. Se eles fediam para nós, era bem provável que o contrário também acontecesse.

-Eu gostaria de adicionar uma coisa nisso.

-O que?

-Se alguém em Forks for morto por um de vocês, vamos ignorar o tratado. E vamos atrás de vocês. Também não vão poder transformar ninguém daqui. – Eu já esperava por algo assim.

-Por mim tudo bem. Nunca usamos ninguém daqui, de qualquer forma.

-Você me tirou de lá sozinha para falar isso? Dava para ter sido lá.

-Acredite, não dava. É mais difícil fazer acordos quando seu séqüito está te julgando enquanto você pensa. Lembre-se que eu também estou sozinha. Então, tratado fechado?

Estendi a mão em um movimento tão comum para mim que não pensei que fosse parecer estranho. Do onde eu vinha uma promessa selada com aperto de mão era mais válido do que qualquer papel escrito. Só que eu me esqueço que os tempos mudam. Ela ficou um tempo hesitando, meio que tremendo daquele jeito estranho deles, olhando para mão e depois para mim e, quando eu já estava quase convencida de que deveria abaixar, ela apertou. Se a temperatura deles já era absurdamente alta quando eu era humana, agora me parecia uma pessoa que acabou de sair de uma panela de pressão. O sentimento de raiva voltou todo sem motivo nenhum, eu estava desafiando meu corpo novamente Tirei a minha rápido, incomodada. Mas, pelo menos pela minha parte, havia um acordo.

-A propósito, prazer, Giuliet Volturi. – Eu disse me lembrando que não sabia o nome de nenhum deles ainda enquanto encostava o carro na frente da lanchonete de novo.

-Camily Clearwater. – Ela disse enquanto saía do carro, impaciente.

-Temos um acordo, lembre-se.

Ela não respondeu, e entrou na lanchonete. Ouvi os outros começarem a falar ao mesmo tempo, mas saí antes do desfecho. Eu tinha meu próprio “outros” para falar ao mesmo tempo.

Abri as janelas, deixando o rastro de lobisomem sair do carro. Aquilo tinha sido estranho. Muito estranho. Mas pelo menos não havia mais uma guerra nos esperando a qualquer momento.

Guardei o carro na garagem, deixando os vidros abertos e saindo de perto. Estavam quase todos na sala quando entrei. Tentei subir sem que eles me notassem direto para o chuveiro, mas não deu.

-Que cheiro é esse? – Perguntou Kronus. Ele era o melhor rastreador do grupo, era sua habilidade. – Não me diga que eles te atacaram de novo!

-Não, pelo contrário. – Disse, parada no meio da escada. – Eu procurei eles. Nós temos um Tratado agora, como eu já ia explicar a vocês assim que botasse minhas roupas para lavar e tomasse um banho.

Continuei meu caminho, entrei no chuveiro e botei minha roupa sozinha para lavar, com a máquina programada para “lavagem pesada”. Me chame de exagerada o quanto quiser, mas eu teria problemas para me adaptar com eles. Eu tinha quase perdido o controle no carro com um simples aperto de mão, e isso era perigoso. Cheirando descentemente de novo, desci e expliquei exatamente como era o Tratado e até aonde deveríamos ir. Para minha surpresa, não discutiram. Não muito. Matt não ficou feliz em ter os movimentos limitados. Droga, ele tinha o resto do mundo para andar se quisesse, só não gostou por implicância. Se eu tinha algum preconceito, ele tinha elevado ao cubo. Entendo que é difícil estar perto do seu inimigo natural, mas é muito melhor do que ir para uma batalha com um inimigo totalmente desconhecido sem saber se volta no dia seguinte. E ele não é exatamente o tipo de vampiro que não se importaria com não voltar.

-Você recebeu uma carta. – Comentou Anne, depois de todos os pontos serem esclarecidos.

-Carta? Ninguém sabe nosso endereço.

-Alguém descobriu. Vem do Brasil.

-Os Alves descobriram meu endereço?

Ela arremessou a carta, que parou perfeitamente no meu colo. A caligrafia desenhada e meio inclinada era inconfundível: Ricardo Alves, líder do clã carioca. É uma história engraçada como nos conhecemos. Por volta de cem anos antes, recebi uma denuncia de um clã da Guiana Francesa dizendo que eles tinham transformado uma criança. Nas nossas leis, transformar uma criança é um crime imperdoável, sendo morte a única pena possível. Tanto para o criador como para a criatura. Ao chegar lá, não havia nada. Exatamente nada. Era só briga centenária entre os dois clãs e uma tentativa ridícula de tentar eliminar o outro. Tendo ficado por lá um pouco de tempo, acabamos tendo uma pequena amizade, coisa não muito comum no nosso mundo. Ele era incapaz de enviar um e-mail, então eu sempre recebia cartas. Abri com um sorriso debochado e comecei a ler, aproveitando para praticar meu português.

“Giuliet,

Espero que esteja bem. Juro que tentei enviar um e-mail, mas na metade dele o teclado do computador se estraçalhou e tive que parar. Essas máquinas são muito frágeis, não servem para nós. A boa e velha caneta (pena não ser mais uma pena) resolvem o problema.

Não se assuste com a minha velocidade de te encontrar. Tudo isso começou com uma ligação para a Noruega, e a história é longa, mas te achei. Então, Estados Unidos? Ótimo, só andar para baixo.

Joana tem lembrado de você ultimamente. Márcio e Cristina também. Estamos meio ocupados aqui com uns vampiros que surgiram no nosso território e não podemos ir aí agora como gostaríamos. Bem que você poderia aparecer um pouco, isto é, se não estiver ocupada demais tentando salvar o mundo. Sem pressão, claro.

Lembranças,

Ricardo Alvez, aquele que você deve uma visita à 50 anos.”

Eu ri. Cinqüenta anos atrás eu realmente prometi dar uma passadinha lá, mas as coisas meio que movimentaram desde então. Eu bem que gostaria de conversar com Joana um pouco, rir das palhaçadas do Márcio. Agora que achava que não haveriam ataques, nem brigas, nem bafafás, seria uma boa dar uma passada no sul para ver como anda o Sol por lá. Hecate poderia cuidar das coisas para mim enquanto isso.


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Notas finais do capítulo

Um Corvette Z06 seria esse carro: http://www.webluxo.com.br/galerias/autos/picture.php?/681/category/66

Antes eu estava postando diariamente. Agora eu vou demorar mais um pouco, com escola, estudando para passar para colégio e essas coisas. Mas não vou deixar de escrever não. Só vai parar de ser diariamente. xD



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