POV Jason

– Então? Posso saber qual o motivo da sua ilustre visita? – Ela disse sentando-se à minha frente.

– Eu vim... Eu... – respondi gaguejando nas palavras.

– Ah... Já tinha me esquecido! – ela disse levantando-se e subiu as escadas – espera aí... Já volto! – ela disse desaparecendo no segundo andar. Eu estava nervoso e pude perceber minhas mãos suarem.

Foi quando a vi descer as escadas com uma criança no colo.

– Jason... Essa é a Annie!

POV Angie

– Angelina... Acorda! – abri os olhos e vi a pior imagem que poderia ver em minha frente.

– Que é diacho? – gritei afastando-me da coisa.

– Eu to com fome... Não pode me deixar assim.

– Posso sim. É o que estou fazendo!

– Hey... Eu sou sua hóspede!

– Ninguém mandou você vir pra cá... Se sabe que eu te odeio!

– Eu não vim pra cá por que quis, vim porque meu pai me obrigou!

– Ah, tá! - cruzei meus braços recebendo aquela falsa resposta - sei muito bem porque está aqui, Yara!

– Estou porque meu pai...

– Está atrás de respostas!

– O que? Como assim?

– Você acha que vindo pra cá, vai entender por que todo esse rebuliço dentro da sua família.

– Que rebuliço? Tá ficando maluca?

– A única maluca aqui é você! Pois fique sabendo que não vai encontrar resposta nenhuma aqui... Eu sei muito bem sobre o que você está passando!

– Não, você não sabe! Não sabe coisa nenhuma sobre a dor que eu estou passando. Você não sabe o que eu sofri quando matou meu gato! Não sabe o que eu estou sofrendo com as brigas lá em casa todos os dias... E a culpa é sua, Angelina! Eu vou explicar a situação ao seu pai quando ele voltar, e tenho certeza que ele vai me apoiar... Sua insensí...

– Não abra a boca pra falar do meu pai, Yara... Não ouse! - levantei o dedo quando suas palavras seguraram meu coração "Quando ele voltar" - Ele não vai voltar, Yara... Nunca mais! - Disse e deixei-a falando sozinha.

Sofrimento? Ele realmente não fazia ideia sobre o que era sofrimento!

Senti meu celular vibrar no meu boso e o atendi.

– Diga!

– Angie? É você? - Conheci a sua voz e senti calafrios percorrerem pelo meu corpo!

– O que quer Angela? - Perguntei fria e pude ouvir sua gargalhada seca do outro lado do telefone.

– Depois não diga que eu não me importo com você. Eu poderia ter ligado pro Jason primeiro, mas eu prefiro você!

– O que quer, Angela?

– Bom, como você é minha filha favorita não vou me equivocar, vou te dizer... Devido há diversas queixas contra a sua pessoa, o corpo de jurados concordou em acelerar a sua situação... A intimação deve chegar a você ainda hoje. Mas, enfim... O seu julgamento será na próxima terça feira!

Os dias da semana passaram lentamente pela minha cabeça. Hoje: Sábado. Domingo, Segunda... Terça feira!

Sim... Eu estava ferrada!

POV Jason

Senti meu corpo todo gelar. a menina era linda. Tinha cabelos loiros e olhos extremamente azuis como os de Patrícia.

Engoli seco e aproximei-me.

– Ela é...

– Sua filha? - perguntou cortando-o com uma cara um pouco assustada - Não, Jason... Pelo amor de Deus, não! - Disse abraçando a menina - Eu nunca estive grávida de você! Foi... Um alarme falso! - Ela disse e eu senti aquelas palavras cortarem o meu estômago.

Como assim "alarme falso?" Eu quase tinha acabado com a minha vida. Quase todas as noites pensando na criança que eu tinha deixado pra trás. Na Burrada que eu tinha feito.

Recuei e vi sua expressão mudar.

– Jason... - foi interrompida.

