You Are My Everything escrita por belacqua


Capítulo 3
Quando a coragem se sobrepõe à razão...


Notas iniciais do capítulo

E cá estamos. O básico do drama já passou, creio que nesse capítulo o KyuHyun esteja mais decidido (ou não tão indeciso). Não tenho muito o que falar. Enjoy :)



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SUNGMIN POV

Nem tudo é como a gente quer. Quando Kyu me abraçou eu percebi que, pelo menos, eu não o havia rechaçado com minha declaração. Eu respeitava sua opção – como obrigar alguém a ser o que não é? – e estava tentando me habituar com a idéia. Éramos amigos ainda. Não tão próximos quanto antes, mas éramos. Isso devia bastar.

Mais tarde naquela quarta-feira saímos para jantar, logo após o talkshow. Apenas SiWon seguiu para outro lugar diferente. Fomos para uma espécie de churrasco tardio em um condomínio fechado, a convite de uns colegas. A noite estava aberta e era uma ótima desculpa para me distrair, beber um pouco e jogar conversa fora. A casa era jeitosa, com um jardim extenso e uma piscina. Mal chegamos e já reconheci alguns rostos amigos: JaeJoong e JunSu acenaram da mesa onde estavam; reconheci Tiffany embolada no que devia ser JongWoon e me aproximei de SeoHyun, que parecia sozinha enquanto a amiga estava ocupada brincando de desentupidor de pia.

         - Oi, Seo. Parece tão quietinha aqui – ela piscou duas vezes quando me viu ao seu lado.

         - SungMin. Oi. Que bom que vocês vieram.

         - É bom espairecer às vezes – ri encabulado e indiquei a mesa próxima a entrada da casa, onde estavam as bebidas – Vou pegar alguma coisa pra beber. Quer também?

         - Ah – ela deu um sorriso de desculpas – Não, obrigada. Eu não bebo.

         Arqueei as sobrancelhas e me afastei em direção as bebidas. Cumprimentei os conhecidos enquanto passava. Tinha cerca de quarenta pessoas ali. MinHo veio saltitante me dar um oi e me dei conta de que fazia um bom tempo que não o via. Ele estivera conversando com DongHae e quando voltou recebeu um olhar de desgosto de HyukJae, que sentava a uma mesa com outro grupo. Não pude deixar de sorrir ao perceber. Aproximando-me da mesa encontrei Amber. A conhecia há pouco tempo, mas ela era uma boa pessoa e bem bonita. Diferenciava do tipo de menina que eu estava acostumado a ver. Parecia entediada com a conversa das outras garotas ao lado.

         - Cuidado para não ficar com dor de cabeça – zombei. Ela riu e levou o copo a boca, virando de uma vez e fazendo uma careta.

         - Isso seria péssimo. A noite tá só começando – me curvei para escolher uma bebida e ela indicou a garrafa da ponta – Se eu fosse você pegaria uma taça desse.     

         - Eh? Vou nele então. Vinho do porto, isso que eu chamo de luxo.

Ela riu e eu me afastei de novo. Segui para a mesa onde estavam Heenim, ShinDong e a noiva. Eu sempre me esquecia seu nome, então cumprimentei com um aceno de cabeça e me sentei. HeeChul parecia distante, uma cerveja nas mãos e as pernas cruzadas. Mal ligava para a conversa estrondosa e as risadas histéricas dos outros dois na mesa. Logo RyeoWook se juntou a eles e me vi desesperado para não ser convidado a participar.

         - Ei, tá no mundo da lua? – chutei de brincadeira as pernas da cadeira de Heenim. Ele me lançou um olhar evasivo – Se anima, hyung.

         - Preguiça.

         - Preguiça de se animar? – perguntei cético. Ele deu de ombros, olhando as pessoas.

         - É. Sei lá. Festa chata.

         - Acho que não era pra ser uma festa...

         - Você entendeu! – ele me lançou um daqueles olhares cortantes e eu soltei uma gargalhada.

         - O que te mordeu, pequeno HeeChul? – ele sorriu diante do comentário.

         - O bichinho da saudade.

         Não precisei perguntar para saber do que ele sentia saudade. Há menos de três meses HanGeng havia voltado para a China – e ele ficara desolado. Era triste ver como ele se sentia sozinho sem o companheiro pra todas as horas que fora HanGeng.

         - Ora, vamos, Hee Hee. Se diverte um pouco. Senão eu vou dizer que isso é coisa da velhice...

         - Quem você tá chamando de velho?! – ele se empertigou na cadeira e eu caí no riso. Enquanto ele tentava me acertar um tapa, Jinki aproximou-se e puxou uma cadeira. Passou as pernas por ela e sentou de frente para nós, apoiando os braços no encosto.

         - E aí, qual a piada?

         - A aposentadoria do Heenim.

         - Cala a boca, Minnie! – e começou a rir também.

         - Deixando essa coisa de lado, deixa eu perguntar uma coisa pra vocês – Jinki olhou para os lados suspeito como se não quisesse que ninguém o ouvisse e baixou a voz – Tem alguma coisa rolando entre DongHae e HyukJae? Vocês sabem... Extra-oficial?

         - Você veio até aqui atrás de fofoca, gracinha?

         - Não, HeeChul, é só que... Sei lá. Tô vendo a hora do MinHo levar uns berros ali atrás.

