The Twin Turnabout escrita por Randy_Farfnair


Capítulo 2
Capítulo 1: Nunca estamos sozinhos




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Outubro 22, 9:30 da manhã

Distrito Hua Meng

Salão do Réu

            Já fazia mais de um ano que eu não ficava tão nervoso assim. Eu estava suando muito frio sobre meu paletó e gravata vermelhos. O salão, um tanto grande demais e com paredes brancas, não tinha ninguém além de um segurança á porta, e a ré, sentada ao meu lado. Você, que acabou de chegar, não deve ter entendido nada da situação. Vou explicar como puder.

            Meu nome é Randy Farfnair, da renomada família Farfnair por essas bandas. Não somos exatamente famosos, mas conhecidos por termos uma família bem...fora do comum. Os Farfnair sempre foram sinal de encontro de diferentes etnias e crenças. Tal exemplo levava, por um lado, á admiração de algumas pessoas, mas o nojo de outras. Mas nós nos orgulhamos de quem somos. Agora um pouco da minha família.

            Aliucon T. Farfnair é o meu pai. De certa forma, ele é um psicopata. Não no sentido ruim da palavra, porém. Se você pensou imediatamente em alguém que mata sem sentir remorso nem perdão, está meio errado. Ou meio certo, tanto faz. O fato é que ele realmente não têm sentimentos bem elaborados, mas ele também nunca matou ninguém, que eu saiba. Ele é um homem sábio e recluso, forte e até gentil, embora eu sei que ele nunca se descreveria assim. Ele têm um cabelo preto curto que parece sempre bem penteado: mesmo logo depois que ele acorda! Agora, a respeito de trabalho, bom...ele é o chefe promotor da cidade. Ele está sempre ocupado, só consegue vir para casa á noite para descansar, e ás vezes nem isso. Mas ele nunca se importou muito. Na verdade, raras são as coisas com que ele se importa. Talvez uma dessas poucas coisas (ou a única) é a minha mãe, Ana.

            Ana Heinfield, ou agora chamada de Ana H. Farfnair, é a minha mãe. Digamos que, no aspecto “personalidade”, ela é o pólo oposto do meu pai. Extrovertida, divertida, sempre preocupada e expressiva. Claro que eles têm coisas em comum, como a inteligência e dedicação ao que fazem, mas essas são menos do que as diferenças. Ela têm um cabelo loiro bem longo e geralmente usa um robe de seda em vez de roupas normais. Ela diz que é “mais confortável” para ela. Ela também é uma maga. Sim, uma maga, aquela pessoa que usa magia. Não acredita? Natural...mas ela consegue sim fazer coisas impressionantes, eu sou testemunha. Mas prefiro não comentar até que a hora seja a certa. Ela é também meio piromaníaca, mas consegue se controlar. Têm algo a ver com meu pai, pelo que sei. Mas...acho que agora vocês estão entendendo por que os Farfnair são vistos de forma tão diferente por cada pessoa, né?

            Bom, eu não sou filho único, mas fui o primeiro filho desse casal. Não tenho tanto a falar de mim mesmo...gosto de pensar que sou uma pessoa que se importa por outras e luta por elas. Perfeito material para um advogado, e era justamente para isso que eu estava estudando até agora. Com relação á aparência...eu tenho o cabelo do meu pai, mas o meu bagunça bem mais freqüentemente que o dele. Meus olhos são naturalmente negros e geralmente uso roupas mais normais que minha família...como se eu pudesse determinar o que é realmente normal.

            Meu irmão, que têm mais ou menos a minha mesma idade, é Bachshil Farfnair. Ele é um tanto diferente de mim, tanto fisicamente quando mentalmente, mas concordamos em várias coisas. Ele é loiro, de cabelo curto e olhos azuis, o que é estranho pelo fato de nosso pai ter olhos negros e nossa mãe ter olhos...vermelhos. Mas o gênio dele é de certa forma como o da mãe, menos a piromania. Também, ele é muito religioso. Geralmente está vestindo um escapulário e um solidéu, e ele trabalha voluntariamente na igreja. Ele não trabalha em outra coisa por que ele têm 16 anos, quase a mesma idade que eu, 17. Mas não vamos pra escola: nosso pai nos ensina em casa mesmo.

            Já devo ter mencionado nossa casa algumas vezes, então vou falar mais dela. É na verdade uma mansão. Uma velha mansão, para ser mais específico. Não é nem de longe um lugar ruim de se morar, só que a pintura por fora poderia dar uma impressão melhor, se meus pais se preocupassem...mas eles geralmente estão ocupados com tudo. Aliucon trabalha demais e a Ana estuda demais. Acaba que não crescemos nos vendo muito, mas ainda assim temos um forte laço familiar, já que aproveitamos ao máximo nosso tempo juntos. Enquanto eles não estão em volta, porém, ficamos ao cuidado de outras pessoas. Os empregados e empregadas da casa.

