Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 5
Desentendimento




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Quinze dias se passaram desde o encontro na floresta, e nem sinal dos lobos. Depois de uma passada em Seattle – próxima a Forks e nosso ponto de caçada por ter mais bandidos prontos para serem drenados – para uma caçada, fui ao centro. Precisava arrumar alguma forma de ter uma renda, para explicar a fortuna que movimentávamos. Desde que inventaram as lentes de contato coloridas, ficou muito fácil.

Era um dia chuvoso, perfeito para andar entre os humanos. Depois de uma conversa em uma imobiliária, fui levada a vários pontos da cidade. Precisava de um espaço amplo e em um lugar bem no centro da cidade. Eu não sabia exatamente o que ia fazer, mas encontrando um lugar com essas descrições, ficava mais fácil.

No quinto ponto que paramos, achamos algo parecido com o que eu queria.

-Esse aqui está desocupado já faz um tempo. – O corretor começou. – Tem um espaço grande aqui na frente – grande era eufemismo, era enorme – e atrás há um pequeno escritório. Há também um porão, caso queira guardar qualquer coisa. E posso fazer com um preço mais camarada.

Comecei a andar pelo local, analisando. Não havia ruído de ratos, vazamentos nos canos, nem nada parecido. Também não havia cheiro me mofo. Só havia umas aranhas, que poderiam ser retiradas com uma simples faxina. Claro que, com vampiros freqüentando, elas não tornariam a aparecer. Estava um pouco mal cuidado, a pintura acabada, mas iria passar por uma reforma de qualquer jeito, e se eu demorasse muito para despachar o corretor, ele ia acabar me convidando para tomar um café ou algo do tipo pela terceira vez. Por isso que normalmente eram os homens que cuidavam dessas coisas, apesar de nos tempos atuais, isso não fazer mais tanta diferença.

-Esse lugar é perfeito. Por mim, negócio fechado.

-Bem, tem mais uns três lugares parecidos com esse na cidade, se quiser dar uma olhada...

-Não, esse está bom. Gostei da localização.

-Tem certeza? Eu não me incomodo em mostrar. – É, eu sei que não.

-Esse está bom. – Minha voz saiu sutilmente mais ameaçadora, mas, mesmo que inconscientemente, já foi o suficiente para fazer o homem engolir em seco.

-Ah, sim, claro. Bem, você pode me entregar o cheque amanhã, quando for assinar os papéis. Só estarão prontos amanhã.

-Claro, como preferir.

Saímos do local e ele, após trancar o estabelecimento e me prometer que estaria tudo pronto no dia seguinte, saiu em seu carro, enquanto eu fiquei no local avaliando os arredores. Uma avenida comercial, com uma lanchonete na frente, que estava fechada no momento. Atravessei a rua para analisar o lugar do outro lado da rua quando senti o mesmo cheiro repugnante que senti naquele dia, na floresta. Olhei para os lados e nada. Ouvi a lanchonete atrás de mim começar a abrir para o movimento, mas ignorei. Os rastros eram frescos, não deveriam ter muito mais de dez minutos. Me dei conta que as portas da lanchonete haviam começado a se abrir, mas uma delas parou no meio.

Quando me virei, ficou claro o motivo. Na entrada, com meia porta aberta, havia uma garota parada, com a porta entreaberta. Era alta, mas não muito, pele apenas um pouco morena, cabelos e olhos castanhos claros. Minha suspeita de quem era foi confirmada pelo forte odor que vinha de dentro do lugar e pelo olhar de raiva que ela tinha, o mesmo daquele dia, parecia ser a líder do grupo. Meu primeiro sentimento foi de decepção, eu esperava uma mulher com aparência de índia americana, alguém que eu pudesse realmente acreditar que virava um lobo nas horas vagas, e não a próxima cantora adolescente da Disney. Quantos anos ela tinha, 16?

Depois eu me dei conta, através da vitrine, que haviam outros três me encarando. Eram diferentes, mas de alguma forma, parecidos. A outra garota era menor um pouco, da minha altura, a pele morena avermelhada e os cabelos castanhos escuros. Tinha a aparência ainda mais jovem, não passando de 15. Haviam outros dois bem parecidos, muito altos, morenos como a menina, e qualquer um diria que tomavam bomba. Se eu não tivesse conhecido um que fosse exatamente assim em uma época que bomba não existia nem no sentido literal, também acreditaria nisso. Um parecia estar na faixa dos 18, e outro estava perto disso. Todos demonstravam todo o seu afeto para com a minha espécie tremendo como se tivessem Parkinson. Uma coisa linda de se ver.

-O que... você... está fazendo aqui? – Falou a cantora da Disney, aparentemente tentando se controlar para falar.

