Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 21
Merci


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo!Aqui vai...



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- É sério mesmo? - Perguntei olhando para ele.

- Cala a boca, Kelly. - Falou Ares olhando em volta confuso.

- Já sei. Isso é um dos seus planos, não é? Você quer fingir que estamos perdidos em Paris para me irritar. Fala a verdade. - Pedi.

- Já disse para você ficar quieta! - Reclamou ele. Ares e eu ficamos em silêncio por alguns momentos, mas depois ele voltou a falar - Se fosse um plano meu, eu daria um jeito de te deixar perdida. Mas eu também estou, por isso... Esquece.

- Como você foi se perder?! - Perguntei incrédula.

- E a culpa é minha?! - Reclamou ele. Antes que eu pudesse dizer que era, Ares olhou para uma das placas na rua - Droga! Por que todas as malditas placas dessa rua estão em fracês?!

- Ahm... Eu francamente não sei, mas será porque nós estamos na França?! - Perguntei em sarcasmo, mas quando ele olhou para mim eu ergui os braços em sinal de “eu me rendo” - Foi só um chute.

- Nossa! Você é tão inteligente! Aposto que Atena tem inveja de você! - Comentou Ares em um resmungo.

- Aposto que ela tem mais inveja de você. Por que vir para o centro de Paris sozinho sem saber nem uma palavra em francês, não é para qualquer um. - Comentei.

- Eu sei xingar em francês, quer ouvir? - Perguntou Ares virando-se para mim.

- Ninguém merece... - Resmunguei eu mesma tentando ler as placas, mas Ares resolveu seguir um caminho desconhecido. Eu o segui, mas ele parou de repente e resolveu que a direção oposta é que era a certa.

Olhei para a rua em que estávamos. A loja de CDs que tínhamos saído ficava em uma viela, não muito larga, e sem muito movimento. Tinham umas três pessoas andando pela rua, mas nenhuma delas falava a nossa língua.

- Será que não tem como pedir ajuda de algum Deus? Hermes talvez possa... - Ia sugerir que meu pai poderia ajudar na busca do caminho certo, mas Ares me interrompeu.

- Owwn, não aguenta ficar perdida e já vai correndo para pedir ajuda do papaizinho, Filhinha de Hermes? - Zombou ele.

- Se toca! Você não tem ideia de para onde está indo, e ainda quer zombar de mim? - Reclamei cruzando os braços.

- É impossível não zoar de você. - Comentou ele em um resmungo - Agora fica quieta para eu tentar ler essa placa. Alguma porcaria de palavra deve ter a ver com a nossa língua...

Enquanto Ares quebrava a cabeça lendo a placa, eu resolvi tentar falar com as pessoas que passavam pela rua.

- Ahm... Com licença. O senhor fala...? - Fui interrompido por uma resposta negativa.

- Je ne parle pas votre langue. - Respondeu o senhor encolhendo os ombros.

- Ah... Deixa. Merci. - Falei, e ele sorriu para mim e foi embora. Uma senhora estava passando pela rua também - Excusez-moi. Você fala a minha língua?

- Désolé, je ne comprenais pas. - Falou a senhora. Eu franzi o cenho, mas acabei sorrindo de um modo simpático.

- Oubliez. Esquece. Merci. - Disse para ela. A senhora assentiu e foi embora também. E se eu nunca mais achasse o caminho de volta?! Ficaria perdida com o Ares?! Que ódio!

Olhei para ele, que estava á uns metros de mim, e vi que ainda estava tentando ler a placa. Chutei uma pedrinha no chão, e coloquei as mãos nos bolsos do casaco.

Era tão estranho não ter ninguém que fale a sua língua por perto, que quando ouvi uma frase que consegui entender, nem mesmo liguei para o que ela significava.

- Lindas pernas, hein? - Comentou alguém com um assobio. Virei-me para a direção que julgava ter vindo a voz, e vi um garoto. Ele estava sentado em um muro que tinha do outro lado da viela. Lá não passava carro, de modo que eu podia ficar muito bem parada no meio da rua.

Franzi o cenho para ele, e pude ver que ele ficou um pouco sem graça.

- Espera... Você entendeu isso? - Perguntou ele incrédulo - Oh, droga. Esperava que você fosse francesa.

Eu acabei rindo. O jeito com que ele falava, tão descontraido e engraçado, me fazia rir. Ele deu um sorriso sem graça ao ouvir a minha risada.

- Sinto muito. Merci. - Disse ele coçando a cabeça. Ele tinha cabelos castanhos bagunçados, e um rosto sutil e leve. Como se vivesse sempre levando tudo na brincadeira.

- Ah, não foi nada. - Falei ainda com vontade de rir - Mas... Você fala a minha língua? Isso é ótimo. Preciso de ajuda, será que você podia...?

- Dar uma mãozinha? - Completou ele descendo do muro com um pulo. Ele era um pouco mais alto que eu, talvez do mesmo tamanho que Apolo - Estamos em Paris. O lema aqui é “Tudo por uma garota bonita”.

