As coisas nunca saem do jeito que a gente quer. A verdade é que estamos sempre cheios de expectativas. Talvez seja isso que nos torne fracos.

Meu pai era o melhor homem do mundo, sabe? Enquanto que minha mãe era a pior pessoa que um dia eu poderia conhecer. Não sei, ela era como... Não sei. Mas hoje meu pai está morto, e ela está viva.

Por mais que esteja atrás de celas, ela nunca vai poder pagar pelo que fez com meu pai. Ela nunca vai poder trazer ele de volta. Nenhuma das penas que ela pagar vai trazer o meu pai e o meu irmão de volta. E essa é a pior parte.

A vida é injusta, né? É uma porcaria. Mas não vou negar que me sinto melhor. Sinto-me melhor por não me olharem como antes. Acho que não sou mais uma psicopata pra ninguém. Acho que finalmente consegui aquilo o que queria.

Mas então porque não consigo um sorriso sincero? Eu sei por quê... E essa é a pior parte.

– Talvez uma segunda chance não fizesse mal.

– Segundas chances não fazem diferença, as pessoas nunca mudam! – falei cruzando os braços – Paramore.

– Acredita mesmo nisso? – Pattie perguntou sentando-se ao meu lado.

– Sim. Acredito. Vai me julgar por isso também agora? – perguntei sem olhar em seus olhos.

– Não... Acho que nem todas as desculpas no mundo que eu lhe der serão o suficiente pra você me perdoar.

– Se alguma dessas desculpas trouxer meu pai de volta... Ou somente... Não, sei você acabou com a minha vida! – falei soltando um sorriso sarcástico.

– Acho que não há nada que eu possa fazer.

– Eu já disse que pode ir embora! – senti as lágrimas virem em meus olhos e ela se levantou do banco.

– Sim... E mais uma vez... Perdoe-me! – disse e saiu. Não movi a cabeça, apenas quando senti as gotas de chuva chocar-se com minha cabeça.

Senti vontade de chorar. Senti falta do meu pai. Senti-me sozinha. Na verdade eu estava sozinha. Mas eu nem sempre fui.

Eu já fui uma boa adolescente. Ou melhor, uma boba adolescente. Daquelas que acreditam em contos de fadas sabe? Que passam a noite imaginando seu feliz para sempre...

Eu o amava.

E acho que essa é a pior parte. O fato de ele ter sido realmente importante pra mim. O fato de ter estado comigo nos momentos felizes. De ter estado comigo quando eu sorria. E esses são os únicos momentos que realmente valeram a pena.

Eu acreditava que tudo é possível e que as pessoas boas tem sempre uma boa recompensa.

Mas aí um garoto magoou meu coração, me acusou de ter tentado matar a sua mãe... E aí o meu pai morreu.

E a minha vida acabou de vez.

Cá estou eu, debaixo da chuva. Lembrando-se de como um dia eu fui feliz. Retardada.

Ele era o garoto perfeito, sabe? Tinha os olhos calmos, lábios calmos, me tratava com calma. Era tudo aquilo que eu precisava. Um garoto em que eu pudesse confiar. Um que não me julgasse. Um que estivesse sempre comigo. Um que nunca me machucasse. Um que marcasse a minha vida.

E sabe que ele marcou? Marcou mesmo... Porque nada vai curar a ferida que eu carrego.

A pior parte disso...

É que eu ainda sinto falta dele.