         Virei a cabeça para onde ele indicava e meu olhar recaiu sobre DongHae, sentado na grama, e MinHo ao seu lado, recostado no ombro do hyung. Eles escutavam alguém falando a frente deles, absortos na conversa. Não precisei procurar muito para achar HyukJae em uma mesa de costas para eles, a expressão pesada.

         - Hyuk é possessivo e ciumento, você sabe disso – HeeChul tomou um gole da cerveja e lançou outro olhar pros dois – Ele tem Hae como irmão.

         Bebi dois goles grandes da taça para evitar falar qualquer coisa. Jinki ergueu as sobrancelhas, cético.

         - Irmão? Qual é, irmão é o KyuHyun pro SungMin. Isso aí é outra coisa.

         Engasguei com o álcool e senti o nariz arder. “Bem sutil, muito bem!” HeeChul olhou de Jinki para mim e de volta para o outro antes de responder.

         - Então por que você não vai perguntar pra eles? Mais fácil do que ficar especulando.

         - Ok, não tá mais aqui quem perguntou – Jinki pareceu recuar com a frieza na voz dele. Ele se levantou com a desculpa de pegar outra lata de cerveja e sumiu entre os outros que estavam em pé. No momento reparei que estávamos sozinhos na mesa; ShinDong dançava com a namorada e RyeoWook não estava a vista.

         - Por falar nisso – Heenim se esticou na cadeira e virou o resto da cerveja – As coisas já esfriaram?

         - Que coisas?

         - Entre você e KyuHyun. Confusão. Tesão. Você sabe – desejei ser um avestruz para enfiar minha cara num buraco. Rolei os olhos pelo gramado mas não avistei Kyu em lugar nenhum.

         - Tá tudo resolvido – foi o que respondi.

         - SungMin – ele se aproximou, apoiando os cotovelos no joelhos – Não se arrependa depois.

         - C-Como assim? – Heenim umedeceu os lábios, visivelmente procurando as palavras, o cinismo finalmente dando uma trégua – Do que mais eu posso me arrepender?

         - De não ter feito nada. Não ter aproveitado. As coisas não são para sempre, Minnie. Quando você olhar pra trás você não vai querer pensar “ah, se eu tivesse dito/feito aquilo...”, acredite.

         - Não é como se eu tivesse muita escolha, né? – ri desgostoso.

         - É claro que tem. Você pode escolher entre cruzar os braços e deixar... Deixar ele ir embora ou fazer alguma coisa a respeito.

         - Heenim...

         - Isso não é sobre mim – ele fechou os olhos, não querendo tocar no assunto que mais o magoava, que era HanGeng – É sobre você. E ele.

         Ao dizer as últimas palavras ele indicou com a cabeça alguma coisa atrás de mim. Desconfiado, virei o corpo e procurei. Não foi muito difícil. Do outro lado da piscina, em uma das mesas armadas, SeoHyun e Kyu sentavam lado a lado, ela segurando seu rosto com os dedos longos finos. Estavam se beijando. Algo gelado me percorreu a espinha e um gosto amargo subiu a minha boca. Eu queria gritar para interromper aquele climinha, ir até lá para separar os dois, mas não tinha direito a dizer nada. Nem sequer ficar com raiva. Kyu era livre para fazer o que bem entendesse. Tudo o que eu podia fazer era trincar os dentes e me virar de volta para HeeChul, que exibia uma expressão quase fúnebre.

         - Precisava me mostrar? Precisava mesmo? – falei entre dentes.

         - Precisava. Porque você ao menos ainda pode fazer alguma coisa. Você TEM que fazer alguma coisa.

         - Você quer que eu faça o que, me levante e jogue a menina na piscina? – perguntei sarcástico. Minha impotência me irritava mais do que as palavras ríspidas de Heenim.

         - Não. Não agora. Eu tô falando do depois, do que vai acontecer nos próximos dias, meses, anos. Daria a minha alma ao diabo para ter mais uma chance, mas nem isso eu tenho. Deu pra entender agora? As oportunidades passam. Se você demorar muito, ele vai embora e você vai ficar aí, com um vazio no peito, contando os dias para ouvir a voz dele numa maldita ligação telefônica – a voz de Heenim tremia e seu rosto estava duro – Você vai pensar em quanto tempo perdeu por medo de arriscar, por medo de sentir. Vai lembrar de todos aqueles planos que você fazia e que nunca vão se realizar, sabe por quê? Porque você foi um covarde. Um franguinho com medo de ser julgado e recusado. Isso é o que vai acontecer se você não fizer alguma coisa, QUALQUER coisa.

         Ele terminou de falar e esfregou o olho para evitar que as lágrimas caíssem. Seu rosto estava lívido. Me virei mais uma vez e vi que Kyu e SeoHyun haviam se separado e que ela acariciava o rosto dele. Voltei a olhar para Heenim, que tinha os olhos furiosos e os lábios crispados.

         - Você não foi covarde, hyung. Ninguém imaginava que o Geng fosse voltar tão de repente pra China. Não foi sua culpa. E esse não é o fim da história. Ainda vai acontecer muita coisa – fechei os olhos momentaneamente tentando tirar da mente a imagem que eu vira há pouco do Kyu e da Seo – Eu preciso pensar.

         - Pensar?

         - Eu não tenho direito de interferir na vida dele. Já abri meu coração, já – engoli em seco – já tentei. Ele não quer o mesmo que eu, hyung. Sei que você ouviu as coisas que ele gritou. Não...

