Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 8
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

Desculpas se eu demorei

Ando meio Aérea, mas aí está mais um cap.



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Capítulo 8- Daniel Gonzales

Assim que terminei meu café da manhã, me levantei e tomei banho, pronto para ir embora. Enquanto passava pelo corredor novamente, reparei em uma coisa que não tinha dado tanta importância antes.

Os quadros. Então eu me liguei. Eu estava na casa de Dinnie Ray. Se quisesse respostas, as encontrariam de algum jeito aqui. Comecei vendo cada um dos três quadro com atenção.

O primeiro era de Dinnie Ray e mais algumas pessoas (Sua família , talvez). Vi que todos tinham olhos azuis violetas, assim como Dinnie. Essa deveria ser a cor normal dos olhos dela antes de ser Senhora Sulista. Junto com ela no quadro estavam, uma menina menor e uma menino maior , talvez seus irmãos, e uma mulher alta e bonita que tinha os cabelos loiros e ondulados e os olhos violetas ao lado ao lado de um homem alto e de aparência forte com cabelos e olhos escuros. Esse deveria ser o jeito de Dinnie para não se esquecer da família. Mas esse quadro tinha aparência de ser bem antigo, tanto que a própria Dinnie aparentava ter apenas quinze anos e não vinte.

No segundo, ela estava sozinha e aparentava estar nos seus dezessete anos. Dinnie estava sentada no tronco de uma árvore com um vestido azul de época e sorria. Aquela era a visão do paraíso. Ela parecia tão jovial e linda, assim como na cozinha quando caiu no riso.

Mas, por que ela parou assim que disse a palavra “bebê”? Será que ela teve algum filho e o perdeu? Não, Noah teria me contado. Deveria ter alguma coisa a ver com aquele bebê que ela ajudou a criar e deixou ser cuidado pelo avô. Talvez ele fosse tão solitário quanto eu. Ele deveria estar com a minha idade. Talvez eu pudesse procurá-lo, se ainda morasse em Seattle e trazê-lo para Dinnie. Talvez isso a fizesse sorrir mais uma vez. Vendo aquele quadro, eu ansiava por seu sorriso. Ver como seus olhos, mesmo por baixo das lentes de contato, brilhavam de alegria.

No terceiro quadro, ela aparentava ter os atuais vinte anos. Mas como no segundo quadro, ela estava sorrindo, feliz. Um vestido lilas de época a acompanhava dessa vez. Seus cabelos castanhos escuros caindo em cascatas e os olhos azuis violetas brilhantes. Era óbvio que naquela época, ela era feliz. Só me restava descobrir quando isso mudou. E já até sabia aonde encontraria a resposta daquela pergunta.

Seu quarto.

Segui o corredor sem parar até parei novamente em frente a tão porta que passei na noite anterior. Tentei abrí-la, mas estava trancada, como eu já imaginava.

Fui na cozinha como um raio e voltei trazendo uma faca de ponta fina comigo. Já tinha visto várias vezes aquilo na televisão, esperava que funcionasse na vida real. Encachei a faca na fechadura e comecei a forçá-la , com cuidado, até que escutei um click e a porta se abriu.

Já de cara fiquei impressionado com o quarto. Ele dava quase o dobro do que eu estava e quase a casa do meu avô inteira.

A cama de casal ficava na parede mais afastada, perto da janela. Do outro lado ficava o closete, a televisão e um laptop em cima da cama (esse último sinalizava que ela trazia trabalho para casa). Comecei a me mover com cuidado pelo quarto, já sabendo que ela saberia que eu estive aqui, só pelo meu cheiro. Droga de super olfato vampírico!

Na primeira vista, não vi nada que me interessasse, até que um objeto me chamou a atenção de baixo da cama. Me abaixei e puxei uma caixa de sapatos antiga e pesada. Tinha algo ali, eu sabia. Eu sentia.

Me sentei na cama puxando a tal caixa junto comigo. Quando a abri, fiquei espantado. Eram fotos antigas de Dinnie. Algumas dela com alguns vampiros, sorrindo. Algumas dela sozinha. Mas , apenas três me surpreenderam.

A primeira era uma dela, com certeza antes dela ser Senhora Sulista, com meu avô. Os dois sorrindo e abraçados. A outra era dela com uma mulher grávida e um homem, ainda com os olhos azuis violetas. Deveria ser o caçador e a mulher que Noah contou. A terceira, era dela com um garotinho. Ela sorria como em todas as fotos, mas a diferença era que no seu olhar já tinha uma tristeza existindo.

