Já ouviu falar que quando estamos na divisória entre a vida e a morte, nossa vida passa como um flashback por nossos olhos? Com ele víamos todas as atitudes que tomamos e assistimos as suas conseqüências. Se foram boas ou ruins.

A queimação que sentia um pouco abaixo do meu peito, fazia-me fechar os olhos com força. Não queria abri-los e ver toda a maldita perdição na qual eu havia caído, ali, na minha frente. Não podia ter cometido esse gigantesco erro, essa quebra de tradições milenares. No entanto, mesmo assim cometi todos os deslizes possíveis e agora estava provando das conseqüências. A dor que corria juntamente com o liquido vermelho era meu castigo; o arrependimento e o vazio eram meus últimos sentimentos.

O barulho da arma se chocando ao chão pode ser ouvido claramente naquela bela noite de inverno. Suas palavras foram sussurradas com seu forte sotaque, causando-me arrepios. Mais uma vez.

- Desculpe.

Meus músculos foram perdendo a tensão aos poucos e então pude finalmente abrir os olhos sem me importar com dor da bala, agora quase imperceptível em minha mente. No céu havia diversas estrelas. O reflexo de minha vida ali brilhando para qualquer um que quisesse contemplá-la.

Com um fio de voz pronunciei as palavras que há tanto tempo ficaram presas em minha garganta.

- Eu te amo.

Fechei meus olhos e respirei fundo, esperando. Queria tê-los aberto para saber o que aconteceu quando a arma foi disparada novamente, mas não tinha forças para abri-los uma outra vez.