         - Ouvi, mas e daí? Você acha que aquelas palavras foram mesmo sinceras? Por favor, SungMin, abre os olhos! Na hora da raiva a gente diz todo tipo de asneira que passa pela nossa cabeça sem sequer pesar o que é verdade ou não. Ainda mais o magnae que é frio feito...

         Ele se calou ao ver que JongWoon se aproximava. Estava agitado e trazia um copo de uísque na mão.

         - Que caras de enterro a de vocês dois – ele se sentou na cadeira que Jinki ocupara – Discutindo sobre a paz mundial?

         - Na verdade discutindo sobre como você estava secando a coitada da Tiffany agora há pouco. Ela ainda consegue respirar? – HeeChul se recompusera bem mais rápido que eu. JongWoon riu culpado.

         - Ei, não é pecado aproveitar a vida. E eu não sou o único. ShinDong e KyuHyun também aproveitaram a noite. Vocês que ficam aí, chupando o dedo...

         - Vou pegar alguma coisa pra beber.

         Me levantei bruscamente e sai sem olhar para ele. De início eu estava realmente indo até a mesa de bebidas, mas percebi que não queria mais beber. Meu estômago estava embrulhado, o ânimo da noite inteiro havia fugido. Fui até a entrada da casa e pedi ao porteiro que chamasse um táxi. Tudo o que eu queria era ficar longe daquela cena, das palavras de HeeChul, do olhar inquisidor dos outros. Ora, vamos, a quem eu estava querendo enganar? Ser amigo não bastava. Eu não suportaria ver KyuHyun aos beijos com outra pessoa assim, na lata. Ainda não. Peguei o táxi assim que ele chegou e fui para casa.

O céu estava aberto, as estrelas brilhantes. Cheguei ao dorm escuro e vazio e fui direto para o meu quarto. Vesti o pijama de qualquer jeito e me deitei, aninhado aos lençóis, olhando para o abajur, a única fonte de iluminação do quarto que dividia com Wookie. Sentia minhas mãos dormentes e a respiração fraquejada. Mal reparei que as lágrimas caíam silenciosamente, molhando o travesseiro e deixando minha visão turva. Era tudo o que eu podia fazer, afinal. Me lamentar, como sempre fizera. Antes eu lamentava minha falta de coragem e iniciativa; agora eu derramava lágrimas por ter certeza de que nunca o teria. Era isso. Estava condenado a amar de longe, observar enquanto ele arrumava uma namorada e construía uma vida normal. Deixei escapar alguns soluços, grato por estar sozinho. A voz de Heenim ecoava em minha cabeça... “Se você demorar muito, ele vai embora e você vai ficar aí, com um vazio no peito, contando os dias para ouvir a voz dele numa maldita ligação telefônica!”

Não vi quando caí no sono até que senti um peso na minha cama. Senti uma mão em meu ombro e abri os olhos que estavam inchados e úmidos ainda devido ao choro. KyuHyun estava sentado na minha cama, a mão em meu ombro, a expressão séria. Imaginei há quanto tempo ele estaria ali. Bem, não fazia diferença. Minha voz estava fina e estupidamente infantil quando disse baixinho:

         - Vai ser difícil manter sua palavra.

         Kyu me estudou por um momento.

         - O que você quer dizer?

         - Não me magoar. Vai ser difícil fazer isso.

         - Min, eu...

         Ele parou e mordeu o lábio em dúvida. Seu rosto estava lindo, mesmo a meia-luz. Era impossível não reparar nisso. Me senti patético.

         - Você não precisa se culpar, Kyu.

         - Claro que preciso.

         - Não. É a sua escolha, eu tenho que respeitar. SeoHyun é uma boa garota. Vocês dão certo.

         - Pára com isso, Minnie – ele me repreendeu e passou as mãos no rosto, frustrado – Eu não quis beijar ela. Quando eu vi ela estava em cima.

         - Mas você não fugiu.

         - É diferente...

         - Eu sei. Vai ser sempre assim, diferente.

         Ficamos em silêncio por um momento. A casa estava silenciosa.

         - Não queria que fosse assim – a voz dele estava triste. Senti um aperto no peito, uma lágrima teimosa caindo no travesseiro.

         - Nem eu.

         Kyu se deitou ao meu lado na cama, de frente para mim. Eu podia sentir sua respiração. Ele passou um braço por mim, nos unindo e me confortando. Fechei os olhos, sentindo que começava a chorar mais uma vez. Então Kyu beijou minha testa de leve, pressionando seus lábios por um longo momento em minha pele e quando ele se afastou eu reabri os olhos para encarar sua íris escura.

         - Você pode me esperar? – ele pediu. Pude ouvir Heenim dizendo “As coisas não são para sempre, Minnie”.

         - Tenho medo de você nunca vir.

         - Eu não conseguiria ficar longe de você.

         - Você se afastou nessas semanas...

         - Mas doeu. Doeu muito.

Funguei baixinho.

         - Então tudo que você disse daquela vez...

         - Foi da boca pra fora. Eu estava assustado, me entenda, por favor.

         - Certo.

         - Não é fácil pra mim, Minnie – ele desviou o olhar momentaneamente, desconcertado – Cresci ouvindo coisas que... Minha família é tradicional. Sou muito fechado para algumas coisas.

         - Coisas essas como gostar de outro homem.

         Ele riu e apertou o abraço. Aproximou-se e encostou a cabeça na minha, os olhos fechados, o sorriso franco no rosto. Me senti bem como não me sentia há dias.

