Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 15
A Visão - 1668




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1668. Estávamos há cem anos no poder. Eu havia completado cento e um anos não fazia muito tempo, mas, sinceramente, me sentia como se tivesse de dezenove novamente. Talvez melhor do que naqueles tempos.

Não que nossa vida fosse algo fácil. Vivíamos de lugar em lugar aplicando punição, fazendo a lei valer. Ficávamos por volta de dez anos em cada lugar, para então nos mudarmos de novo. Normalmente era uma casa abandonada que em uma semana deixávamos habitável, e que ficava há alguns quilômetros de uma cidade que nos provesse alimento. Em algumas ocasiões nos deparávamos com outros vampiros que não estavam muito dispostos a entrar em um acordo pacífico. Outros simplesmente não estavam dispostos a nos deixar continuar a existir. Na nossa sociedade o partido de oposição costuma ser um pouco radical. Mas, apesar de todas essas coisas, eu não reclamava.

Continuávamos com o mesmo número. Eu, Hecate e os Volturi. Andreas continuava como líder e governante, e eu bizarramente continuava como segunda no comando. Não que ele deixasse algum trabalho para mim, pelo contrário.

Era verão e estávamos em uma área vazia da França, mas que nos dava acesso rápido a Paris. Eu gostava do verão, da luminosidade e do Sol quente. Mas, ultimamente, eu tinha gostado de qualquer coisa.

Mas o que eu fazia agora não era algo que eu pudesse gostar de alguma forma. Quer eu quisesse ou não, a sede iria apertar em algum momento. E quando isso acontecia, não havia mais nada a fazer. Nós cinco havíamos viajado para Paris e nos dividido para caçar. Ninguém gostava de fazer isso acompanhado, já era complicado de lidar sem ninguém olhando.

Eu aproveitava a escuridão da noite para me esgueirar por entre as casas, procurando rastros recentes. Era difícil, já que era um lugar movimentado, ainda mais naquela época quente do ano, mas não seria difícil encontrar alguém. E realmente não demorou. Logo encontrei um homem bêbado e de aparência acabada caído em um beco mais escuro. O sangue fedia a álcool, mas eu sentia muita sede para escolher demais. Olhei mais à frente e vi uma mulher quase que igualmente bêbada, mas andando, com roupas que não me faziam acreditar que fosse moça de família. O sangue tinha menos cheiro de álcool, mas eu optei pelo homem. Normalmente vampiros se sentiam mais atraídos por sangue feminino, enquanto vampiras por sangue masculino. Coisas da espécie.

Corri na direção do homem em alta velocidade, para que não fosse notada por nenhum humano me notasse, e o segurei, levando-o para mais fundo do beco. Estava tão tonto de bêbado que nem teve tempo de gritar, soltando apenas um gemido abafado quando mordi seu pescoço. Um pouco antes de atingirmos a vítima é como se nossa identidade se apagasse, restando apenas o instinto. Senti um prazer animal enquanto o gosto doce e quente do sangue molhava minha garganta, a sede diminuindo, a sensação de estar mais forte se apoderando do meu corpo. Eu drenava a vida dele rapidamente, me enchendo de um poder mórbido. Quando terminei, sem deixar uma gota sequer dentro dele e ainda usando o dente, fiz um corte atravessando seu pescoço. Os poucos conhecimentos humanos veriam aquilo como um assassinato, um corte de faca, e mal se dariam conta da discreta marca de mordida, semelhante à humana, no lado do pescoço.

Deixei o corpo caído e fui embora, sem olhar uma última vez. Ele podia ser um homem de família em um dia difícil, mas muitos outros antes também eram.

Na época do verão podíamos caçar com mais freqüência, portanto me dei por satisfeita com um homem de um metro e oitenta acima do peso. Mais do que isso iria me encher demais, e eu poderia vir aqui com mais freqüência. Não havia necessidade de acabar com mais uma vida naquela noite sem motivo.

