Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 5
Dinnie Ray




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Capítulo 5 – Dinnie Ray

Eu estava em meu escritório enterrada até o pescoço de papelada, mas, mesmo minhas mãos e meus olhos estando ali, minha mente não estava.

Hoje de dia tive a péssima ideia de ir a casa de Barão para ver Daniel, mas não esperava encontrá-lo. Ou melhor, ele me encontrar. Mostrar lhe as minhas presas não tinha sido a minha melhor atitude, mas era a única coisa que eu faria se fosse seguida de verdade.

E as perguntas dele? De onde vieram? Barão havia me garantido que não contara nada a ele, até mesmo tinha abalado um pouco o ciclo de confiança deles. E tudo isso era culpa minha. Os erros do passado estavam se voltando para mim. E olhar para Daniel não me fez melhorar nada. Vê-lo me acusando de usá-lo , melhorava menos ainda.

Todos os meus pensamentos foram interrompidos, por uma batida na porta e sem esperar uma resposta, Luke entrou. Ele parecia um pouco apreensivo e logo atrás dele vinha outro vampiro. Mas esse outro vampiro não era da minha área.

Ele era alto e bastante sério. Deveria ter uns trinta anos quando foi transformado. Ele e Luke fizeram uma rápida mesura. O outro vampiro se aproximou com cuidado de mim, enquanto eu colocava os papeis de lado para poder encará-lo e ver a sua tatuagem. Era um leão, marca do Senhor do Oeste, Dorian.

Ele me entregou um envelope e esperou me encarando. Eu o peguei sem dizer nada e o abri. Era uma mensagem real e pedia resposta, mas isso não justificava a presença de Luke, mesmo que silenciosa , na minha sala. Comecei a ler porque estava bastante curiosa. Era raro o contato entre os Senhores de outras área e quando o tinha , sempre era algo bem ruim.

Querida Dinnie Ray,

Espero que a senhora já tenha sido informada dos acontecimentos de ontem , mas se não foi, fique ciente rápido porque teremos uma reunião dos Senhores amanhã. Será de dia devido as circunstancias e eu sei , que mesmo reclamando, você respeitará seus deveres como Senhora Sulista.

A reunião será exatamente ao meio dia, com o sol a pino, em minha residência. Tenho certeza que você honrara com seus compromisso, mesmo sabendo da presença de Doug e Daiene, os outros Senhores de Seattle. Teremos que deixar as nossas diferenças de lado por amor a nossa raça.

Josh, o vampiro que lhe entregou a carta, a acompanhará até aqui. Sei que você tratará ele bem e o trará bem mais feliz do que ele saiu daqui. Também sei que honrara com seus compromissos, mesmo que eles sejam chato.

Te espero.

Senhor Dorian Atriano.

Levantei meu olhar para Josh, que me encarava ou melhor, encarava por dentro do meu corpete. Recostei na cadeira acabando com a sua diversão e me colocando me trabalho. Droga de vampiros tarados!

Passei a carta de Dorian de uma mãos a outra, enquanto aqueles dois me observavam ansiosos pela minha resposta ou algo mais. Vi o selo da carta e rolei os olhos. Um leão amarelo, como representava a área dele.

Cada Senhor tinha seu próprio animal e cor que representava a área onde reinava. E cada vampiro tinha uma tatuagem com o animal representando as áreas , assim como a cor dos olhos dos Senhores mudavam conforme a área que eles reinavam.

Daiene tinha uma cobra verde em seu pescoço e seus olhos eram verdes, como representação do Norte. Doug tinha olhos azuis e em seu pescoço tinha um lobo azul , representando a área Leste. Dorian tinha uma tatuagem de um leão amarelo e seus olhos eram dourados , representação da área Oeste e eu tinha meus olhos vermelho e minha tatuagem de uma raposa negra com a ponta do rabo vermelha.

