Era sábado. Emma assistia a mais um desses programas infantis com Rick, ele estava deitado em seu colo enquanto ela mexia nos seus cabelos. Ela podia ver que ele estava quase dormindo. Estava ali a tão pouco tempo, mas parecia que tantas coisas já haviam acontecido. Ela olhava para face serena do garoto quando Peter apareceu e ficou os olhando com um sorriso no rosto.

- O que houve? – perguntou minutos depois.

- Nada, por quê?

- Você está parado ai feito um bobo a um bom tempo.

- Só estava olhando para vocês. – Peter sentou-se ao seu lado. – Vocês parecem estar tão... Não sei a palavra certa... Interligados? Isso é diferente para mim, estou acostumado à... Deixa pra lá.

- Fale, já que começou.

- É que nesses quatro anos nunca vi Isabel fazendo alguma coisa assim com Rick. Sabe? Tipo programas de mãe e filho. E já você...

- O que posso dizer? Rick se tornou muito importante para mim.

- Eu percebi. – ele sorriu. – Falando nisso, eu tenho um convite para te fazer.

- Um convite?

- Hoje a noite, eu e o pessoal, vamos à um barzinho. Quer ir?

- Não sei... Eu tenho que tomar conta de Rick.

- Não tem problema. Ele vai ficar bem.

- Peter...

- Eu te ordeno que vá.

Emma mordeu o lábio inferior e olhou para loiro à sua frente. Droga, ele tinha que olhar para ela daquele jeito?

- Você venceu.

- Esteja pronta às 22 horas. – Peter saiu da sala depois de falar, deixando uma Emma totalmente confusa.

Droga! Que roupa que se usa para sair com alguém por quem você sente atração?

Emma olhava para dentro do guarda roupa desolada. Ela queria algo que chamasse atenção, mas não muito. Que a valorizasse sem parecer vadia demais.

Uma batida na porta a fez desviar sua atenção.

- Ei Emma! – Annie abriu a porta antes que ela pudesse falar algo.

Annie usava uma blusa sem mangas preta, com uma estampa de caveira na frente, saia de tule preta, meias arrastão e botas. Annie estava incrível e ela não tinha o que vestir.

- Ainda bem que você apareceu!

- Achei que ia precisar da minha ajuda.

- E preciso mesmo. Eu não sei o que vestir!

- Hum... Deixe-me ver. – ela parou na frente do guarda roupa. – Acho que eu já sei... – ela pegou um vestido tomara-que-caia vermelho, jaqueta de couro e um par de botas cowboy. – Que tal isso?

- Eu não sei, eu não gosto muito de usar vestido. E esse é muito curto.

- Por isso mesmo! Mostre suas pernas!

- Annie...

- Não me venha com “Annie”. Só experimente, se você não gostar, não use. Mas eu duvido que você não goste.

- Eu duvido que eu goste.

- Pare de ser dramática.

Emma bufou, mas vestiu rapidamente a roupa que Annie havia escolhido.

- Viu? Você não morreu por experimentá-la e você está linda.

- Não estou não! Por que eu não vou com uma roupa mais discreta?

- Claro que não! Você não quer que o Peter pense que está saindo com a avó dele. Se olhe no espelho e veja como eu tenho razão. Essa roupa está perfeita!

De má vontade Emma fechou a porta do guarda-roupa e olhou-se no espelho que havia ali. Adiava admitir que Annie talvez tivesse razão.

- Eu sabia que você ia gostar!

- Eu não disse que gostei.

- Está na sua cara. Agora, seu cabelo, prenda-o um pouco, mas não muito. E maquiagem, destaque os seus olhos. Você tem olhos lindos. Quando estiver pronta, eu quero fazer teste.

- Que tipo de teste?

- Você verá! – Annie saiu do quarto lançando um sorriso animado para ela. Annie ia aprontar algo e não era bom.

Terminou de arrumar o seu cabelo e de maquiar-se, pegou sua bolsa em cima da cama e saiu. Annie estava parada no corredor esperando por ela.

- Até que enfim! Venha! É a oportunidade perfeita para o meu teste.

Annie agarrou sua mão e puxou-a escada abaixo em direção a cozinha.

- Ei pessoal! Ela já está pronta!

Emma entrou no recinto esperando a reação de todos. Peter, que segurava uma garrafa de cerveja, deixou-a cair no instante em que a viu. Ele não conseguia desviar o olhar dela, Emma sentiu-se lisonjeada com isso.

Annie sorria, o seu plano havia sido um sucesso. Podia ver o olhar de Martin, Simone e Eric passando de Emma para Peter. Eles haviam entendido o recado. Mas o seu olhar repousou em Isabel, que olhava para Emma com muita raiva. Droga!

- Aonde você pensa que vai? – Isabel quebrou o silêncio com sua voz enjoada.

- Eu... Hum... Nós vamos...

- Ela vai sair com a gente! Algum problema perua? – não ia ficar calada vendo Emma naquela situação em que ela havia a colocado.

- Annie, calma... Não começa!

- Cala a boca Martin!

- Sim, senhora.

- Sair? E quem vai cuidar de Richard?

- Você mesma.

- Peter! Você não espera que eu...

- Que você o quê? Passe uma noite com o seu próprio filho?

Isabel ficou sem reação, Pete aproveitou para sair dali, não queria mais brigar por causa disso. Os outros o seguiram ainda em silêncio. Saíram da cobertura e chamaram o elevador.

- Eu preciso vir aqui mais vezes! – começou Simon.

- Por que isso agora?

- Barraco ao vivo!

- Eu trago as cervejas! – riu Eric. – A gente também pode assistir ao Peter derrubando as garrafas.

Peter não respondeu, não queria falar sobre aquele assunto. O que ele estava pensando ao derrubar aquela garrafa? Na verdade, ela sabia muito bem em que pensava... Ou melhor, em quem.

Sábado, 26 de março, 22h30min

Querido Diário

Você não acredita onde eu estou nesse momento. Dentro do banheiro de um bar em Estocolmo.

Sim, eu estou escrevendo dentro de um banheiro.

E sim, eu te trouxe dentro da bolsa.

Pode me chamar de louca agora.

Achei que precisava trazê-lo, estou com um bom pressentimento. Enfim, faz tempo que não nos falamos, vou fazer um breve resumo do que aconteceu.

Peter quase me beijou.

E não, eu não surtei.

Longa história, não me pergunte sobre isso.

Hoje pela manhã Peter me convidou para vir nesse bar com o pessoal, você já sabe de quem eu estou falando, e Annie me fez vestir aquele meu vestido vermelho que eu só usei uma fez na vida e que vovó praticamente me obrigou a trazer. E quando quem vos fala apareceu na frente de você-sabe-quem (aliás, isso me lembrou Harry Potter), ele derrubou a garrafa de cerveja que segurava.

Pode ter um ataque junto comigo?

A Annie, é claro, planejou tudo isso. Adoro ela!

Depois eu te conto o que acontecer essa noite, agora eu voltarei para a mesa.

Se meu pressentimento não falhar...