The Twin Turnabout escrita por Randy_Farfnair


Capítulo 3
Capítulo 2: Sinopse




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Outubro 22, 9:59 da manhã

Distrito Hua Meng

Sala de Julgamento número 5

            Quando entramos e tomamos nossa posição na bancada direita (Lili bem junto á mim), nós olhamos o que tinha ao redor. O juiz, um homem calvo mas que tinha uma grande e cinza barba, estava já sentado em seu lugar, mais alto que todos na sala. As pessoas que assistiam, vendo de lugares que mais pareciam camarotes, estavam agitadas. Discutiam e faziam certo barulho. Não estavam irritando tanto, então me perguntei por que não tínhamos começado. Só depois notei no promotor.

            Era um homem alto, de pele bem clara e cabelo espetado loiro. Por causa de seus óculos escuros, não dava para ver a cor de seus olhos. De qualquer forma, ele parecia bem tranqüilo. Bem mais do que eu e a Lili, com certeza. Eu olhei para ela, ansioso. De repente notei que ela parecia querer me dizer alguma coisa.

            - Sim?

            - Eu estava pensando...por que você está usando suas luvas?

            Era verdade. Minhas luvas brancas estavam cobrindo minhas mãos. Não que eu não tenha dado conta antes, mas eu esqueci que ainda as tinha nas mãos. Não mesclavam tão bem com minhas roupas vermelhas, mas tudo bem.

            - Bom, como eu nunca vim para um lugar tão...err...sério... eu pensei que uma pessoa devia vir igualmente séria e com vestimenta completa.  Eu acho que luvas faz parte disso, né?

            - Mas a cor não ficou muito boa...

            - Eu sei...mas esse é o único par de luvas lá de casa.

            Ela pareceu meio surpresa.

            - Sério? Quer dizer que o mestre não têm luvas?

            - Não, eu sou o único que tenho. Não lembra que eu as estava usando quando você entrou?

            - Lembro, mas...

            - Assim que a defesa parar de falar sobre moda... – soou uma voz rasante e divertida. - acho que poderemos começar.

            Eu e Lili voltamos nossa atenção ao promotor imediatamente, como fora ele que falou. A corte ficou silenciosa. O juiz pigarreou e bateu seu martelo da mesa á sua frente.

            - A corte agora está em sessão para o julgamento da Srta. Liliam Aurice. – Ele disse. Não pude determinar nenhum tom de voz emotivo. Parecia bem neutro.

            - A promotoria está pronta, Meritíssimo. – Respondeu o promotor, olhando por cima dos óculos escuros para mim. Seus olhos eram bem negros.

            - A... – Eu não consegui continuar sem gaguejar um pouco. Simplesmente não consegui. Me senti como se houvesse algo entalado na minha garganta. – A...defesa está pronta, Meritíssimo.

            - Hmm... – O juiz começou, pensativo. – Senhor, err...Farfnair, correto?

            - Sim, senhor. – Eu respondi, desta vez de pronto.

            Estranhamente, os espectadores começaram a fazer barulho. O promotor levantou os óculos por um instante e olhou fixamente para mim, aparentemente surpreso. Fiquei confuso, até o juiz falar:

            - Farfnair, como o sobrenome de Aliucon Farfnair, chefe da promotoria?

            - Err... – Eu me senti bem estranho. Tipo, uma repentina reviravolta no estômago. Parecia que a maioria das pessoas conhecia meu pai, e só por isso eu ia ser tratado diferente? Honestamente, eu não queria pensar assim. – Sim, Meritíssimo.

            - Isso é um tanto surpreendente! O filho de tal promotor advogar, quero dizer.

            - Bom...não estamos aqui para discutir isso, estamos? Vamos resolver esse caso.

            O promotor sorriu para mim. Mas não foi um sorriso meio maligno ou malicioso ou mesmo soberbo, como eu esperava. Parecia mais um sorriso sincero de quem achara graça ou ficara feliz de alguma coisa.

            - Desculpe, rapaz, mas eu não vejo como você possa vencer. Escolheu a pessoa errada para defender.

            - O-O quê? – Depois daquela expressão, eu esperava algo mais amigável...e de certa forma até foi, para um promotor de meu pai! Mas mesmo assim me surpreendeu.

            - Não haverá dúvida quanto á culpa da ré. Eu terei certeza de mostrar as evidências certas e provar isso á corte.

            - Muito bem... – Disse o juiz logo após ouvir as palavras do promotor. - Sr. Howard, você parece ter convicção do que fala. Pode mostrar tudo o que sabe do caso para nós?

            Em uma ação de aparente superioridade e sincera felicidade, ele se curvou ao juiz.

            - Certamente, Meritíssimo.

            Todos ficaram em silêncio esperando que ele falasse. Eu também estava apreensivo para adquirir tanta informação quanto possível sobre o caso, do qual ainda não sabia os detalhes.

