Poltronas azuis. 01:00 a.m. Um homem esperava a algumas poltronas de distância, estava ansioso, era a primeira filha do casal. A bolsa rompeu de noite, ele esperava que tudo estivesse bem. O que ela estava fazendo ali? Viera esperar seu...marido, sim, acidente de carro. Sim, parece que estava  bêbado. Não, não tivera notícias ainda, é parece que era grave.

O homem foi chamado, a filha nasceu saudável. Parabéns. Ela ficou sozinha, mirou o relógio 03:00 a.m, ela pensava em fugir, arranjaria um jeito de se sustentar e, também o bebê. Faria faxina, lavaria pratos, cozinharia, qualquer coisa para sair e não voltar mais para aquele quartinho dos fundos. Sairia daquele hospital, pegaria suas coisas, que não eram muitas, colocaria o pé na estrada, pediria dinheiro emprestado a Carmem. Sobreviveria.

Não. Como poderia deixá-lo sozinho naquele hospital, ele que não tinha família? Noite anterior sentiu raiva é verdade, e muita, mas ele estava morrendo, se ela o abandonasse seria o mesmo que deixá-lo morrer e omitir-se, não seria?! Ficaria. Cuidaria dele e quando ele mostrasse estar recuperado ela iria. Iria para qualquer lugar longe de todos aqueles cinco anos de lembranças ruins.

Sentiu uma leve tontura,foi até a cantina e bebeu um copo de água. Decidiu andar um pouco. Passou pelo berçário, viu rostinhos rosados, novas vidas, acariciou a barriga. Novas vidas.