You Are My Everything escrita por belacqua


Capítulo 4
Mas se faz bem o que é que você tem a perder?


Notas iniciais do capítulo

MIL DESCULPAS! Só assim eu posso começar a falar alguma coisa aqui >< (terceira vez que o Nyah come esse meu comentário, fffuu) A última atualização foi há um mês, e eu juro que não tinha intenção de demorar assim. Simplesmente me faltou coragem de voltar pra ler os reviews - é, pois é, fiquei com medo da reação ao último capítulo. Sou medrosa x_x De qualquer forma, perdão pela demora.
E só pra avisar, tirei o "terminada" da descrição da fic, porque gerou bastante confusão kkkk A fic já tá finalizada, só tô postando aos poucos mesmo. Quando acabar, vou deixar vocês saberem ^^ Boa leitura!



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KYUHYUN POV

A conta foi dividida entre os hyungs e os grupos se separaram, cada um indo para o seu canto ao final da noite. Tínhamos vindo no carro de RyeoWook, então seguimos para o estacionamento após nos despedirmos dos outros. Já passavam das três da manhã. JungSu comentou algo como “depois nos vemos” e seguiu para o carro de JongHyun, pra onde também seguiam alguns outros. Eu me sentia cansado, mesmo que de uma maneira boa, e nem cogitava a idéia de seguir para outro lugar que não fosse o dormitório. HeeChul e Wookie andavam mais a frente e SiWon fechava o grupo, pouco atrás. SungMin andava ao seu lado até que apressou o passo e me alcançou, todo sorridente.

- Você não vai acreditar no que eu vou te contar – ele disse com um olhar divertido.

- Ultimamente eu diria que nada mais me surpreende...

Min riu do meu comentário e aproximou-se ainda mais, enlaçando meu braço no seu. Ergueu-se um pouco, ainda andando, de modo a sussurrar no meu ouvido:

- Adivinha quem tá apaixonado pelo pequeno MinHo? – sua voz era um misto de alegria com zombaria; comecei a imaginar se ele talvez tivesse exagerado na bebida.

- Apaixonado? – dei ênfase na última sílaba – Sério?

- Sim, apaixonado. – ele me imitou na entonação – O fofo do magnae...

- TaeMin?! – balbuciei, um tanto alto demais. Virei instintivamente para SiWon mas ele parecia absorto no BlackBerry. Min sorriu com a minha reação e enlaçou ainda mais forte meu braço.

Havíamos chegado ao carro e eu não estava atento o suficiente para perceber o próximo movimento do hyung ao meu lado. Min puxou-me pelo braço que tinha apertado junto de si e me encostou no carro, na parte do porta-malas. O carro de Wookie era escuro, esportivo e alto.

- Isso é mais comum do que você pensa, Kyu...

Senti que corava violentamente apesar do frio da madrugada. Min fez menção de aproximar o rosto do meu mas  virei abruptamente pro lado e me desvencilhei de seu aperto, indo até HeeChul, que abria a porta do passageiro. Não olhei mais para trás.

- Posso ir na frente? Hyung?

Os olhos amendoados pareciam querer me perguntar alguma coisa, mas então HeeChul acenou de leve com a cabeça e passou por mim para abrir a outra porta. Murmurei um “obrigado” e entrei no carro, fechando a porta e pondo o cinto em menos de um minuto. SiWon ainda nem entrara e Wookie embarcava com um olhar desconfiado para mim.

- KyuHyun, tudo bem?

Acenei positivamente e olhei pelo retrovisor bem a tempo de ver Minnie se acomodando no banco traseiro, o rosto um completo ponto de interrogação. Desviei o olhar e me mantive focado no que via pela janela até quando já estávamos em movimento. O silêncio só foi quebrado por SiWon, que de repente perguntou:

- DongHae e HyukJae deram notícias?

- Hae já tá em casa – respondeu HeeChul – Mandou um sms pro celular do Teukie hoje mais cedo.

- E o Hyuk?

Ao que HeeChul deu de ombros, Wookie interveio:

- Provavelmente foi pra casa do JunSu.

HyukJae e JunSu eram melhores amigos e não seria a primeira vez que Hyuk trocaria o dorm pela casa dele. Todos aceitamos a resposta em silêncio até que SiWon perguntou por último:

- E o garoto? MinHo?

- Em casa – dessa foi Min que respondeu – Jjong o deixou lá com TaeMin.

Não olhei pelo retrovisor outra vez, mas não foi preciso; a voz de Min indicava que ele não mais sorria contente como há pouco. SiWon pareceu satisfeito com as respostas e voltou a se concentrar no telefone. Em condições normais estaríamos tagarelas e festivos dentro do carro, a caminho de casa, mas hoje não era o caso. Heenim conservava a expressão de descaso que assumira há alguns meses. SungMin e eu estávamos... desconfortáveis e SiWon completamente distraído. Wookie parecia preocupado mordendo o lábio enquanto dirigia.

O silêncio durou até chegarmos em casa. Saltei do carro e galguei as escadas antes que os outros. A fresta de luz debaixo da porta confirmava que DongHae estava em casa. Girei a maçaneta e a claridade da sala me desnorteou por uns instantes, o suficiente para que eu não fosse o primeiro a perceber que não havia apenas uma pessoa no apartamento. Min deu um gritinho de surpresa às minhas costas e passou por mim, entrando em casa e abraçando a pessoa mais perto da porta com entusiasmo. Ele vestia roupas de viagem e aparentava cansaço, mas sorria.

- Geng? – a voz surpresa de SiWon se fez ouvir.

Apesar de ainda estar meio abobalhado, me aproximei e cumprimentei-o também com um abraço. Fazia uns meses que eu o havia visto pela última vez. Estava bem arrumado, com uma cara mais saudável do que a que eu me recordava e sorria feliz com a nossa chegada.

- Quando você voltou da China? – perguntei.

Avistei DongHae mais atrás, também sorrindo, perto de uma mala que supus ser de HanGeng.

- Há duas horas, mais ou menos. O vôo atrasou, não pretendia chegar de madrugada, sabe... – riu-se o moreno.

