Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Dinnie Ray


Notas iniciais do capítulo

Antes que me perguntem: Dinnie Ray é UMA VAMPIRA (MULHER)e muito mandona também, além de fria.

Mas, Enjoy!! XOXO



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Capítulo 1 – Dinnie Ray

“O que eu disse sobre se envolver com humanos?”, rosnei enquanto minhas mãos batiam com força na mesa. A mesa ameaçou desabar, mas ficou no lugar.

Encarei com raiva a pequena vampira a minha frente. Ela afundou seu rosto em suas mãos e tornou a chorar. Ela parecia ser bem nova quando foi transformada, uns 15 anos no máximo. Tentei me acalmar, lembrando que também já tive meus envolvimentos mundanos, mas isso não mudava a situação.

Rodeei a mesa e me ajoelhei ao seu lado. Ela levantou os olhos azuis escuros e me encarou assustada. Todos tinham medo de mim, isso não era novidade, mas ver o medo naquela menina mexeu um pouco comigo.

Suspirei enquanto colocava parte o cabelo negro dela atrás da orelha. Segurei-lhe a mão e fiz minha melhor cara de compreensiva.

“Conte-me o que ouve” pedi, algo que eu não fazia com muita frequência. Ela hesitou no início, mas logo me respondeu. Todos sabiam como eu ficava quando tinha que repeti as coisas duas vezes e todos evitavam ao máximo.

“Eu o conheci enquanto caçava. Ele era tão lindo”, ela se lamentou. “Eu só perdi o controle por um segundo e quando vi...”, ela não conseguiu terminar e voltou a chorar.

Eu já conhecia essa história. Você perde o controle um segundo apenas e quando vê , todos que ama estão mortos e a culpa toda é sua. Me levantei passando a mão pelos meus cabelos, pensativa. Problemas , problemas. Desde que entrei na vida de vampira só tive problemas e sempre tive que resolve-los.

Me sentei novamente em minha cadeira de couro e recostei minha cabeça. Humanos davam trabalhos demais. Eu sempre proibi o envolvimento com eles. Tanto físico como emocional. Eles que nos traziam os problemas.

Encarei a pobre e desolada vampira a minha frente e deixei que meus olhos dessem todas as mensagens de pesar que ela precisava. Eu não era muito amável , mas me esforçava.

“Onde você deixou o corpo?”, perguntei com a voz mais neutra que eu tinha no momento.

“Na divisa.”, ela respondeu um pouco nervosa.

Seattle era dividida em cinco áreas vampiras. Eu era a senhora do sul. Todos os vampiros que moravam no sul de Seattle teriam que me obedecer, querendo ou não , eles eram marcados para isso.

“Limpe a bagunça. Leve Noah e Mikael com você, mas apenas limpe a bagunça.”, eu não queria nenhum vampiro da área Leste me perturbando. “Não deixe um rastro se quer , Abigail.”

“C-claro, senhora.”, ela gaguejou um pouco, meio surpresa por eu ter lembrado o seu nome. Era um verdadeira honra, com certeza. Eu tinha vampiros demais na minha área para ter capacidade de lembrar o nome de todos.

“Vá”, eu disse e no segundo seguinte , eu já estava sozinha.

Humanos.

Não poderíamos viver sem eles, mas sempre temos problemas com eles. Me lembro vagamente da minha vida humana. Parecia que com quatro séculos e meio de existência eu teria que ter esquecido , mas eu lembrava com se tivesse sido ontem.

O escuro, a dor das presas entrando em minha pele e sugando a minha vida, me deixando ali morta e sem alma. E agora eu era uma das mais poderosas vampiras de Seattle , se não do mundo.

Ser temida as vezes era bom, mas ser colocada em primeiro plano, nem tanto. Todos os problemas que aconteciam, recorriam a mim. Se houvesse uma maneira de vivermos sem depender dos humanos, eu a abraçaria de boa vontade.

Todos os privilégios da noite são dados a mim, mas , com certeza , eu trocariam tudo isso por mais uma chance de respirar, caminhar no sol ( eu até que posso, mas mesmo assim , não é a mesma coisa de antes) e poder viver sem depender do sangue de alguém.

Se eu pudesse sentir isso apenas mais uma vez , seria grata. Abri meus olhos alarmada assim que ouvir alguém batendo em minha porta. Um vampiro com os cabelos grisalhos, sinalizando sua transformação quando ele estava na faixa dos seus 40 anos.

Gesticulei para que ele entrasse já sabendo o que viria , mais e mais problemas. Forcei um pouco minha memória para poder lembrar o seu nome. Lucas.., Luís.., Lazaro.., Luke. Era isso!

