Vou contar uma coisa para vocês: A pior parte de um namoro são os parentes. Sempre. Vai ter sempre aquela sogra que vai te encarar com cara de cu toda vez que você vai lá, aquele sogro separado da sogra em questão que adora falar de futebol com você, mesmo que a única coisa que você saiba sobre o assunto é que se joga com uma bola, e um cunhado que parece que existe apenas para te incomodar.

Mas dessa vez, vou destacar meu cunhado, levando em conta que minha sogra está para um manicômio e meu sogro fugiu com uma loira peituda para a Suécia.

Kyle tem um irmão mais novo, de nome Elliot, que me ensinou que eu tenho um lado psicopata dentro de meu eu interior, até então inexplorado. Lembro-me como se fosse ontem o dia que o pirralho me jogou um balde de tinta azul, em uma perfeita peraltagem (esta palavra existe, ou acabei de inventar por falta de melhores termos?) de sua parte.

Mas enfim, o garoto cresceu, fez 18 anos, e adivinha: Foi expulso de casa pelo pai, com quem morava até então, para que enfim, o velho pudesse ter a loira peituda que sempre quis.

E adivinha onde ele inventou de vir morar? Adivinha? Sim, com o irmão de 20 anos que mora com o namorado.

E a história se repetiu: Lá estava eu, sentado no sofá, com uma bacia de marshmallows assistindo ao CSI, quando a campanhinha toca, bem na cena que o policial interroga o principal suspeito. Xinguei um pouco, e fui atender, já que o Kyle estava ocupado no ofício de arrumar a casa.

A verdade é que, quando eu abri a porta, eu quis correr ou pegar um ônibus para as colinas e ir viver com o abominável homem das neves para o resto da minha existência.

—ELLIOT?! — ainda imagino minha cara de “que porra é essa?” quando disse isso. Lembro-me de como meu coração doeu ao ver a mala atrás dele... — Er... Oi! — tentei parecer simpático, às vezes ele estava se mudando pro Chile e veio só se despedir — Entre...

Ele entrou e se sentou, mesmo eu não tendo o convidado para sentar. Kyle veio do quarto, vestido de seu avental cor-de-rosa, com uma muda enorme de roupa suja.

— Elliot! — exclamou assim que o viu, largando as roupas no chão e indo abraçar a pessoa que era ainda menor do que ele. — O que te traz aqui?

Elliot olhou desolado para o chão, e nos contou seu problema. Minhas especulações estavam erradas. Ele não iria se mudar para o Chile. Acho que dependendo da situação, sou eu que vou pra lá.

Kyle me olhou com aquela cara de cão sem dono que ele sempre faz quando quer me pedir alguma coisa — e funciona direitinho — e eu já entendi tudo. Qual será o próximo vôo para o Chile?

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Fazia dois meses que Elliot estava morando conosco. A minha sorte, que um dia depois que ele chegou, eu contratei um excelente seguro. Porquê, desde então, eu já tinha perdido: Um vaso chinês caro, meu ventilador de teto, quase metade da minha prataria, e por pouco não perco também metade da cozinha, quando quase explodiram o lavador de pratos. Mas isso não vem ao caso.

Era um domingo ensolarado, que o Elliot tinha ido com o Kyle no supermercado comprar algumas coisas que faltavam para eu terminar o almoço. A questão é que, eles demoraram tanto que eu tive que me saciar temporariamente com um pacote de salgadinhos sabor churrasco que encontrei no armário. E como Lady Murphy me ama, eles chegaram quando eu estava na metade do pacote.

— AL, AL!! — Kyle chegou pirulitante na minha direção, e Elliot vinha atrás, mais vermelho que alemão depois de umas horas de praia. — Qual é o nome daquele seu vizinho esportista que mora no 303?

Eu parei com um salgadinho pra fora da boca e uma mão no pacote.

— Sean. Por quê?

— O Elliot tá caidinho de amores por ele!

Na hora que o Kyle me contou, eu engasguei de forma tão terrível, que eu achei que dessa vez eu morria asfixiado. Assim que eu consegui desentalar o salgadinho de minha garganta, Elliot me encarou com uma expressão furiosa.

— Que exagero, Alphonse! Ele é legal e eu gostei dele. Não precisa reagir como se fosse parir um filho!

— Imagina... Sim o cara é legal. — minha voz ainda estava devido ao engasgo — Boa sorte com o sujeito. — a minha esperança foi que, eles ficassem juntos, e o Elliot fosse para o apartamento dele.

— E... — comentou o Kyle, exasperando alegria e entusiasmo — vamos ajudá-los a ficar juntos!

É... Ferrou.