No meio de toda essa confusão, apenas uma pessoa não havia se aproximado e permanecia prostrada na soleira da porta. HeeChul tinha os olhos grandes em surpresa, o rosto pálido. Aos poucos todos se atentaram ao fato e a sala caiu em silêncio. Os dois se encaravam sem nem se mexer. Por um momento temi que HeeChul estourasse em berros – ou lágrimas, o que seria pior – mas então ouvi a voz de HanGeng, baixa e carregada de uma emoção que eu nunca entenderia por completo:

- Heenim...

Como se despertasse ao ouvir seu nome, HeeChul correu a pequena distância e abraçou o chinês com força, os braços em volta de seu pescoço, escondendo o rosto em seu peito. Nenhum dos dois disse mais nada. HanGeng passou os braços pelas costas do outro, os olhos fechados. Me senti como um intruso assistindo aquela cena e então andei até o lado de DongHae, enquanto os outros se dispersavam também.

- Tudo bem? – ele me olhou com um sorriso meio fraco e voltou a encarar os outros dois.

- Acho que sim. Tomei um belo de um susto quando Kyung apareceu aí na porta.

Ele chamava HanGeng pelo seu nome coreano, HanKyung.

- Imagino. Ele vai ficar aqui com a gente? – apontei para a malinha mais atrás.

- Vai. Eu tava falando pra ele que podia ficar no meu quarto, se precisasse, já que HyukJae não vai mostrar as caras tão cedo, ou no quarto vago. Mas acho que ele já tem lugar determinado, né? – e indicou HeeChul, ainda abraçado a HanGeng, com a cabeça. O chinês dizia alguma coisa em voz baixa para ele.

O hyung dormia sozinho desde que KiBum e HanGeng se mudaram. A cama de KiBum já fora tirada de lá, mas por mais que insistíssemos, HeeChul não permitia que tirássemos a outra cama, fazendo com que seu quarto sempre tivesse um lugar vazio. Acenei quase sem perceber, concordando.

RyeoWook correu para a cozinha gritando que prepararia alguma coisa para comermos e HanGeng avisou que estava com fome de forma que todos rimos relaxados. Ele levou HeeChul consigo até a cozinha. O loiro mantinha os braços em volta dele, mas já levantara o rosto e andava ao seu lado. Seus olhos grandes estavam bem abertos e ele não dizia nada (o que, para HeeChul, era alguma coisa); reparei também que seu nariz estava vermelho. O chinês parecia ter recobrado a animação e seguiu para a cozinha conversando e rindo com os outros. Esperei todos passarem para o outro cômodo mas percebi Minnie parado próximo a porta, sem entrar na cozinha, me olhando. Entendi a deixa e me aproximei. Ele não sorria, mas não parecia bravo. Respirei aliviado.

- Kyu – ele disse baixinho enquanto os outros faziam barulho na cozinha – Por que você fugiu desse jeito?

- Não fugi, Min... Você disse que ia me esperar.

- Mas depois daquele dia no escritório – senti uma sensação engraçada na boca do estômago. Não é que as malditas borboletas existem mesmo? – e depois de ficar sabendo do Hyuk e do Hae, do MinHo e do TaeMin...

- Eu só preciso de um tempo pra digerir a idéia, ok? Nada mais.

Ele abriu a boca pra retrucar mas um grito na cozinha o interrompeu:

- Ei, vocês dois! A sopa vai esfriar se ficarem de conversinha.

Segui o chamado de SiWon e entrei, deixando Min pra trás com um olhar de significância.

- Agora será que o senhor nos dá a honra de explicar a surpresa?

Estávamos todos ao redor da mesa da cozinha, onde Wookie servira uma sopa rápida, mas sofisticada. A pergunta de DongHae fez o grupo explodir em risadas, que eu acompanhei. Fiquei contente ao ver que HeeChul esboçara um sorriso, a primeira reação depois do choque na entrada. HanGeng riu e se serviu de mais uma colher de sopa antes de responder:

- Resolvi o que tinha que resolver, contornei uns problemas que me surgiram depois que saí e... – ele fez uma pausa dramática – Voltei pra ficar. Já arranjei um apartamento pra mim, ele fica pronto daqui uns dias, mas como eu tinha pressa, vim abusar da hospitalidade de vocês.

Com a notícia de que ele voltava definitivamente pra Seoul, a mesa estourou em gritos e palmas de comemoração. Minnie e DongHae se levantaram pra fazer uma espécie de dança da vitória e entrei na brincadeira também, rindo e assoviando. O chinês chegou a enrusbecer tamanho o auê que fizemos. Ao seu lado HeeChul sorria de orelha a orelha, voltando a ser o hyung que eu conhecera anos atrás. Assim que as duas crianças pararam de dançar e o barulho cessou, exclamei:

- Geng, isso é ótimo! É bom saber que você vai estar por perto a partir de agora – ele se resumiu a oferecer a mão no alto para um high five e quando correspondi, disse:

- Obrigado, magnae. O apoio de vocês é o que conta pra mim.

Fizemos um coro de “OWN!” debochado e rimos mais uma vez. Eu já nem lembrava do meu desentendimento com Min há pouco. Todos estavam de excelente humor, inclusive ele, que ria e brincava feliz. Mesmo após terminarmos a sopa, continuamos sentados conversando. Devemos ter ficado uma duas horas assim, porque o céu visto da janela da cozinha mudava lentamente do azul anil pro rosa do alvorecer. Logo mais o sol despertaria e eu começava a me sentir sonolento.

- Geng... – HeeChul estivera calado até então, apenas rindo e acompanhando a conversa com olhos ansiosos – Por que você teve pressa em voltar?

A pergunta fora tão aleatória que o chinês precisou de algum tempo para processá-la. Ele também já começava a dar indícios de estar cansado, provavelmente por causa da exaustiva viagem.

- Seu aniversário é sexta. Quis chegar a tempo.

