''O amor é muito jovem para saber o que é consciencia''

Wiliian Shekespeare

Culpa.

Meus olhos estavam fechados, e o corpo estirado sobre a cama, e a respiração ofegante, quando senti alguma coisa sobre o meu rosto, passando por cima do nariz ate os olhos, e quando os abri.

__Hinata... -Minha voz saiu sem emoção, como se já fosse esperado vê-la ali.

__Bom dia! –Ela sorriu para mim.__Sua mãe saiu para fazer compras? Quando ela voltar você prepara uma sopa de bolinhos de arroz?

__Tudo bem, mas da próxima vez não me acorde assim... –Eu me levantei devagar, ela estava em cima de mim, me encarando como um cachorrinho esperando seu dono afagar sua cabeça. __O que foi?

__Nada, só gosto de te ver acordando... –Depois sorriu novamente.

Por alguns segundos eu fiquei olhando para ela. Como aquele sorriso ainda mexia comigo.

__Vou tomar banho e sair... –Levantei coçando a cabeça e passando a mão sobre o rosto.

__Por quê? Sua mãe já foi...

__Não, ela não esta mais aqui.

Eu não dei importância a ela e andei ate o banheiro, percebi que Hinata ficou um tempo olhando para os pés descalços, e quando ela ficava assim eu temia que desaparecesse a qualquer momento, e admito, sentia medo.

Entrei debaixo da ducha quente, fazendo o vapor da água subir, e depois ao fechá-la, ouvi um barulho melódico, e para ouvir melhor sai enrolado na toalha, bem devagar, quando cheguei à sala, ela estava tocando.

Piano.

Acompanhando a musica com sussurros, de olhos fechados, as mãos iam e vinham intensas, os dedos coreografados em uma bela peça teatral, dançando sobre o teclado velho.

__Parou de tocar?

__Ah... –Eu fiquei surpreso dela ter me visto ali, e sem escolha sai por de trás porta.

Ela abriu os olhos, sorriu e parou de tocar.

__Você tocava tão bem, Naruto...

__Muito bem, falou certo, tocava. –De cabeça baixa voltei para o quarto e bati a porta com força.

Às vezes eu não acreditava que ela estava ali, cheguei a pensar que seria um fruto pervertido da minha imaginação, mas não, ela era tão real quanto o vento que batia em meu rosto nas madrugadas em que ficava a ouvindo tocar, tão real que assustava, ela já estava ali ha alguns meses, mais já fazia anos que se fora, por que agora?

__Terminei. –Descia ate a sala, vestindo uma blusa rasgada e um jeans velho. __Me espera aqui, eu já volto. –Corri ate os armários e abri vários juntando as moedas que achava pelo caminho, ate inteirar o dinheiro.

__Até. –Ela acenava sorrindo sentada na almofada de frente para mesa.

__Hum... –Resmungando eu sai sem dizer mais nada.

Hinata ficou ali debruçada sobre a mesa, o cabelo caia percorrendo o corpo com as pontas quase encostadas ao chão, e os olhos vidrados no badalo do relógio, passando as mãos sobre a mesa, brincando de origami com os papeis ali amassados, torcendo a aba do vestido, às vezes pulando amarelinha na sala, olhando pela janela as pessoas lá embaixo, cantando, desenhando, ficava ali sempre que devia, observando, mas nunca sendo observada.

Naruto andava pela calçada de cabeça baixa, as pessoas passando apressadas, preocupadas com seu destino, ele parecia um pedaço da nada no meio de toda aquela gente.

__Me dá um saquinho de batatas fritas, e um chá gelado. –Naruto jogava as moedas no balcão.

__Naruto, continua nessa vida não é. –O atendente recolhia o dinheiro, era um velho que vendia sopas e mantinha um pequeno comercio nas redondezas.

__Cuida da sua vida ta bom.

__Tudo bem... –O velho percorreu os olhos pelos pacotes e pegou um pacote com sabor aromatizado de bolinhos doces de arroz. __Tome.

__Eu não pedi isso.

__Mais pegue, eu vi como você olhou pro pacote, eu deixo pago.

Naruto não falou nada, olhou baixo para as moedas no balcão.

__Eu lembro que sempre que vocês se reuniam, corriam para cá e compravam dúzias desses bolinhos, e admito, tenho saudade disso.

__Eu também. –Naruto pegou o saquinho e deu meia volta correndo.

__Não se culpe Naruto, você não teve culpa!

Nada adiantou, eu estava atordoado. Corri de volta para casa, sem olhar para trás.

__Voltei! –Abri a porta e a fecheicom força.__Hinata! Voltei! –Joguei a sacola sobre a mesa e olhei para os lados.__Hinata!

Ela não estava ali.

__Hinata! –Gritei.

Em seguida corri a casa toda e nada, virei tudo de cima a baixo.

__Cadê você! Hinata! –Gritei bem alto. __Não, não, não!

Minha cabeça começava a doer, eu corri ate as gavetas do armário, procurando as chaves do carro, para ir atrás dela, não sabia onde nem porque.

__Não... –Quando vi minhas lágrimas pingando sobre as mãos.

__Naruto...

Imediatamente me virei ao ouvi sua voz.

