Hidden Magic. escrita por Graah_Caah


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Meus amores , mil desculpas por ter demorado tanto T-T
Espero que nos perdoe, mas nossas escolas fdcs nos mandaram um monte de trabalhos, semanas de provas além de ler os livros paradidáticos...
Sinto muito ter demorado, mais ai esta outro cap!
Pormetemos ser mais cuidadosas e vamos começar a postar todo sábado, já que antes não tínhamos dia certo...
Enjoy!



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“Peça perdão!” - gritou a voz de Caleb em sua cabeça.

A noite inteira, ele teve sonhos estranhos. Lembranças sórdidas que ele nunca presenciara antes. Não, aquelas memórias não eram de Peretz, mas sim de Caleb.

E agora, a voz do irmão gritava em sua mente.

“Peça perdão a ela! Você magoou Alitzah, ela passou a noite inteira chorando. Agora, vá até ela e peça perdão!”

Peretz revirou-se na cama, desconfortável. Sua cabeça estava pior do que antes, a dor era lacerante.

“Levante-se e vá até Alitzah. Ou pagará caro por magoá-la.”

Com isso, ele deixou a mente de Peretz. Este, acordou com sua enxaqueca e com um zumbido nos ouvidos.

Alitzah ainda estava dormindo, na cama ao lado.

Peretz sentou-se na sua cama, e continuou observando a irmã. Ela respirava pesadamente, nenhum sorriso despontava de seus lábios vermelhos e os cabelos estavam desgrenhados e armados.

Como que percebendo que estava sendo observada - mesmo estando dormindo -, Alitzah começou a se mexer, depois de alguns minutos acordou, finalmente.

Peça perdão. A voz de Caleb ainda tilintava na mente de Peretz. O garoto respirou fundo algumas vezes. Tinha sua irmã como observadora atenta agora.

— Alitzah, me desculpe. - falou ele, rapidamente. Seus olhos negros estavam presos ao chão. E sua voz, soava desconfortável com a situação. - Eu não tinha a intenção de magoar-te.

“Seja mais convincente!” - a voz gritou.

Assustada, Alitzah viu o irmão tampar os ouvidos e ficar se balançando na cama. O olhar do garoto demonstrava dor, e apesar de ela ainda estar muito zangada com ele, não pôde deixar de ir até o mesmo e abraçar-lhe.

— O que foi, Peretz?! Parece estar com dor, irmão. - falou, desesperada.

— Alitzah... Perdoe-me! Por favor, imploro seu perdão! - gritou ele.

Sua irmã gêmea passou as mãos em seus cabelos negros.

— Shhh... Tudo bem, eu te perdoo. - respondeu, e puxou o rosto dele para seu ombro.

Acalentado pela irmã, ele deixou se envolver e chorar em seu ombro. A dor de cabeça só piorava e ele ainda estava ouvindo os pensamentos de Caleb, que não eram nada leves.

— Faça-o parar. Faça-o parar. - implorava à Alitzah.

Esta, por sua vez, lançou-lhe um olhar confuso. Tudo estava calmo na humilde casa que eles compartilhavam com Ariadinna, e no quarto, só havia os dois.

— Fazer o que parar, Peretz? - perguntou, preocupada.

O irmão nada respondeu. Só continuou a chorar, as lágrimas salgadas encharcavam a camisola branca da irmã.

— Peretz, não tem nada aqui. Não te precisa preocupar, meu caro. - continuou ela, tentando o acalmar.

— Ele está em minha mente, Alitzah. Ele vai me fazer pagar. - falou o irmão, desconcertado.

— Quem? Quem vai se vingar de ti? - ela temia saber a resposta.

— Caleb. Ele não vai desistir de me fazer mal. Eu não o protegi, e agora ele quer se vingar de mim.

— Caleb jamais faria mal a você! – ela disse, não sabendo o que se passava na cabeça do irmão.

Memórias, pensamentos ruins e indesejáveis.

Coisas horríveis.

Imagens ruins, que martelavam na cabeça do rapaz, o fazendo sentir mais dor.

