Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 57
Alfafa


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/147464/chapter/57

- De tantos lugares para vir... – Comentei me encolhendo de frio – Tinha que escolher logo esse.

- Fica quieta. – Falou ele. Ares estava parado no pequeno muro que marcava o fim da cobertura do hotel. Se você olhasse para baixo veria as pessoas passando como insetos pelas ruas – Você só sabe reclamar, não é?

Revirei meus olhos. Era impressionante. Ontem ele fez todo aquele show de “Sabe como eu me sinto?!”, “Eu quero você só para mim!” e “Gosto de você!”, mas agora simplesmente fingia que nada tinha acontecido e continuava me infernizando.

Tudo bem... Eu tentava fazer o mesmo, mas era difícil. Ele não devia dizer alguma coisa? Ou... Sei lá. Fazer alguma coisa? Ao invés disso estava se comportando como uma criança. Podia imaginar Afrodite falando “Tsc! Homens. Todos iguais”, mas eu simplesmente revirei os olhos e resolvi não pensar naquilo.

Se ele não se importava, porque eu deveria? Não mesmo. Ao menos ele não estava me infernizando por ter passado a noite com ele.

Franzi o cenho ao ouvir um barulho estranho. Olhei para Ares, mas ele continuava olhando para baixo.

- Ares, o que foi isso? – Perguntei sem saber. Do nada o som foi feito novamente. Ares levantou o rosto e olhou para mim.

- O que? – Perguntou ele.

- Esse som. Você ouviu, não é? – Falei franzindo o cenho.

- Uhm... Não. – Respondeu ele e voltou a olhar para baixo. Qual era a grande graça de ficar olhando para baixo daquele jeito? Fui para perto dele só para saber disso, e foi aí que eu notei o que era aquele som – Mentira. Você não está fazendo isso.

- Sh! Não atrapalha a minha diversão. – Reclamou ele.

- Ares, isso é nojento. Para! – Exclamei, mas ele riu e continuou. Ares estava cuspindo em alvos que ele mesmo escolhia, o que me fez fazer uma careta – Já falei para parar com isso! E se você acertar a cabeça de alguém?!

- Ora, aí são 50 pontos benzinho. – Respondeu ele rindo maldoso. Fiz uma careta, e voltei ao lugar onde estava.

- Eu não te conheço. – Resmunguei indo para longe dele, mas Ares segurou a minha cintura, me levantou no ar, e me colocou novamente do seu lado. Ele sorriu torto para mim e eu arqueei uma sobrancelha – O que foi?

- Fala... Você por acaso sabe cuspir? – Perguntou ele. Franzi o cenho.

- E isso faz alguma diferença na minha vida por que...? – Perguntei sem entender. Ele riu e revirou os olhos.

- Tinha que ser uma pirralha Filhinha de Hermes para não saber nem mesmo cuspir. – Falou ele rindo de mim – Mimada demais para isso, Kelly?

- Para que eu vou querer ficar cuspindo nas pessoas do último andar de um hotel de luxo? Isso é realmente nojento, Ares. – Disse negando com a cabeça.

- Tsc. Falou a garota que comeu de boca aberta e bebeu vinho da garrafa em pleno restaurante chique. – Rebateu ele rindo de mim – Depois daquela, você ainda acha que tem moral para reclamar comigo? Deméter deveria ter te dado umas belas palmadas pela sua atitude.

- Cala essa boca. Você sabe muito bem que eu só fiz isso porque você ficou me infernizando! Foi só o troco, e também... Você estava pior do que eu. – Retruquei.

- Foi você que acabou com gelo dentro da camisa. – Comentou ele para me irritar.

- E foi você que acabou com as calças molhadas. – Sorri para ele.

- Tá bom. Se está dizendo que não consegue nem mesmo cuspir... – Disse ele rindo de mim. Revirei os olhos e olhei para ele.

- Você realmente não vai me deixar em paz se eu não cuspir, não é? – Perguntei, e ele assentiu confirmando. Apoiei-me no pequeno muro, e cuspi. Ares começou a rir desesperadamente – O que houve?

- Isso?! Foi isso?! Chama isso de um cuspe?! – Perguntou ele rindo – Você não sabe cuspir.