            - Ás 11:00, aproximadamente, do dia de ontem, um cantor famoso chamado Hiro Star foi morto. A causa de morte foi uma facada direta contra o coração. Recebemos um chamado de uma testemunha que diz ter visto o crime, e chegamos no local tão rápido quanto possível.

            - Uma...testemunha? – Disse o juiz, como se estivesse meio alienado. – E quanto você diria que foi esse “tão rápido quanto possível”...?

            - Sim, Meritíssimo, uma testemunha reportou claramente ter visto o crime, mas não deu detalhes ao telefone. Pediu apenas que fossemos ao endereço que ela disse. E eu diria que chegamos em menos de um minuto.

            - I-Isso é incrivelmente rápido! – Eu disse, exasperado.

            - Sim, naturalmente. – Disse o promotor, com um sorriso de satisfação. – Nós respondemos rápido a crimes. Sempre. E eu acho que o fato da sua mansão ser próxima do departamento de polícia ajudou também.

            - Hein? “Sua” mansão, Sr. Howard? – O juiz perguntou, mais uma vez parecendo alienado do que estávamos falando. Sério, esse cara têm distúrbio de atenção ou algo assim?

            - Como você deve já saber, Meritíssimo... – O promotor respondeu, paciente. – A cena do crime foi próxima da mansão Farfnair, e esse advogado é um Farfnair. Entendeu?

            - Oh...claro, claro! Eu já sabia disso. Eu só, err...me confundi.

            - Voltemos aos detalhes, tudo bem? – Eu falei, querendo ouvir mais sobre o caso.

            - Claro. Para ajudar na visualização da corte, eu tenho aqui um diagrama do local. – Ele falou, enquanto mostrava uma foto grande para a corte. Era como a foto que a Lili tinha lá de casa, mas mostrava uma visão mais aérea, enquanto a foto da Lili ainda mostrava a frente da casa. - Quando chegamos, encontramos a vítima aqui. – Ele marcou o canteiro de flores, que era, naquela visão, no canto superior esquerdo, e mostrou a marca á corte para que todos vissem.

            - Um canteiro de flores? Um lugar meio contrastante para um assassinato, hein? – O juiz mencionou.

            - Certamente, mas dá algumas pistas. Como, por exemplo, o motivo pelo qual a ré matou a vítima.

            - Q-Quê? – Eu consegui perguntar. Ainda não tinha visto o que isso tinha a ver.

            - Ora, acho que você têm as peças, você pode deduzir. – Howard, ou seja lá qual seja exatamente o nome do promotor, disse. – Pense na cena, um homem e uma mulher se encontrando no meio de um canteiro de flores á luz da lua.

            Droga. Eu só agora tinha entendido. Mas, pra mim, era impossível...

            - Você quer dizer que acha que...a ré tinha uma relação amorosa com a vítima? – Eu tive que perguntar.

            - Precisamente.

            - Mas, Sr. Howard... – Eu ouvi o juiz começar. – O que exatamente isso têm a ver com o motivo de assassinato? Afinal, você não costuma querer matar uma pessoa amada...ou costuma?

            - Certamente que não, Meritíssimo. Porém, pode ser que a relação deles não estivesse indo bem. Ou, mesmo, estivesse indo mal.

            Entendi o ponto. Tomei coragem para levantar e gritar.

            - PROTESTO!!

            Bati na mesa com uma mão ao acabar. Senti todos os olhos da corte virados para mim.

            - A promotoria não está apresentando nenhuma prova de que minha cliente tinha qualquer coisa a ver com a vítima. Você só lançou uma especulação.

            - Hmm... – Todos os olhos virados para mim agora tinham mudado de direção para o juiz, que estava pensativo. – Embora seja verdade que não há provas concretas de que eles tenham algo a ver um com o outro...também não há como dizer que eles não tinham nada a ver.

            - P-Por que, Meritíssimo!? – Eu perguntei, exasperado. Ele não tinha acabado de se contradizer?

            - Honestamente, novato, você devia ter lido a Court Record antes de entrar. – O promotor disse, parecendo levemente irritado.

            - C-Court Record?

            - Sim. É lá que estão todas as evidências e perfis de pessoas envolvidas com o caso. Ou pelo menos as que estão para você. Dê uma checada.

            Eu demorei-me um tempo checando os papéis e informações de lá. Parecia que as únicas evidências mostradas para mim até agora eram: aquela grande foto que ele usava como um diagrama, a arma do crime (uma faca francesa discreta mas letal, com traços de sangue em sua lâmina e ponta), um uniforme de empregada coberto de sangue na fronte, que eu reconheci como sendo da Lili (a roupa, não o sangue), e um pequeno relatório falando sobre o interrogatório da ré. Eu abri e olhei.