— Peretz me escute. Nada pode te fazer mal. Não tem nada aqui e eu não deixarei nada acontecer á você. – ela disse tentando reconfortar o irmão.

— Ele vai fazer coisas horríveis, com David, com aquela mulher, com você e comigo! – Peretz meneava com a cabeça tentando apagar todas as imagens. – Ele não merece meu perdão.

A cabeça do rapaz latejou, como se tivesse recebido uma enorme bancada.

Ele colocou as mãos na cabeça, arfando com a dor.

— Peretz? – Alitzah o chamou, mas ela não escutou. A menina estava assustada com aquele comportamento estranho.

Peretz se levantou e saiu de casa, não sabia para onde estava indo, mas pelo menos não iria ficar e assustar Alitzah, que já tinha seus problemas.

“O que quer de mim?" – ele pensava, mas não obtinha nenhuma resposta, apenas mais dor.

“Pare, por favor!” – ele suplicava, mas a voz de Caleb só ecoava em sua mente, certamente ele não estava falando com ele e nem com Alitzah.

“Olha o que fez, não queria que ele soubesse de nada.” – sua voz era ríspida.

“Ele merece, não é proibido odiar uma pessoa, mas pode odiar com uma razão.” – Não era a voz de seu irmão, e estava difícil de entender, era como se ele estivesse escutando a partir de outra pessoa.

“Não quero dividir minha mente com a dele. Ele vai saber de tudo!”

“Não interessa, ele não vai estar presente para impedir o que ainda vai vir.” – ele havia se lembrado da voz, era idêntica a voz da mulher estranha que ele havia visto no beco.

“Eu sei, e agora terei que antecipar isso.” – essa última frase ecoava em sua mente, como um aviso, um alerta.

Demorou um pouco para ele voltar ao normal, assim decidiu voltar para seu lar antes que tivesse mais pensamentos e as pessoas o constatarem como louco.

O rapaz correu para casa com todas as forças que ainda lhes restavam.

Ele não poderia impedir, mas poderia avisar. E estava torcendo para que Alitzah pudesse perceber que Caleb não era bom.

Ao chegar em casa, notou sua irmã tomando seu desjejum, e logo a interrompeu.

— Preciso falar com você. – ele pediu, Alitzah entendeu e se levantou dirigindo-se ao quarto.

— Melhorou? – Alitzah perguntou, preocupada com o irmão.

― Não, apenas piorei. – Alitzah suspirou, mas Peretz continuou. – Ele vai me matar Alitzah.

― Eu sei que esta zangado com ele, mas não pode o acusá-lo, ele é apenas uma criança, como pode ter pensamentos assim? – ela estava indignada.

― Ele tem pensamentos impuros Alitzah, ele não é inocente! Como não pode ver isso? – ele sentou em sua cama e deitou a cabeça entre as mãos.

A dor voltara e estava mau, mas o porquê de tudo aquilo?

Sua visão ficou turva, nada mais parecia real.

E outra memória ecoava em sua mente.

“Havia uma floresta, estava silenciosa e tranquila.

Um garotinho chorava e soluçava, fazendo com que suas lágrimas molhassem suas vestes.

Só estava ele, sozinho, sem ninguém. O céu começara a escurecer.

Ele mesmo tentava se confortar, insistindo na esperança que alguém desse por sua falta.

— Desculpe-me mãe. – ele murmurava a si mesmo, enquanto suas lágrimas escorriam até seus lábios. – Sinto muito.

Ele não podia levantar, estava com uma dor insuportável na perna direita, e não tinha mais forças para e erguer sozinho.

A noite estava fria. Ele se encolheu tentando se aquecer.

Sem aviso, uma mulher saiu das sombras. Seus cabelos negros se prendiam dentro de sua capa vermelha, tinha lábios carnudos e vermelhos, e seus olhos pratas eram idênticos aos do garoto.

Um sorriso formou em seus lábios ao encontrar o menino.

— Seu pai me avisou que estaria aqui. – ela disse.

— Meu pai está morto. – o garotinho disse, sem ânimo nenhum em sua voz.