Voltei para o ponto de encontro com o clã, fora da cidade. Ninguém havia chegado ainda, exceto Andreas. Ele era sempre o mais rápido, já que ele podia prever aonde a vítima estaria.

Ele me recebeu com um sorriso, os olhos vermelho rubi cintilantes. Quando me aproximei, me abraçou e me beijou. Pude sentir o gosto do sangue na sua boca. Ele havia achado alguém menos alcoolizado do que eu. De novo.


–Por que eu sempre fico com o bêbado? – Perguntei. – Isso não é justo.

–Você sempre procura o bêbado. Por isso. – Ele respondeu com um sorriso torto no rosto.

–Eles aparecem caídos na minha frente, eu não posso fazer nada.

–Tudo bem então, os bêbados te perseguem.

–E os outros?

–Eu já ia dar uma olhada.


Os olhos dele perderam o foco, mas logo já estavam normais.


–Fátima chega daqui a pouco. Hecate ainda está caçando. E Giacomo... bem, ele resolveu se divertir de novo.

–Ah não...


Giacomo tinha o costume feio de brincar com a comida. O fato dele procurar suas vítimas em cabarés já é o suficiente para comprovar isso. Metade das lendas de Paris têm Giacomo Volturi como monstro principal. Andreas vive brigando com ele por isso, mas ele não me conta o que o irmão faz. Só me diz que é muito mais do que eu gostaria de saber. Eu não duvido de uma vírgula disso.

Ouvimos Fátima se aproximar e Andreas me soltou, parando ao meu lado e passando o braço pela minha cintura.


–Tudo bem? – Perguntou ele para a irmã.

–É, foi melhor do que da última vez.

–Hecate deve estar chegando daqui a pouco também. Mas Giacomo...

–De novo? Ah, meu irmão é nojento...

–Hecate precisa tomar uma decisão o mais rápido o possível. – Brinquei, e os dois sorriram. Hecate e Giacomo viviam uma novela mexicana. Em alguns momentos achávamos que eles se gostavam e estavam se acertando, outra estavam tão distantes quanto Pólos Norte e Sul.

–Ouvi meu nome? – Disse Hecate, a voz ainda distante, e logo depois surgindo do meio da mata.

–É, eu estava dizendo que você deveria estar quase aparecendo. – Eu disse, e ouvi Andreas abafar um riso do lado. Para minha glória, ela acreditou.

–Só falta Giacomo? – Ela perguntou, olhando ao redor.

–Só. Talvez demore um pouco.


Ela tentou disfarçar, mas nós três percebemos a mudança na sua expressão.

Giacomo chegou vinte minutos depois, com cara de paisagem. Todos estávamos olhando para ele com desprezo.


–O que foi? – Perguntou, descaradamente.

–Nada. Vamos embora daqui. – Disse Andreas, e nós começamos a voltar para casa.


Havíamos concertado uma casa de três andares, achando coisas, roubando outras e até comprando algumas. Tínhamos o que havia sobrado do dinheiro da Capital, mas a maioria do ouro havia sido dado à alguns habitantes. No primeiro andar havíamos feito uma espécie de sala grande. Nela havia estantes de livros e um piano, fora a mobília comum de uma sala daquela época. Andreas sempre arrumava uma forma de ter um piano. No segundo andar estavam os quartos de Hecate, Giacomo e Fátima. No terceiro haviam só dois cômodos, nosso quarto e uma espécie de exposição particular. Giacomo era um pintor talentoso, e tinha a mesma devoção para as pinturas que Andreas tinha com o piano. O resto era ocupado com uma espécie de jardim com algumas flores. Fátima conseguiu fazer um no último andar sem afetar a estrutura da casa, e eu me impressionava com isso. Eu mataria aquelas plantas na primeira vez que tentasse manusear, então eu só chegava perto para olhar. Mesmo assim não muito.