Ele estava brincando e dando encima de mim, mas falava de um jeito tão simples e inocente que eu acabei rindo de novo. Ele sorriu, mas o sorriso logo desapareceu quando Ares pôs a mão sobre o meu ombro e me puxou para perto dele.

- O que você acabou de dizer para a minha garota? - Perguntou ele em um tom ameaçador. Trinquei os dentes. A garoto na minha frente recuou um passo ao ver que Ares era o dobro da altura dele.

- Foi mal... Eu não sabia que ela era sua garota. - Disse ele recuando calmamente. Até desse jeito ele era engraçado.

- Pois ela é. Dê encima dela novamente e eu quebro a sua cara, idiota. - Disse Ares apontando para ele. O garoto assentiu.

- É... É justo. - Concordou ele - Ahm... Mas quanto a ajuda...

- Esquece. Não queremos a sua ajuda, otário. - Disse Ares. Ele soltou o meu ombro, mas segurou a minha mão com força, e começou a andar me puxando - Vem logo, Kelly.

- Ares...! Não! Me solta! - Exclamei tentando me soltar dele. Olhei para trás e vi que o garoto continuava a nos observar, só que com o cenho franzido - Sinto muito!

- Tá tudo bem! - Exclamou ele de volta.

- Você é um idiota. - Murmurei para Ares com raiva - Ele é a única pessoa que fala a nossa língua. Ele ia nos ajudar, mas você como sempre estragou tudo!

- Ele ia é se aproveitar de você, mas é lesada demais para se tocar disso. - Rebateu ele.

- Ia nada! Ele estava sendo só gentil! - Exclamei de volta.

- Aham. Com aquele papo de “Garotas bonitas em Paris” e tudo mais. Realmente, ele é muito gente fina. - Concordou Ares em sarcasmo.

- Cooper! - Exclamou uma voz atrás de nós. Estava distante, mas quando me virei pude ver que era o garoto em pé ainda no meio da rua.

- O que é agora? - Resmungou Ares parando de andar e olhando para trás, mas ele franziu o cenho confuso quando exclamou novamente.

- Alice Cooper! - Chamou ele. Eu franzi o cenho sem entender. Ares também estava com uma enorme cara de dúvida. O garoto correu até a metada da distância entre nós e parou - É você? Alice Cooper?

- Não... Eu... Sou Alice Kelly. - Corrigi - Alice Cooper é... Um cantor.

O garoto não respondeu, ele só sorriu para mim, feliz pela minha resposta. Parecia que ele estava rindo de alguma piada, mas que só ele conhecia. Franzi o cenho novamente tentando avaliar melhor o garoto. Aquele sorriso engraçado, o jeito simpático, o cabelo castanhos bagunçado...

- Mentira... - Murmurei incrédula, mas não consegui esconder um sorriso - Pilgrim? Scott... Pilgrim?

- Scott Pilgrim é um personagem de video game. - Comentou ele rindo.

- E de quadrinhos. - Completei assentindo com a cabeça. Ele riu.

- O que posso dizer? Eu sou famoso, não, Alice Cooper? - Perguntou ele encolhendo os ombros. Eu ri e larguei a mão de Ares quando ele se distraiu. Sem pensar duas vezes corri até ele e lhe dei um abraço apertado. Scott riu e me abraçou de volta também. Ele me levantou e girou no ar.

Quando os meus pés tocaram o chão, eu olhei para ele ainda sem acreditar. Não conseguia tirar o sorriso do rosto, e ele também não.

- Scott... Uau! Eu... Eu pensei que não ia mais te ver! - Exclamei olhando para ele - Você não mudou muito... Eu acho.

- Não mudei não. - Concordou ele - Só você que é esquecida demais para não lembrar do meu rosto. Mas eu acho que se lembrasse de mim, não seria a Alice Cooper, e sim um clone do mal mandado por ETs para a Terra.

- Claro. É a explicação mais lógica. - Concordei fingindo que aquilo era bem normal.

- Nossa... Pelo que eu me lembro você costumava se perder no caminho de casa, mas como esse problema evoluiu para Paris? - Perguntou ele estreitando os olhos para mim.

- A culpa não é minha. - Comentei inclinando a cabeça na direção de Ares. Scott olhou para ele e entendeu o que eu quis dizer. Ares estalou os dedos da mão e lançou um olhar ameaçador para Scott. Foi só aí que eu notei que nós estávamos realmente perto um do outro.

- Ei, relaxa. Eu estou me distanciando... Sem tiros, por favor. - Disse Scott sorrindo para Ares. O Deus da guerra fez uma careta para ele.

- Vem logo, Kelly. Vamos embora daqui. - Disse ele me chamando.

- Você ainda tem esperanças de achar o caminho de volta sozinho?! - Perguntei com raiva - Deixa ele ajudar!

- Deixa ele ajudar! - Imitou Ares - Eu nem mesmo sei quem é “ele”!

Scott sorriu e deu um passo para a frente. Ele estendeu a mão amigavelmente para Ares apertar.