E assim como as tatuagens, temos selos únicos que usamos para selar acordos ou cartas de reuniões chatas. Peguei a caneta de ponta fina e abri minha gaveta enquanto pegava folhas elegantes e muito pouco usadas. Por mim, responderia apenas um simples Tô Dentro. Mas como era para a realeza, tinha que ser complicada e embromar bastaste para dar a mesma resposta.

Suspirei enquanto, pensava o que escrevia e deixei que a caneta deslizassem e escrevesse as palavras de agradecimento que surgiam em minha cabeça.

Querido Dorian,

É claro que honrarei com meus compromissos como Senhora Sulista, mesmo o fato da reunião ser de dia me incomodar, mas devido aos acontecimentos que me foram informados , terei que lhe dar razão.

Estou ansiosa para vê-lo e a Patricie. Pena que não poderei dizer o mesmo sobre encontrar Doug e Daiene, mas como o Senhor mesmo disse, diferença a parte, temos que amar a nossa raça.

Estou, também, lisonjeada por ter me mandado uma escolta, mesmo não precisando. Tenho bastantes vampiros comigo e espero continuar assim por bastante tempo.

Senhora Dinnie Ray Dallas.

Terminei a curta carta e a coloquei em um envelope tão elegante quanto o de Dorian e finalmente o fechei com o Selo Sulista. Uma raposa vermelha.

Olhei para os dois vampiros a minha frente e resolvi entregar a resposta para Josh, sabendo que ele poderia entrar novamente se quisesse. Além disse, tinha outros assuntos para resolver com Luke.

“Sente-se”, mandei assim que a porta se fechou. Luke, mesmo com o seu usual olhar esperto, ainda parecia assustado com algo. Ou alguém. “O que aconteceu recentemente para ocorrer essa reunião urgente?”

Luke se ajeitou na cadeira , se encolhendo um pouco e eu achei meio que divertido. Levantei e comecei a andar de um lado para o outro na sala. O que quer que tenha acontecido , era bastante grave para ter essa reunião. Será que era algo com Daniel?

Não! Ele morava na área Leste. Se ocorresse algum problema com ele, Doug que iria me mandar essa carta, ou melhor, viria pessoalmente me apontar o dedo. Escutei Luke engolindo a seco, mas não se atrever a olhar para trás.

“Vampiros foram mortos , Senhora.”, ele respondeu , finalmente. E antes que eu perguntasse : e ai?, ele emendou. “De todas as áreas foram mortos. Cinco do leste e do Oeste, três do Norte e dois daqui.”

Parei de andar um pouco e o encarei por cima do ombro. Esse era o tal motivo importante que eu estava falando. Vampiros serem mortos não era raro, mas nessa quantidade e em um dia , sim.

“Não poderiam ser os caçadores?”, eu forcei a pergunta a sair. A misera possibilidade de Daniel estar envolvido nisso, faria toda Seattle entrar em guerra e eu não aguentava mais guerras, depois da última, onde eu , consequentemente , me tornei a Senhora Sulista.

“Não”, Luke balançou a cabeça e passou a mão pelos cabelos. Eu abaixei a cabeça e recomecei a andar olhando para os meus pés, pensativa e esperando que ele prosseguisse. “Os corpos foram encontrado com o pescoço quebrado e marcas de mordidas.”

Bem, a não ser que os caçadores tenham caninos enormes e super força, com certeza eram vampiros. Soltei um suspiro discreto e continuei meu raciocínio. Eu tinha sido a menos afetada, isso era um bônus comparado com o prejuízo que os outros senhores receberam. Mas também dependia de quem eu havia perdido.

“Quem foram os nossos dois mortos?”, perguntei , voltando a me sentar e eu vi Luke suando frio e soltando um suspiro de alívio. Nenhum vampiro gostava de ser observado pelas costas, muito menos pela Senhora local, menos ainda quando está dando uma notícia ruim.

“Abigail e Mikael”, ele disse e eu congelei. Tudo que minha mente gritava era: não, não Abigail e Mikael. Não eles.