Amanhecia quando chegamos. Andreas chamou Giacomo e os dois subiram, nos deixando lá em baixo.


–Eu não vou ficar aqui esperando o circo pegar fogo. Vou dar um passeio. – Disse Hecate, já se encaminhando para sair.


Eu e Fátima trocamos um olhar. Sempre que eles tinham alguma chance de brigar, uma de nós duas normalmente ficava para separar caso as coisas ficassem mais feias. As outras duas saíam porque era bem desagradável, eles não eram muito gentis um com o outro nessas ocasiões. Hecate não era exatamente da família, ou tinha alguma relação afetiva além da amizade com algum dos dois, então a poupávamos da cena. E nós duas sabíamos que ela queria uma distância bem grande de Giacomo. A verdade é que a Hecate calma e observadora que eu conviveria anos a frente só surgiu exatamente anos à frente. Ela poderia facilmente piorar as coisas naquela época.


–Pode ir, eu cuido disso. – Eu disse, recebendo um olhar grato antes que ela se unisse a Hecate, que já estava metros a frente.


Suspirei e entrei, me sentando em uma cadeira de madeira e comecei a tamborilar os dedos na mesa, também de madeira. Lá em cima eu ouvia a voz de Andreas, calma porém severa. Era a primeira fase, o sermão. Ele falou calmamente sobre o perigo de se expor demais a humanos, que qualquer interação entre eles, mesmo que para leva-los para outro lugar para só então mata-los podia desencadear em uma situação muito mais complicada, que tínhamos que dar exemplo da lei que nós mesmos criamos. Pode parecer pouca coisa, mas um sermão vindo dele seria o suficiente para por medo em qualquer vampiro com alguma consciência das próprias ações. E não era pelo fato de Andreas ser o governante. Ele não tinha nenhuma influência extra sobre mim e eu sentia a mesma coisa. Mas Giacomo sempre adotava uma máscara rebelde quando se tratava das ordens do irmão. Ele não faria diferente agora, claro. Como o outro estava irremediavelmente certo, ele começava a gritar coisas incoerentes, como “Você não tem o direito de me dizer como eu vivo” ou, o que para mim é um tremendo de um golpe baixo, “Pra você é fácil, sua sorte sempre foi maior, desde que era humano” e continuava a jogar na cara de Andreas coisas que aconteceram quando eles ainda eram humanos. A minha vontade era de subir e mandar ele calar a boca, principalmente quando ele começava a debochar, chamando o irmão de Sr. Perfeito, Intocável e outras coisas parecidas. Andreas fazia o possível para não se exaltar, mas eu sentia a dificuldade na sua voz. Porém não havia nada que eu pudesse fazer, além de ficar tamborilando na mesa, esperando que acabasse e torcendo para que eles não se atacassem. Aconteceu uma vez só, mas conseguimos chegar a tempo de parar. Desde então tomamos essa precaução de uma sempre ficar lá por perto.

A discussão termina com Giacomo descendo as escadas e deixando Andreas falando sozinho lá em cima.


–Aonde você vai? – Andreas gritou do segundo andar.

–Direto para o inferno, irmãozinho! – Giacomo gritou mais alto ainda ao pé da escada, e saiu irado, ignorando totalmente a minha presença.


Assim que ele some de vista subo as escadas, encontrando Andreas no quarto de Giacomo. Ele está encostado na janela, olhando para fora, a paisagem para o que havia nos fundos da casa. Seus braços tremem de tanta raiva que ele sente. Começo a me aproximar, mas paro quando o parapeito da janela começa a rachar com a pressão de suas mãos. Talvez eu devesse dar um espaço para que ele respirasse, e fico parada ali, vendo seu esforço para se controlar novamente. Por vezes eu achava que o conhecia melhor do que a mim mesma, mas nessas ocasiões eu era simplesmente incapaz de saber o que se passava pela sua cabeça. Porém, eu tinha um palpite de que aquela raiva não foi causada por uma humana que fora ludibriada antes de morrer.