Se antes Heenim parecia quieto, agora parecia que levava um choque. Soltou um gritinho de felicidade e pulou em cima de HanGeng, enchendo-lhe de beijos no rosto e na cabeça. Abri um sorriso contente. Pela primeira vez em quatro meses eu pude ver meu hyung sinceramente feliz, animado, do jeito que sempre fora nos anos anteriores em que convivi com ele. Uma sensação de alívio misturada com felicidade me dominou e ao olhar para os outros, percebi que não era só comigo que isso acontecia. SiWon se levantara para tirar a louça suja de cima da mesa, mas retorcia os cantos da boca segurando a vontade de sorrir. Todos os outros três – RyeoWook, SungMin e DongHae – assistiam com expressões de deleite enquanto Geng tentava se salvar do ataque de carinho repentino de HeeChul. Quando meu olhar encontrou o de Minnie, duas pessoas entraram na cozinha fazendo estardalhaço.

- HanGeng, você já chegou? Por que não avisou que chegaria hoje? – JungSu parecia menos animadinho do que estivera no começo da noite. Logo atrás vinha JongWoon bocejando longamente.

- O-O-Oi, Geng.

- Não precisava incomodar, eu sabia o caminho – respondeu o chinês. HeeChul se aquietara sentando no colo dele para acompanhar a conversa, os braços em volta de seu pescoço – A noite foi boa hein, Jjong?

- Ótima, mas eu tô um b-bagaço...

JongWoon reprimiu outro bocejo e foi até a geladeira pegar água. Wookie correu a arranjar um copo pra ele. Desviei o olhar do foco da conversa quando vi DongHae se levantar, o sorriso murchando.

- Eu vou deitar. Boa noite pra vocês.

Me levantei em seguida murmurando um “vou também” e o segui, saindo da cozinha em seu encalço. Era óbvio que ele ainda esperava, lá no fundo, que HyukJae voltasse com os outros. O dia já raiara, o que indicava que ele realmente dormira fora. “Patético”, pensei.

- Ei, Hae... – ele me lançou um olhar desanimado.

- Tudo bem, Kyu. Eu devia saber que ele não ia voltar hoje. Cabeça dura que só ele...

Caminhei ao seu lado até o quarto que ele dividia com o namorado e fiquei pouco além da soleira, do lado de dentro, enquanto ele preparava a cama para se acomodar. Franzi o cenho, surpreso.

- Como sabia que eu ia falar disso?

- Depois de hoje acho que todo mundo já sacou, né? Sem contar que você é bem previsível.

- Ei! – joguei a almofada mais próxima de mim em DongHae, que riu zombeteiro.

- Brincadeirinha, Gyu. Também achei que SungMin podia ter te contado.

Levei uns segundos para digerir o que ele dissera. Lerdo como sempre.

- Ah, não... A gente não tá... – Hae parou de mexer no edredom e virou-se para me encarar, o rosto demonstrando paciência.

- Não estão mas deveriam. Francamente, KyuHyun, achei que você fosse menos coração de pedra.

Crispei os lábios e DongHae virou-se novamente, dessa vez mexendo na mesa-de-cabeceira.

- Não sou coração de pedra... – ele riu da minha frase ainda de costas – Eu só não sei se consigo aceitar assim tão fácil.

Sentei-me na cama de HyukJae de forma a ficar de frente para Hae, que sentara na própria cama, me encarando sério.

- Kyu – acenei para que continuasse – Você gosta do SungMin? Não responde ainda! Só pensa. Pensa se você gosta de ficar com ele.

- Nunca tinha percebido como você é melodramático...

- KyuHyun!

- Certo, desculpa... Deixa eu pensar – e me calei.

DongHae também não disse mais nada, e sob seu olhar inquisidor tentei fazer o que me pedira. De início só consegui pensar em como a mente do hyung era inocente e romântica, mas a medida que imagens afloraram em minha mente, percebi que não era de todo besteira. A primeira coisa em que pensei foi no dia fatídico em que Minnie me beijara. Todos os nossos anos de amizade passaram como um filme nos meus olhos e percebi, com horror, o quão dependente eu era de SungMin.

Encarei o chão ao lembrar do que eu lhe dissera – ou melhor, gritara – pouco depois do beijo. Senti que cerrava os punhos ao lembrar de seu rosto lavado de lágrimas. Levantei o olhar e encarei DongHae, que esperava impassível.

- Eu... – mas não continuei. A lembrança daquele escritório a luz baixa, do calor de Min, dos seus lábios... Pigarreei nervoso, ciente de que eu sabia a resposta pra pergunta de Hae, mas que me faltava coragem pra admitir. O que era minha vida sem aquele sorriso infantil dele? – Gosto. Ok? Gosto muito dele. Mais do que eu deveria, aliás...

- AHÁ! – à minha frente o moreno bateu palmas feliz. Eu dissera a última frase mais pra mim do que para ele, entretanto – Eu sabia! Agora me diz: você quer mesmo se privar desse amor por orgulho?

Eu estava atento ao fato de que ele usara a palavra “amor”. E isso não me surpreendia.

- Não sei, Hae. É complicado pra mim...

- Escuta – ele se curvou para a frente – Você pode nunca ter cogitado a ideia de gostar de outro homem. Óbvio que de início você tem o direito de ficar receoso. Eu não acordei um dia e pensei “hoje acordei afim de beijar outro cara, oba!”. Só aconteceu. Hyuk teve uma reação parecida com a sua. Ele fingia que nada tava acontecendo, que aquilo não era com ele... Eu fiquei bem perdido na época. Além de não ter quem amava, ainda corria o risco de perder um dos meus melhores amigos, uma das pessoas em quem eu mais confiava...

Ele parou por um instante, me avaliando. Então sorriu complacente.

- Hyuk é hoje minha maior fonte de alegria. Não consigo imaginar como seria se eu tivesse desistido de primeira. Isso soa muito clichê, eu sei, mas tira a noite de hoje como exemplo. Há um ano atrás eu nem sonhava em contar o que sentia pra ele, imagina fazer uma cena dessa na frente dum bar cheio.

- Depois que vocês saíram, inclusive Minho - eu disse, o coração mil vezes mais leve depois das palavras do hyung – a mesa ficou tensa, todo mundo calado. Min tentou consertar, mas ainda assim...