         - Eu sou um tolo.

         - Sempre foi, magnae – brinquei e fechei os olhos, feliz por estar nos braços que eu tanto desejava.

KYUHYUN POV

Os fracos raios de sol que entravam pela janela acabaram me despertando. A cortina do quarto estava aberta e a julgar pela luminosidade, era bem cedo ainda. Inspirei fundo antes de abrir os olhos. Minnie estava deitado ao meu lado, debruçado no meu peito, dormindo tranquilo. Era tão reconfortante tê-lo ali perto, feliz, que não quis atrapalhar seu sono e fiquei parado, apenas olhando. Tinha a boca entreaberta, a respiração pesada e um braço ao meu redor. Eu dormira com a roupa do dia anterior e nem havia reparado. Passei algum tempo (incontável e irrelevante naquele momento) assim, abraçado a Minnie e sem intenção de levantar. Então um movimento ao meu lado revelou um RyeoWook descabelado saindo de debaixo das cobertas. Havia me esquecido completamente que o quarto era compartilhado. Ainda piscando os olhos sonolentos ele se levantou e saiu do quarto sem nem me olhar, provavelmente indo ao banheiro. Lembrei-me de agradecer depois pela discrição de Wookie. Me sentia embaraçado pela situação, Minnie ainda dormindo tranquilo em meu peito. Com cuidado e do modo mais delicado que eu podia, tirei-o de cima de mim e o ajeitei no travesseiro, levantando da cama. Ele se mexeu um pouco mas não acordou. Não sai imediatamente. Fiquei olhando para Minnie, me deixando levar um pouco por devaneios. Era reconfortante vê-lo bem depois de dias tão turbulentos, depois de vê-lo chorar tantas vezes. Abaixei para lhe beijar a cabeça e fui para o meu quarto.

Mais ou menos no meio da tarde o movimento na casa diminuiu; DongHae, HeeChul, SiWon e JongWoon saíram para algum compromisso que nem me dei ao trabalho de saber qual era. Aproveitei o tempo livre e fiquei na sala, dando uma pausa dos videogames, assistindo o que passava na TV. JungSu estava na poltrona lendo. De vez em quando me lançava uns olhares furtivos, mas mal reparei. Estava em um estado de letargia provavelmente causado pela paz na casa. Não sei dizer.

         RyeoWook entrou trazendo uma tigela de salada de frutas e sentou ao meu lado no sofá. Ele não falara nada desde que saíra do quarto aquela hora e eu também não comentei nada. Continuaria assistindo o filme se JungSu não tivesse tossido de leve naquela hora.

         - KyuHyun... Você dormiu no quarto do Wookie e do Minnie essa noite? Aconteceu alguma coisa com ele?

         Seu tom de voz era tão falsamente despojado que senti vontade de rir. Ele parecia nervoso em perguntar isso.

         - Ele não voltou muito bem do churrasco.

         - Ah... Ok – JungSu ergueu as sobrancelhas antes que conseguisse se refrear – Quero dizer, o que ele tinha?

         Wookie comia a salada de frutas tão concentrado que mal conseguia piscar. Minha vontade de rir estava quase impossível de controlar.

         - Nada físico, hyung – disse sorrindo. Os dois pareciam prender a respiração – O que vocês têm?

         - Nada – o líder se apressou a responder da poltrona, quase perdendo a página que marcara com os dedos no livro – Nada é só...

         - Você é um péssimo ator, JungSu.

         Eu tentei conter a risada mas Wookie não conseguiu. Ele cuspiu o que tinha na boca e desatou a gargalhar, deixando JungSu estupefato. Não resisti e comecei a rir também.

         - Quê? Do que vocês tão rindo?

         - Parecia um pai interrogando o filho, cheio de dedos – Wookie dizia rindo – Eu disse que ele não ia se importar, hyung!

         - Ué, como eu ia saber? – ele parecia não entender as risadas, sorrindo de um pro outro – E eu tinha que perguntar, de qualquer forma.

         - A gente se acertou depois daquela discussão, hyung. Foi isso.

         - Que discussão? – Wookie agora parara de rir e olhava pra mim confuso.

         - Longa história, dongsaeng. Mas Kyu – ele parecia bem menos nervoso agora que a tensão inicial havia passado – Tem algo mais pra dizer?

         JungSu me encarava inquisidor. O hyung ao meu lado voltou a se concentrar na salada. Pensei um pouco antes de responder:

         - Não. Não, é isso mesmo.

         - Hm. Tudo bem – ele não soou convencido, mas não insistiu mais. Senti que corava e olhei para a TV, tentando voltar a me concentrar no filme.

Por um infortúnio, dez minutos depois Minnie entrou na sala e fez JungSu erguer a cabeça de novo.

         - ‘Dia.

         - ‘Dia – responderam JungSu e Wookie em uníssono.

         - Bom dia – eu disse. Ele sorriu pra mim e sentou no chão, encostado no sofá entre mim e Wookie. Passou a se concentrar na TV e mal reparou que JungSu relanceava um olhar dele para mim o tempo inteiro. Comecei a ficar inquieto com aquela observação toda.