- E daí? Como se eu fosse morrer incompleta por causa disso. – Disse revirando os olhos. Ares me deteve quando eu ia andar – Deixa eu ir agora? Está frio aqui!

- Sabe. Pode ser cultura inútil, mas é sempre bom aprender coisas novas. – Comentou ele com um ar intelectual.

- Uuuh, falou o irmão da Atena. – Disse erguendo os braços em rendição – Você também se acha demais. Não deve nem mesmo saber como cuspir direito, e ainda está jogando isso na minha cara só para implicar mesmo. Vê se cresce.

Saí andando, mas Ares segurou tocou meu ombro fazendo-me virar.

- Acha mesmo que eu não sei? – Perguntou ele maldoso. Ares se preparou para cuspir, e olhou fixamente para mim. Arregalei os olhos.

- Não... Não...! Nem pense nisso! – Falei tentando manter a calma. Ares cuspiu e acertou a parede perto de mim – Argh! Seu porco! Não acredito que você ia mesmo...!

- Me chamou de que? – Perguntou ele fingindo estar ofendido. Ares andou na minha direção de um modo ameaçador, e eu recuei – Hein? O que você falou de mim?

- Ares chega. Para com isso. – Disse fugindo de frente para ele – É sério.

- Ah, espero que te pegar. Eu já achei o meu alvo de 100 pontos. – Disse ele com um sorriso maldoso. Eu saí correndo e ele me perseguiu. Estávamos em um lugar fechado e cheio de pilastras, em um estilo de jardim ornamental.

Nós corremos por alguns minutos, mas Ares agarrou a minha cintura, e me lançou em um dos bancos de madeira do lugar. Ele ficou encima de mim, e eu me encolhi protegendo o meu rosto.

- Está pronta? – Perguntou maldoso.

- Para! Não! – Exclamei me encolhendo cada vez mais – Por favor, não! Não faz isso, Ares!

- Ah, ficou com medinho agora? – Perguntou rindo.

- É sério! Chega! Para com isso! – Pedi ainda encolhida. Notei que Ares tinha parado simplesmente. Tive medo de olhar para ele e ser atingida, por isso continuei daquele jeito -... Você não vai... Cuspir, não é?

Acho que eu perguntei aquilo de um jeito tão indefeso e com medo, que Ares resolveu deixar de lado a idéia. Ele riu de mim um pouco, e provavelmente negou com a cabeça.

- De que adianta acertar um alvo de 100 pontos tão perto assim? Não tem nem graça. – Disse ele saindo de cima de mim – Eu considero como ponto ganho.

- Você é muito idiota. – Disse para ele enquanto ficava sentada no banco. Ares riu para mim, e eu franzi o cenho – O que foi?

- Não! Ares! Por favor! – Imitou ele rindo – Oooown, que coitadinha! Ficou com medinho de mim, é Filhinha de Hermes? Mas não é uma gracinha?

Ele apertou minha bochecha e puxou-me para perto de si, bagunçando meu cabelo com os nós dos dedos. Aquilo doeu, o que o fez rir. De repente... Eu ouvi o mesmo barulho que ele fazia quando cuspia e dei um pulo do banco.

- Ares! Não... Você não...! Que nojo! – Exclamei com medo de passar a mão na cabeça, mas ele riu de mim.

- Não, idiota. Eu só fiz o som. – Riu ele da minha cara – Agora diz... Eu sou malvado com você?

Revirei os olhos e fui até a porta que dava novamente para o elevador do hotel. Ares me seguiu ainda rindo a minha cara.

- Que foi? Já cansou de brincar, é? – Perguntou ele achando graça – Ah, vamos. Da próxima vez eu juro que pego leve.

- Se eu quisesse passar os meus dias do lado de algum valentão estúpido, eu ia para o Alabama e ficava perto do Joe! – Exclamei com raiva. Estava na frente do elevador, quando Ares me empurrou em direção á parede. Cruzei os braços com raiva – O que? Vai implicar mais comigo?

- Nossa... Eu te deixei tão irritada assim? – Perguntou ele com um sorriso torto. Eu continuei olhando para ele completamente séria e irritada, o que fez Ares rir e abrir caminho – Sinto muito. Não sabia que você era uma filha de Afrodite que não suporta uma brincadeira.