__Hinata! –E corri para abraçá-la. Abracei tão forte, que quebrei as batatinhas que estavam em suas mãos.

__O que foi? –Ela ficou paralisada, seu vestido balançou quando eu a abracei, e o seu cabelo estava enroscados em meus dedos.

Os gemidos do meu choro foram abafados quando afundei minha cabeça em seu abraço.

__Eu estava com fome... –Ela falava delicadamente.__Então achei essas batatinhas debaixo da cama... –Depois deu uma risadinha.__E acho que adormeci comendo.

Eu deixei sair uma risada também, então levantei meu rosto para vê-la.

__Da próxima vez deixa um aviso.

__Mais como eu vou deixar?! –Ela fez um biquinho com os lábios. __E se eu não consegui acordar para deixar!

__Deixa pra lá, não trouxe sopa, mais... –Eu voltei para mesa e peguei o saquinho agora amassado. __Tenho bolinhos. –E os estendi sorrindo.

__Bolinhos! –Ela avançou sobre eles e os arrancou das minhas mãos.__Obrigada!

Eu fiquei olhando ela, meus olhos se perderam no seu corpo, por minutos tudo o que vivemos passou pela minha cabeça em questão de segundos, logo a culpa inundou meu coração, mas daí eu me lembrei que eu tinha na minha frente uma segunda chance.

__Hinata...

__Hum...? –Ela se virou para mim de boca cheia.

__Você me ensina, a tocar piano de novo?

__Claro! –Ela levantou de uma vez e pulou em cima de mim, e me abraçou.

Por momentos o mundo parou diante dos meus olhos.

__Que bom, que bom. –Ela sussurrava.

De novo eu não consegui dizer nada, tanto tempo se passou, mas para ela não, continuava linda como sempre foi, e eu estava acabado por dentro e por fora, e isso me fez pensar, que talvez ela estivesse aqui por mim, para me ajudar.

O dia passou rápido, e a noite chegava.

__Você precisa combinar as notas em uma seqüência, os dedos devem estar posicionados assim... –Ela estava do meu lado, levemente curvada sobre mim, diante do teclado mostrando como se fazia, e por momentos eu podia ver o formato da sua cintura.

__Ah, Hinata, entendi! –Tomava posse do teclado velho tentando disfarçar meu rosto vermelho.

__Que bom aos poucos você volta a pegar a pratica. –Ela estava sorrindo.

__Assim espero. –Respirei profundamente e olhei para o teclado, então comecei a tocar as primeiras notas quando bateram na porta.

__Visitas! –Hinata gritou e saiu correndo.__Abre! Abre! –Parou de frente e ficou apontando para porta.

__Quanta força de vontade... –Levantei e andei devagar, e a abri.

Quando não acreditei no que vi.

__Quanto tempo não é mesmo? Você mudou bastante.

Uma voz feminina soava pela sala.

__Sakura! Como você ficou linda! –Hinata gritou atrás de mim, com as mãos no peito, e os olhos brilhando.

__Posso entrar? –Ela perguntou.

__Pode... –Eu me afastei quando ela passou e fechei a porta.

Ela olhou por tudo com uma expressão assustada.

Usava um sobre tudo preto, saltos altos, estava muito elegante com um coque sobre o cabelo rosado.

__Ainda continua aqui...

__O que você quer? –Falei sem calcular a frieza da minha voz.

__Naruto, não fale assim com a Sakura! –Hinata fazia biquinho.

Mais eu não me importei, afinal, ninguém se importou.

__Fala!

__Você esta bem? –Sakura levou as mãos ao peito, preocupada. __Hitachi me disse que você foi ate a loja dele hoje de manha, eu cheguei na cidade, e fiquei feliz em poder te ver de novo...

__Por quê?!

__Naruto... Isso tudo faz mal a você, essa culpa...

__Cala boca!

Eu não tinha visto mais, Hinata estava parada de trás de mim, olhando tudo, e eu estava gritando.

__Por favor, Sasuke vai vir também, eu o encontrei nos Estados Unidos, estávamos estudando juntos e...

__Chega, Chega! –Eu tapei os ouvidos.

__Naruto, para com isso, sua mãe não queria isso para você, ela não morreu por sua causa, nenhuma das duas!

__Cala boca! –Eu estourei, gritei tão alto que o silencio que veio depois foi monstruoso.

__Hinata não queria isso para você!

__Chega... –Eu já estava chorando.

__Nós todos amamos ela, sempre vamos amar.

__Vai embora!

Eu corri ate a porta e a abri.

__Por favor... –Abaixei a cabeça para esconder meu rosto quando ela passasse.

__Eu vou voltar... –Sakura sussurrou e depois se foi.

Eu bati a porta com força, e o eco percorreu toda a sala, foi quando eu olhei para ela e a vi ali parada olhando de novo para os pés descalços, seu olhar estava vazio.

Eu respirava ofegante, meu cabelo bagunçado, minha blusa rasgada, simplesmente olhando.

__Eu não... –Quando eu dei um passo, ela recuou.

Foi quando eu percebi que ela estava chorando.

__Ela estava tão bonita não é?

__Hinata...

Aquela atitude me surpreendeu, ela estava chorando, mas se virou para mim sorrindo.

__Pena que eu nunca vou me tornar uma mulher daquele jeito.

Aquele sorriso ficaria na minha lembrança pelo resto dos meus dias.

Continua.