- O garoto gosta de você de verdade, Kyu, e não é de hoje. Não demora muito, você só ia fazer ele sofrer assim.

O quarto já estava claro com os raios de sol entrando pelas frestas da cortina. Hae tirou as meias e deitou, dormindo quase instantaneamente (ou me fazendo acreditar nisso). Me recostei na cama de HyukJae e fiquei encarando a parede oposta, perdido em pensamentos. Meus medos ainda me atormentavam, isso era certo. Mas as incertezas deram lugar a uma crescente sensação de segurança. Não percebi que caía no sono, as voz de Hae ecoando pela minha cabeça: “Você quer mesmo se privar desse amor por orgulho?”

- Ei, Bela Adormecida.

Não tive tempo de reagir antes de sentir a água no rosto. Me sentei de uma vez, afobado, e passei a mão no rosto. HyukJae estava parado ao lado da cama, o copo vazio na mão. Ele vestia jeans e camiseta estampada, sinal de que estava saindo ou chegando.

- Você tá ficando craque nisso, hein – disse, indicando o copo em suas mãos. Ele se limitou a rir do comentário, a raiva da noite anterior aparentemente extinta.

- Anda, JungSu pediu pra te chamar.

- Me chamar? Pra quê? – olhei para a cama vazia de DongHae e em seguida para a janela. Já era pôr-do-sol – Que horas são?

- Quase seis. Você dormiu um bocado. E vem, JungSu quer falar com todo mundo lá na sala.

Me levantei ainda meio grogue e vi HyukJae saindo em direção a sala. Passei no banheiro para fazer a higiene pessoal, desejoso por um banho, atento ao fato de que eu dormira com a roupa do corpo e segui o hyung, indo para a sala-de-estar.

O grupo todo estava ali; eu era o único que faltava chegar. ShinDong, HanGeng e HeeChul sentavam no sofá. SiWon estava empoleirado no braço do móvel. Min (meu estômago despencou aqui), RyeoWook e JongWoon formavam um semi-círculo no chão, de modo a ficar de frente para os outros. JungSu sentava ao contrário em uma cadeira, o queixo apoiado no encosto. Fechando a trupe, DongHae sentava recostado na poltrona, o olhar meio vago, enquanto HyukJae escorava-se no braço do estofado. Assim que entrei, JungSu ergueu o rosto, animado.

- KyuHyun, só faltava você!

- O último, pra variar... – brincou HeeChul.

Sentei entre RyeoWook e SungMin, que me olhou curioso. Abri um sorriso para ele, me perguntando o por quê do olhar indagador.

- Hm, qual o motivo da reunião? – a atmosfera na sala era tranquila, mas ainda achava estranha essa convocação repentina.

- Então – começou JungSu, ajeitando o óculos de grau na ponte do nariz – São duas notícias. Além de líder agora eu sou porta-voz das crianças, né, então fiquei incubido de passar pra vocês. A primeira e mais óbvia é que HanKyung ficará aqui com a gente por uns dias, até a casa dele ficar pronta. O estrangeiro vai deixar de ser estrangeiro, viva!

JungSu bateu palmas pro próprio comentário, sorridente, e o barulho feito na cozinha na noite anterior se repetiu. Assoviamos e batemos palmas, e ShinDong puxou HanGeng pelo pescoço para um abraço.

- Obrigado, obrigado – o chinês ergueu as mãos fazendo graça.

- A segunda notícia – JungSu continuou fechando os olhos momentaneamente e massageando a têmpora – eu espero que cause menos rebuliço porque minha cabeça tá prestes a explodir.

- Depois dos trinta tem que tomar cuidado com a bebida, hyung! – debochou Minnie.

- Quem tem mais de trinta aqui?! – o líder se exasperou, arrancando risadas de nós. Ele fez sinal com as mãos para que parássemos a balbúrdia – De qualquer forma, tenho prazer de anunciar que dois pombinhos resolveram assumir o nada óbvio relacionamento...

A sala ficou repentinamente agitada como se uma corrente elétrica perpassasse por todos. Trocamos olhares cúmplices e percebi que muitos convergiram para mim e Minnie, depois para Hyuk e Hae e por fim para HanGeng e Heenim. Senti uma inexplicável vontade de rir e JongWoon aproveitou esse momento para dizer em voz alta:

- Mas eu achei que YoungWoon estivesse no exército, hyung.

Explodimos em risadas enquanto JungSu tentava, sem sucesso, atingir um chute no outro. Eu me sentia estranhamente leve e fiquei feliz em reparar que Minnie parecia estar igualmente leve e tranquilo. Não pude deixar de lembrar do que ele me dissera na noite anterior. “Isso é mais comum do que você imagina...”. Com as bochechas ainda vermelhas pelo comentário de JongWoon, o líder continuou:

- DongHae e HyukJae acharam melhor comunicar assim, pra todo mundo de uma vez, que estão juntos. Namorando, pra ser mais exato.

- AAAAAH, mas já não era sem tempo! Vou mandar um buquê de flores pro Choi MinHo, se não fosse a cerveja na cara dele...

- Heenim!

- Quê?! – o loiro riu culpado enquanto SiWon e HanGeng o atacavam com tapinhas na cabeça.

- Na verdade, acho que vou mandar um cartãozinho pedindo desculpas pro moleque – comentou HyukJae, sorridente. Deduzi que a reação positiva do grupo o deixara feliz.

- Cartãozinho? Moleque? HyukJae! – DongHae virou-se estupefato – Foi ideia do JunSu?

- Ih, Hyuk, cuidado – disse ShinDong lá do sofá – Começa assim, daqui a pouco tá reclamando do corte de cabelo, da hora que chega em casa, do jeito que dobra as meias...

As gargalhadas encheram o cômodo e foi a vez do eterno magnae, Wookie, dar pitaco na conversa:

- Se um dos dois chegar a dobrar as meias, né, do jeito que são organizados... – ironizou. Aproveitei pra entrar na brincadeira:

- Verdade, dormi no quarto deles ontem e quase não encontro meus sapatos naquela baderna.