- Eu sou Scott Collins. Único amigo da Alice desde 12 anos de idade. - Falou ele com grande normalidade. Eu dei um tapa na cabeça dele, e Scott virou-se para mim rindo - É verdade, o que eu posso fazer?

- Mentira! Você não é o meu único amigo! - Protestei com uma careta.

- Então fala o nome de outro. - Desafiou ele. Eu parei para pensar em um momento - Viu? Eu sou o único, e ainda o melhor amigo.

- Se você é o único, não tem concorrência nenhuma para ser o melhor. - Comentei.

- Você adora acabar com a minha felicidade. - Resmungou ele, mas de bom humor. Ele virou-se para Ares - E você, grandão? Um amigo da Alice também, ou vocês...?

Ares sorriu maliciosamente para mim, e eu notei que ele tiraria proveito da situação. Claro... Por que não?

- Eu sou um dos namorados dela. - Contou ele. Scott franziu o cenho para Ares, e depois para mim, que fuzilava ele com raiva.

- Um dos... Namorados. - Repetiu ele - E quantos têm?

- Dois. Por enquanto, é claro. - Contou Ares com um sorriso simpático.

- Idiota. - Resmunguei com raiva.

- Ah, claro. Isso é normal. Sem problemas, Alice. - Concordou Scott ainda achando aquilo estranho, mas sendo ele ele mesmo, resolveu levar aquilo para o lado do humor - Até porque, eu tenho umas duas namoradas também, então estamos empatados.

- Isso é mentira. - Falei para ele - Até porque, eu era a única garota que falava com você. E eu duvido muito que isso tenha mudado.

- Voltando ao assunto da ajuda... Quer saber o caminho para onde? - Perguntou ele fugindo do assunto.

- Nenhum lugar, vamos logo, Kelly! - Reclamou Ares.

- Nós queremos ir para o Hotel... Qual é o nome do Hotel? - Perguntei para Ares, mas ele deu de ombros - Nem isso você sabe?!

- Para que eu ia querer saber o nome do hotel?!

- Ah, não sei! Para se, talvez, por uma eventualidade impossível, nós nos perdêssemos?! - Respondi com raiva.

- Se nós nos perdemos, a culpa é sua, sua lesada! - Exclamou ele com raiva de mim também. Scott me colocou atrás dele, e ficou entre eu e Ares.

- Ei! Não fale com a Cooper assim! - Exclamou ele tentando me proteger. Será que nossas brigas pareciam tão feias assim para os outros? Eu estava tão acostumada que nem mesmo ligava para a opinião externa, mas Scott me proteger fez meu rosto ficar um pouco vermelho.

- Scott... Deixa isso para lá. - Falei sem graça.

- E se eu continuar falando assim com ela? Você vai fazer o que á respeito, seu molenga? - Perguntou Ares dando um passo na direção dele. Scott deixou um braço para trás e cerrou o punho do outro para frente.

- Eu vou ter que dar um jeito em você. Alice! Não me segure! - Exclamou ele. Ares parou esperando Scott avançar para poder arrebentar ele, mas ele não se mexeu.

- Então? Você vem ainda hoje? - Quis saber Ares erguendo uma sobrancelha - Ou ficou com medinho?

- Eu vou sim. - Confirmou ele - Alice! Eu já falei, e vou repetir... Não. Me. Segure!

Eu concordei um pouco insegura, e esperei para que Scott avançasse, mas novamente ele ficou parado um pouco. Ares revirou os olhos e deu um passo na direção dele. Scott resolveu avançar também, ou pelo menos foi isso que eu pensei que ele fosse fazer.

Ele deu um meio passo para frente, e mexeu seu braço que estava para trás, próximo de mim. Antes que Scott atacasse Ares, ele virou-se para mim.

- Alice... Você não vai me segurar? Me... Me segura. - Pediu ele em um murmurro de medo. Estava escrito nos olhos dele “Esse cara vai me matar, faz algma coisa!”, por isso em prendi o riso e puxei ele para trás - Ah! Se deu bem! Sorte sua que ela me puxou, ouviu? Senão eu ia...!

- Ia o que?! - Perguntou Ares estufando o peito para mostrar como era mais forte.

- Nada não. - Respondeu Scott - Há Há! Você é gente boa! Eu vou te mostrar o caminho para o hotel, e estamos quites certo?

Eu revirei os olhos.

- Mas eu podia ter ganhado. - Comentou Scott em um murmurro - Né, Alice?

- Ele podia ter acabado com você, Ares. Eu salvei a sua vida. - Concordei tentando não rir de Scott - Scott Pilgrim, campeão de luta livre desde os 12 anos de idade. Representando a Califórnia!

Scott riu e eu também. Contei para ele como o hotel era, e ele o reconheceu.

- Wow. Custa o preço da cara só para pisar no tapete de lá, sabia? - Perguntou Scott impresionado - Eu levo vocês lá. Vamos.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam do Scott? Sim, ele é o garoto dos sonhos da Alice. O ex-namorado dela, quando ela tinha 12 anos!

Sentiram os leves ciúmes do Ares, né?

Espero pelos review! Até o próximo...