Resolvi me comunicar silenciosamente com o hyung na poltrona e o encarei. Ele me encarou de volta e eu ergui as sobrancelhas com raiva, como se perguntasse “que foi?”. JungSu pareceu murchar com minha expressão e sacudiu a cabeça, desistindo dos olhares inquisitivos e voltando sua atenção pro livro. Lógico que ele não desistiria. Mas pelo menos por hora ele não tocaria no assunto de novo. Lancei um olhar que espero que tenha soado como um “seu fofoqueiro!” pra Wookie, que acompanhara a comunicação visual quieto no seu lugar e levantei, saindo da sala. Era o que eu mais temia, ter que responder a perguntas e comentários constrangedores. O que eu diria se JungSu me pusesse contra a parede em relação a Minnie? “Ah, não é nada demais, só estamos considerando a idéia de formar um casal”?!

Mais tarde naquela noite a casa estava cheia. Até ShinDong apareceu. Tínhamos ensaio no edifício da SMEnt no dia seguinte, bem cedo, e ele dormiria já lá no dorm para evitar atrasos ou desencontros. Ninguém saíra porque, afinal, tinham que dormir e acordar o mais cedo possível.

         O jantar foi animado e as conversas enchiam o lugar. Até HeeChul voltou com seu costumeiro humor zombeteiro e fez a mesa dar boas risadas. Eu me sentia bem e revigorado. Minnie estava risonho como nunca. Mesmo após a refeição continuamos sentados conversando, rindo e brincando. Formávamos mesmo uma família, se parar pra pensar.

Passava de dez horas quando nos levantamos e nos dispersamos. Eu fiquei ainda na mesa da cozinha, terminando o refrigerante e observando HyukJae e HeeChul ajeitarem a bagunça na mesa. A única coisa em que conseguia pensar era na noite passada, quando Minnie caíra no sono em meus braços e eu fiquei olhando para ele até cair no sono também. Me sentira tão bem... Não sei por quê isso não saía da minha cabeça. Levantei de repente, assustando os outros dois na cozinha, e saí dali. Em princípio pensei em ir deitar, mas estava elétrico demais pra dormir. Me vi abrindo a porta do quarto de Minnie e RyeoWook, mas estava vazio. Ele não estava na sala tampouco. Como uma última tentativa, tentei o escritório onde ficava o computador e suspirei. Minnie estava a frente do computador, clicando a esmo, o rosto apoiado na mão. O monitor e o abajur da estante eram a única luz do lugar.

         - Não sabia que o CyWorld era tão chato assim.

         Ele se virou pra mim rindo do que eu dissera, quase sem mover o corpo. Entrei e fechei a porta.

         - É, não tô muito no ânimo pra isso hoje. Você?

         - Ah, tédio. Sei lá – segurei a vontade de dizer “Vim te procurar, sabe”.   Ele me olhou curioso. Percebi que ainda tava encostado na porta e me mexi desconfortável. Aproximei uns passos da mesa do computador só pra não ficar parado. Os cantos da boca de Minnie se mexeram como se ele quisesse rir.

         - Que foi?

         - Nada – engoli em seco. Por que era tão difícil demonstrar alguma coisa? – JungSu tá desconfiado da gente, sabia? Por causa... Porque eu dormi com você. E tal.

         Minnie desligou o monitor e girou a cadeira no eixo, ficando de frente pra mim. Não parecia preocupado.

         - O que tem isso?

         - O que...? Ah, esquece. Não importa – desviei o olhar sem jeito. Estava inexplicavelmente nervoso. Ali. Sozinho. Com Minnie. Engoli em seco quando ele se levantou e parou na minha frente.

         - Você tá preocupado com o que vão pensar, é isso? – levantei os olhos pra ele em resposta – Kyu, eles são nossos hyungs. Não vão te julgar. Além do mais, não aconteceu nada demais, só um beijo.

         - E eu dormi na sua cama.

         - Detalhes – ele fez um gesto de indiferença com a mão e eu ri.

         - Mas e se... fosse mais que isso?

         Minnie me olhou com os olhos grandes, o sorriso ainda aberto. Me senti um tolo por ficar tão encantado com esse sorriso. Levei uma mão ao rosto dele e acariciei sua bochecha. O toque da minha pele na dele foi o que faltava pra eu perder completamente a razão. Abaixei a mão até seu pescoço e puxei seu rosto para mim, selando os lábios. Minnie pareceu surpreso mas logo pôs as mãos no meu peito, se aproximando e juntando meu corpo ao dele. Passei um braço por sua cintura e o prendi a mim. Eu não sabia o que estava fazendo, mas estava adorando.

Podia sentir pequenos choques percorrerem meu corpo quando minha língua se encontrou com a de Minnie. Seu corpo era quente; não pude resistir a vontade de puxá-lo ainda com mais força pra mim. O beijo transmitia não só desejo, mas uma necessidade mútua. Meu ritmo era definido pelo calor de Minnie, que me fazia querer mais dos seus lábios. Nunca havia provado uma sensação como aquela, era como se cada nervo do meu corpo tivesse acordado e estivesse desejoso daquele que até dias atrás eu considerava um hyung e nada mais. Ele estava me levando a loucura. Metaforicamente ou não.

Afastei por um momento depois de morder de leve seu lábio. Olhei em seus olhos, a respiração acelerada. Não consegui pensar em mais nada antes de empurrá-lo até a parede do quarto. Só parei quando ele havia batido na mesa de estudo, atulhada de livros, que eu logo joguei pro lado. O perfume de Minnie entrava nas minhas narinas e me deixava inebriado. Sabia que estava fora de controle. O empurrei para cima da mesa, sentado de frente pra mim. Puxei seus joelhos de forma a juntar nossos corpos de novo e me lancei ao seu pescoço. Dei alguns beijos antes de sugar a pele, morder e chupar outra vez. Minnie tinha a respiração rascante. Ele passava as mãos pelas minhas costas, com força.