— Não, aquele não era seu pai, meu amor. – a voz da mulher era aveludada e doce.

— Mas... Então... Quem é o meu pai?

— Era um bruxo bom, ele sabia o que ia acontecer e devo minha vida a ele. Ele engravidou sua mãe por que sabia que você seria o último.

— Último de quê? – ele não estava entendendo.

— O último dos bruxos mais fortes que há. Diga-me, conhece outra pessoa que tenha olhos tão especiais quanto os seus? – o menino apenas meneou com a cabeça notando nos olhos dela, que eram iguais.

— É uma pena que ele tenha morrido sem te conhecer, mas sei que tem orgulho de ti.

— Não tem... Eu só faço coisas ruins e agora todos foram embora e me deixaram aqui.

— Você não é ruim, tem um dom magnífico que precisa ser controlado. – a mulher retrucou.

— Eu sou um monstro?

— Não, agora venha comigo. Vai congelar aqui...”

A visão do rapaz voltou ao normal junto com a falta de ar.

Ele teve que parar e respirar um pouco.

Jamais havia sentido tanta dor em sua vida.

E jamais havia visto aquele lado de seu irmão, o lado de se arrepender.

— Peretz? – a voz de Alitzah o chamou de volta, lágrimas silenciosas escorriam da bela face da jovem, que estava assustada com tudo aquilo.

— Ele é nosso irmão por parte de mãe. – ele disse como um sussurro.

Alitzah meneou com a cabeça.

— Para com isso, mamãe sempre foi honesta e jamais trairia o papai, ela o amava.

— Não Alitzah, eu não estou brincando. – o rapaz estava estranhamente calmo, tentando fazer sua irmã entender e acreditar no que ela não queria. – Estou dizendo a verdade irmã, não são memórias minhas, são dele!

— Por favor, diga-me que está por ficar insano! – a garota pediu.

— Não... Alitzah, pela primeira vez estou raciocinando direito. Aquela mulher fez isso... Tirou toda a inocência dele. – ele sussurrou e suspirou.

Sua cabeça não doeu pela primeira vez, estava um pouco dolorida, mas havia melhorado. Um pouco.

A garota deixou as lágrimas escaparam, que desceram silenciosas em seu rosto.

— Mamãe traiu o papai?

— Infelizmente sim, mas ainda não sei, ele estava morto... – Peretz respondeu, sem vida.

Alitzah respirou profundamente. Magoava-lhe saber que a mãe fora dominada pela luxuria e que traíra seu pai.

— Ainda não consigo imaginar isso. Não posso nem pensar que mamãe traiu a memória de nosso pai. Céus! Sua morte ainda era tão recente. - disse ela, tristemente.

— Também não posso pensar nisso. Mas foi o que ocorreu, e não podemos fazer nada quanto a isso. - Peretz olhava por sobre a cabeça da irmã. O sol já estava brilhando fortemente, e logo seria hora de eles irem trabalhar.

— E Caleb não tem culpa. - enfatizou a irmã.

— Não, ele não tem. - Peretz concordou. - E ele só mudou por causa da mulher. Aquela mesma que estava no beco.

Alitzah o olhou atentamente.

— Ela diz ser tia dele. Acho que é a irmã de nossa mãe, aquela que morreu muito nova. - falou.

— Mas, ela não estava morta? Mortos não ressuscitam! - disse Peretz.

A garota o olhou com reprovação.

— Ela pode ter sido salva por alguém, algum bruxo. - disse. Seu tom mostrava que era algo óbvio.

— Será que foi o pai de Caleb? Eu sei que ele era muito poderoso.

— Como tu podes saber disso? - perguntou ela.

Desta vez, foi Peretz que lhe lançou um olhar reprovador, e um pouco acusatório.

— Posso ouvir os pensamentos de Caleb. As palavras que a... A mulher disse, foi magia, e de alguma forma, divido minha mente com ele agora.

Alitzah empertigou-se.

— Todos os pensamentos? - perguntou.

— Sim, sei inclusive que você já o vem escondendo faz algum tempo. - Peretz balançou a cabeça. - Mas isso não importa. O que importa é que ele quer vingança. Vai matar todo mundo desse Reino, exceto você.