O garotinho estava em seu colo e sorria expondo seus olhos cinzas e seus cabelos escuros enquanto Dinnie o beijava na bochecha. Parecia que existia tanto amor entre os dois. Não sei o motivo dela ter o deixado. Ela poderia ter o criado como um filho.

Vai entender os vampiros.

Fiquei vendo mais algumas fotos. Algumas dela com os vampiros. Ela e Luanne, Abigail, Mikael e Noah. Todos sorrindo, menos ela. Ai eu já tinha certeza que ela era Senhora Sulista, sem nem mesmo ver a cor de seus olhos vermelhos. A tristeza deles em sua expressão deprimida me dizia tudo.

Antes que eu percebesse já havia escurecido e a luz do luar entrava pela janela, ajudando minha visão. Fiquei encarando aquelas fotos por mais alguns momentos, comparando a velha Dinnie Ray com a atual.

Era um pouco acreditar que um humano podia ter feito aquilo a ela. Aquela transformação. Assim como os vampiros, nós humanos, também éramos especiais, mesmo não sabendo.

Comecei a me preocupar com Dinnie. Não no aspecto sentimental, mas no físico. Ela já deveria ter chegado. Tinha saído onze da manhã e já eram quase seis da noite. Estava escuro lá fora e tinha um vampiro assassino solto por ai, o que não me deixava muito tranquilo. Mas me acalmei com a ideia dela ser escoltada, espero.

Do jeito que aquela mulher era teimosa, deveria ter se livrado da escolta na primeira oportunidade. Também já sabia que, ou passar mais uma noite aqui, ou ser escoltado para casa pela própria Dinnie. De qualquer jeito eu sabia que ela estaria perto de mim e só a lembrança do brilho de seus olhos (vermelhos ou violetas) quando me encarava , já me trouxe arrepios.

Guardei novamente as fotos dentro da caixa e a coloquei de baixo da cama, exatamente como estava antes. Então, olhei, tentado, o laptop que estava em cima da cama. Deveria ter informações importantes ali, mas seria abuso demais....

Fui interrompido por uma batida fraca na porta da frente quando comecei a me aproximar do laptop. Bufei ansioso que a pessoa fosse embora, então fiz o melhor arrumando o quarto de Dinnie e tentando trancar a sua porta.

Outra batida fraca na porta me alertou. Quem seria essa hora? Dinnie teria esquecido a chave? Todas essas perguntas foram feitas enquanto eu passava pelo corredor em direção da porta, apenas parando para encará-la. Pena que não tinha o olho mágico.

“Quem é?”, perguntei suspeito. Tinha certeza que Dinnie não abria a porta para qualquer um e iria se irritar se eu o fizesse. Talvez fosse algum vampiro mandado por ela para me ver ou talvez um vampiro preocupado por ela ainda não ter ido ao quartel general. Ou um vampiro sádico maluco querendo matar Dinnie. Eram tantas opções.

“Daniel, abra a droga dessa porta”, escutei a voz fraca de Dinnie ecoando no outro lado da porta. Não me detive mais nenhum segundo e a abri, recebendo o corpo de Dinnie quase desacordado.

O movimento foi tão súbito que quase me desequilibrou. Eu apenas abri a porta e a recebi por cima de mim num baque. O corpo de Dinnie estava tão machucado que me impressionei por ela ter conseguido falar.

A peguei no colo sentindo como ela era leve e como ela estava gelada. Fechei a porta com o pé e a levei depressa para o seu quarto. A essa altura ela já estava desmaiada.

Seu rosto, tão bonito, tinha o lábio inferior ferido e alguns cortes na bochecha direita, como se ela tivesse caído só de um lado contra o chão duro. Seus braços tinham algumas esfoliações, assim como as suas pernas. Mas o que me chamava mais a atenção ( tirando, claro, o fato dela ter vindo sozinha para casa desse jeito) era o corte raso em seu pescoço. Claro que isso foi as partes que eu classifiquei como importantes. Tinha algumas partes do corpo dela que estavam roxas e inchadas.

A coloquei na cama, mas não vi nenhum movimento partindo dela. Comecei a me desesperar. Vampiros tinham pulsação? Seus corações batiam? Como eu iria saber se ela estava bem ou não?