         - Kyu...

         Ignorei seu chamado, excitado por ouvir meu nome daquele jeito. Ergui a cabeça, encarando-o de novo. Os olhos estavam brilhantes, acesos. Sorri malicioso e voltei à sua boca, aos seus lábios entreabertos. Era ali que eu queria estar, desde sempre. Só não sabia.

As mãos de Min subiam pelas minhas costas, indo ao pescoço, meio inseguras, amassando minha blusa, apertando o próprio corpo contra o meu. Passei uma mão pelas costas da sua camiseta, mas quando vi já estava entrando por debaixo dela, meus dedos explorando sua pele. Tateei toda a extensão da sua coluna, puxando-o pra mim cada vez mais. Afastei de seus lábios outra vez, mordendo seu queixo e voltando ao pescoço, percorrendo toda a extensão com um desejo inexplicável. Estávamos unidos como nunca antes estivéramos; eu queria mais, queria ele pra mim, queria beijar sua pele e não parar nunca. Não sei dizer quanto tempo durou isso; poderia ter sido dois minutos ou meia hora. Eu estava prestes a fazer algo que com certeza me arrependeria depois quando o som de vozes no corredor alertou Minnie.

         - Kyu! Pára, pára!  - ele empurrou meu ombro para me afastar e eu vi o medo no seu rosto. Do outro lado da porta eu podia ouvir vozes se aproximando. Se estavam falando alto de propósito ou não, não dava pra saber, mas me afastei de Minnie e ele desceu da mesa ajeitando a camiseta quase totalmente erguida. Senti que corava pelo que havia acabado de fazer. “Maníaco sexual agora, KyuHyun?”

Mal tive tempo para absorver a informação quando abriram a porta com uma batidinha rápida. JungSu nos espiava com uma cara desconfiada, Heenim atrás dele.

         - Estava te procurando, ahn, SungMin. Telefone pra você. KyuHyun, achei que tivesse ido dormir.

         - E se tivesse ido, hein? Você teria acordado ele. Francamente, Park JungSu...

         - Chul – o outro se calou, ainda tentando esticar o pescoço por cima de JungSu, que bloqueava a entrada na porta – Ele não tá dormindo. Pronto. Min?

         Minnie pareceu dar um pulinho antes de sair porta afora em direção a sala. O líder espiou o quarto com os lábios crispados. Tentei parecer o mais descontraído possível. Sei que falhei na tentativa.

         - Por que aqueles livros estão no chão? – ao ouvir olhei novamente para a escrivaninha bagunçada. Metade dos livros estavam caídos e os papéis amassados.

         - Eu, ahn... – gaguejei, mas HeeChul interveio.

         - Inspetor agora? Vai perguntar do cabelo bagunçado também?

         - Como você é IRRITANTE, Chul! Esquece, já dei o recado mesmo.

         Ele ergueu os braços exasperado e saiu, lançando um olhar de raiva para o hyung. HeeChul se aproximou da porta e olhou melhor a bagunça. Não estava assim tão grave, pensei. Era só como se tivesse passado um vendaval naquela parte do cômodo. Ok. Decididamente esquisito. HeeChul falou baixinho em um tom falsamente sério:

         - Da próxima vez eu não vou impedir ele. Fica atento, magnae.

         Senti o rosto queimar de vergonha enquanto ele saía. O pior de tudo é que eu não parecia me arrepender do que tinha feito. Eu queria mais. E só agora eu me dava conta da proporção da coisa. Se JungSu nos tivesse pego daquele jeito, o que aconteceria? O que eu tinha na cabeça para fazer aquilo tão... descaradamente? Avancei todos os limites que eu tinha estipulado até então. Inclusive, até onde eu sabia, eu não tinha intenção de me envolver com Minnie. Pelo menos não até aquele momento... Toquei incerto meus lábios onde há pouco estiveram os de Minnie e senti minha cabeça dar um nó. Eu queria. Sim, eu queria Minnie. Mas eu tinha esse direito?

SUNGMIN POV

         As coisas pareciam completamente diferentes pra mim desde que Kyu me beijara no escritório. Já haviam se passado dois dias e eu ainda exibia o mesmo sorriso abobalhado no rosto. Não era exatamente de propósito, eu não podia evitar. O clima na casa inclusive estava animado. Final de semana tranquilo e sem compromissos, o que significava movimento intenso no apartamento. Na sexta a noite saímos para um bar próximo de casa com mais alguns amigos, tanto da SMEnt como de fora – só Tiffany levou o que parecia ser o clube da luluzinha. Mordi a língua ao ver que SeoHyun também estava. Mas com tanta gente sentamos distantes e acabei esquecendo que ela estava ali.

A noite estava aberta, uma brisa fresca corria pelas mesas que juntamos do lado de fora do bar. Sentei entre Heenim e JongHyun. Kyu estava mais adiante e engatou uma conversa animada com uns amigos de DongHae. A balbúrdia crescia conforme os pedidos de bebida iam saindo. Do meu lado da mesa a conversa era animada – eu sentia o álcool me deixando mais risonho que o normal mas não havia ficado incoerente ainda. Pelo menos não como JungSu, que já começara um monólogo.