A cabeça do garoto voltou a doer. Ele gemeu e a segurou.

— O que foi, Peretz? - perguntou a irmão, novamente preocupada.

— Ele faz minha cabeça doer, se eu falo algo que ele não quer compartilhar com ninguém. - falou, contorcendo-se na cadeira.

“Pare. Por favor. Não aguento mais.” - implorou mentalmente.

Alitzah pôde ouvir os pensamentos do irmão, mesmo sendo fracos. Afinal, ele estava usando magia. Mas nenhuma voz respondeu, e Peretz não parou de se agoniar.

— Ele vai me fazer pagar, Alitzah. Ele vai me matar ou me deixar louco! - gritou ele.

— Peretz? - perguntou uma nova voz.

Ariadinna entrou com algumas sacolas, contendo o almoço e a janta de todos naquela casa. Quando viu que o garoto estava passando mal, foi até ele, preocupada.

— O que foi, meu querido? Qual é o problema? - sua voz demonstrava desespero.

— Minha cabeça, está doendo muito. - queixou-se o rapaz.

Ariadinna o enlaçou em seus braços e olhou para Alitzah.

— Desde quando ele está assim? - perguntou.

— Desde hoje de manhã. - respondeu a garota, apaticamente.

— Vamos falar com o médico da Corte. Ele poderá dar algum remédio para essa sua dor. - falou a rapariga, levantando-se e puxando o garoto com ela.

 — Não vai ajudar. - murmurou o garoto.

— É claro que vai! Você só não pode continuar com dor.

Peretz deixou-se levar por Ariadinna, mas com relutância, sabendo que sua dor de cabeça não era comum e sim obra de Magia. E antes de sair pela porta, deu um olhar significativo à irmã, mas apenas lhe disse:

— Diga ao Príncipe que estou doente. E que portanto, preciso faltar.

— É claro, eu direi.

Peretz saiu e Alitzah levantou-se, pronta para ir para mais um dia de trabalho. David já devia ter acordado e devia estar esperando por ela.

Até a garota queixou-se de um pouco de dor de cabeça, no caminho. Mas, essa era emocional. Seria mais um dia que trataria mal seu Príncipe.

Chegou rapidamente ao aposento Real, e entrou, olhando para o chão.

David não estava na cama - que a propósito estava arrumada. As pesadas cortinas brancas jaziam abertas, deixando que o sol inundasse o interior do quarto.

Alitzah franziu a tez e olhou ao redor. Nem uma pilha de roupa, nenhuma bandeja precisando ser lavada, e o sobre tudo, nenhum Príncipe no quarto.

— David? - chamou.

Não obteve retorno.

— David? - gritou, mas nenhuma resposta veio até si.

Alitzah estremeceu e virou-se. Estava claro que o Príncipe não estava no quarto, mas onde estava então? Caçando a criança - seu irmão - que fora vista ontem?

Saiu correndo do quarto e passou voando pelos corredores do enorme castelo. Não havia nenhum sinal de David no mesmo. Dirigiu-se então para à ala de treinamentos do monarca.

Quase suspirou de alívio quando o viu, treinando com uma espada de dois gumes em um boneco. Nenhum cavalheiro estava à vista.

— David? - chamou, novamente, sabendo que desta vez, obteria uma resposta.

O rapazote não se virou ao ouvir a voz da rapariga que amava. Ao invés disso, atravessou o peito do boneco de pano, em um rápido movimento.

— O precípuo é alvejar o peito da vítima. Ou a cabeça. - falou, ainda não dirigindo o olhar à Alitzah.

A menina viu que David ainda estava com o pedaço do pano, de seu vestido. Quase se permitiu sorrir. Quase.

— Precisa de alguma coisa, David? - perguntou.

— Não. - respondeu, prontamente.

Alitzah sentiu o peito contrair. Ele a estava tratando da mesma maneira.

— E o que tem que ser feito hoje? Digo, da parte do Peretz. Ele não poderá vir, está doente. - as palavras saíram em uma enxurrada.