- Não sou filha de Afrodite, e também... Aquilo era nojento. – Disse entrando no elevador. Ares entrou também, e as portas se fecharam. Ele apertou o botão 11, e eu franzi o cenho para ele – Ares, é o doze. Não o onze.

- Eu sei. – Respondeu ele com um sorriso natural. Não entendi o que ele estava fazendo, até que as portas se abriram. Ele saiu me puxando pelo braço, de modo que eu não conseguia impedi-lo – Vamos fazer uma visitinha para a sua mamãe.

- O que? Pensei que tivesse medo dela. – Comentei para irritar ele.

- Não tenho medo de uma lesada. Por que teria medo da mãe de uma lesada? – Perguntou ele fazendo uma careta para mim, mas logo parou quando viu minha mãe e meu pai no corredor – Até que essa foi rápida.

Logo ao lado dele passaram Hades e Poseidon. Ares estreitou os olhos para o Deus do mar, que só respondeu com um sorriso olhando discretamente para Hermes.

- Bom dia para vocês. E aí? Vão querer dar uma volta no fim das contas? – Perguntou ele com um sorriso convidativo – Alice?

- Eu não sei, senhor. – Respondi olhando para Ares.

- Senhor. Quanta educação. Diferente de certas pessoas... – Comentou Hades olhando para Ares, que respondeu com uma careta.

- Não, nós não vamos dar uma volta com vocês otários. – Respondeu ele de mau humor.

- Ah, vão sim. Deixem de besteira. – Disse a minha mãe. Seja lá qual fosse o plano de Ares, ele tinha ido por água abaixo quando viu que a minha mãe ia também.

- Vamos lá. Todo mundo junto. – Disse Hermes sorrindo – Bem... Menos o Apolo. Ele vai ficar tomando conta das três garotas.

Desviei o olhar de meu pai quando ele disse o nome de Apolo. Ares provavelmente notou isso, pois respondeu em um resmungo irritado que iria. Nós saímos do hotel todos juntos e por incrível que pareça, fomos para o mesmo parque em que eu tinha andado com Scott para fazermos um piquenique.

- Olha, se não é a Aline. – Disse Dionísio sem animação.

- Alice. – Corrigi.

- Aham. – Confirmou ele sem nenhuma animação novamente. O Deus do vinho estava em pé ao lado de Deméter, perto de uma enorme mesa de madeira cheia de comida. Ele usava uma camisa de “Beije o cozinheiro”, e eu me segurei para não rir – Mas então Alicia, você resolveu vir para o almoço? Que interessante. Para mim gente jovem não devi ter a mínima vontade de ficar com um bando de otários como eles.

- É. Ares disse mais ou menos a mesma coisa. – Respondi indo me sentar á mesa. Minha mãe e Hermes ficaram conversando um pouco. Ares sentou-se na minha frente, e os outros foram chegando aos poucos e sentando-se também.

- Como vai seu castigo, bad boy? Já se arrependeu das coisas feias que você fez? – Implicou Dionísio com um sorriso maldoso. Ares rosnou para ele.

- Ah, não sei. Mas como vai o seu castigo? Está gostando mais de tomar conta de criancinhas? – Rebateu ele.

- Tsc. Eu estou ferrado sempre. Mas ver você ferrado é que é divertido. – Disse Dionísio dando de ombros. Ele tinha “Ferre-se o mundo” estampado na testa, o que parecia irritar Ares. Ele era uma pessoa que o Deus da guerra não conseguia incomodar.

- Cala essa boca, e vai fazer alguma coisa que preste. – Resmungou ele.

Minha mãe e meu pai sentaram-se cada um do meu lado. Enquanto Atena, Poseidon, Afrodite, Hefesto, Hades, Perséfone, Deméter e Hera sentaram-se nos outros lugares. Dionísio ficou um pouco em pé, mas logo se sentou também.

- Isso lembra o almoço em família do Will. – Comentou minha mãe, e depois riu para mim – Alice, tente não começar uma guerra de comida como você sempre fazia, ok?

