POV Ares

- Éris, traga ela de volta! – Exclamei com raiva, mas ela só riu para mim – Estou falando sério. Não pense que vou deixar isso passar normalmente!

- Own, aposto que não. Deve ser meio chato para você ter uma namorada gata, não? – Éris começou a rir de outra piada, e eu trinquei os dentes. Estava prestes a começar uma linda briga com ela, quando Alice pulou do meu ombro e saiu correndo – Acho que ela foi caçar um rato.

- Alice! – Exclamei correndo atrás dela. Droga! Lá estava eu a chamando de “Alice” de novo. Eu não parei para pensar naquilo no momento. Só virei para Éris uma última vez antes de perseguir Alice – Você ainda vai pagar caro por isso. Me aguarde.

Eu saí correndo em direção á Alice. Procurei ela pelo lugar inteiro, mas não achei. Estava quase entrando em desespero. Como ia explicar para o Apolo que ela virou um gato?! Ou pior... Para a mãe dela! Hermes ia pular no meu pescoço!

Zeus também não ia gostar. Era para nós dois ficarmos juntos, e eu a deixei virar um gato. Espera... Não juntos no sentido que você entendeu! Argh! Cala essa boca, seu leitor idiota!

Meus olhos pararam em uma mesa, onde alguns caras estavam olhando para uma gata. Alice.

- Olha só! Como você veio parar aqui? – Perguntou um deles rindo.

- Acho que deve estar aproveitando a noite. – Comentou o outro.

- Tirem os olhos dela! – Exclamei puxando-a da mesa, antes que eles pudessem fazer algum tipo de maldade. Fuzilei eles com um olhar de raiva, e eles ficaram com medo.

Estava quase na saída segurando Alice, quando Éris apareceu.

- Eu realmente não achava que você fosse se importar tanto com ela. – Comentou de um jeito incomodado – Ver você todo nervosinho por causa da garota que você mais odeia, não combina com a sua personalidade.

Com a minha mão livre, segurei Éris pela gola da camisa e a levantei no ar.

- Escuta aqui, acho que você perdeu a noção do perigo. Você se lembra de quem eu sou? – Perguntei em um tom baixo e ameaçador – Eu sou Ares, o Deus da guerra. Se tem um sinônimo para maldade, esse alguém sou eu. Acha que pode infernizar a minha vida como se fosse melhor do que eu nisso? Pense de novo!

Com força, joguei Éris longe. Só que ela já esperava por isso, e se pôs de pé.

- Eu te avisei, Éris. Você se meteu com a pessoa errada. – Disse ainda com raiva. Alice pareceu se encolher contra mim, quase que pedindo para irmos embora.

- Vamos ver no que isso dá então. – Sorriu ela ainda maldosa. Saí do bar rosnando para ela, e assim que chegamos à rua, olhei melhor para Alice.

- Você é mesmo muito idiota! Eu não mandei você ficar no seu quarto?! Era para você ficar dormindo, pirralha! Mas não... Tinha que ir atrás do seu ex namoradinho! – Exclamei irritado. Alice miou, e eu não tinha idéia do que ela estava falando – Nem mesmo tente falar nada para melhorar a sua situação. Vai dar um trabalho danado te trazer de volta, já que isso é magia da Éris.

Alice aconchegou sua cabeça contra o meu peito e eu olhei para ela sem entender. O que ela queria dizer com aquilo?

- Nem pense em me bajular. – Resmunguei irritado – E nem pense em dizer que a culpa é minha também. Se tem uma culpada por toda essa besteira, é você.

Ela continuou se aconchegando em mim. Tenho que admitir que aquilo era confortável, mas eu não podia deixar ela ficar fingindo que nada tinha acontecido! Que droga! Será que ela não tinha idéia que poderia ficar daquele jeito por muito tempo?!

- Estou falando sério com você. É melhor ficar quieta, senão pode ir esquecendo o pedido de desculpas para o seu ex namoradinho. – Falei irritado. Acho que isso mexeu com ela, pois assim que paramos na porta do hotel, Alice pulou de mim para o chão e saiu correndo – Espera! Kelly!

Saí correndo atrás dela. O que aquela lesada tinha na cabeça?!

Ela correu escadaria acima, e eu notei que daria um belo trabalho pegar  Filhinha de Hermes novamente. Mas eu tinha que tentar, lógico.

Sempre que tentava chegar perto dela na escada, ela fazia um tipo som estranho e assustador que os gatos fazem quando estão irritados, e saia correndo novamente.

Eu estava ficando sem fôlego quando nós chegamos ao bendito 12º andar. Eu me joguei no chão e peguei-a. Alice tentou me morder, mas eu apertei seu pescoço.

- Nada disso... Filhinha de Hermes. – Disse sem ar. Levei-a novamente para o seu quarto, e a coloquei sentada no sofá da sala. Fechei a porta e as janelas para que ela não fugisse, e fiquei a observando.

Ela inclinou a cabeça de lado para mim, me observando em troca.

- Não pense em ficar me encarando desse jeito. – Murmurei para ela enquanto estreitava os olhos. Pude notar que a gata era idêntica á ela mesma. Bem... Era ela, mas... Era engraçado ver a semelhança.

O pelo era um pouco alto e bagunçado, assim como o cabelo dela era. E na mesma cor. Um castanho claro. Ela tinha um jeito estranho de me olhar, como se quisesse dizer alguma coisa, mas não conseguisse. Acho que isso fazia sentido, já que ela não sabia falar.