Todos sabiam como eu me sentia em relações a eles e a Luanne e Noah. Eles eram como minhas peças principais de um jogo, mas agora estavam mortos. E a culpa era minha.

Se eu tivesse dando mais atenção ao problema de Abigail e não ficasse me preocupando com a minha vida amarga, ela estaria viva. E Mikael. Luanne deveria estar arrasada. Mikael era um tipo de namorado dela e eles tinham uma ligação que eu invejava.

Na verdade, a maioria dos vampiros ali invejavam aqueles quatro. Qualquer teria motivos para matá-los. Qualquer um queria cobiçar-lhe o lugar. Isso era fato. Isso vinha com o tempo, mesmo para a pequena e inexperiente Abigail veio.

“Aonde. Foram. Achados. Os. Corpos?”, perguntei separando cada palavras, conforme a minha raiva ia crescendo. Não me conformava com isso. Não Mikael, não Abigail.

“Em um túnel , perto da divisa, Senhora.”, ele disse. Deve ter sido o lugar onde eles deixaram o corpo.

“Tinha mais alguma coisa lá?”, perguntei sem deixar que minha preocupação , e minha tristeza, aparecessem.

“Não. Apenas os corpos deles dois.”, ele disse firmemente e me encarou. Fechei meus olhos e recostei na cadeira. Passei a mãos pelos meus olhos e os pressionei. Talvez se eu estivesse sonhando e aquilo nunca tivesse acontecido. Não vi Daniel, Abigail e Mikael não foram mortos e eu não tinha uma reunião idiota para ir amanhã.

“Vá”, eu disse sem olhar para Luke novamente e a única prova que ele tinha ido , era o barulho da porta se fechando.

Foi ai que eu deixei as lágrimas descerem.

Que droga de vida era aquela. Um matando o outro. Amor a mesma raça droga nenhuma. Era cruel. Era duro. E droga, eu estava chorando. Nunca tinha chorado por uma morte antes, mas essa era dura demais para suportar.

Mikael estava aqui desde que eu entrei para o cargo de Senhora Sulista. E Abigail era como uma irmã mais nova para mim e mesmo eu nunca tendo demonstrado, eles eram a minha família.

Quando ouvi uma batida na porta, tive apenas poucos segundos para me recompor e limpar as minhas lágrimas. Luanne espiou a sala e entrou se curvando, mas ela estava sem aquele sorriso ou o olhar preocupado. Estava triste , melhor magoada.

“Sinto muito por Mikael e Abigail, Luanne.”, eu disse e tão rápido que nem me dei conta, a abracei. Por um momento ela ficou em choque, mas depois se deixou descansar em meu ombro e chorar como nunca havia visto um vampiro chorar antes. Ela se recuperou rápido e se afastou.

“Senhora, tem uma pessoa que quer vê-la.”, ela sussurrou e levantou uma sobrancelha para mim. Não sei como, mas algo em seus olhos azuis me disse que era a única pessoa que não queria ver agora.

“É ele, não é?”, perguntei mesmo sabendo a resposta e a vi assentindo. Suspirei um pouco e voltei a me jogar na cadeira. “Mande-o entrar e Luanne...”, disse quando ela estava começando a se retirar. Ela me encarou com o velho sorriso, só que forçado. “Tire uma folga amanhã e fique o tempo que quiser fora.”

“Obrigada, Senhora, mas eu acho que não poderia ficar longe de vocês, ainda mais nessa momento tão delicado.” , e com isso ela saiu da sala. Só tive tempo de me ajeitar na cadeira , quando ele entrou.

Seu olhar era duro enquanto estudava minha sala. Ele era a única pessoa que entrava e não me fazia uma mesura e eu agradecia por isso. Vi meu colar em seu pescoço por cima de sua camisa preta. Olhei duro através dele, para os guardas parados na porta e eles se retiraram.