— Eu sei. Encontrei com ele no meio do caminho. - David suspirou, retirando a espada do boneco.

Fez uma sequência de golpes, antes de responder a pergunta feita por Alitzah.

— Não precisarei de nada, hoje. Pode ir para casa. Consigo me virar sozinho um dia. - suas palavras magoaram Alitzah.

— Tem certeza, Vossa Alteza? - ela queria que ele dissesse que não. Queria que ele viesse até ela, e lhe desse um de seus beijos amorosos. Mas ele não fez nada disso.

— Sim, tenho. Acho que sei o que eu quero, Alitzah. Obrigado por se preocupar.

As palavras ditas por ele soaram sarcásticas.

— Pois bem, como queira. - a menina fez uma pequena reverência.

Virou-se, já começando a se retirar, quando a voz do Príncipe a chamou. Tornou-se a virar e desta vez, encarar os olhos castanhos de David.

— Ouça, não importa o que você sente - ou não sente, neste caso -, tudo vai continuar igual. - ele falou.

Alitzah apenas assentiu, incapaz de dizer qualquer coisa que fosse. Sua garganta estava fechada, faltava-lhe ar para respirar.

O Príncipe a dispensou com um aceno de mão e voltou a treinar.

Mas, Alitzah não saiu. Respirou fundo e perguntou sobre o assunto que mais lhe importava no momento.

— A criança foi achada? - foi uma surpresa para ela, que sua voz não tremesse.

— Não. Mas, vamos achá-la. - o maxilar de David se endureceu.

— Está preocupado? Afinal, aquela velha falou que uma criança ia... - ela foi cortada.

— Não acredito em profecias. - sua voz estava ríspida.

David não fez qualquer contato visual com Alitzah. E mesmo ela querendo dar meia volta e ir embora, perguntou a última coisa que queria:

— E se a acharem, o que vão fazer?

— Matá-la. - respondeu.

A menina estremeceu. Seus cachos negros foram para seu rosto.

— E você conseguirá fazer isso? Digo, é apenas uma criança! - dessa vez, sua voz estava tingida do tremor que ela sentia por dentro.

— E o que posso fazer? - ele balançou a cabeça, exasperado. - Não gosto da ideia de matar uma criança. Vai contra tudo o que prego, mas ela utiliza Magia.

— Você mataria todos que utilizam Magia? - perguntou Alitzah, indignada.

— O uso da Magia é estritamente errado...

— Isso é o que seu pai diz! - ela gritou. - Não o que você pensa, eu sei disto. Não seja igual a ele.

— Agora você sabe até no que eu penso? - David também gritou, depois riu. - Por favor, Alitzah. Já estendemos nossa conversa demais. Vá para casa.

 Ela se virou e foi embora. Era visível que estava com raiva.

David apenas suspirou e voltou para seus ataques no boneco.

***

Alitzah não foi direto para casa. Depois do encontro com David, sentiu a necessidade de ir à capela do Reino, para pensar um pouco.

Ainda brava com o desenrolar da conversa, caminhou apertando a pequena e delicada cruz de prata - um pingente dado por sua mãe -, esperando que se acalmasse.

Mas não adiantou, e chegou ao seu destino, ainda nervosa.

 A capela era folheada a ouro por dentro, mesmo que por fora fosse apenas uma fachada de pedra.

Santos e mais santos estavam a cada canto, tanto nas pequenas estátuas quanto nos vidrais coloridos.

Poucas pessoas estavam rezando. As preces causavam um suave murmúrio no ar impregnado pelo cheiro das velas.

Alitzah sentou-se no banco da frente. Era feito de madeira, escuro e polido. A cruz onde Jesus Cristo era representado sofrendo por seus filhos, estava sob sua cabeça.

A menina sempre se perguntou o porquê de o representarem dessa forma. Talvez, fosse melhor o representar sorrindo, demonstrando que faria tudo de novo por aqueles, que ama.

Mas isso não cabia a si. Talvez todos pensem que só com o sofrimento é que se ama.