            Como é uma mansão, têm muito espaço para se ficar, então temos vários empregados e empregadas em casa...provavelmente apenas por acomodação, mais do que trabalho. Meu pai não cobra de nenhum deles, ele apenas deixa-os ficar em casa quando eles não têm um outro lugar para morar. É estranho, ele conheceu muita gente pela vida que não tinha aonde ficar e ele ajudou, não entendo bem por que...afinal, como ele é um psicopata, ele não devia estar sentindo prazer nenhum em fazê-lo, mas enfim! O fato é que temos muita gente em casa e, como agradecimento, essas pessoas cuidam da maior parte da mansão, dos jardins e de nós. As despesas são altas, mas, como o cargo do meu pai é muito bom e minha mãe aparece de vez em quando com dinheiro também, podemos nos manter.

            Acho que isso é suficiente. Ou...quase. Eu ainda não expliquei bem por que eu estou prestes á entrar na corte, né? Bem...têm a ver com uma das empregadas. Coincidentemente, é uma das quais eu mais tenho familiaridade com o modo e o jeito, mesmo que seja aquela cujo quarto é mais longe do meu (eu fico no da extrema esquerda do terceiro andar, e ela no da extrema direita do primeiro andar! Como pode?). O nome dela é Liliam Aurice. Ela não têm nenhuma família da qual eu saiba. Eu perguntei uma vez e ela me mostrou uma foto, mas não falou de ninguém: dava a pensar que estavam mortos, ou ela realmente não gostava deles. Liliam foi uma das primeiras empregadas, senão a primeira, a estar conosco, pelo pouco que me lembro. Estranho é, eu lembro dela como se ela tivesse a mesma idade que eu, mas não é bem assim. Ela tinha 17 quando eu tinha 10. Mas ela ainda parece uma garotinha.

            É por causa dela que estou aqui. Ocorreu um assassinato ontem. Foi bem perto da nossa casa, mais precisamente do lado dela. Uma celebridade, um cantor chamado Hiro Star, foi morta ali. O assassino usou uma faca para perfurar-lhe o peito, e depois fugiu. A coisa é...que a polícia chegou em menos de 3 minutos depois que o incidente aconteceu, ou assim parece ser. Não sei exatamente quem a chamou, mas todos foram examinados lá. E encontraram a Liliam...vestindo seu uniforme de empregada. E esse uniforme estava completamente manchado de sangue...da vítima!

            Não demoraram mais nem um segundo e prenderam-na, sobre acusação de homicídio. Nesse distrito do país, os julgamentos ocorrem logo depois que o crime é cometido, então o julgamento dela seria no dia seguinte. Ela mal conhecia alguém fora de casa e, portanto, não tinha um advogado. Eu também não gostei de pensar nela sendo defendida por qualquer advogado do estado: os promotores nesse distrito são bem conhecidos por inteligência e ferocidade (meu pai os treina bem, pelo que vi até hoje). Eu estava em dúvida se devia tentar defendê-la eu mesmo. Eu estudei um pouco de direito, mas...não estava ainda confiante de minha capacidade. Mas algo no jornal de ontem, que eu não tinha lido, me chamou a atenção.

            Era uma notícia sobre a última vitória de Phoenix Wright. Eu realmente admiro esse advogado. É um dos melhores, de onde ele vem. Ele têm uma capacidade lógica impressionante e consegue desmembrar o mais complicado dos casos. E isso me fez me convencer de uma coisa. Se a verdade é uma, nada vai poder modificar isso, e, portanto, se a Liliam realmente era inocente, obviamente era possível que ela não fosse a culpada, por mais circunstâncias que a façam parecer a culpada. Pensando nisso, eu fui para o centro de detenção, onde ela estava, para falar com ela.

            - Lili... – Eu comecei, assim que fiquei cara a cara com ela. Ela parecia muito triste e confusa. Essas expressões ficavam estranhas na aparência dela...ops! Acho que ainda não disse como ela se parece, né? Ela é bem peculiar...ela têm um cabelo longo e azul natural, um rosto bem delicado, e olhos também azuis e suaves. Ela parece bem frágil a primeira vista, mas ela geralmente se mostra mais forte do que é. Agora, porém, parecia bem arrasada, mas ainda não demonstrava lágrimas ou vontade de chorar.

            - Ah...! – Ela pareceu bem surpresa ao me ver. – Randy! O que faz aqui?

            - Bom, eu tinha certeza que você estaria aqui...e eu queria lhe ver antes que você fosse para julgamento. Você está bem.

            Ela cruzou os braços e encolheu um pouco: parecia insegura.

            - Sim, estou bem, pequeno mestre.

            Eu corei. Ela tinha adquirido (todos os empregados tinham) o costume de chamar o meu pai de “mestre”. Acho que ele obrigava eles á isso. Dizem que a única emoção que um psicopata sente é um pseudo-prazer, então...talvez isso o fizesse sentir bem?