Ele se sentou na cadeira do outro lado da minha mesa e me encarou com os olhos castanhos escuros sábios e astutos, mas não sem antes de se curva em sinal de respeito ao meu título de senhora da área sul de Seattle.

Me ajeitei na cadeira e me foquei em sua expressão esperta, mas assustada. Não sei porque todos tinham medo de mim. Não que eu fosse uma representação viva do sorriso de Monalisa, mas também não era tão ruim quanto os outros senhores.

“Senhora, temos um problema.”, Luke disse e se encolheu um pouco esperando uma das minhas famosas explosões de raiva. Na última vez que eu estourei, o vampiro nunca mais ouviu ou viu ninguém.

Oh, não. Não o matei, até porque, no fundo, estamos todos mortos. Apenas o transferi para uma área mais solitária que essa. Uma no meio do deserto. Mas ninguém precisava saber exatamente aonde. Se tinham um problema, me contassem uma novidade. Queria que eles se resolvessem e me dessem um dia de folga, pelo menos.

“Quem foi morto dessa vez?”, eu disse revirando meus olhos. As vezes vida de superior era um verdadeiro saco.

“Ninguém. Não, minha senhora, muito pelo contrário.”, ele sorriu vendo que eu estava pouco ligando. “Acabamos de capturar um humano em nossas áreas.”

Humanos eram muito comum em nossas áreas. Humanos suicidas. Não que eles soubessem da nossa existência, apenas sabiam que tinham algo muito estranho em algumas partes da cidade. Ainda queria que ele me surpreendesse.

E ele consegui.

“É um caçador.”, ele gaguejou e foi ai que eu explodi.

“O que?!”, eu gritei, algo que não fazia com muita frequência. Minha mãos bateram na mesa com uma força incomparável e se antes ela tinha ameaçado cair, dessa vez ela caiu de vez. Luke se encolheu com medo que toda a minha raiva momentânea fosse direcionada a ele. E , na verdade, eu queria descontar a raiva nele , porque era o que estava mais perto.

Parei por alguns segundos e suspirei. Calma, Ray. Não é assim que você vai resolver as coisas. Tantos anos que não tínhamos que lidar com caçadores. Vinte anos sem vampiros sendo mortos brutalmente. Vinte anos de paz.

“Me leve até ele. Agora.”, eu disse bem mais calma, mas concentrada.

Luke não hesitou como Abigail. Ele sabia que eu odiava dizer as coisas duas vezes. Ele me guiou para fora do escritório em direção aos infinitos corredores.

Aqui era um tipo de “quartel general” dos vampiros sulinos. Alguns deles moravam aqui, outros tinham suas próprias casas e vidas. Eu fazia parte do segundo caso.

Tinha meu apartamento bem longe daqui, um quilômetro e meio para ser mais exata. Eu meio que renegava um pouco meu lado vampiro. A luz do dia éramos tão fracos que a menor ideia de mostrar as presas precisava de muito esforço. Não queimávamos como algumas pessoas insistiam em dizer, apenas éramos mais humanos e menos vampiros, mais vulneráveis.

Enquanto caminhávamos pelos inúmeros corredores, passamos por vários vampiros. Alguns nos observavam com medo, outros com orgulho e outros admirados por me ver pela primeira vez , já que eu sempre chegava e me enfiava direto no meu escritório.

“Você deveria sorrir mais, jovem”, Luke disse quebrando o silêncio confortável. Outra coisa que eu odiava , além de ter que repetir as coisas duas vezes, era ser chamada de jovem.

“Não me chame de jovem.”, eu disse voltando ao silêncio. Eu não era uma vampira de muitas palavras , pois sempre fui direto ao ponto.

Eu, certamente, tinha um corpo de jovem , porque quando fui transformada tinha apenas 20 anos, então fui congelada nesse corpo. Em quatrocentos e cinquenta anos fiquei com o mesmo cabelo preto, mas com uma mecha vermelha, os mesmo olhos castanhos avermelhados e o mesmo um metro e sessenta e cinco. Mas, apesar de estar presa em um corpo de jovem, minha mentalidade fazia jus a minha idade atual.

“A quanto tempo você não sorri?” Luke perguntou ignorando minha cortada, com certeza tentando saber mais da minha vida. Ele não era o primeiro e nem seria o último a fazer isso.

“Não sei.”, disse duramente sinalizando o final da conversa.

Mas eu sabia. Sabia exatamente quanto tempo fazia que eu não sorria de verdade. Vinte e um anos. Foi a última vez que eu sorri. Foi quando eu assisti de perto o milagre da vida, mas tendo como consequência a perda da pessoa que eu mais amei no mundo e o único.