–Não o escute. Ele não sabe o que diz. – Falei suavemente.


Ele não parece reagir à minha voz. Mas enquanto o observo, percebo que o tremer para aos poucos, sua respiração está quase normal. Talvez fosse a hora de eu me aproximar.

Parei ao seu lado, o encarando. Seus olhos estavam cerrados, assim como sua boca, mas eu sabia que há um fogo atrás de sua visão. Toquei seu braço, tentando acalma-lo, e percebo que funciona. Ele abriu os olhos e encarou a paisagem.


–As humanas não são o pior. O pior é ele me culpar por cada falha que meu pai cometeu com ele. Já fazem duzentos anos que nós éramos humanos e ele age como se fosse um garoto revoltado. Ele faz isso para me afrontar.

–Já pensou em sentar com ele e conversar normalmente?

–E você acha que eu conseguiria? Viu como ele reagiu. Eu não estava gritando e ele veio para cima de mim. De novo.

–Vem, vamos sair daqui. – Digo, o tirando daquele quarto e o levando para a sala.


Ele se senta no sofá, e eu me sento ao seu lado, em silêncio. Andreas amava o irmão, eu sabia disso, mas digamos que alguns sentimentos são difíceis de ser mantidos a longo prazo quando os dois lados não cooperam. Eu podia entender como ele se sentia. Como irmã mais velha, eu protegia Lizzie de todas as formas possíveis e, olhando para o passado, eu seria capaz de qualquer coisa para ter certeza de que ela estava segura e intocada. Imaginar uma briga com ela tão feia que chega próximo a agressão é simplesmente inconcebível.

Eu o abracei e o trouxe para o meu colo, onde ele deitou a cabeça e ficou fitando o teto, em silêncio, enquanto eu passava os dedos pelo seu cabelo.

Depois de meia hora assim, vi que seus olhos perderam o foco e se demoraram mais do que de costume. Vi que sua respiração ficou mais pesada, mas não fiz nada para interferir. Quando ele voltou ao normal, levantou a cabeça e olhou ao redor, como se buscasse entender onde estava depois se encostando de novo, ainda meio aéreo e me parecendo nervoso. Mal sinal.


–O que foi? – Perguntei preocupada.

–Eu... – ele ficou um tempo me encarando, como se medisse algo. – Eu vi Giacomo irritado quebrando algumas árvores, só isso.


Isso era mentira. Era óbvio. Ele falou de modo que, para qualquer pessoa, pareceria natural, mas eu sabia que era mentira. Uma visão de Giacomo não deixaria ele nervoso daquela forma. Eu não me lembrava a última vez que ele havia mentido sobre uma visão para mim. Isso me deixou ainda mais preocupada, e ele pareceu notar, porque se sentou e me encarou, a faceta de que estava tudo bem mais bem feita agora.


–É verdade, está tudo bem, não foi nada. – Ele disse, me mostrando um sorriso torto. Golpe baixo.

–Andreas, Giacomo nervoso não ia te deixar com a respiração fora de compasso. – Eu disse, séria.

–Você se preocupa demais, sabia? – Ele disse, ainda sorrindo. – Não tem motivo para isso.

–Será que não? – Minha resposta fez seu sorriso perder um pouco do brilho, o que ele recuperou rápido. Mas não antes que eu visse.


Antes que eu conseguisse pressiona-lo mais um pouco, Fátima e Hecate entraram pela porta. Decidi não levar aquilo ao consentimento delas, ficaria só entre nós. Entre casal ou entre primeiro no comando e segundo.


–Tudo bem? – Perguntou Fátima a Andreas, insegura.

–Tudo, o mesmo de sempre. – Ele respondeu simplesmente.

–E cadê ele? – Perguntou Hecate, olhando ao redor.