- Isso é coisa de dançarino – finalizou HeeChul, fazendo HanGeng esbugalhar os olhos ao seu lado.

- EI!

- Ei nada, você é a bagunça em pessoa.

Heenim arrancou mais risadas e desviei o olhar para os dois na poltrona. A felicidade de ambos era evidente. Antes que a brincadeira continuasse, entretanto, Hyuk chamou a atenção de todos, que se calaram pra que ele falasse:

- Eu fico muito aliviado de ver que vocês aceitam isso bem assim. O meu maior medo era que vocês rejeitassem, ou sei lá... Obrigado. Sério.

- Alguém corre lá na cozinha e pega um guardanapo porque ele vai começar a chorar já, já!

Hyuk não pareceu chateado com o pouco caso que fizeram da sua declaração, pelo contrário; sorriu derrotado e chutou SungMin de brincadeira pelo que ele dissera. Me peguei olhando para Minnie mesmo depois que Hyuk se afastara. Talvez o meu medo não tivesse fundamento, então. Todos aceitaram Hae e Hyuk, por que não aceitariam... outros?

- Ok, agora que o recado tá dado, licença que minha cama e uma bolsa de gelo me esperam.

JungSu se levantou, entrando no corredor em direção aos quartos, e aos poucos o grupo foi se desfazendo. HanGeng, SiWon e HyukJae saíram, HeeChul e ShinDong disputavam o controle da televisão enquanto RyeoWook assistia os dois. Minnie seguiu sozinho para a cozinha. Me aproximei de Hae a fim de conversar com ele.

- Quando foi a decisão de comunicar pros outros?

- Logo depois que Hyuk chegou em casa veio conversar comigo. Fomos pedir opinião pra JungSu e ele concordou que seria bom abrir o jogo.

Seu tom de voz era de alguém que se sentia revigorado após terminar uma tarefa difícil.  Não pude deixar de sorrir junto vendo o sorriso dele tão largo. Ele merecia aquela felicidade, sabe. Eles mereciam.

- Vem cá – puxei DongHae para um abraço e ele entendeu a deixa. Falei baixo, próximo a seu ouvido, para que ninguém mais ouvisse – Valeu pelas dicas de hoje mais cedo.

Ele riu e deu dois tapinhas nas minhas costas, completando na mesma voz baixa:

- Falta só você pôr em prática.

SUNGMIN POV

Eu sabia que depois da cena que HyukJae aprontara no bar, ele e DongHae não teriam mais como manter o relacionamento em segredo. Quando vi Hyuk entrar em casa fiquei receoso por eles. Primeiro por não saber o quão furioso o loiro estava. Segundo por medo de que eles não suportassem a pressão das pessoas quando soubessem. Então quando entrei na cozinha naquele início de noite eu estava tranquilo. Tudo correra maravilhosamente bem; eles estavam juntos e – o mais importante – juntos para todos verem. Soltei um suspiro para a fatia de pão que segurava. Desrosqueei o pote de maionese e enchi a colher com o conteúdo. Sem que eu percebesse sua aproximação, KyuHyun chegou por trás, passando os braços por mim e segurando minhas mãos que ainda erguiam o pão e a colher. Eu não precisava ver seu rosto ou ouvir sua voz para saber que era ele. Congelei onde estava enquanto ele movia meus braços, terminando o serviço de passar a maionese no pão, ainda abraçado às minhas costas. Perdi momentaneamente a razão quando senti seu hálito morno logo abaixo do ouvido:

- Isso não vai atrapalhar seu apetite pro jantar?

- Não sei se o jantar vai demorar, então...

Ele terminou o pão e uniu com outra fatia, de forma a fazer um sanduíche sem recheio. Pôs em minhas mãos e me soltou, virando e encostando-se no balcão. Olhei para o lanche que segurava, já não mais tão certo de que queria comer.

- Kyu...

- Hm? – virei-me para conferir se estávamos sozinhos e depois olhei para ele.

- O que você quer, afinal? Ontem só de eu chegar perto você já fiquei todo atacado, agora vem e me abraça desse jeito com a casa cheia... Não te entendo.

- Desculpa.

Virei para o pão em minhas mãos mas não me atrevi a morder. Eu não sabia se estava exatamente com raiva do magnae. Ele estava parado, me olhando, a expressão resoluta. Mordi o lábio, indeciso, e larguei o pão no balcão.

- Você pediu que eu te esperasse.

- Sim... – ele não entendeu onde eu queria chegar. Facilitei, portanto:

- Mas eu não posso esperar sem ter certeza de que você quer.

- Que eu quero? – o tom era confuso.

- É. KyuHyun – engoli em seco, decidido – Você gosta de mim?

Então era agora ou nunca. Minha voz soara mais áspera do que eu planejara e observei Kyu pousar uma mão no palcão, procurando por apoio quase sem perceber. Eu tinha certeza de que daqui a pouco ele ouviria as batidas descompassadas do meu coração, de tão forte que ele batia.

Kyu abriu a boca para responder mas as palavras se perderam no meio do caminho. Eu estava farto de esperar, aguardar, aceitar. Agora não tinha mais volta. Dei um passo em sua direção, ficando próximo o suficiente para sentir sua respiração em meu rosto. Ele estava com as costas apoiadas ainda no balcão e não impediu que eu chegasse perto. Eu queria ouvir a resposta dele, mesmo que ele não quisesse deixá-la sair. Encostei meu corpo no dele, os narizes a um milímetro um do outro.

- Fala.

Ele não me olhava mais nos olhos. Encarava minha boca, ainda sem reação; um completo energúmeno. Levantei uma mão e levei ao seu peito. Ele respirava forte, o movimento do tórax acelerado. Seu coração batia freneticamente. Lembrei de quando senti as mesmas coisas deitado ao seu lado e de como na hora me parecia a coisa certa beijá-lo. A sensação se repetia agora, mais forte do que nunca.

- Min – sua voz me trouxe de volta do devaneio. Ele erguera os olhos para me encarar. – Eu amo você.