Daniel finalmente focalizou seu olharem mim enquanto se sentava em frente a mim e eu me senti meio que aquecida com o seu olhar. Me trazia boas lembranças de épocas distantes. Épocas que ele nunca se lembraria.

“O que você quer?”, perguntei puxando a pilha de papéis de volta na minha direção, uma desculpa para evitar o seu olhar. Ouve um silêncio, o mesmo de de dia, até que ele limpou a garganta e falou.

“Quero saber o que quis dizer com aquela indireta hoje de dia.”, ele disse duro , então eu levantei meus olhos para encará-lo melhor. Um erro, mas eu não conseguia ficar muito tempo sem vê-lo. “Você, você estava chorando?”

Ele estendeu a mão para tocar o meu rosto, mas eu o virei e ele recolheu a mão , ciente do que estava prestes a fazer. Acho que ele não achava possível ver um vampiro chorando, mas ele já tinha visto. A muito tempo atrás , mas já tinha visto. Essa lembrança me deu mais vontade de chorar ainda. Droga!

“Alguns problemas.”, eu disse enquanto fechava meus olhos com força para evitar as lágrimas. “Não acho boa ideia você estar por aqui a essa hora com um vampiro maníaco a solta.”

“Vampiro maníaco?”, ele perguntou e eu lhe dei um breve resumo do que tinha acontecido. Daniel apertou os olhos com força quando eu contei de Abigail, então respirou fundo. Todos amavam aquela menina. Mesmo Daniel que mal a conhecia.

“O que vamos fazer?”, ele perguntou. Eu levantei minha sobrancelha e segurei minha vontade de rir. Ele queria se meter em assuntos que não lhe faziam respeito. Não existia um nós , mas sim, um eu.

“Eu , irei resolver isso amanhã. Você irá para casa. Ou melhor”, eu disse abrindo a minha gaveta pela segunda vez essa noite e tirando duas chaves de lá. Uma tinha o desenho de uma raposa uivando a lua, a outra era preta e simples. “Vou ser boa com você, algo que não sou todos os dias.”, Daniel me olhou desconfiado, mas assentiu. Eu levantei as duas chaves em sua direção. “Você vai ficar, ou em minha casa,”, eu balancei a chave preta. “ou no quartel general essa noite.”, balancei a chave que tinha o desenho de uma raposa. “Escolha.”

“Não, nem pensar.”, ele disse se levantando. Será que ele não via que eu queria protegê-lo e não aguentaria perder mais ninguém hoje?

“Não estou perguntando se você quer, estou falando que você vai. Agora, escolha.”

Ele se sentou de novo olhando uma chave a outra. Pensando: Ou ficar sob o mesmo teto que eu ou em uma casa cheia de vampiros sádico. É claro que ele escolheu a primeira opção e pegou a chave negra.

“Boa escolha. Agora saia daqui.”, fiz um sinal de desinteresse com a mão. E enquanto ele se levantava , eu gritei. “Noah.”.

Noah apareceu no mesmo instante, mas seu olhar não deixava o de Daniel , desconfiado. Era óbvio que eles não se gostavam, mas teria que mudar agora.

“Quero que leve Daniel para a minha casa e amanhã tire uma folga pelo tempo que quiser.”, eu disse e passei a mão pelo meu cabelo, os encarando enquanto Noah arregalava seus olhos para mim.

“Obrigado pela folga, Senhora, mas não acho boa ideia leva-lo a sua casa.”, mas mesmo assim ele foi para a porta e a deixou para que Daniel passasse, não sem antes me dar um olhar desconfiado.

Noah era assim. Sempre dava as suas opiniões, mas nunca era contra. Por isso, eu sempre o mantinha por perto. E , além disso, ele tinha um humor tão negro quanto o meu. O que eu gostava.

Assim que aqueles dois saíram da minha sala, me estiquei na cadeira e suspirei. Tantos problemas e nenhuma solução e ainda tinha essa. Pelo menos , um problema estava resolvido.

O maior deles, ainda não.

E eu não estava falando das mortes.


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