–Sumiu, espero que esteja bem longe. – Andreas respondeu um pouco mais agressivamente.

–Não conseguiu identificar o lugar pela visão? – Eu disse, a voz com uma inocência falsa que eu sabia que ele perceberia. Quando ele me olhou para responder, eu vi que a provocação havia funcionado, porque ele me lançou um olhar mortal.

–Não, só vi um monte de árvores. Não pude saber onde era. – Ele respondeu, seguindo o teatro de inocência.

–Você teve uma visão? – Fátima perguntou, curiosa.

–Tive. – Ele disse, prendendo o olhar em mim um pouco antes de se voltar para ela. Seria aquilo um alerta? – Eu vi Giacomo batendo em algumas árvores inocentes.

–Espero que ele gaste toda a raiva em árvores inocentes e não em nós. – Ela disse, sorrindo. O clima havia mudado, mas não para mim. A tensão de minutos antes ainda estava no ar. – Bem, vou checar o jardim lá em cima. – Completou, subindo. Checar o jardim era a mesma coisa que passar horas a fio tornando-o mais perfeito do que já era, então não a veríamos cá tão cedo.


Hecate ficou na sala conversando conosco, e mantemos bem a fachada de normalidade. Mas quando se vive para sempre e no mesmo ambiente, não se tem muito o que conversar com o passar do tempo. Então, logo ela pega um livro na estante e sobe. Ouvimos quando ela fecha a porta do quarto.

Silêncio. Eu queria continuar pressionando, mas tinha medo de que isso causasse uma discussão. Ele já havia tido o suficiente por hoje. A única coisa de que eu estava certa era de que ele não havia visto Giacomo.

Quando eu começava a abrir a boca para falar alguma coisa ouvimos um farfalhar atrás de nós. Era Giacomo, voltando de casa. Me levantei e comecei a caminhar para fora.


–Aonde você vai? – Andreas perguntou, uma sobrancelha levantada. Seus olhos saíram de foco. – Ah não, Giuliet...

–Já volto. – Disse, o ignorando.


Alcancei Giacomo antes que ele chegasse na metade do “quintal” que levava à porta, o segurando pelo braço e o puxando para longe. Não sei para que, Andreas veria de qualquer jeito, mas eu tinha que fazer assim. Eu puxar um vampiro daquele tamanho era uma realização totalmente de acordo com a vontade do próprio, porque ele poderia simplesmente parar e eu não tinha nem metade da força necessária para tira-lo dali. Pelo menos não inteiro. Mas ele estava vindo.


–O que diabos, Giuliet? – Ele perguntou quando eu o larguei e me virei para ele.

–Vou ser direta. Você não andou derrubando árvores por aí, andou?

–Não, eu fiquei na beira de um riacho que tem aqui perto o tempo todo. Porque está perguntando?

–Nada. – Eu disse, ruída de raiva por dentro.

–Olha, você não veio aqui discutir árvores, veio? – Ele perguntou, confuso.

–Bem... – É, eu tinha ido para isso. Mas eu podia aproveitar a oportunidade para outra coisa. – Eu queria conversar com você mesmo. Sério, só um conselho.

–Sobre mais cedo? Acho que...

–Vai ser rápido. – Eu disse, e ele ficou quieto e parado. – Só quero te avisar para não ficar na minha frente caso eu veja aquele olhar nele por sua causa mais uma vez. – Falei usando o tom mais normal que pude, mas não consegui impedir um certo tom de aviso. Ele encolheu, uma pequena lembrança de que eu tinha mais poder do que admitia. – Estamos entendidos, então.


Virei-me e comecei a andar de volta, não querendo saber se ele vinha ou não. Mas ele veio, pois eu tive consciência dos seus passos atrás de mim. Mas minha cabeça não estava no posicionamento geográfico de Giacomo, e sim em o que diabos estava para acontecer.

