Coeur Faible escrita por NRamiro


Capítulo 6
Parte 5




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Meus dedos batiam na madeira clara da mesa de canto. A cadeira de metal estava gelada contra minha pele e o sol mostrava seus primeiros raios alaranjados no fim do horizonte. Em alguns minutos uma pequena onda de calor pôde ser sentida vindo da grandiosa estrela. Aos poucos o metal gelado não me incomodava mais, minha pele absorvia o calor do sol, aquecendo-se.

A noite bem dormida – algo que eu não conseguia ter a dias - parecia ter revigorado todas as minhas energias. Meus olhos mantinham-se fechados, mas os abri rapidamente ao escutar batidas constantes contra a porta.

– Francesca - Escutei a voz de Henrie me chamar de modo cauteloso. Levantei-me e andei a passos lentos até a porta.

– Já está na hora?

– O sol acabou de nascer e a cidade está acordando aos poucos - Começou, seu hálito de menta batendo em meu rosto. - Acho melhor irmos agora.

– Tudo bem. Espere um pouco.

O cinto com o OTs-38 foi colocado rapidamente em minha cintura por cima do jeans claro. A jaqueta cobriu meus braços e tampou o cinto com cautela, as botas foram colocadas por último e o cabelo brevemente arrumado.

Olhei-me no espelho, reparando na pele pálida e lisa. Sorri para a imagem refletida e saí do quarto, encontrando McMahon encostado na parede clara ao lado do elevador. Em poucos minutos estávamos no hall de entrada do luxuoso hotel. Entreguei as chaves para a mulher ruiva que sorria amigável do outro lado do balcão.

– A diária ficou em...

– Obrigada - Sorri e comecei a andar com passos calmos até o estacionamento, Henrie ao meu lado.

– Senhorita, Senhor, vocês precisam pagar primeiro.

– Nós sabemos - McMahon respondeu, oferecendo para a ruiva um largo sorriso. Se a mulher não estivesse tão preocupada com a falta do pagamento, teria ficado encantada com ele.

– Chamarei a polícia! - Ameaçou.

O porshe prateado estava na primeira vaga, o que facilitou nossa chegada rápida nele. Acelerei o carro, vendo pelo retrovisor a atendente discando um número qualquer no telefone. Em poucos minutos acelerava o carro pela auto-estrada. O vento batia em meu rosto fazendo os cabelos virarem chicotes contra minha pele.


O corpo foi achado pelo filho por volta das onze horas da noite. Jesen tinha sessenta e dois anos, e tudo indica que se trata de um homicídio”. A voz grossa do interlocutor da rádio local soava do aparelho de som. Então o corpo de Jesen já fora achado? Sorri.

Henrie dormia despreocupado no banco depois de uma hora e meia na estrada, às vezes um ronco baixo fugia de seus lábios. Uma melodia baixa e suave saía das caixas de som agora, deixando todo o carro numa esfera tranqüila.

Depois de mais meia hora dirigindo, Londres já comemorava nossa volta. McMahon havia despertado fazia alguns segundos e agora fazia alguma anotação em um pequeno caderno de capa escura.

– Você ainda parece cansado - Comentei enquanto dirigia por uma rua cheia de pessoas. - Você não teve uma boa noite de sono?

Ele suspirou pesadamente e esticou seus braços para cima, fechando os olhos de modo lento enquanto se espreguiçava.

– Dormi toda a noite, mas ainda acordei cansado - Respondeu-me. - Acho que preciso de um café.

– Starbucks?

– Claro.

Alguns minutos se passaram e logo já dirigia pelas ruas familiares londrinas. Estava cedo quando comecei a passar por Camden Town, mas apesar do horário, as ruas não estavam vazias, muitas pessoas de diferentes aparências circulavam absortas em conversas. Após virar numa rua perto do Under Four Feet, a almejada Starbucks já estava aberta na espera de clientes.

Pulei pela porta do porshe e Henrie vinha logo atrás de mim. Entramos no café e não tardamos a fazer nosso pedido. O cheiro que exalava daquele estabelecimento só me fazia querer por as mãos em meu pedido logo, este que não tardou a chegar.

O café fumegante entrava em contraste com o chantilly gelado, era uma mistura boa. Henrie bebericava seu café, parecia distante do que acontecia ao seu redor, às vezes levava o líquido à boca e outras apenas batia a ponta de seus dedos na mesa num ritmo aleatório.

