Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 15
Dinnie Ray


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, mas minha vida está uma loucura. Acreditem se quiser, mas estou tendo aulas aos sábados. Que injustiça. Mas, aqui está mais um capítulo de Senhora Sulista e esse tem muitas discussões e revelações. Sexta que vem tem mais um capítulo no pontode vista de Daniel, mas hoje o foco é na alegre Luanne, o rabugento Noah e na "doce" Dinnie Ray. Enjoy :)



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Capítulo 15 – Dinnie Ray

Senhora Dinnie Ray Dallas,

A Senhora e mais três convidados de sua preferencia estão sendo convidados para o baile de comemoração para o nascimento de Senhorita Laura Atriano, filha do Senhor Dorian e Senhora Patricie Atriano.

O baile será na véspera do Natal ás nove horas do horário vampírico. Aguardamos a sua presença e de seus convidados. Traje a rigos será exigido. O local será o salão real do Oeste, pertencente ao Senhor Dorian.

Obrigado pela atenção

A primeira ideia que eu tive quando terminei de ler o convite foi de rasgá-lo, mas, no momento em que iria começar a amassá-lo, Luanne o tomou de minha mão com um olhar censurador.

“O que você pensa que está fazendo?”, eu perguntei, frustada.

“Impedindo que você estrague a única oportunidade de se divertir”, ela respondeu sorrindo.

Bufei e recostei na cadeira. Diversão? Como eu poderia ter diversão nesse ponto? Já faziam dois dias que Daniel tinha voltado para a casa de seu avô e que eu não tinha notícias suas. Claramente, a desculpa da briga funcionou.

Me remexi na cadeira, inquieta. Todos os dias, eu esperava inutilmente que Daniel atravessasse aquela porta e exigisse falar comigo. Mas o que ele diria? Ou melhor, o que eu diria?

Luanne passava o convite de uma mão para a outra, evitando o meu olhar. Ela parecia um pouco estranha hoje, como se escondesse algo, mas eu resolvi ignorar. Ela parecia olhar mais para a porta do que eu. Com certeza deve ser algum problema com um dos seus cachorros. Noah, como sempre, permanecia encostado na parede apenas observando.

Ele gostava desses bailes tanto quanto eu. Quer dizer, nada. Pena que eu não podia falar a mesma coisa de Luanne. Ela ansiava por um baile. Roupas chiques e coisas do tipo que lembravam a nossa época. Porque mesmo que nós, vampiros, ainda gostássemos da tecnologia, ela anão nos atingiu totalmente fazendo a gente se livrar de velhos hábitos.

Como bailes.

“Vamos, Senhora!”, Luanne insistiu quase saltitando de tanto animo. Ela sabia que se eu fosse, ela iria, mas se eu não fosse, ela não iria. Democracia. E tinha como resistir aqueles olhos azuis?

“Dinnie, por favor”, Noah quase me implorou. Ele não queria ir naquele baile tanto quanto eu, mas eu quase era obrigada a ir e lamentava.

Com um suspiro eu disse: “Me desculpe, Noah”, me virei para Luanne que estava pulando de antecipação. Um sorriso brincou em meus lábios. “Nós vamos, Luanne”

Ela soltou um grito tão melodiosos, então puxou Noah pela mão e o fez bailar pela minha sala com ela. Pela cara de Noah ele estava gostando daquilo, mas não da ideia de ter que fazê-lo em público.

Parecendo dar-se conta do que estava fazendo, Luanne soltou Noah e corou, voltando a se virar para mim. “E o quarto convite?”, ela perguntou enquanto Noah voltou a sua pose de soldado.

Considerei por um momento dar o convite a Daniel, mas era bem capaz dele rasgá-lo na minha frente. Talvez algum dos vampiros daqui pudesse ir. Vampiro era o que não faltava.

“Chame Kayla ou Filipe.”, decidi por fim. “Tenho certeza que qualquer um dos dois adoraria ir a um baile real”.

Por um breve momento, achei ter visto uma sombra de alívio nos olhos de Luanne. Troquei um olhar rápido com Noah e vi que ele tinha notado junto comigo. Essa mulher estava tão estranha. Mas não me dei o luxo de ficar e descobrir o que estava de errado.