- Eu não vou. – Respondi rindo – E tem diferença. Eles são a minha família de verdade.

- O Will ligou. Mas... Acho melhor falar disso depois. – Disse minha mãe tomando um gole de refrigerante. Ares também começou a beber, mas eu notei que aquilo não ia acabar bem quando meu pai prendeu o riso.

- Ares. – Chamou ele. Ares olhou para meu pai ainda bebendo e Hermes sorriu inocente – Alfafa.

Imediatamente o refrigerante saiu pelo nariz de Ares e meu pai começou a rir desesperadamente. O Deus da guerra limpou o rosto molhado com um guardanapo, e fuzilou meu pai com um olhar de raiva. Todos os Deuses riam.

- Ah, seu sacana filho da...! – Deméter deu um tapa na cara dele, só que foi bem encima do lugar que eu tinha atingido na noite passada. Eu arregalei os olhos, mas ao mesmo tempo prendi o riso, quando Ares parou de falar para respirar fundo -... Ah!

- Não xingue no almoço! Até onde a sua má educação vai?! – Repreendeu.

- Doeu tanto assim?! – Riu meu pai ao ver a cara de dor de Ares. Eu fiquei sorrindo de um jeito extremamente inocente para, e notei que Ares queria pular no meu pescoço por fazer ele parecer um fracote.

- A culpa toda é dessa pirralha! – Exclamou ele com raiva. Meu sorriso inocente permaneceu o mesmo. Meu pai olhou para mim, de principio parecendo chocado.

- Alice, você fez isso? Bateu nele?! – Perguntou, mas eu só encolhi meus ombros. Hermes começou a rir e me abraçou – Essa é a minha filha! Isso aí!

- Apanhou de uma garota, é? – Comentou Hades fingindo estar distraído – Nossa, Ares. Nunca esperaria isso de você.

- Cala a boca! E ela me acertou de costas! Foi pura covardia, sua medrosa! – Protestou Ares olhando para mim com raiva. Franzi o cenho para ele.

- Ah, tá. Só me diz como eu te dei um tapa na no rosto de costas?! – Perguntei quase rindo – Eu tenho realmente um dom sobrenatural, porque isso não é nada fácil.

Todos começaram a rir e Ares disse para mim “Me aguarde”. Revirei os olhos ainda rindo com todos, e voltei a comer um pouco. Nós conversamos, brincamos rindo de algumas piadas, meu pai pegou Deméter no truque da “Alfafa”, e nós rimos ainda mais.

Algo estranho que eu notei foi Afrodite. Esperava que ela sentasse do lado de Ares, mas ao invés disso... Ela sentou ao lado de Hefesto, e conversava com ele com toda a paciência que eu nunca vi ela ter. Parecia que estava olhando eu e o Scott.

Imaginei como era fácil para ela ficar com Hefesto, depois com Ares e agir naturalmente. Eu estava me apunhalando por dentro para saber o que fazer em relação ao Apolo, mas para a Deusa do amor era completamente normal.

Mas... Por que ela nem mesmo deu atenção ao Ares? Estranho.

Quando tudo acabou, nós voltamos para o hotel. Por incrível que pareça já era fim de tarde. Eu fui para o meu quarto, enquanto Ares disse que tinha que ver alguma coisa na TV e voltaria depois.

Eu relaxei sentada á mesa e comecei a pensar no que faria. Eu traí o Apolo. Não podia fingir que nada aconteceu. Se ele fizesse isso, eu não iria gostar, logo não seria justo eu esconder isso dele. Mas... Como eu contaria?! Senti uma grande pena dele, e muita raiva de mim mesma.

Estava prestes a levantar para beber um copo de água, quando o meu celular tocou encima da mesa. Fiz o grande erro de atendê-lo sem ver quem era, e gelei ao ouvir a voz do outro lado da linha.

- Alice? Nós temos que ter uma conversa. – Disse a voz de Will em um tom severo. Fechei os olhos, tensa.

- Oi pai. – Foi tudo que pude responder.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uuuuh... Ferrou.

Sobre o que você acha que eles vão falar?

Espero por reviews, e agradeço á todos aqueles que estão lendo e comentando!

Amo vocês, gente! Beijos e até o próximo capítulo.