            - Você definitivamente NÃO está bem, Lili. – Eu retruquei: estava mais que óbvio que a situação dela não era boa, e ela estava apenas querendo se mostrar mais forte do que era, como geralmente fazia. – Posso fazer algo por você, sabe? Mas só se você pedir.

            Agora ela pareceu ter ficado mais confusa.

            - Eh...? Fazer algo por mim...? Você...testemunharia ao meu favor, pequeno mestre?

            - Não poderia nem que quisesse. Desde que você saiu do meu quarto á noite naquele dia, não vi mais você, até lhe pegarem. Mas, afinal...têm uma coisa que eu queria perguntar. – Eu acrescentei, sério.

            - O quê é?

            - Você o matou?

            - N-Não! Eu não mataria ninguém... – Ela pareceu que tinha levado um soco quando eu disse isso. – Você...confia em mim, né, pequeno mestre? – Ela acrescentou, chorosa.

            Por dentro, eu quase que me derreti com aquela expressão, mas mesmo que eu não tivesse, eu tinha ouvido o que queria. Bati na mesa com uma mão na minha animação.

            - Então está combinado. Prepare os papéis até amanhã, OK?

            - Eh? – Confusa de novo. – Papéis? Quais?

            - Os papéis declarando seu pedido para que eu lhe defenda amanhã.

            Ela arregalou os olhos, incrédula. Mas, pelo silêncio que ela manteu por um tempo, eu pude ver que ela tinha entendido.

            - Mas...você ainda não é novo demais para isso?

            - Eu tenho certeza que meu pai pode me ajudar a conseguir uma ordem válida para que eu possa lhe defender. Além do mais...sabe a promotora Franziska von Karma? Ela começou a trabalhar na promotoria aos 13 anos! Por que eu não posso estar preparado para advogar com 5 anos a mais que ela?

            A expressão de Liliam ainda era de incredulidade.

            - Err...bem...como se diz...

            Ela pareceu bem perdida em palavras, mas um segundo depois ela finalmente falou, sorrindo:

            - Obrigada, pequeno mestre.

            - É o mínimo que eu posso fazer. Você cuidou muito de mim quando éramos menores.

            - Não éramos de idade tão diferente...

            - 7 anos é tão pouco assim?

            Naquele momento de descontração, rimos. Mas meu estômago estava meio pesado...eu sabia que acabara de assumir um compromisso, e dos grandes. Estava agora com muito medo de falhar...

            E aqui estou eu esperando que a corte entre em sessão.

            Lili está bem do meu lado, nem um pouco mais calma. Mas ela parece suar menos que eu ou...sei lá! Não vou ficar vendo isso.

            - Nervoso?

            - Naturalmente...não menos que você, tenho certeza.

            Ela suspirou e pegou uma foto, de alguma parte do vestido branco dela. Sim, ela estava de vestido. Era uma das únicas coisas que ela usava além do uniforme de empregada.

            Sobre a foto, era uma foto da nossa mansão. O endereço “Blurry, Inmerstone 889” era dificilmente visível daquela distância, já que mostrava uma visão panorâmica da mansão, mas eu sempre me lembro do endereço quando o vejo, senão eu tenho medo de esquecê-lo. A mansão realmente tinha uma pintura branca desbotada, e os vários arbustos espalhados á toda volta, mais precisamente bem junto ás paredes externas, não contribuíam tanto com a aparência. Havia um canteiro de flores na parte esquerda do terreno da mansão, e algumas coisas jogadas do lado direito. Não tenho idéia do que eram exatamente...pareciam alguns sacos. Seria lixo?

            Nesse instante o segurança que estava á porta dirigiu a palavra á nos.

            - A corte entrará em sessão logo. A ré e seu representante legal, por favor se dirijam á sala imediatamente.

            Eu suspirei. Estava extremamente tenso, mas levantei. Lili fez o mesmo. Enquanto estávamos indo, porém, lembrei de perguntar uma coisa.

            - Lili.

            - Sim?

            - Quem era a vítima, exatamente? Uma celebridade? Você o conhecia?

            - Err, bem...não o conhecia, mas eu ouvi falar dele. Ele aparentemente era um cantor bem popular por sua aparência extravagante e por ser extremamente limpo e bem-cuidado. É só o que eu sei.

            - Me pergunto como diabos a promotoria vai acusá-la de ter um motivo, então...

            - Vai ser um promotor do mestre, né?

            Ela falava de Aliucon. Eu consenti com a cabeça, e adicionei:

            - Provavelmente.

            - Eles são bons...olhe, ainda não é tarde demais para desistir, é?

            Eu parei e olhei bem pra ela.

            - Você é culpada?

            - Não.

            - Então vamos entrar lá e vencer esse caso!

            - Hihi...OK.

            Era a primeira vez que ela ria desde ontem. Isso me animou um pouco. Finalmente, depois dessa conversa, entramos na sala de julgamento, nós dois ainda suando e a ponto de tiques nervosos.


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