Assim que o meu turno acabou, juntei minhas coisas e fui para casa. Se esquecer que fui escoltada por dois vampiros que eu realmente não sabia o nome e Noah. Eles me deixaram na porta do meu prédio (mais especificamente, na porta do elevador) e foram embora com uma rápida reverência.

Tudo o que eu queria era chegar em casa, me dopa de sangue e dormir. Claro que isso não seria possível. Nunca eu teria um momento de paz.

Isso ficou cada vez mais provável quando eu acendi a luz da minha sala. Estava tão longe com meus pensamentos sobre o baile que mal me dei conta do cheiro doce que encheu o ar do meu apartamento.

O cheiro de Daniel.

Porque, bem, ele estava lá.

E mais fulo do que já tinha visto em toda a minha vida.

Quando eu entrei, ele estava sentado no sofá que ficava encostado já parede oposta a porta. Com toda aquela confusão de compulsão e coisa do tipo, tinha esquecido de pegar a minha chave de volta. Assim que coloquei meus pés dentro de casa e fechei a porta para encará-lo, ele se levantou.

Por um momento encarando sua expressão de raiva, me esforcei para deixar meu rosto o mais frio possível. Tudo para manter a faixada da nossa “briga”. Mas, quando eu iria abrir minha boca para perguntar o que ele estava fazendo ali, eu entendi. Tinha algo em seus olhos que me chamavam a atenção (tinha que começar a prestar mais a atenção em seus olhos).

Mas, dessa vez eu entendi de primeira. E o que eu vi fez minha faixada de fria se transformar em surpresa. Ali nos olhos de Daniel não tinha apenas raiva, mas, também entendimento.

Ele sabia de tudo.

E quando eu digo TUDO é tudo mesmo.

“Como você...”, deixei minha pergunta morrer sem mesmo ter terminado. A resposta veio quase que no mesmo instante. “Luanne”

Por isso ela ficou nervosa o dia todo. Não era por causa dos seus problemas pessoais, mas sim pelos meus. Ela contou a Daniel tudo o que ele sabia. Droga!

“Me conte”, ele exigiu. Endureci no meu lugar e me pressionei contra a porta já fechada. Não poderia culpar Luanne por ter contado. Acho que até eu mesma iria falar se estivesse em seu lugar.

“Daniel...”, eu comecei a dizer, mas me calei instantaneamente. O jeito que ele me olhava dizia claramente que ele estava pronto para esquecer tudo o que aconteceu entre nós e me matar, assim como faria a qualquer outro vampiro.

Agora eu tinha duas opções óbvias: ou contava a verdade a ele, ou saía correndo e o deixava ficar falando sozinho, tendo como consequência, o fato de todo dia poder encontrá-lo e ser encurralada de novo.

Diante de todo esse fato, decidi pela primeira opção. Fosse o que Deus quisesse. Se Daniel fosse me odiar, esse era o caminho dele. Até seria melhor. Eu não teria mais que me preocupar com o que ele estava fazendo (ou se estava pensando em mim). Mas isso me trouxe uma dor no peito quase palpável.

Tinha sido difícil nesses últimos dias, olhar em seus olhos e ter que esconder um segredo de mais de vinte anos. Mas era mais difícil olhar em seus olhos e ver que ele já o conhecia. E pior, me odiava por não contado.

Nós ficamos nos encarando por um bom tempo até que Daniel balançou a cabeça em minha direção e começou a andar de um lado para o outro pela pequena sala, sempre encarando os seus pés.

“Daniel...”, tentei de novo. Parecia que alguma parte egoísta dentro de mim gostava de falar o seu nome, porque sempre que eu ia adicionar algo mais, minha garganta secava.

Ao escutar seu nome, ele levantou seu olhar para mim. E, por um segundo, pude ver algo em seu rosto sem ser raiva. Ele parecia desolado, como se tudo o que ele havia acreditado até hoje fosse mentira. Claro, que esse era exatamente o caso. Mas sumiu tão rápido quanto chegou e lá veio aquela raiva inicial novamente.

“Apenas conte. O que aconteceu a vinte anos atrás?”, ele perguntou. Seu rosto estava tão diferente que eu quase não o reconhecia. “O que aconteceu com minha mãe? O que aconteceu entre meu pai e você? O que aconteceu entre eu e você?”