Senti como se meu sangue estivesse em chamas. Nunca imaginei que três palavras pudessem surtir tanto efeito em alguém. Como se tivesse sido impulsionado a isso, selei meus lábios nos dele, pressionando nossos corpos e levando minha mão a sua cintura. Assim como da última vez, Kyu correspondeu, suas mãos me enlaçando pelo quadril. Curvei um pouco a cabeça para o lado e assim dei passagem para o beijo, as línguas trocando carícias assim que se tocaram. Conforme o ritmo aumentava, eu ia empurrando cada vez mais seu corpo para a frente, forçando contra o dele, o atrito crescente.

Levei minha mão à sua nuca e entrelacei os dedos em seu cabelo, com força, mas sem machucar. Minha urgência era respondida por Kyu, que segurava firme meu quadril e vasculhava minha boca com a língua. Eu estava quase entrando em combustão, o calor crescendo a cada segundo.

Quando finalmente nos separamos a fim de recuperar o fôlego tomado pelo beijo, senti minhas pernas amolerecem ao encarar o sorriso de canto que Kyu me lançava. Seus olhos brilhavam em desejo e imaginei que eu passava a mesma imagem para ele, o que me fez sorrir também. Passei a beijar seu queixo, maxilar e orelha, mordiscando o lóbulo e constatando que ele arrepiara com isso.

- Você não sabe como é bom ouvir isso, Kyu.

Ele riu baixinho com minha frase ao pé do ouvido, as mãos começando a passear pelas minhas costas. Pra quem não sabia lidar com a situação, ele estava se saindo extraordinariamente bem.

- E eu não mereço nenhum agrado?

Naquele momento o mundo se resumiu ao espaço formado pelos nossos corpos, pra mim. Levei a mão que estivera em sua nuca para o seu abdômen, tateando por cima da blusa e mordendo seu lábio inferior. Eu queria mordê-lo por inteiro.

- Merece ainda mais... – voltei aos seus lábios e os tomei nos meus, dessa vez vagarosamente, aproveitando toda a extensão da sua boca. Eu poderia procurar pelo resto da vida, mas nada me faria sentir mais completo do que ali, nos braços dele. O ritmo do beijo começava a crescer de novo quando ouvi um pigarro às minhas costas. Com relutância cedi ao movimento de Kyu, que me afastava e virava em direção à porta.

Eu havia esquecido completamente que estávamos na cozinha. Minha face ruborizou quando vi que o som fora feito por HanGeng, que hesitava na entrada do cômodo segurando sacolas ao lado do corpo.

- Desculpa, e-eu trouxe o jantar. Não queria atrapalhar.

Ele parecia desconcertado, o olhar pedindo desculpas. Sorri constrangido mas antes que um de nós dois falasse novamente, Kyu se remexeu incômodo e disse numa voz estranhamente aguda:

- Vou tomar banho.

E saiu feito um raio, sem olhar para ninguém. Imaginei o quanto isso o deixaria nervoso.

- Hãn... Tudo bem, Geng. Eu vou, hm, lavar as mãos.

O chinês assentiu, ainda inseguro, e levou as compras para a mesa de jantar. Segui para fora da cozinha, passando pela sala sem prestar muita atenção e me dirigindo para a área dos quartos. Todos estavam vazios e abertos, exceto o de JungSu e Kyu. Parei em frente à porta, ponderando se batia ou não, mas não precisei decidir. A maçaneta girou com força e a porta se abriu de uma vez, revelando um quarto na penumbra.

- Aish, que susto, Min.

A silhueta de Kyu se fez visível conforme ele saía e fechava a porta atrás de si. Me afastei para lhe dar passagem. Ele trazia uma toalha nos ombros.

- Susto digo eu. Pra quê essa escuridão?

- JungSu tá deitado, esqueceu? – Kyu me puxou pelo braço, me levando pelo corredor – Vem. Se a gente ficar conversando na porta é capaz que ele reclame.

Paramos em frente à porta de um dos banheiros da casa, quase ao lado do quarto de SiWon e JongWoon. Ali Kyu virou-se para mim e cruzou os braços, sisudo.

- Acha que Geng vai comentar alguma coisa com os outros?

- Provavelmente não... – pesei as palavras por um instante – Mas se comentar, e daí?

- Daí que eu não quero que comente!

- Então pede pra ele não falar nada.

- Mas aí vai parecer que eu tô preocupado.

- E não tá?

- Não! Quer dizer, tô. Quer dizer... Não sei.

Ergui uma sobrancelha, achando graça da sua atitude.

- Pensei que tivesse dito que me ama.

- E amo – ele franziu o cenho -  O que isso tem a ver?

- Bem, vai ser bem complicado pra gente ficar junto se você tem medo de que saibam, né? Pretende seguir a linha Capuleto e Montéquio?

- Não! – Kyu deu um suspiro cansado e me olhou reticente.

- Então o quê?

Podia sentir o nó na garganta indicando que eu começava a ficar nervoso. Se ele não conseguisse encarar a situação de frente... Não sei como isso podia dar certo. Ele torceu os lábios rosados por um momento, pensativo.

- As coisas vão se ajeitar. Só espera um pouco.

Com a frase ele se aproximou e depositou os lábios nos meus, as mãos segurando meu rosto de cada lado. Eu ficava encantado cada vez que ele tomava alguma atitude assim. Me sentia extremamente feliz. O selinho não durou mais que alguns segundos. Quando dei por mim, Kyu já havia sumido dentro do banheiro.

- Esperar... Tá, né.

Lancei os braços pra cima em um movimento exasperado e voltei para a sala, onde estavam os outros hyungs.

- Tem certeza de que é uma boa ideia, Heenim?

- Por que não seria? – o loiro revirou os olhos para HanGeng – Vocês vêem dificuldade em tudo.

Mais uma vez estávamos ao redor da mesa da cozinha, reunidos. Já fazia algumas horas que JongWoon e DongHae tinham saído para cumprir a agenda pessoal deles e ShinDong voltara para casa. O dormitório estava silencioso, não fosse o barulho naquele cômodo.

- Não sei por quê você não organizou essa festa aqui mesmo... – HanGeng remexia no prato com um biquinho no rosto. Assisti a discussão calado.

