Descobrindo Londres escrita por lillylowre
Lilly desceu do ônibus dando tchau ao mal cheiroso Sticker Man, se sentindo muito bem por ter conhecido gente... legal. Maravilhosa. Entrou em casa esperando se jogar no sofá, e assim fez. Sorriu de olhos fechados, levantou-se e começou a gritar pela casa:
- Pai, mãããe, tenho ótimas novidades, a escola é maravilhosa, conheci muita gente legal, tem a Lauren, a Steph...
- Lilly, pegue uma muda de roupa para o seu pai e alguma coisa para distrair Megan, estamos indo para o hospital AGORA. ANDE!!! – Avin lhe cortou a fala e o caminho, surgindo subitamente das escadas e mexendo na bolsa, pegando o celular e então dizendo “alô?! Hospital?!”
Atrás dela vinham Tom, seu pai, suando e arfando, descendo as escadas com ajuda da sua irmãzinha de oito anos, Megan.
Lilly estava apavorada e sentiu que ia começar a chorar, mas se conteve e ajudou o pai a descer os últimos 3 degraus e se sentar no sofá. Olhou-o por um momento, e então, com o coração apertado e os dentes mordendo o lábio, subiu correndo e pegou uma blusa, uma calça e uma cueca para seu pai, colocou-as numa mochila qualquer, foi correndo até o quarto de Megan e pegou um estojo e o caderno de desenhos. Quando chegou ao primeiro andar enfermeiros já colocavam seu pai na ambulância e ele parecia começar a ficar inconsciente. Avin ia entrar na ambulância, mas os médicos não deixaram as garotas subirem.
- MAS É MEU PAI –Lilly gritava, acima do barulho das sirenes.
Avin lhe entregou algum dinheiro e disse algo como “pegue um táxi com Megan”.
E então a ambulância fechou as portas e saiu. Lilly colocou a mão na testa, girou um pouco em torno de si mesma, e, entre lágrimas, respirou fundo, pegou Megan pelos ombros e a levou pra dentro de casa, foi atrás de sua bolsa, a mochila que preparara e as chaves. Fechou as janelas atordoada, disse para Megan pegar um casaco, fez o mesmo, trancou a casa e saiu com irmã segurando a sua mão. Ventava tanto.
Conseguiram um táxi na esquina da sua quadra. Lilly se segurava para não chorar e assustar Megan, que parecia estar levando aquela situação inocente e calmamente, simplesmente sem entender.
Chegaram ao hospital e alguma força maior conduziu Lilly até as pessoas e caminhos certos, ela estava completamente alvoroçada e quando deu por si estava abraçando sua mãe na sala de espera. Avin chorava, chorava como Lilly nunca a tinha visto fazer, debulhava-se em lágrimas nos ombros da garota e parecia uma criança em prantos. Aquilo teria feito o mundo de Lilly desmoronar, mas ela foi forte e consolou a mãe.
Quando o terror da hora passou e elas aguardavam na sala com a angústia palpável no ar, o médico chegou.
Ele conversou baixinho com Avin, ela pareceu aliviada.
- Meninas, vamos pra casa, não tem muito que a gente possa fazer aqui... – ela dizia enquanto pegava sua bolsa.
- Quê?! NÃO! – Lilly vociferou.
- Sim, Lilly, vamos.
- EU QUERO VER MEU PAI.
Avin fechou os olhos por um momento.
- Lilly... você não pode ver seu pai agora, ele voltará pra casa amanhã...
Lilly se sentiu mal; quis chorar de birra, porque não haviam lhe deixado ver seu pai, quis chorar de vergonha por ser tão egoísta e não pensar na sua mãe, e a sua parte pessimista estava prevendo o pior e só queria saber de chorar mesmo.
Ia murmurar “desculpe”, mas apenas pegou Megan pela mão e seguiu Avin.