“Daniel..”, tentei pela última vez, mas eu vi que era tarde. Uma parte de mim dizia que essa era a hora da verdade, outra não parava de me lembrar que a porta estava bem atrás de mim.

Antes que eu dissesse algo, ele voltou a andar pela sala. Ele queria pensar, eu percebi. E evitar os meus olhos também. Mas, por que? Medo de eu usar compulsão de novo (algo que eu sinceramente já havia considerado) ou de eu ver algo que ele não queria. O que é que fosse, ele estava quase que me evitando, o que era meio irônico, na minha situação.

Suspirei enquanto tomava forças para me lembrar da época sombria que ainda rondava a minha vida. Fechei meus olhos, como se isso fizesse a memória vir com mais força. Como se eu precisasse... Ela já fazia parte de mim, do meu eu, assim como as minhas presas.

“A primeira vez que eu apaguei a sua memória foi quando você tinha um ano, mas foi por um motivo nobre.”, isso o fez levantar o olhar na minha direção, claramente sarcástico. “Você tinha presenciado a morte de sua mãe.”

O vi tremer e temi em prossegui a história. “Eu não queria que você crescesse com esse trauma e nem com uma memória ruim dos vampiros, mas vejo que seu avô cuidou muito bem dessa parte da sua memória.

“Me retirar de sua vida e de sua mente foi um jeito tanto de te proteger quanto me proteger. Eu queria ter te criado, cada parte do meu corpo ansiava por isso, mas eu não podia. E eu sabia melhor disso do que qualquer um e me doeu muito. Acho que a dor de ter perdido o seu pai não se comparou com ador que senti quando tive que me separar de você. Me isolei do mundo para não me sentir tentada a te buscar.

“Estava tudo indo bem, até o dia que eu te encontrei, vinte anos depois. Um homem feito, tão diferente do menino que eu tinha ajudado a criar, mas, ao mesmo tempo, tão igual. Os mesmos olhos cinzas emotivos, os mesmo cabelos escuros bagunçados, mas com uma atitude firme. Então, tomei uma decisão. Tinha que te manter por perto mesmo que isso me custasse o restante da minha sanidade”, o tempo todo que eu contava a história, mantive meus olhos em minhas unhas longas e negras, mas pudia sentir o olhar de Daniel em mim.

“Por isso te dei o colar da proteção, de novo, porque, não sei se você se lembra, mas eu tinha de dado um assim que você nasceu. Minha vida era você. Minha vida é você.”,

“Quando eu te encontrei no leste , o que você realmente estava fazendo?”, ele perguntou. Aquela pergunta me assustou, mesmo eu sabendo que logo aquele assunto viria a tona, assim como todos os outros. Mas diferentes dos outros assuntos, para aquele, eu estava preparada.

“Tinha ido falar com o seu avô”, respondi sem levantar o meu olhar. “Na verdade, dar uma bronca nele por ter te deixado ir ao Sul depois de ter me prometido nunca, sequer tocar em meu nome perto de você”.

Fechei meus olhos e esperei Daniel absorver a história. Óbvio que isso não seria rápido, mas tinha uma esperança doentia para que ele saísse logo daqui e uma parte (mesmo sendo pequena) de mim dizia que teria sido melhor, se eu nunca tivesse entrado naquela sala onde nos reencontramos para começo de conversa. Isso, com certeza teria facilitado totalmente a minha vida.

Tão rápido que eu quase não percebi, Daniel estava perto de mim. E quando digo “perto”, quero dizer que seu rosto estava a pouco centímetros do meu e cada um dos seus braços estava perto do meu rosto, sem realmente me tocar. Abri meus olhos instantaneamente e arfei de surpresa. Não por causa da nossa proximidade (o que, de fato me afetava internamente), mas por causa da dor que eu via em seus olhos.

Era como eu espelho meu na época que me separei dele. Na época em que perdi o seu pai. Na época em que me senti culpada pela morte de sua mãe. Mas dentro dessa dor estava aquela raiva, que até oscilava, mas nunca abandonavam o cinza de seu olhar.