- O dorm é pequeno, não ia caber nem metade dos convidados. Além do quê, JungMo ofereceu a casa dele de bom grado.

- A casa não é do JungMo – HeeChul encarou o chinês, incrédulo. Ele se apressou em completar – Ok, entendi. Não tá mais aqui quem falou.

- Não tá mais aqui quem GRASNOU, né. Enfim – ele virou-se para nós, repentinamente mudando o tom para algo mais cordial – Amanhã, a partir das 18h na casa do Jung. Todos vão?

Assentimos e o loiro apontou para HyukJae e RyeoWook:

- Você, trata de levar o DongHae. Você fica responsável de passar o recado pro Jong.

- Por que eu?! – Wookie ergueu as sobrancelhas.

- Quer mesmo que eu diga? Bem...

- TÁ BOM! Eu levo! – assisti o dongsaeng se levantar, nervoso, levando o prato de ramen consigo – Você às vezes é tão baixo, HeeChul...

O outro não pareceu se abalar com o comentário e sorria feliz para o próprio prato. Wookie seguiu para a sala, contrariado.

- Hyung, o quê...? – mal comecei e HeeChul soltou uma risadinha.

- Digamos que eu sou o potinho de segredos dessa casa.

Ele lançou um olhar penetrante para mim e depois para Kyu, que me fez abaixar o rosto para a comida, receoso de corar e perceberem. Quem falou a seguir foi JungSu, que encarava o loiro, pensativo:

- Sabe, não sei se eu realmente senti falta desse seu lado idiota.

Caímos na gargalhada, até mesmo HeeChul, ainda que envergonhado. Ele tentou atravessar a mesa para acertar o hyung.

- Babo!

Refeição terminada, fome saciada, fui descansar em frente à tv da sala. KyuHyun, HanGeng e HyukJae combinavam um mini-campeonato no videogame. Games eram a área do magnae, mas o tema (futebol) favorecia Hyuk. Sentei em um canto do sofá enquanto os três se esparramaram no tapete, alternando os joysticks. Precisei me focar para não encarar Kyu o tempo inteiro. Ele ainda tinha o cabelo molhado e despenteado. Se divertia como uma criança ao lado dos hyungs, o sorriso enorme no rosto. Nem notei que eu curvara os cantos da boca reprimindo um sorriso.

Wookie sentou ao meu lado pouco depois, alegando que da poltrona onde estava não conseguia assistir ao jogo. Lembrei de sua saída intempestiva da cozinha e virei para olhá-lo. Parecia contente e fiquei com medo de causar outra mudança de humor, mas ainda assim arrisquei:

- Wook.

- Sim? – ele mal piscou de tão concentrado no jogo dos outros. A barulheira do jogo me deixava livre para falar com o dongsaeng sem medo de ser entreouvido – Pode falar, SungMinnie.

- Do que HeeChul tava falando aquela hora, na cozinha? Você ficou tão alterado.

- Ah – seu sorriso fraquejou e ele virou o rosto, agora prestando total atenção em mim – São assuntos antigos que ele adora trazer à tona pra me tirar do sério. Nada demais.

Wookie tornou a olhar para a tv, a expressão vazia. Ele não sorria mais.

- Ele chateia você e JongWoon hyung com isso?

- Jjongie? Não, meu Deus, não. JongWoon nem sonha com essa chatice do HeeChul.

Esperei que ele dissesse mais alguma coisa para se explicar, mas ele simplesmente virou para assistir o jogo e se calou. Fiz o mesmo, ainda que curioso, mas não tinha tanta certeza se um dia teria a resposta pras minhas perguntas.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, acompanhando o campeonato no videogame. Kyu, pra variar – e pro meu deleite – estava na frente. Me entreti na animação deles e mal vi as horas passarem. Já considerava a ideia de me recolher quando RyeoWook, ainda ao meu lado, comentou numa voz evasiva:

- Não é todo mundo que tem a sorte de ser correspondido, SungMin. Às vezes só não é pra ser.

Encarei-o sem reação. Ele não parecia chateado. Pelo contrário, o sorriso estava de volta em seu rosto. Mas o tom não deixava dúvidas de que aquele assunto o machucava. Me senti perdido. “Quantas vezes será que ele já mascarou as emoções com esse sorriso singelo e eu nunca percebi?”

- Wookie...

- Esse negócio de amor é bem complicado. Mas de qualquer forma o amor próprio vem em primeiro lugar, não é verdade? – eu ainda estava surpreso demais para formular uma resposta coerente – E, ahn, não comenta isso com ninguém. Já não basta HeeChul...

Com um clique sonoro a porta da sala se abriu e duas pessoas entraram fazendo estardalhaço. Nesse meio-tempo, Wookie se levantou e me beijou a testa, dizendo um boa-noite e só me dando oportunidade para sorrir em resposta. JongWoon se jogou no lugar onde estivera RyeoWook há menos de três minutos, soltando um suspiro de cansaço. DongHae se abaixou perto dos três que jogavam.

- Nunca mais me deixem oferecer carona pro DongHae. Eu teria chegado meia-hora mais cedo, não fosse por ele.

Em um movimento discreto Hae se aproximou de HyukJae o suficiente para que este virasse o pescoço e oferecesse os lábios para ele. O moreno selou, então, um beijo rápido e se levantou para tirar o sobretudo.

- Da próxima vez eu peço pro MC me liberar mais cedo, certo?

- Certíssimo – DongHae caiu na gargalhada e seguiu para a cozinha preparar o próprio jantar.

O hyung ao meu lado assistia o jogo sem interesse nenhum, exausto. Tínhamos duas semanas de folga como grupo, mas JongWoon era um dos que tinham agenda pessoal sempre cheia. Quando percebeu que eu o encarava, indagou:

- E aí, SungMinnie?

Eu ouvira meu nome ser pronunciado da mesma forma há pouco tempo e não pude deixar de reparar na coincidência. Fiquei surpreso de nunca ter percebido essas deixas. Esbocei um sorriso como resposta e me voltei para a TV. Encontrei Kyu me observando, totalmente alheio ao jogo no turno de Geng e Hyuk. Meu sorriso enlargueceu.