Balançou a cabeça, libertando-se daqueles pensamentos. Tinha outros aos quais se concentrar. Nestes, ela podia mudar alguma coisa.

Fechou os olhos e ficou pensando. Antes os murmúrios; agora a paz. Concentrou-se em alguma solução, apenas com as batidas de seu coração lhe lembrando de que o tempo passava-se.

 Nem percebeu que alguém se aproximava dela. Foi só quando a tocaram no ombro, que ela abriu os olhos.

O padre estava à sua frente. Sorrindo.

Rapidamente, ela pegou a mão dele e a beijou.

— Vossa Eminência. - murmurou.

O padre deu-lhe a benção e juntou-se a ela no banco. Estava muito velho, e cansava-se com facilidade. O cabelo era branco e ralho, contrastando com sua pele moura.

— Pensando, minha filha? - perguntou. Sua voz era rouca.

Alitzah assentiu.

— Se você pudesse mudar o curso de tudo, o que iria fazer? Digo, se o que você deve fazer não é bom para você, mas bom para os outros. Por mais que te machuque, o que faria?

— Bem, às vezes, um precisa fazer sacrifício em prol dos outros. Só para vê-los sorrir.

O padre indicou com o queixo a cruz.

— Obrigada, padre. - murmurou ela.

— Alguma coisa te aflige, querida? - perguntou, docemente.

Ela negou com a cabeça.

— Não mais, obrigada.

O padre assentiu e Alitzah se levantou. Indo para seu lar.

***

Logo Alitzah já estava em casa.

A noite descia silenciosa e calma lá fora.

A garota entrou em seu quarto e encontrou Peretz deitado na cama, com os olhos fechados e uma toalha úmida em sua testa.

Ela não pode conter o riso que veio de repente.

— Muito engraçado, não é você que esta com dor. – ele riu também, se sentando na cama.

— Como foi seu dia? – ela perguntou.

— Péssimo. Ariadinna não tirou os olhos de mim hoje o dia todo. – ele respondeu, bufando.

— O médico da Corte falou alguma coisa?

— Não, ele disse que não tem nada de errado comigo o que eu já imaginava, mas receitou um remédio que ele fez, mesmo assim não esta me ajudando. – ele disse em um suspiro.

— É uma pena... – a garota disse desanimada enquanto passava a mão nos cabelos negros do irmão.

— Ele vai vim te visitar. – Peretz disse logo em seguida.

— Queria que ele ficasse aqui, conosco.

— Ele não pode, se o encontram aqui vão matar a todos nós. – o rapaz retrucou, mas estava certo, nada adiantaria. — Uma boa noite de sono é tudo o que eu preciso. – ele exclamou e se deitou novamente na cama.

— E eu igualmente. – A garota disse enquanto pegava sua escova para pentear os cabelos.

Assim que terminou, colocou sua camisola branca e se deitou.

O sono logo a levou, pois seu dia tinha sido mesmo exaustivo.

****

“Alitzah” – o nome ecoou na cabeça da garota a acordando, Peretz havia se remexido na cama, pois escutara também, mas não havia acordado.

A garota precisou piscar várias vezes para se acostumar com a escuridão, e logo que sua visão ficou um pouco melhor se viu frente a frente com Caleb.

— Meu deus! O que esta fazendo aqui? – ela perguntou sussurrando, com medo de acordar Ariadinna.

— Te vendo dormir. – ele sorriu para ela.

— Sabe o que vai acontecer se te acharem aqui?

— Sei, mas eu vou tomar cuidado, prometo. – ele falava sussurrando também, para não incomodar ninguém.

Eles se entreolharam, ambos estavam pensando no que dizer, mas pensamentos diferentes.

Pensamentos que fizeram Peretz gemer de dor, mesmo dormindo.

— Por que está fazendo isso com ele? – a garota perguntou, se lembrando.

— Não é minha culpa! – ele falou com rispidez. – Não gosto de dividir meus pensamentos, pra dizer é a verdade, a única coisa que tenho no momento. – ele suspirou.

— Mas não devia causar dor á ele, ele é seu irmão.