Se ela estava “viva” ou não?

Então um ideia me ocorreu ( na verdade, a única que me ocorreu naquele momento) e eu corri em direção a cozinha. Peguei o papel que estava escrito com uma caligrafia elegante “Jane”. Digitei o número o mais rápido que pude no meu celular e esperei chamar.

Um toque.... ( Vamos lá, atende) Dois toques.... (Por favor, atende)

“Alô”, uma voz aguda atendeu.

“Alô. Jane?”, perguntei percorrendo o caminho de volta para o quarto de Dinnie.

“Sim. Quem está falando?”, Jane perguntou um pouco desconfiada pela voz nova.

“Daniel Gonzales”, adentrei o quarto e puxei uma cadeira, me sentando em frente ao corpo de Dinnie. Felizmente vi seu peito subindo e descendo em uma respiração profunda. Suspirei deixando visível o meu alívio.

“Oh, senhor Gonzales. A Senhora me falou sobre você.”, senti pela sua voz um sorriso. “Quer que eu vá buscá-lo agora? Acho que não seria uma boa ideia ir embora a essa hora, devido a umas certas situações presentes no mundo vampírico , se você me entende”, ela riu. “Mas se você quiser, posso passar ai agora e...”

“Não, não.”, eu disse apressado a interrompendo. “Não irei embora agora, só preciso de um pequeno favor”, torci meus dedos para que desse certo.

“Claro. A Senhora Ray disse para que eu fizesse tudo o que o senhor quisesse”, senti novamente aquele sorriso só que um pouco mais maléfico, se vocês me entendem....

“Que bom. Luanne está por perto?”, fui direto ao assunto e senti seu sorriso se diluindo para uma careta enquanto respondia.

“Sim. Quer falar com ela?”, ela deu bastante ênfase para aquela última frase. Meu Deus, o que Dinnie havia arrumado para mim? Uma vampira que curtia um humano?

“Sim, se não for incomodo.”, olhei para o corpo desacordado de Dinnie e antes que pudesse me deter, me levantei e me sentei ao seu lado, colocando sua cabeça em meu colo e tirando alguns fios de cabelo do seu rosto. Como ela era linda, mesmo por baixo daqueles machucados. E como eu ansiava para vê-la sorrindo de novo.

“Incomodo nenhum, mas eu tenho certeza que posso satisfazê-lo mais do que Luanne, sabe? Mas, já que você pediu por ela... Só um momento.”, ela disse e a linha ficou muda. Mas as palavras pareciam um nada para mim, eu estava encarando a criatura mais linda do mundo bem na minha frente.

Balancei a cabeça rápido. O que eu estava pensando? Ou melhor, o que eu estava fazendo? Meu trabalho, como caçador de vampiros, era matá-los e não salvá-los. Mas tinha algo nela, que não sei, era diferente.

E, assim como eu ansiava por vê-la sorrir de novo, ansiava por protegê-la, abraçá-la junto a mim... beijá-la. Todos os meus pensamentos foram jogados para o lado quando ouvi a voz de alegre de Luanne.

“Hei, Daniel. Algum problema?”, ela disse irônica. Eu odiava acabar com a alegria alheia, mas nesse caso era preciso.

“Sim, mas não comigo. É Dinnie”, disse já indo direto ao assunto.

“O que aconteceu?”, seu tom alegre foi brutalmente substituído por uma preocupação quase palpável. E antes que eu pronunciasse mais alguma palavra, a escutei afastando o fone e gritando “Noah, veia aqui agora. Temos um problema com a Senhora.” , então sua atenção voltou para mim. “Conte.”

“Ela chegou em casa totalmente machucada. Está aqui desmaiada no quarto. Acho que foi atacada por aquele maníaco”, eu disse o mais rápido que pude. Ainda acariciava o cabelo e rosto de Dinnie enquanto ela dormia tranquila, ou melhor, exausta.

“Estamos indo ai. Não saia de casa por nada , me escutou”, ela disse parecendo, mais do que nunca com Dinnie. Sempre mandando em mim.

“Tudo bem.”, respondi vagamente, pensando na possibilidade de encontrar o desgraçado que fez isso ainda lá fora e talvez tivesse a oportunidade de matá-lo.