- Quê? – não consegui esconder o tom felizinho da minha voz.

- Nada. Só tô olhando. Não vai jogar?

Ergui uma sobrancelha como resposta. Kyu sabia muito bem que eu não jogava. Segui na dele.

- Nah, agora não...

- Ei, magnae – Hyuk deu um tabefe na cabeça dele – Fica atento. É a sua vez.

- Não vou mais, a disputa fica entre vocês dois.

Kyu gentilmente recusou o joystick que o hyung lhe oferecera. O outro ficou desconcertado.

- Já cansou? – Hyuk fez uma espécie de biquinho e foi surpreendido por uma risada. Descalço e com um copo de suco na mão, DongHae vinha entrando na sala.

- Ele tá com outras coisas na cabeça, babo.

- Ô, se tá... – murmurou HanGeng sem tirar os olhos da TV. Senti que engasgava sem motivo e dei umas tossidinhas discretas. Kyu me encarava com olhos grandes mas parecia, de alguma forma, achar graça.

- O que vocês tão sabendo e eu não, hein? – JongWoon se esticou para a frente, os olhos relanceando de DongHae para HanGeng.

- Deixa de ser curioso, criatura.

Hae passou pelo sofá e lançou-me uma piscadela cúmplice, indo sentar na poltrona mais adiante. Senti vontade de lhe dar um soco pela cara zombeteira que ele me lançou, mas acabei rindo com os outros. A única pessoa fora de sintonia era Hyuk, que apresentava uma cara meio retardada, sem entender boa parte das brincadeiras. Então Hae não comentara nada com ele?

- Vou deitar, então. Ainda tenho que comprar o presente para HeeChul hyung amanhã.

O dia amanheceu claro e agitado. Mal passava das dez e eu conseguia ouvir passos para lá e para cá na casa. Me lancei para o banheiro, mas antes que alcançasse a porta, ouvi um chamado vindo da sala.

- EI, SUNGMIN!

Congelei onde estava, os olhos ainda lentos demais pelo torpor matutino para identificar quem era. Grunhi em resposta.

- Vem cá. Pensei que não fosse acordar hoje...

Me arrastei para onde ele chamara, o sono aos poucos se dissipando. A claridade da sala mostrava uma verdadeira bagunça onde em geral só se via organização. Sacolas se amontoavam no sofá e o tapete da sala estava polvilhado de papel presente. HyukJae comia torradas assistindo a distância enquanto HanGeng se atrapalhava com um dos embrulhos.

- Bob Esponja? Sério, hyung? – apontei para o embrulho em seu colo.

- Você sabe que Heenim gosta dessas coisas. Sem contar que é engraçadinho! – HanGeng ergueu o rolo de papel presente, feliz da vida.

- Nem tenta, SungMin. Esse aí é tão criança quanto HeeChul hyung.

- Hm – meneei a cabeça – Me chamou?

- Ah! – HyukJae pareceu se lembrar do que me trouxera e enfiou o resto de torrada na boca, limpando as mãos de qualquer jeito. Suas palavras seguintes saíram abafadas: - C ai cmpr o esente unje?

- Quê?

Ele engoliu a torrada e ruminou um pouco antes de tentar de novo.

- Você ainda vai comprar o presente hoje?

- Ai, o presente. Tinha esquecido – olhei perdido ao redor e meu olhar recaiu sobre as sacolas amontoadas no sofá – E isso aí? São os presentes de vocês?

- Não – Hyuk soltou um muxoxo de descrença – São os presentes que chegaram.

- Mas não é nem meio-dia ainda...

- HeeChul... – Geng e Hyuk disseram em uníssono.

- Ah. Verdade.

Eu conhecia o hyung o suficiente pra saber que todo aniversário era um pretexto para ser idolatrado por vinte e quatro horas. Digo, idolatrado mais do que o normal. Narcisismo gritante.

- Onde está todo mundo? – “Onde está KyuHyun?”

- O trio foi pra gravação de alguma coisa...

- Programa de auditório – interviu Hyuk.

- É, isso aí... SiWon tá lá pra dentro e os outros na cozinha. E, hm, HeeChul foi pra casa do JungMo.

“O trio” era uma forma de se referir ao K.R.Y. Então Kyu fora à trabalho. Acenei para indicar que ouvira, o pensamento perdido em algum lugar. Então com um estalo voltei a mim.

- Tá, mas e daí? Me chamou pra perguntar só isso?

- Não, pra perguntar se você vem com a gente procurar alguma coisa pra ele. Nem eu nem JungSu compramos ainda também.

Ponderei a proposta e meneei a cabeça de novo.

- Por mim tudo bem. Só vou tomar um banho. – dei meia volta de onde estava, na porta do corredor, mas parei para falar mais uma coisa – Eu fui o último a acordar?

- Aham – Hyuk já voltava pra cozinha, no mínimo atrás de mais torradas. Foi Geng quem completou:

- Tá desculpado. Foi por uma boa causa.

Ele sorriu pro embrulho já quase feito e a vontade que eu tivera de socar DongHae na noite anterior voltou, dessa vez direcionada ao chinês. Fuzilei-o com o olhar.

- Você tá aprendendo muito com o HeeChul.


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Notas finais do capítulo

YAY, quem aprova um pouco de HanChul? :D E 2Min? E KangTeuk? E YeWook? KKK Eu avisei que era salada de casais... O Kyuhyun, tadinho, só precisa de um empurrãozinho. Ele é lerdo mesmo (na minha cabeça, pelo menos!). E eu fui reler antes de postar e coisas como "o loiro" direcionadas ao HeeChul ou "o moreno" relacionadas ao EunHyuk nem rolam mais, né? kkk Perdão, eu escrevi isso ainda na época das apresentações de Bonamana, então... Enfim, prometo que não sumo x_x E se eu perder a coragem de novo, pelo menos venho postar o resto da fic pra não deixar vocês a ver navios. Hm. O próximo capítulo continua com SungMin POV! :D