Quando cheguei, Giacomo se apressou e passou rápido para o andar de cima, ignorando Andreas que ainda estava no sofá. Achei estranho ele não ter esboçado nenhuma reação, mas entendi quando me aproximei e seus olhos estavam fora de foco. Fiquei um bom tempo parada ao lado do sofá esperando que ele voltasse à realidade. Quando veio, me olhou assustado, como se não esperasse que eu estivesse ali.


–Se não quiser me contar, tudo bem, eu vou acabar descobrindo mais cedo ou mais tarde. Mas sem mentir, tudo bem? – Eu disse, me sentando ao seu lado.


Ele acenou que sim com a cabeça e ficou mais um tempo em silêncio.


–Você pode me prometer uma coisa? – Ele disse, encarando o anel de família que estava em sua mão.

–Depende. – Eu disse, na defensiva.

–Promete que vai fazer tudo que eu disser daqui para frente, sem discutir e sem tentar entender o porquê, por mais absurdo que seja? – Ele disse, agora me olhando no fundo dos olhos com uma intensidade um pouco fora do comum. Poucos olhares foram tão difíceis de sustentar quanto aquele. – Eu juro que quando você puder voltar a rebeldia habitual eu aviso.

–Por que você quer que eu prometa algo assim? Pelo amor de Deus, Andreas, o que você viu?

–Só promete, por favor. Promete que vai fazer exatamente o que eu disser, que vai levar ao pé da letra. – Sua voz se tornou urgente. Droga, ele estava me assustando.

–Tudo bem, tudo bem. Eu prometo. – Eu disse, sem ter outra saída.


Ele se mostrou aliviado no mesmo momento, mas aquela conversa estranha não havia terminado ainda. Ele tirou o anel do dedo, pegou a minha mão e botou o anel nela, fechando-a sobre o metal frio.


–É seu agora. – Disse, soltando minha mão.


Encarei o anel que estava na palma da minha mão direita sem entender muito bem. Aquele anel era uma relíquia de família, independente de clã ou qualquer coisa. Eu nunca poderia ficar com aquilo.


–Não, se você não quer mais, não é à mim que você deve entregar. Isso é de família. Dê a Giacomo, ou mesmo Fátima. Eu não sou uma Volturi.

–Só porque não quer.

–Só porque eu não nasci no interior da Itália duzentos anos atrás. Pegue. – Disse, estendendo o anel para ele. Ele pegou, mas pegou a minha mão esquerda junto.

–Nenhum dos dois vai querer esse anel, e vão gostar de achar que você está recebendo porque aceitou ser mais um pouco da família. – Disse, enquanto o colocava em meu dedo anelar. Ficou um pouco largo, mas nada que fosse atrapalhar.


Não ia atrapalhar, porque eu não ia ficar com ele.


–Mas eu...

–Giuliet. – Ele disse um pouco autoritariamente. – Veja isso então como uma identificação. Foi meu, do líder do clã. Agora é seu, da segunda no comando. Melhorou se eu militarizar o coisa? – Apesar de seu tom ser um pouco amedrontador, eu quis rir. Seu rosto se suavizou, até demais para o meu gosto, e ele voltou a olhar no fundo dos meus olhos com intensidade. – Por favor.

–Isso é golpe baixo. – Disse, me dando por vencida. Eu sempre acabava me dando por vencida, era impossível para mim continuar um debate por muito tempo com ele.


Ele sorriu, muito fracamente para o meu gosto, e se inclinou para mim, seus lábios tocando os meus. Havia algo diferente até no beijo. Ele parecia... estar se despedindo? Não, eu devia estar ficando paranóica, não ia acontecer nada com ele. Ele estava ali, na minha frente, bem. Qual era o problema comigo?

Recostei a cabeça em seu peito e me encolhi mais perto o possível dele, enquanto ele passava os braços ao meu redor. Sentindo a proteção que estar ali com ele me trazia, ficou mais fácil me convencer de que tudo daria certo.


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