— Ele causaria em mim se tivesse chance, ele ia me dedurar. – Caleb falou, encarando Alitzah.

— Ele ia... Mas não fez!

— Porque você pediu.

Alitzah suspirou e olhou nos olhos do menino.

Tão diferentes e tão raros.

— O que foi? – ele perguntou, depois de alguns minutos.

— Por que fica com aquela mulher? – a garota perguntou se lembrando dos olhos dela também.

— Por que preciso dela no momento. E se eu ficasse aqui com você, já estaria morto... Nós estaríamos mortos. – ele completou.

Alitzah afirmou com cabeça concordando, pois ele estava certo.

— Eu preciso ir. – ele se levantou.

— Espera! – ela pensou. – Pode ir, mas pare de machucar Peretz com suas memórias.

— Eu não prometo nada Alitzah... Boa noite. – o garoto havia sumido misteriosamente do mesmo jeito que havia surgido.

Alitzah ainda olhava fixo pro lugar em que seu irmão estava, segundos atrás.

Depois de muitos minutos, ela deitou sua cabeça no travesseiro novamente, mas o sono não veio e ela ficou assim, até que os raios de sol atravessaram o quarto.

Mais um novo dia. Com as mesmas rotinas.

Levantou-se e checou o irmão. Peretz dormia calmamente debaixo das cobertas. Decidiu não acordá-lo. Faria seu trabalho, já que não teve nenhum ontem.

Suspirando. Lembrou-se do que o padre lhe dissera. Uns tinham que sofrer para que outros fossem felizes.

E era isso que Alitzah iria fazer. Arrancaria David de seu coração, totalmente. Talvez, até fugisse com seu irmão, convencendo-o a deixar Peretz sem dor e David sem qualquer perigo.

Mas, não era o que aconteceria. À noite, tudo iria mudar.

***

Já era noite novamente. Uma cálida noite.

Alitzah já repousava em sua cama. Conseguira dormir, seu tão merecido sono. David pegara leve com ela hoje, novamente, dando-lhe apenas algumas roupas para remendos e mais nada.

Mas, só ela estava assim. Exalando tranquilidade.

Peretz, por outro lado, revirava-se na cama, corroendo-se por todos esses anos em que pensara que seu irmão era culpado.

Hoje, sua dor de cabeça amenizara-se. Seria piedade de Caleb? Ele não sabia, mas sabia que devia um pedido de desculpas ao irmão.

Sorrateiramente, se levantou e se vestiu. Queria fazer essa noite.

Saiu de casa sem ninguém ver. Já tinha o conhecimento de onde poderia ver o irmão caçula. Só precisava avisá-lo, e isso não seria de grande dificuldade, já que dividia a mente com ele.

“Caleb.” chamou.

“Sim?” respondeu seu irmão.

“Por favor, encontre-me no beco.” pediu. “Tenho muito que tratar com você!”

“Eu também tenho, caro irmão. Irei lhe encontrar. Até breve.”

Peretz apressou o passo, querendo acabar com os ressentimentos para com o irmão caçula. Ele o amava tanto, mas tanto, antes de tudo acontecer! Foi uma pena que o culpou, mesmo - no fundo - sabendo que Caleb não tinha culpa de nada. Ele só queria alguém para culpar. Alguém para culpar pela morte da mãe. Tudo fora um erro!

O rapaz encontrou o beco com facilidade. Nenhum fio de luz sobressaía-se no breu, portanto, teve que chamar o irmão.

— Caleb?

Segundos depois de chamá-lo, notou que o ar ficou mais pesado. E notou que uma macha mais escura - ainda mais escura - do que o breu se formava. Daquelas sombras, Caleb surgiu.

Os olhos estavam vermelhos ao redor da pupila. Ansiavam por sangue. Infelizmente, Peretz não percebeu esse fato, em meio à escuridão. Mesmo assim, engoliu em seco, questionando-se. Talvez, não devesse ter contatado-o há esta hora. Sozinhos, onde nenhuma testemunha era vista.

— Estou aqui. - respondeu o garoto.

A noite engolfou os dois.


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Notas finais do capítulo

E ai? Reviews s2