- ...Eu tô falando, desde sempre, desde pirralhinho mesmo, eu quis isso. Eu dizia pro meu pai “Ei, pai, quando eu crescer quero passar meses nos Alpes, depois na Índia, woooow! E depois...”

- Depois ele te mandava dormir, certo? – JongHyun arrancou risadas do nosso lado.

- Nãããão! Ele me apoiava! Bem, até eu desistir da faculdade de Direito, aí o negócio complicou...

- Eu queria Direito quando era menor, nem sei porquê – disse MinHo, sentado mais pro centro da mesa, um dos poucos que não estavam rindo da tagarelice de JungSu – Ainda bem que não continuei com a ideia.

- Quando você era menor você estava no berçário... – DongHae falou ao seu lado com um sorriso brincalhão no rosto. MinHo se virou e deu um empurrão de leve na cabeça dele, rindo também.

- Cala a boca, Hae! – seu tom era de quem achava graça. DongHae aproximou e mordeu o ombro de MinHo como resposta.

JungSu recomeçou a falar mas eu não prestava mais atenção. Olhava para os dois, sentados lado a lado e brincando um com o outro. Evidentemente estavam sob efeito de álcool e isso fez com que DongHae não percebesse o olhar de Hyuk sobre ele. O outro estava no lado oposto da mesa, perto de Tiffany e JongWoon, mas seus olhos estavam cravados em DongHae. Tive um mal pressentimento e fiz menção de desviar a atenção deles, mas na hora em que ia abrir a boca, MinHo aproximou do ouvido de DongHae sussurrando alguma coisa que eu não pude ouvir. DongHae abriu um sorriso largo demais e eu vi que a coisa ia desandar. Num movimento amplo HyukJae ergueu o corpo e lançou o conteúdo outros dois. A cerveja caiu principalmente em MinHo – o que devia ter sido a intenção, já que HyukJae estava mais próximo era de DongHae e não dele. O silêncio que se fez na mesa a seguir foi pesado. Todos olhavam de Hyuk, ainda em pé e com o copo vazio na mão, a DongHae e MinHo, ambos ensopados e perplexos.

- O que foi isso, Hyuk? – a voz de DongHae estava baixa. Reparei que JongWoon puxava Hyuk, tentando fazê-lo sentar, mas ele resistia.

- Eu que pergunto, Hae. Tá divertido aí entre vocês dois? Interrompi muita coisa?

- HyukJae...

- Você cala a boca! – isso fez MinHo erguer os olhos que até então estavam baixos em constrangimento, a boca se abrindo surpresa.

         - Ei! Qual o seu problema?

         - Problema? Qual o meu problema, DongHae? Nenhum. Absolutamente nenhum – ele respondeu – Aliás, o que importa, né? A conversa tava boa demais antes de eu aparecer. Desculpa ter atrapalhado o climinha.

         - Que climin...? Hyuk! – DongHae chamou enquanto o outro saía da mesa e andava a passos largos para fora do bar. Parecia que todos tinham prendido a respiração. Ele se levantou e saiu correndo atrás de HyukJae quando este sumiu na escuridão do estacionamento. Os olhares se voltaram para MinHo, que tentava limpar a cerveja com um guardanapo. Ele mal ergueu o rosto e murmurou um “licença”, saindo da mesa e pegando a direção oposta a que os outros dois tinham seguido, saindo do bar também. Ninguém disse nada por um momento, até que JongHyun quebrou o silêncio:

         - Acho melhor ir atrás do MinHo – e se levantou, saindo em seguida.

         - É comum eles terem essas... hm, discussões? – perguntou uma das amigas de Tiffany. Meu olhar cruzou com o de Heenim. Como ninguém respondia, pigarreei e disse num fiapo de voz:

         - Não muito. Eles costumam se dar bem.

         - Hm... – ela ergueu as sobrancelhas.

         - Não, digo, eles não são de brigar assim. Eles devem ter exagerado na bebida – tossi de leve e RyeoWook aproveitou o momento para pedir outra rodada ao garçom. Aos poucos as conversas foram voltando e a tensão foi sumindo.

         KyuHyun pareceu esperar as atenções se dispersarem outra vez antes de vir até o meu lado e ocupar a cadeira de JongHyun. Ele falou baixinho de modo que só eu pudesse ouvir:

         - Tem alguma coisa a mais, né?

         - Como assim? – ergui uma sobrancelha e ele deu um meio-sorriso.

         - DongHae e HyukJae. Você sabe de alguma coisa.

         - Eu? – bebi um gole grande do meu copo, ligeiramente nervoso – Por que saberia?

         - Não sei. Você e DongHae parecem tão próximos ultimamente...

Não pude conter um sorriso quando ouvi seu tom queixoso.

         - Você não está com ciúme, né? Digo, ele continua sendo seu melhor amigo, não meu.

         - Se eu estivesse com ciúmes não seria dele, Min – corei violentamente enquanto sentia o estômago despencar – Mas de qualquer forma, o que Hae tem na cabeça? Eu vi o jeito que ele tava com o MinHo, não me admira que Hyuk tenha perdido a cabeça...

         - E você não acha que depois Hyuk vai ficar com peso na consciência de ter armado essa cena toda? – os olhos de Kyu encontraram os meus e ele precisou de um momento pra responder.

         - Talvez. Foi muito arriscado falar essas coisas.