Foi ai que eu soube que sorrir não fazia o mundo melhor, só fazia parecer que você estava melhor. E eu, sinceramente, não estava melhor.

Perdi a conta de quantos minutos nós ficamos andando, de um lado para o outro naquele enorme prédio. Subíamos escadas , descíamos, entrávamos e saíamos de um corredor ao outro. Aquilo já estava me dando nos nervos.

No momento em que eu ia explodir de ansiedade e perguntar ao Luke que palhaçada ele estava fazendo comigo, nós paramos em frente a um dos quartos.

Luanne e Noah estavam em frente a porta junto com mais quatro vampiros. Esses dois faziam parte da minha guarda especial e tudo que eu precisasse eles conseguiam.

“Senhora.”, todos me cumprimentaram em um uníssono e se curvaram em sinal de respeito. Mas meu olhar estava em cima de Noah. Tinha dado ordem expressas para que ele e Mikael ajudassem Abigail a se livrar do corpo.

“O que você está fazendo aqui? Onde está Abigail e Mikael?”, perguntei dura. Se eu era a senhora deles, eles não poderiam me desrespeitar. Os olhos azuis pálidos de Noah se arregalaram e ele foi bem rápido em explicar.

“Nós fomos atacados por um caçador enquanto nos livrávamos do corpo, mas conseguimos captura-lo e o trouxemos para você.”

“Fez bem.”, eu concordei cada vez mais intrigada com esse caçador. Era muito ousado da parte dele atacar os meus vampiros em minha área. “Mas você ainda não respondeu minha outra pergunta.”

“Eles voltaram para limpar a bagunça.”, ele se encolheu por saber o que eu estava pensando. Ignorou uma das minhas ordens. Naquele momento eu poderia ter feito muitas coisas com ele, mas eu estava mais focada em ver o tal caçador que estava a apenas uma porta de distância de mim.

Dei um passo mais perto da porta, mas quando coloquei minha mão na fechadura e comecei a virar a maçaneta, fui interrompida por Luanne.

“Minha senhora, eu não acho prudente a senhora entrar sozinha.”, quando a encarei, vi a preocupação em seus olhos azuis. Eu poderia ser parte da realeza , mas nunca fui muito prudente.

“Me dê um bom motivo para eu não entrar sozinha.”, eu disse tirando minha mão da maçaneta e cruzando meus braços.

“Ele atacou Noah e quase matou Abigail.”, ela disse e gesticulou para o braço direito de Noah que tinha um leve corte. Um bufei e voltei a virar a maçaneta. Já tinha passado por coisas piores que um simples arranhão.

Vi pelo canto do olhos, não apenas Luanne, mas a guarda toda inquieta. Eles não achavam prudente eu entrar sozinha, mas eu precisava. Era um instinto que gritava dentro de mim e eu tinha que segui-lo.

O quarto em si era nem pequeno nem grande, mas tinha espaço o suficiente para acolher um prisioneiro, e três vampiros. Dois dos vampiros que deveriam ficar de guarda estavam sentados na cama jogando cartas, mas o terceiro estava observando o prisioneiro sem piscar.

Assim que eles me viram, se ajeitaram e fizeram a breve mesura enquanto murmuravam “senhora” em um uníssono.

“Vão.”, ordenei. “Quero ficar sozinho com o prisioneiro.”

Eles hesitaram , como os guardas do lado de fora, mas finalmente foram embora. Eu não os culpava. Se fosse eu que ficasse na guarda da senhora sulina, nunca deixaria sozinha um segundo sequer com um caçador de vampiro a menos de dois metros de distância. Mas aquilo era uma ordem e eu não deixaria que ninguém me impedisse de fazer o que eu achava que era certo.

A iluminação do quarto era tão precária que eu me perguntei por um momento se eles haviam feito de propósito ou se esse quarto era feito especialmente para prisioneiros. Esse , em si, estava sentado em uma cadeira, a uma curta distancia de mim.

Mas não representava nenhum perigo. Suas mãos estavam amarradas para trás da cadeira e seus pés estavam amarrados aos pés da cadeira. Era quase que impossível ele sair dali.

“Olhe para mim”, ordenei, mas , pela primeira vez em meu tempo de reinado, me arrependi em dar uma ordem.

Quando ele me encarou eu fiquei tensa. Surpresa também, mas principalmente tensa. Senti meus olhos se arregalaram para a pessoa sentada a minha frente e a única coisa que passava na minha cabeça era : não pode ser, não pode ser.

Mas era.


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Notas finais do capítulo

Se tiver Reviews, terá um novo capítulo.

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