- Eu tenho que ficar de olho em você. – Disse calmamente – Se o seu pai vê que você virou um gato, eu duvido que ele vá reclamar com o seu namorado ensolarado. Ah, não mesmo... Ele vai vir para cima de mim.

Ela coçou a cabeça com a pata, e eu senti vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Isso não podia estar acontecendo!

- Olha... Você... Deve estar com raiva de mim, não é? – Perguntei ao lembrar que fugira de mim na escada – Acho melhor engolir a sua raiva, idiota!

Alice ficou parada olhando para mim, e depois coçou a cabeça novamente. Eu estava ajoelhado com os cotovelos encima da mesa de centro, e ela pulou do sofá para a minha frente.

- Ok... Eu sinto muito. Eu ainda vou pedir desculpas para o tal do Scott. – Resmunguei revirando os olhos – Satisfeita?!

Alice miou. Eu revirei os olhos novamente, mas acabei soltando um suspiro.

- Que droga... Eu só queria que você me ouvisse! As coisas seriam bem mais fáceis, mas não! Você insiste em fazer tudo do seu jeito, e me ignorar! – Reclamei com ela, mas então notei que era melhor não falar muito desse jeito. Acho que ela já estava com bastantes problemas – Mas... Você me desculpa?

Acho que como uma resposta positiva, ela começou passar a cabeça pelo meu braço. Parecia estar pedindo para que eu alisasse sua cabeça, fazendo carinho.

- Ah, fala sério. Não me enche. – Respondi revirando os olhos, mas ela continuou. Suspirei pesadamente e a olhei de novo – Isso é só para mostrar que estou arrependido.

Passei a mão sobre sua cabeça, e ela fechou os olhos mostrando que tinha gostado. Como o pelo era liso, eu... Eu... Ahm... Não resisti em passar a mão novamente. E novamente, e novamente, e novamente...

- Ah, Alice... Eu só queria que você ficasse aqui dormindo! Não era para se meter em encrencas! – Exclamei.

- Ares... – Murmurou. Meus olhos se arregalaram para ela.

- Você sabe falar?! – Exclamei surpreso, mas depois fiquei com raiva – Sua idiota! Quer dizer que você podia falar, mas estava me ignorando esse tempo todo, Alice Kelly?!

- Uhm... Ares... – Disse ela com uma voz sonolenta. Foi aí que eu me toquei que a voz não tinha vindo do gato, e sim... Do corredor. Virei meu rosto para lá e vi... Alice. A Alice humana, pelo menos.

Lá estava ela. Com seu cabelo castanho bagunçado e bonito até o meio das costas, seus olhos castanhos semicerrados, vestindo a camisa que Apolo lhe dera que ia até metade da coxa, mostrando suas pernas definidas.

Não que eu reparasse nesses detalhes, é claro.

Mas... Como ela poderia estar lá?! Ela era um gato! A não ser que... Ah, não. Tinha o...

- Apolo! – Exclamei com raiva e me colocando de pé. Fuzilei-o com um olhar de ódio, e ele franziu o cenho de leve para mim – Sua anta! Será que você não agüenta se controlar nem mesmo por umas horas?! Mal chegou e já quis fazer uma visita para ela?! Imbecil!

Ele olhou para trás dele, no fim do corredor, e depois para mim de novo. Seus olhos mostravam sono, e seu cenho franzido mostrava dúvida.

- Ares... Você está falando comigo? – Perguntou com uma voz fraca e falhada.

- Mas é claro que é com você, animal! – Exclamei com raiva.

- Uhm... Apolo? – Falou ele sem entender. Ele estava obviamente cheio de sono, por isso encostou-se contra a parede e deu alguns passos na minha direção – Ahm... Ares... Você lembra de mim? Alice. Eu... Morava do lado da sua casa, e agora nós dois moramos juntos. Você está bem?

Ela falou aquilo em um tom devagar e cheio de dúvida, como se não estivesse entendendo nada do que eu tinha dito. Olhei para ela melhor... Apolo estava com outra roupa. Será que... Era mesmo ela?!

Meu olhar foi para a gata novamente.

- Alice? – Perguntei, e a soltou um miado. Mas então eu olhei para a Alice no corredor, ainda sem saber qual era a verdadeira - Alice?! Você está bem?!

Ela franziu o cenho para mim, e assentiu limpando os olhos. Ela olhou para a gata encima da mesa e depois para mim.

- Você deu meu nome para um gato? – Perguntou com uma voz de sono.

- O que?! Não! Ela...! – Parei um segundo e olhei para a gata novamente. Estreitei os olhos para aquele animal irritante – Você mentiu para mim.

Apontei para ela, mas só o que tive em resposta foi um miado.

- Se manda! – Exclamei apontando para a janela. Com meus poderes, fiz ela correr e pular até a escada de incêndio. Com um movimento de mãos fechei a janela e olhei para a Alice verdadeira – Éris... Maldita víbora!

Alice riu um pouco, e assentiu fingindo entender.

- É... Essa víbora. – Confirmou ela rindo – Ahm... Acho que eu vou voltar para dormir. Mas... Não é certo deixar o seu bichinho lá fora com frio e fome.

- Ela não é minha! – Exclamei com raiva – Eu pensei que fosse você, mas... Ah! Esquece. Você é...!

- Lesada demais para entender? – Completou ela rindo sonolenta. Alice sorriu e assentiu – Ok. Eu não quero entender mesmo...

Ela deixou escapar um bocejo e com isso, ela voltou para o quarto dormir. Fiquei parado um tempo, ainda morrendo de raiva de Éris, mas depois acabei saindo do quarto dela. Eu ainda ia fazer aquela mentirosa irritante me pagar!