“Estou falando sério, Daniel. Vamos precisar de você. Dinnie precisa de você vivo e bem.”, ela parecia ler a minha mente, droga. “Não sai de casa”, e com esse último avisa, desligou.

Coloquei o celular ao meu lado na cama e voltei minha atenção para Dinnie. Olhei novamente aquele rosto lindo e bonito. Sua pele tom de pêssego, seus cabelos escuros, seu nariz reto e um pouco arrebitado, seus lábios finos e delicados.

“O que eu estou fazendo?”, eu disse para mim mesmo. Tinha que arrumar algo para me distrair de fazer uma besteira. Levantei devagar e catei meu celular novamente.

Andei de um lado para o outro, indeciso se ligava ou não para o meu avô. Se ligasse, com certeza ele iria pirar ao saber aonde eu estava e o que estava fazendo. Optei por apenas mandar uma mensagem de texto.

Avô,

Estou bem, não se preocupe.

Aconteceu um imprevisto, então

não irei dormir em casa,de novo.

Quando chegar em casa,

conversamos melhor.

Te amo,

Daniel

Mandei a mensagem um pouco ansioso coma resposta e com a demora de Luanne e Noah. Será que eles foram pegos também? Para me distrair, tirei os sapatos de Dinnie, com cuidado para não acordá-la. Então a encarei de corpo inteiro.

Aquele vestido estava me fazendo ter pensamentos não muito comportados. Me aproximei, lutando comigo contra o desejo de retirar o vestido e lhe vestir com algo mais confortável.

Me arrastei pela cama, apenas parando quando cheguei a pouco centímetros de seu belo e machucado rosto. Eu estava de um jeito que se ela acordasse se veria presa entre o meus braços e pernas.

Não sabia exatamente o que estava fazendo, só me dei conta quando meus lábios encostaram nos de Dinnie do forma delicada. Foi breve, mas fez com que meu corpo todo se arrepiasse, e eu me afastasse quase que imediatamente.

Queria me arrastar para a parede mais distante por todo o tempo que Luanne e Noah demorasse, mas não conseguia ficar longe dela por muito tempo. Por isso voltei a me sentar ao lado dela, colocando sua cabeça no meu colo, enquanto acariciava seus cabelos negros e tocava em seu rosto.

Tudo ficou em silêncio, então, quando meu celular vibrou e no visor eu vi escrito “nova mensagem”. Apertei ler e vi que meu avô havia respondido e só pela breve resposta já sabia que estava ferrado.

Conversaremos.

Droga! Ele deveria estar fulo comigo. Saí de casa faz dois dias e do nada. Como eu esperava que ele reagisse. Com beijos e abraços obviamente não.

Um movimento embaixo de mim, me chamou a atenção. Dinnie se remexeu um pouco , então gemeu e tentou abrir os olhos. Fiquei tenso quase que instantaneamente. Será que ela sentiu quando eu a beijei? E se sentiu, o que ela diria?

Dinnie mirou os olhos violetas semi abertos em mim, então colocou sua mão na cabeça, gemendo de novo. Com a voz fraca perguntou:

“Onde eu estou?”

“Em casa, Dinnie”, notei que era a primeira vez que eu chamava pelo nome na sua frente. E se a situação fosse melhor, com certeza teria me surpreendido por ela ter me chamado de Daniel na porta. “O que aconteceu?”, perguntei um pouco aflito e um pouco sério, mais aflito. Ela demorou um pouco para responder, mas o fez.

“Ele me atacou.”, ela fechou os olhos e eu sabia que se eu não estivesse ali, ela choraria. Também sabia de quem estava falando, mas precisava ouvir as palavras saindo de sua boca.

“Quem te pegou, Dinnie?”, perguntei , agora respirando com uma certa dificuldade. Ela abriu os olhos já marejados e deixou que uma lágrima escapasse pelo canto de seu lindo olho. Antes que respondesse, levantou a mão trêmula em direção ao rosto e retirou as lentes de contato, com uma certa habilidade a essa altura da situação. Então me vi perdido, em seus olhos vermelhos e a vontade insaciável de beijá-la voltou com toda a força, mas, dessa vez, consegui contê-la.

“Quem te pegou, Dinnie?”, perguntei mais uma vez vendo em seu silêncio que ela não responderia. Dinnie me encarou novamente e suspirou.

“ Vampiros assassinos.”


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