-Bom dia para você também.

-O que você está fazendo aqui?

-Bem, é o centro da cidade. As pessoas vem aqui para comprar, encontrar outras pessoas, comer, essas coisas.

-Você não se encaixa bem no grupo “pessoas”. E é bom que não tenha vindo até aqui pra comer.

Ela estava realmente começando a me irritar. Não sabia se era realmente ela ou o odor dos amiguinhos dela, mas eu senti raiva novamente. Mas por fora, continuei calma.

-Não, mas não é da conta de vocês o que eu faço ou deixo de fazer. A não ser, é claro, que você queira recomendar algum pedreiro para a reforma dali da frente.

Ela saiu batendo a porta e se aproximou de mim, possessa. Alguns humanos começaram a olhar curiosos, sorte não haver muito movimento no momento. As chances daquilo terminar em violência eram altas.

O sentimento de raiva cresceu quando ela estava apenas a um metro de distância. Precisei de quase todo o autocontrole de séculos para não ataca-la ali mesmo.

-Olha aqui, sanguessuga, nada impede de te atacar aqui mesmo.

-Acho que impede sim. Ia chocar um pouco as pessoas se você virasse um lobo aqui. Sabe, meu segredo ia estar protegido, mas acho que você teria problemas depois.

-Não importa, estamos te dando a chance de sair daqui enquanto pode.

Fiquei dividida entre rir ou joga-la contra a parede e acabar com o problema manualmente.

-Me dando a chance? Se eu ainda sei contar, vocês estão em desvantagem numérica. Além do mais, eu já lutei em mais batalhas do que posso contar e... alguma vez algum de vocês matou um vampiro? Sozinho, pelo menos? Me poupe, quando vocês nasceram eu já tinha mais batalhas na conta do que roupas no armário. – Respirei fundo, me arrependendo disso logo depois. – Nós não precisamos lutar, já disse isso. Você fica com seus cachorros na casinha e eu fico com o meu clã. Simples assim.

Agora ela tremia tanto que eu realmente achava que ela não ia durar muito na carcaça humana. Virei as costas e saí andando, deixando-os para trás. Quando quase virava a esquina, ouvi as portas se trancarem novamente. A caçada começava. Mas dessa vez, eu era a caça.

Quando cheguei em um ponto sem pessoas, comecei a correr realmente rápido. Cada vampiro tinha suas características pessoais além das impostas pela espécie. A minha era a velocidade. E eu esperava que isso bastasse para me afastar dos lobos.

Não demorou muito para eu ouvir os passos atrás de mim, apesar de distantes. Eram mais rápidos do que eu previra, então corri o mais rápido que eu podia. Agora nenhum humano seria capaz de me enxergar. Ouvi eles ficarem distantes, mas me esqueci de um detalhe: eles conheciam o território.

Dois deles surgiram na frente, me fazendo frear e mudar de direção rápido, indo na diagonal. Eles devem ter usado um atalho qualquer pra chegar a frente, não sei, mas chegaram. O preto pulou na minha direção e, me abaixando, senti ele passar milímetros acima. Nesse meio tempo, os outros dois já haviam chegado. Enquanto corria, um deles conseguiu alcançar meu ombro com a pata e me empurrar para trás. Desequilibrei, mas rolando consegui me por de pé novamente. Só que agora estava no centro deles, cercada. Perfeito.

-Só eu acho isso patético? Se eu quisesse lutar com vocês, já estariam mortos. – Ou não, mas blefe costuma funcionar. – Ah, me poupem.

Andei na direção que estava antes indo antes, mas meu caminho foi bloqueado pela Alfa.

-Com licença. Não me obrigue a chamar a carrocinha. Se vocês não prezam pela civilização, o problema não é meu.

Eu esperava que uma hora eles lutassem de verdade, mas acho que subestimei um pouco. Ela pulou de onde estava direto na minha direção, mas consegui desviar a tempo. Infelizmente, a minha blusa não teve a mesma sorte e foi rasgada nas costas, exatamente a marca das unhas. Perfeito também.

Agora todos avançaram ao mesmo tempo. O primeiro que apareceu me obrigou a saltar, fazendo-o passar direto. O segundo abaixei e o empurrei para trás pela barriga. Vale comentar que eles são bem pesadinhos também. Quando o terceiro quase me desequilibrou dando uma rasteira, e pensei ter conseguido passar da primeira rodada, mas a segunda já havia começado. Mal firmei o pé, fui jogada para trás, caindo de costas, com patas pressionando o meu ombro. Era a atriz da Disney, claro, a mais irritante.

-Nada mal para quem está limitado a quatro patas. Agora, antes que eu seja obrigada a lutar de verdade com vocês, me solta.

