Quando o fim de semana se aproximou eu pressenti que não veria Bernardo nunca mais.Novamente eu acordei animada,me arrumei,fiz chapinha e fiquei esperando por alguém que eu sabia que não ia chegar.No fundo,eu estava louca para que isso acontecesse,mas preferia me comportar como uma namorada ofendida e normal.Talvez,esse sábado não tenha sido,de fato,o meu melhor dia.Fiquei sem internet,fui tratada grosseiramente na minha lan house de estimação(que sempre me dá exatamente aquilo que eu preciso:um pouco de paz e internet) e quando tentei apelar para uma outra,não tinha sequer,alguém para me atender!Quando finalmente estava voltando para casa desolada meu celular toca.Era a Liana,uma menina da faculdade,para avisar que ela havia cancelado seu chá de panela,que seria no domingo!Justo no sábado á noite mais fracassado que alguém poderia ter!Se ela tivesse me avisado horas antes eu não teria gasto todo o meu dinheiro em um jogo de copos que eu mesma embrulhei com todo amor e carinho!)

Fernando me ligou nesse mesmo sábado,para perguntar se podia fazer um trabalho aqui em casa.Eu pensei que não poderia ficar mais indignada por estar sem internet,mas fiquei!Tentei lutar contra a vontade de pensar que a falta de internet seria capaz de minar uma chance de vê-lo.Mas quando expliquei que eu não iria poder ajudar,ele veio com um papo de que poderia imprimir na lan house que eu costumo ir e que passaria aqui,mesmo assim,no dominho de manhã.Eu concordei,achando aquilo meio estranho,pois se ele só queria uma impressora,ele poderia encontrar alguma que não fosse tão longe da sua casa.Porém,é claro,nem discuti.Fui durmir achando que nem tudo estava perdido.

Acordei e ligue direto para Fernando,afinal,eu definitivamente não estava preparada para mais um bolo em um espaço de tempo tão curto.E ele disse uma frase que me fez pensar...”Pode deixar que EU não vou te deixar na mão”.Desliguei o telefone mais tranqüila.Não sei porque mas a voz dele me passa uma segurança tal que eu seria capaz de confiar á ele a minha conta bancária.Então me lembrei de uma época em que eu ligava para ele,de madrugada,á cobrar,do meu celular,chorando ensandecidamente para dizer á ele que eu me sentia sozinha e que não conseguia lidar com a minha mãe e todo aquele blá blá blá adolescente onde achamos que nossa vida acabou e acredite,ou não,ele me ouvia com a maior paciência do mundo! A voz dele me acalmava,me transmitia uma paz e ele só desligava,quando,enfim,eu estivesse com sono e exausta demais para continuar a encher os ouvidos dele.

Ele me fazia companhia mesmo que por telefone e transmitia um bálsamo que renovava minhas energias,algo que até hoje,eu não saberia explicar muito bem.Pois bem,ele chegou aqui com poucos minutos de atraso e como eu pensei que ele estaria com aquela pressa de sempre,não criei muitas expectativas de passar com ele mais que o tempo que a impressora levaria para realizar sua função.

Fomos caminhando lentamente pelas ruas desertas do meu bairro,onde os comércios fecham e ninguém põe o nariz para fora da janela.Chegamos e demos com a cara na porta.A lan estava fechada e só voltaria a funcionar ás duas horas da tarde e,obviamente,ele disse que não poderia esperar...então,espertamente,sugeri uma outra lan ali perto (aquela onde não há funcionários!) mas para minha surpresa,fomos atendidos.Era praticamente surreal,estar ali com Fernando,como se isso sempre acontecesse.Eu tentava agir de uma forma bastante natural ao lado dele ao passo que ele arrumava assuntos inúteis,talvez por nervosismo.E numa dessas conversas onde não arquivamos muita coisa no nosso cérebro,eu “deixei escapar” que havia terminado meu namoro (mesmo que não oficialmente,mas eu já me sentia solteira,pois eu só não tinha avisado á ele que eu não queria mais porque ele fazia questão de se manter incomunicável) Pensei que para ele não fosse fazer muita diferença mas ele também acrescentou que não havia tido um sábado muito bom.Aquela informação ficou no ar....