– Querida... - ouvi uma voz e virei-me ao ver um homem adentrando a sala e a abraçou por trás. Beijou a bebê e a pegou no colo.

– Jason, esse é David, meu marido! - ela disse olhando pra ele e olhou pra mim de novo - David, esse é...

– Eu sei quem ele é, deixe de bobagem! - disse apertando a minha mão - Vai ficar pro almoço?

– Na verdade não! - eu disse cortando as palavras - eu preciso ir!

– Não, por favor... - Ele disse - Fique... Eu gostaria de conversar com você sobre um assunto importante!

– David... - Patrícia disse!

– Cuide do almoço, querida! - disse sentando-se no sofá e sentei-me também. - Então... Daqui há três dias, hein? - Ele perguntou sem tirar os olhos da menina.

– O que? - perguntei meio sem entender.

–O julgamento. Você e a filha do falecido Johnson! - ele disse pondo a bebê no colo - Sou o promotor!

POV Angie

Pus a primeira roupa que vi no guarda-roupa e subi no telhado como sempre fazia. a noite tinha caído para o desespero da cidade e minha alegria.

Eu nunca gostei do meu eu anterior. Nãoa consigo acreditar que eu já fui uma menina assim, chatinha. Cheia de esperanças e amor pra dar.

Foi necessário uma surra pra eu aprender que não dá pra se confiar em ninguém. Mas mesmo assim, tem uma parte antiga de mim que insiste em voltar... quando eu estou com ela.

Não. Eu não sou lésbica. Mas também não faria diferença se fosse.

Falo da minha amiga, Valéria... A única coisa que ainda resta pra mim aqui nesse mundo.

Mesmo que eu tenha me decepcionado bastante, e tenha aprendido que o único objetivo de viver é morrer, Valéria insiste em me fazer acreditar no contrário.

Não que isso aconteça, mas eu gosto. Eu gosto de sorrir, sorrio não porque eu estou feliz, mas porque ela está. E ela já fez muito por mim. Acho que lhe devo isso.

Ela aguentou meu desespero, meus desprezos, minhas decepções amorosas, minha dor, minhas lágrimas. E continua me aguentando.

Não... Eu não comecei a falar dela porque sinto saudades. Na verdade foi porque meu celular tocou. E era o seu nome escrito na tela com uma foto de uma mulata linda.

– ANGIEEEEEE!!!!! VOCÊ NEM ME LIGOU ONTEM, LINDA... O QUE FOI?

– Deixe de coisa antes que eu dê um pau na sua cara!

– Foi mal, é porque eu tô muito empolgada. A gente vai se ver amanhã aí eu fico assim. Como é que tá o pessoal?

– Se quer saber, liga pra eles! Não tô como secretária de ninguém, até onde eu sei.

– UI... Foi mal, flor... Mas escuta, eu tava conversando com a minha mãe e ela disse que não tem problema eu ir antes. Eu quero estar com você no próximo mês... A gente vai ganhar essa, você não vai ser presa coisa nenhuma!

– Valéria... Ponha isso em sua cabeça... Não tem como eu sair livre dessa, eles me apunhalaram até a Angela tá dentro disso. É muita coisa, tô sendo acusada pela morte do meu irmão, do meu pai, de tentativa de assassinato com a minha mãe, a mãe do Jason!

– Você não vai aguentar isso sozinha!

– Já estou aguentando, Valéria... Eu não sou fraca como você acha!

– Mas é claro que não... Você é a mulher mais forte que eu já conheci!

– E ainda tem a idiota da Yara que me acusa de ter matado o gato dela; Disse que a culpa de tudo é minha, veio morar aqui. Já tô a beira de botar ela pra fora, essa onça!

– Quem... Pera aí, a Yara?

– É, Valéria, a mesma diaba!

– Essa menina persegue você, oh!

– Acha que eu não sei?

Interrompi a ligação quando ouvi um barulho. Virei-me e vi a janela aberta e levei um susto

– Oi! - Ele disse sentando-se ao meu lado.

– O que quer, Jason?