         - Vai ver ele não se importa com o que os outros pensam.

KyuHyun abaixou a cabeça para o colo depois que eu disse isso. Mordeu o lábio e respondeu ainda mais baixo, sem olhar pra mim:

         - É, vai ver é isso – só então (uma eternidade depois) percebi que minha frase soara como uma acusação para ele. Xinguei em silêncio e me curvei, tocando seu braço. Ele ergueu os olhos pra mim de novo.

         - Eles estão juntos há um bom tempo. Já é hora de eles contarem pros outros.

         - Um bom tempo quanto?

         - Hae me disse que há uns quatro meses.

Kyu ergueu as sobrancelhas.

         - Não fazia a menor ideia, achei que fosse mais recente.

         - Nah, daqui a pouco não vai mais ser segredo nenhum. Eles tiveram tempo de amadurecer as ideias. Se duvidar muito mais gente sabe e eu que só fui descobrir recentemente – dei uma risadinha culpada.

         - Quando ele te contou?

         - Pouco depois da nossa discussão – Kyu desviou os olhos intimidado – Ele foi positivo em relação a... a isso. Disse pra eu ter paciência com você, te dar um tempo.

         - É? – ele riu mais relaxado – Então vou ter que agradecer a ele depois.

Dizendo isso ele se levantou, deu um beijo na minha cabeça e voltou pro lugar onde estivera sentado antes. Mal reparei que sorria como bobo outra vez.

         Não houve sinal de MinHo, HyukJae ou DongHae durante o resto da noite. JongHyun voltou logo depois alegando ter deixado MinHo em casa. A atmosfera estava leve, alegre; nem parecia que havíamos presenciado aquela discussão. SeoHyun, pra quem não bebia, estava bem felizinha: não parava de andar para lá e para cá na mesa, ocasionalmente parando para cochichar alguma coisa pra Kyu. Meu estômago embrulhava toda vez que eu via a cena e então eu precisava desviar o olhar pra não dar uma de HyukJae e lançar vinho naquela cara risonha.      Cheguei a pensar em como Kyu reagiria se eu fizesse aquilo. Provavelmente não iria atrás de mim quando eu saísse enfurecido... Sacudi a cabeça pra afastar esse pensamento e tentei voltar a conversa na mesa. Ao meu lado Heenim sorvia a cerveja devagar, quase com desinteresse. Virei para o outro lado e encontrei JongHyun com aquela cara de felicidade espontânea dele. Parecia prestar atenção do outro lado da mesa, onde as meninas riam e jogavam as franjas de um lado para o outro.

         - Não vai arriscar puxar papo?

         - Quê? – ele pareceu saltar na cadeira ao sair do transe que as garotas lhe incutiram – Ah... Não. Na verdade eu tô meio que comprometido.

         - “Meio que comprometido”? – dei uma risadinha de deboche.

         - Bem, você sabe... Tô investindo numa pessoa aí.

         Eu havia me esquecido desse jeito adolescente de ser de JongHyun. Falava de uma maneira cúmplice, como se partilhasse a aventura do momento. Franzi o cenho como se pensasse seriamente no que ele havia dito e assenti com a cabeça.

         - Alguém que eu conheça?

         - Aham – ele riu culpado – Na verdade metade da Ásia conhece. Pensei em ligar pra ela quando passei em casa pra deixar o MinHo mas já tá muito tarde. E eu não queria ficar lá no apartamento sobrando com o MinHo e o TaeMin também...

         Pisquei duas vezes sem entender. Jjong falava como nem se desse conta do que saía de sua boca.

         - Esses dois chegam a irritar às vezes, sabe. Quando MinHo tá por perto o magnae vira uma espécie de Polyana e blergh, não consigo! Acho que eu devia ser um pouco mais romântico, mas ainda assim...

         - Por que o TaeMin muda assim perto dele?

         - Ora, vamos, SungMin, é só somar dois mais dois. Achei que você fosse mais esperto! – riu-se enquanto virava o resto do conteúdo da garrafa na boca.

         - Cala a boca, Jjong – disse brincando – Mas se é assim... Hyuk sabe disso?

         - Se soubesse não ficaria tão puto de ver o MinHo com o Hae, né? Aliás, acho que nem ele sabe.

         - DongHae? Como não saberia? Os dois vivem grudados.

         - É, mas o MinHo é mais teimoso que mula empacada e não admite nada com nada. Vai tentar dar um palpite nessa história dele com o TaeMin que você descobre o que é uma rasteira dolorosa... – Jjong passou a mão na lombar como se ainda sentisse a dor da queda e então bateu palmas, levantando animado – Se me dá licença, hyung, vou ali ter um approaching com aquelas senhoritas logo ali.

         Ele apontou para as meninas na mesa e eu deixei escapar uma risada.

         - Você não disse que tava “meio que comprometido”?

         - É, disse – ele parou por um momento e então continuou – Por isso mesmo, tenho que aproveitar enquanto o título não é oficial.

         E saiu do lugar, contornando a mesa até as amigas risonhas de Tiffany.


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Notas finais do capítulo

Li e reli essa história trezentas vezes antes de postar, mas ainda assim fico ansiosa achando que pulo de situação pra situação muito rápido. Churrasco, barzinho... Vida agitada a dos meninos, hein? E a salada de OTPs continua. x_x Aiai.
A cena do escritório foi mais um presente do que outra coisa. Difícil de explicar, haha.