            “A ré admite que saíra, aproximadamente ás 10:50, da mansão. Porém, a mesma alega que não foi para o local em que a vítima foi encontrada, e sim para o outro lado, mas que era paralelo ao crime. Quando indagada sobre o porquê de sair de casa aquela hora, a ré alegou que estava á procura de seu uniforme de empregada. A perícia diz que isso é mentira, visto que ela foi achada vestindo o dito uniforme e o uniforme estava coberto de sangue da vítima.

            Adicionalmente, quando indagada sobre sua relação com a vítima, ela falou que não era “nada além de amigos”. Como há bem mais razões pelas quais a vítima provavelmente é culpada, e foi provado por esse testemunho que ela tinha certa relação com a vítima, declaramos que não parece existir dúvidas sobre sua culpa.”

            Meu ânimo despencou. Ela nunca me falou que era “amiga” daquele maldito cantor. Por quê?

            - Acho que a defesa entendeu o ponto agora, juiz. – O promotor disse, com a voz de tom vitorioso.

            - Hmm, sim, parece que sim. – O juiz respondeu. – Agora...

            - E-Espera! – A situação parecia ruim, mas eu senti que seria pior se eu parasse agora. Tinha que falar algo. – A promotoria não têm como dizer que ela a minha cliente não achou a roupa dela já naquele estado! Como podem ter tanta certeza de que ela estava na cena do crime?

            - Você esqueceu, jovem Farfnair? – Respondeu o promotor, tranqüilo. – Ela foi encontrada vestindo o dito uniforme. Por que ela o teria vestido se estava cheio de sangue? Além disso, temos uma testemunha.

            - Oh...é...eu quase esqueci dessa... – Eu disse, me sentindo um estúpido. Comecei a suar frio, prevendo poucas e boas pela frente.

            - O testemunho da ré bate contra o testemunho desta minha testemunha. Mas eu trouxe-a para cá, para que ela deponha. Está tudo bem com isso, Meritíssimo?

            - Err...ah, sim, claro...você pode chamar sua testemunha, Sr. Howard.

            - Obrigado. A promotoria chama Panelia Jiggs Aurice para depor.

            Algo estalou dentro de mim. Lili do meu lado estava com uma expressão que me fez pensar que ela tinha acabado de ver um fantasma.

            - Algo nesse nome me é familiar... – Eu pensei para mim mesmo, enquanto via a testemunha tomar seu lugar, que era entre a minha bancada e a bancada do Howard. Era uma mulher bem parecida com a Lili, mas tinha algumas diferenças-chave. Os cabelos dela eram loiros, bem dourados mesmo, o nariz era um pouco mais saliente e o queixo um pouco menor. Ela usava um vestido preto: mas até esse vestido parecia com o da Lili, fora a cor! Ela parecia meio nervosa também, mas achei isso normal, afinal todas as testemunhas ficam um pouco nervosas nessa situação.

            - Testemunha, por favor diga seu nome e ocupação para a corte. – O promotor disse, afagando os próprios cabelos.

            - Meu nome é Panelia, sobrenome Jiggs...e...bem, eu sou uma artista.

            - Artista? – O juiz falou, surpreso.

            - Sim, mas, tipo, ainda não me dão o reconhecimento que mereço, sabe... – Ela disse, sorrindo e coçando a cabeça. Uma pose meio exagerada, o que me fez pensar que não era natural. – Então acho que ninguém vai ter ouvido falar de mim ainda...

            - Ah, eu ouvi falar sim. – Disse o promotor, ajeitando os óculos escuros no rosto. – Pinturas lindas, as suas. “O peixe das trevas”, a “Lua das trevas”, as duas versões de “Um pato negro nos céus”...todos maravilhosos. Se me permite dizer, senhorita, você será uma bela de uma artista no futuro com tão bons trabalhos.

            Isso devia ter encantado muito a mulher, por que os olhos dela até brilharam, ela corou e sorriu radiantemente pra ele.

            - Hum, o promotor parece ser bem galante, né, pequeno mestre? – Disse Lili, mas não olhava pra mim. Olhava fixamente para a testemunha com uma expressão neutra no rosto. Quem sabe ela estivesse nervosa com o que ela iria falar depois?

            - Um pouco, sim. Ele fez a pesquisa dele, com relação á sua testemunha. E o comentário foi realmente estonteante.

            - Agora, então, testemunha... – Disse o juiz, se ajeitando na cadeira. – Por favor diga para a corte o que você viu naquela noite.

            - Sim, Meritíssimo. – Ela disse, aparentemente mais solta pelo comentário do promotor á pouco.

            É isso. Agora vou ouvir os detalhes deste crime por uma pessoa que aparentemente estava lá. Se ela realmente achar que viu a Lili atacar a vítima, eu vou estar com problemas. Espero que dê tudo certo. Pelo bem da Lili...


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