“Por que você nunca me contou?”, ele quase rosnou. Seu hálito quente contra o meu rosto me fazia tremer. “Por que você apagou minha memória quando fizemos amor? Por que você não me criou?”, nessa última pergunta, notei uma nota de amargura em sua voz.

Era como se ele imaginasse nossos momentos juntos, se eu o tivesse criado. Pra mim também era fácil fechar os olhos e imaginar, fazia isso quase palpável, mas uma coisa que eu não podia fazer, mesmo sendo a Senhora Sulista, era voltar no tempo. Mas podia respondê-lo com a verdade. E foi isso que eu fiz.

“Eu tive medo, tá?”, eu gritei, mesmo estando perto dele. Meus olhos se encheram de lágrimas e dessa vez não lutei para impedí-las. Deixei que rolassem pelo meus rosto como débito das vezes que as segurei na frente de Daniel ou qualquer outra pessoa.

“Medo de quê, droga?!”, ele quase gritou de volta. Se não fosse algo realmente doido (além de ser doentio), eu desejaria que Daniel me abraçasse ali mesmo e me possuísse, me fizesse esquecer de tudo o que eu passei. Depois que me segurasse e me dissesse que estava tudo bem e que me perdoava. Mas era óbvio que ele não faria isso. Não naquele momento.

“Medo de te ver crescer. Medo de outros vampiros te atacarem por inveja de você por ser meu protegido.”, acalmei minha voz e terminei em quase um murmuro. “Mas, principalmente, tinha medo de te amar mais do que amava seu pai. Achava injusto me livrar da única coisa boa que ele tinha me deixado que foi esse amor, tão lindo e tão puro em meu peito.”

Nós, novamente ficamos em silêncio. Mesmo não olhando em seus olhos, podia sentí-lo me olhando. Mas eu não precisava olhá-lo para descobrir suas emoções. Pudia sentí-las no ar, quase pegar com as mãos. Ele estava claramente atordoado com tanta informação.

Eu tinha passado pela mesma coisa quando fui transformada em vampira. Fiquei atordoada. Não tinha ninguém para me explicar o que eu podia ou não fazer. Apenas umas estúpidas cartas anônimas. E com toda a minha mudança, fui obrigada a deixar minha família e os que eu amava para trás. Precisava protegê-los.

De mim.

Mas agora, me vendo presa naquela situação comecei a pensar se fugir era a melhor solução. Mas, parecia que sempre que tinha algo que amava, tinha que deixá-la ir. Não conseguia manter nada. Seja por descuido ou medo. Nunca pudia ter o que queria. Paz.

Mas, principalmente, amor.

Daniel, sem olhar realmente para mim, me empurrou delicadamente para o lado, de forma que pudesse deixar a porta a vista e mais acessível. Só ai eu levantei meu olhar para ele.

Nossos olharem ficaram presos um no outro e, sem o auxílio das palavras, eu pudia ouvir o que ele dizia. Um tempo para pensar. Ele queria um tempo para pensar em tudo o que aconteceu e ouviu. Não o culpava. Se alguém me contasse metade das coisas que ele ouviu de mim hoje, eu piraria.

Ele começou a sair pela porta, mas eu o impedi segurando seu ante braço. Uma estranha sensação de dejá vu passou por mim. Isso foi exatamente a mesma coisa que ele tinha feito comigo a um tempo atrás quando meus sentimentos estavam confusos e um novo amor começou a se aflorar em meu peito. Antes que ele se largasse do meu aperto, perguntei algo que vinha me incomodando desde o início.

“Como você se lembrou? Luanne te contou, mas como você se lembrou de tudo?”.

Claramente ele se lembrava da morte de sua mãe, mas, com ele ainda era pequeno, sua mente deve ter apenas armazenado imagens e umas poucas falas. Ele não podia se lembrar em tão pouco tempo. De tudo o que Daniel tinha me dito a noite inteira, a sua última frase antes de sair foi a que mais me deixou em choque. Ele se soltou e num tom amargo respondeu:

“Uma compulsão quebra a outra” , ele bateu a porta do mesmo jeito que eu fazia.

Mas dessa vez não foi para fugir, mas sim se manter longe.

De mim.


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Notas finais do capítulo

Deixem Reviews, nem que seja para me xingarem.



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