Minutos depois de Edward ter deixado o quarto daquela maneira intempestiva,Isabella ainda não tinha sido capaz de controlar os tremores que sacudiam todo o seu corpo. O que aquele homem tinha feito com ela? Ou melhor,o que ele pretendia? Enlouquece-la,no mínimo. Primeiro,ele agia como se não se importasse com a existência dela,depois deixava-a confusa e apavorada e por último embaralhava seus sentimentos com uma habilidade  gritante. Bella não sabia se seria capaz de suportar passar o resto de sua vida presa naquela casa,que parecia lotada de lembranças ruins,medos e fantasmas que pertenciam ao passado desconhecido e aparentemente sombrio de Edward

Juntando todas as forças de seu corpo,Bella se arrastou até a cabeceira da cama e deitou a cabeça sobre o travesseiro macio. Enrolando o corpo como uma bola,ela deixou que as lágrimas por seu destino incerto rolassem livremente. Não se importou  em abafar o barulho do choro,ele não a ouviria,e mesmo se a ouvisse,não se importaria. Por mais que negasse a admitir até mesmo pra si mesma,ela estava presa á um homem amargurado,cruel. E sem ter a menor noção do que faria pra sobreviver ao lado dele. Tinha sensação aterradora que com o passar do tempo,Edward acabaria por sufocar todos os seus sentimentos

Ela não dormiu um minuto naquela noite. Tinha coisa demais na cabeça,e o barulho do piano não cessou nem por um segundo. O homem parecia uma máquina,e a garota acreditava que ele usava a música com uma forma de fugir de sua realidade solitária. Agora,mesmo depois de ter se casado de novo,ele não parecia nem um pouco disposto a mudar,começar uma nova vida

Ela estava sentada em uma poltrona de frente a janela quando o sol nasceu,e só o que podia fazer era pensar no tempo em que viveu no internato. Apesar da falta imensa que sentia dos pais,enquanto estava na escola Isabella pelo menos tinha sido feliz. Ela e Alec,seu melhor amigo desde que se conheceram,aos cinco anos de idade,sempre davam um jeito de escapar da escola nos fins de semana. O garoto era esperto e sabia como se tornar quase invisível,o que era extremamente útil quando eles passavam todo o tempo sendo vigiados.

De repente Isabella teve um estalo: Fugir! Era isso que ela precisava fazer! Se conseguisse passar algumas horas longe daquela casa,e da influência sufocante e confusa do novo marido,tudo se tornaria melhor.

Levantando-se de um pulo,com o ânimo subitamente renovado,a garota se dirigiu até o banheiro ricamente decorado. Depois de um longo banho,e vestindo roupas confortáveis,discou o número conhecido. Alec atendeu no segundo toque

-Bella?-a voz dele parecia preocupada,e ela tinha certeza de que ele devia estar andando de um lado para o outro a essa altura. Conteve um riso com a lembrança

-Sou eu sim,Alec. Tudo bem?

-Eu to bem. Quer dizer,fiquei bastante preocupado,você não dava noticias desde o dia que aquele cara loiro veio te pegar aqui. Quem era ele? Alguém da sua família?

-Isso é uma longa história,que eu não conseguiria contar por telefone. Que tal se você desse uma das suas escapadas e a gente se encontrasse?

-Tudo bem,eu estou mesmo curioso pra saber o que você esta aprontando,dona Bella-o garoto respondeu,com sua animação quase inabalável. Eles ainda conversaram por mais algum tempo,combinando qual seria o local em que deviam se encontrar,e depois de desligar Isabella estava se sentindo bem mais calma e aliviada. Um tempo com seu melhor amigo,lembrando-se das coisas legais de sua velha rotina parecia ser exatamente o que ela precisava. Um tempo longe da presença confusa e ao mesmo tempo arrebatadora de Edward Cullen...

A garota desceu as escadas o mais silenciosamente que pode,tentando não chamar atenção para a sua movimentação. Os empregados deviam estar ocupados com suas próprias obrigações,e,pela música que ecoava pela casa,Edward estava mais uma vez trancado na sala do piano,lidando,ou fugindo de suas lembranças. Era bem provável que ele nem mesmo percebesse que ela tinha saído do quarto.

Quando chegou ao lado externo da mansão,Bella correu na direção do jardim que ficava nos fundos da propriedade,ela poderia ter usado o portão,mais sabia que os seguranças iriam avisar Edward que ela estava saindo,e isso acabaria de uma vez com o conceito de “fuga da realidade”. Pular o muro foi fácil,e conforme ela se afastava da presença e da influência do novo marido,se sentia mais calma

As horas pareceram voar enquanto ela corria e conversava com Alec,e durante aquela tarde,foi como se seu mundo estivesse como sempre tinha sido,e não houvesse nada fora do lugar. Eram quase oito da noite quando ela e o amigo começaram a andar na direção de sua nova casa,e Isabella tremeu quando avistou a silhueta corpulenta a sua espera no portão principal. Assim que se aproximou o suficiente,ele a puxou pra perto de forma brusca,e ela sentiu vontade de se encolher com a força de seu olhar sobre ela. Edward estava furioso,e ela não sabia o que fazer pra acalmá-lo. Na verdade,uma vozinha no fundo de sua mente lhe avisava de que nada que ela pudesse dizer ou fazer o acalmaria. Tudo o que lhe restava fazer agora,era esperar a tempestade passar,e depois lidar com as consequências de seus atos