Nem preciso citar que ela não me largou. Agora eu tinha duas opções: começar a lutar com algum intuito de machucar ou apaga-los. Por mais que meu corpo implorasse pela carnificina, e 500 anos de experiência estarem deixando de serem suficientes para me controlar, eu optei pela segunda. O mais rápido que eu pude, apaguei todos os lobos, saindo de debaixo dela antes que ela caísse. Me levantei, limpando a poeira da roupa arruinada. Olhei uma última vez para os lobos caídos, revirando os olhos.

-Vira-latas idiotas. Não durariam um mês se achassem um vampiro que quisesse mata-los. – Falei, mesmo sabendo que eles não poderiam me ouvir.

Voltei a correr na direção de casa, esperando ter uma boa dianteira antes de poder libera-los. Assim que fiz, senti um mau pressentimento. E se alguma coisa havia realmente me mantido viva durante todos esses anos, essa coisa era esse pressentimento, praticamente um sexto sentido. Me odiando muito, voltei. O que eu esperava encontrar? Uma festinha e os lobos esperando com champagne na mão?  Quando estava à uns cinco quilômetros do local, ouvi uns sons realmente estranhos. Luta. A não ser que eles estivessem enlouquecido de vez e estivessem lutando uns contra os outros, não haveria motivos para isso. Demorou um pouco para que eu chegasse ao rastro. Vampiros, uns três, naquela direção. O cheiro era desconhecido, mas eu bem que podia imaginar o que faziam ali. Nos acharam em cinco meses, novo recorde.

Corri o resto do caminho, chegando a tempo de ver a batalha. Ainda não havia morrido ninguém, mas os lobos estavam com certa dificuldade. Os três vampiros eram bons, não muito, mas eram e, ao contrário de mim, queriam realmente ferir. Um deles estava dominado por dois lobos, vi quando um saiu arrancando o braços dele. O outro estava em uma luta mais ou menos equilibrada com o lobo preto, se desse sorte, iria vencer em breve. Eu vi o problema na atriz da Disney. Aquele vampiro era realmente habilidoso, daria um bom trabalho a qualquer vampiro. Só que quando se é obrigado a estar em quatro patas e não podendo ser mordido, acho que isso se complica. Em um segundo eu já estava do outro lado do lugar, saltando por cima do vampiro mais habilidoso milésimos antes dele dar uma mordida. Ele nem sequer me viu e segurando seu ombro e girando o pescoço, separei a cabeça do corpo, incapacitando. Quando não se tem muita força, elemento surpresa e conhecimento de anatomia costumam resolver o problema. Separando o corpo, peguei um isqueiro no bolso, acendi e larguei por cima dos pedaços, que pegaram fogo no mesmo momento, fazendo uma fumaça arroxeada subir e um cheiro incômodo pairar no ar. Apenas a cabeça ficou do lado de fora. Os outros vampiros já haviam perdido a luta, e o último deles já estava sendo partido quando me virei. Ajudei os lobos a catarem os pedaços, em um momento que, por sorte, esqueceram que queriam me matar meia hora atrás. Depois, me virei para a cabeça, que se contorcia de dor.

-Vou ser bem direta . Vou fazer perguntas, se a resposta for sim, você vai piscar uma vez, se não, vai piscar duas. Entendeu? – A cabeça piscou uma vez. – Você está aqui para nos atacar? – Uma vez novamente. – Está a mando de alguém? – Ele hesitou demais antes de piscar duas vezes. – Eu não mentiria se fosse você. Está a mando de alguém? – Ele piscou duas vezes de novo. – Sim, claro, então você veio até aqui com mais dois querendo vencer seis por livre e espontânea vontade? – Ele piscou uma vez, e revirei os olhos. Patético. – Boa noite, então.

Arremessei a cabeça no fogo, eliminando de vez o grupo suicida. A lista de pessoas que poderiam ter mandado eles era um pouco grande, mas era um idiota. Óbvio que eles não voltariam. Ou talvez fosse esse o objetivo. Cansei de lutar contra vampiros enviados em missão suicida. Nunca é bom fazer inimizade com um líder vingativo.

Ouvi os lobos andando atrás de mim e virei, totalmente indisposta para outra luta.

-Acho que chega por hoje. Vocês já arrancaram membros o suficiente para um dia.

Três deles me ignoraram e se posicionaram para lutar, mas pararam, como se algo os impedisse. Eles olharam para trás, confusos, e receberam um olhar significativo da líder deles. Ela olhou para mim uns instantes e se virou, indo embora, assim como os outros, que me deixaram lá. Acho que isso era uma trégua. Pelo menos por enquanto.     


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