O relógio marcava 9:26 e aos poucos o movimento na Starbucks aumentava. Isso começava a me irritar gradativamente. Depois de alguns goles cuidadosos meu copo jazia vazio sobre a mesa. Henrie já havia acabado seu café há alguns minutos, então quando acabei, levantamo-nos e fomos com passos rápidos até o carro.

Voltamos para o carro e não demoramos a chegar no Under Four Feet. O seu interior estava calmo e com poucas pessoas. Andamos calmamente até a parte inferior do local e entramos com sutileza na pequena entrada. Num clique mudo a porta se fechou atrás de nossas costas.

Quando Henrie e eu chegamos na pequena sala em que ficávamos, vi ao fundo uma mulher de cabelos dourados que trajava um sobretudo de cor clara.

– Você mal aparece em casa, querida - Comentou enquanto andava em minha direção.

– Eu não tenho tempo, você sabe - Apenas dei de ombros.

Sorri sincera para ela, começando a analisar calmamente seu rosto. Fazia tanto tempo que não a via. Traços fortes e marcantes existiam sobre a pele alva, seu cabelo dourado estava liso com pequenos cachos nas pontas. Seus olhos negros, gigantescos.

– Veio só me ver ou tem assuntos com... meu pai?

– Preciso confessar que o motivo principal é com seu pai.

– Imaginei - Dei de ombros.

– Mas é claro que sobrou um tempo para você - Anunciou e me abraçou de modo gentil, sorrindo para Henrie logo em seguida.

Um bip baixo vindo do bolso da mulher pode ser ouvido por nós. Ela sorriu de lado e ajeitou seu cabelo rapidamente, uma feição séria tomando conta de sua face.

– Acho que alguém achou um tempo para mim também - Colocou a mão em meu ombro, apertando-me sem força. - Até mais Francesca, Henrie.

Com um meio sorriso ela saiu da pequena sala, começando a andar pelo corredor. Acompanhei sua silhueta até ela virar em um corredor, impedindo que meus olhos continuassem em suas costas.

– O que será que ela quer com meu pai?

– Não sei, mas deve ser algo importante. Sabe como é difícil conseguir falar com Vector aqui.

– Isso é verdade. Mas não é da minha conta, nem da sua. Então vamos esquecer isso - Falei, enquanto me sentava no sofá de couro e deixava minha cabeça repousada no apoio atrás de mim. Continuei desse jeito por um longo tempo, mas uma dor em meu pescoço me fez sair daquela posição. Fazer viagens, mesmo que curtas, em carros me cansam de um modo estranho.

– Henrie, estou indo para casa - Anunciei.

– Mas já? E isso precisarmos de-

– Você tem meu número - E deixei o local. Com passos largos cheguei ao meu carro e em poucos minutos dirigindo, já estava em casa.

As peças de roupas iam sendo jogadas no chão enquanto andava até o último cômodo do corredor, meu quarto. Quando entrei neste, observei a extensa parede negra onde estrelas de vários tamanhos estavam coladas. Abri a primeira gaveta do pequeno armário e retirei de lá mais uma pequena estrela. Aproximei-me mais da parede e com delicadeza colei o adesivo ali, sussurrando um nome: “Jesen” Não via a hora de ver aquela parede toda completa. Sorri.

Cada estrela representava um trabalho finalizado. Um trabalho, uma vítima; às vezes aconteciam duas mortes. Todos que morreram pela minha OTS-38 tinham uma pequena estrela. Desde pequena tudo que era relacionado aos céus me fascinava: estrelas, planetas, cometas. Talvez seja por isso que escolhi fazer minha contagem através desses majestosos sois.

Suspirei enquanto me afastava e retirava as últimas peças de roupa que cobriam meu corpo. Deitei na cama e fechei os olhos. Ficando inconsciente rapidamente.

Não sei quanto tempo passei adormecida, mas isso não importava muito. O céu já estava num tom azul escuro quando me levantei para tomar um copo de água. Teria uma noite em claro, já que havia passado a tarde dormindo. Quando retornei para o quarto, peguei meu baixo acústico e deixei meus dedos viajarem acompanhando um compasso qualquer. Estava distraída quando meu celular apitou avisando que tinha uma nova mensagem. “Acabei de ver Vector. Acho que a conversa que teve com Kathe não foi das boas. Parecia furioso” Uma briga entre meus pais? Pouco provável.

Ignorei a mensagem e voltei a tocar. De qualquer maneira não era um problema meu, tenho certeza que eles poderiam resolver sozinhos.



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Notas finais do capítulo

reviews!