Estavam no táxi voltando pra casa quando Megan disse:
- Por que o papai ficou lá?! Por que ele não voltou com agente?! Ele vem jantar!?
Lilly mordeu os lábios. Virou-se para a pequena que era seu perfeito clone com cachos e disse:
- Megan, o papai não está bem... ele está doente. E hoje ele ficou tão mal que teve de ir pro hospital. Lembra quando você quebrou o braço?! Você se machucou... e agora o pai também se machucou e está naquele lugar, ele não vai voltar pra casa hoje de noite.
Megan fez uma cara de “fazer o que né” para Lilly e olhou desolada para o nada. Aquela garotinha era tão madura e tão inocente ao mesmo tempo, isso era o que Lilly mais amava nela. Queria que ficasse assim pra sempre.
Quando chegaram em casa, Avin foi colocar Megan pra dormir, mas Lilly sentou no sofá com o cenho franzido, esperando para conversar com a mãe. Assim que ela desceu as escadas sentou-se do lado de Lilly.
Grande silêncio, Lilly não soube precisar sua duração. Pareceram anos.
- Os médicos não sabem o que é. Ele ficou inconsciente e acordou com máquinas que ajudaram a respiração. Os médicos não sabem o que é... – ela repetiu para si mesma.
Lilly sentiu lágrimas quentes rolarem pelo seu rosto silenciosamente, interruptamente, dolorosamente. Os médicos não sabiam o que seu pai tinha. Isso podia significar tanta coisa! E se ele morresse?! E se outras pessoas morressem por causa dele?! Ela sabia que seu pai estava sofrendo naquele exato momento e isso quebrou seu coração. Fungou e foi para o seu quarto.
Dirigiu-se imediatamente para o cavalete e pintou pingos pretos na árvore de pensamentos que criara antes do ano letivo começar. A árvore continha pingos azuis que indicavam toda a grandeza do desconhecido que a havia dominado nos últimos tempos. E agora pingos negros indicavam o que ela sentia: medo, tristeza, raiva, solidão, e até a sensação de perda, porque ainda não havia visto seu pai. Fez cinco pingos cor-de-rosa, que eram os novos amigos, que haviam acabado de lhe iluminar. Deitou-se e chorou desesperadamente contra o travesseiro. Adormeceu.
-
Lilly acordou e ficou sentada no parapeito da janela até que o ônibus chegasse. Sua mãe não levantara, ela também decidira não comer nada. Não sabia se contaria para seus novos amigos. Mal sabia explicar. Sua cabeça doía.
Ela entrou no ônibus e logo o quinteto chegou também. Eles conversavam assuntos aleatórios, quando Stephanie perguntou porque ela estava quieta ela disse que era culpa da dor de cabeça. O que era a desculpa perfeita mas era também uma verdade. Sua cabeça estava a ponto de explodir e isso a deixou de mau, péssimo humor. Poderia matar um.
- Minha primeira aula hoje... biologia. Ah, eu sei onde é esta sala, acho que consigo ir sozinha! - disse ela em frente aos armários, definitivamente seu novo point.
Ela foi e quando olhou pro lado, já no meio do caminho, um susto: Chad caminhava do seu lado silenciosamente. Ela deu um pulo e ficou meio atordoada no mesmo lugar. Chad parou, virou-se e, pela primeira vez sorrindo – de um modo que parecia verdadeiro – para ela, disse:
- Desculpa, te assustei?! Haha. Eu sei que eu sou feio, mas não é pra tanto né...
“Com esse cabelo escuro e olhos verdes ele é tudo menos feio”. Antes que pudesse impedir, este pensamento cortou a mente de Lilly. Ela olhou para o nada com olhos arregalados e assustada com si mesma.
Chad ficou sério, com uma cara hilária de preocupado.
- Tá... tá tudo bem?! – ele murmurou, perto dela.
- Hã... tá, tá sim. – ela sorriu. – Não foi nada.
Eles continuaram andando – bem devagar, Lilly pôde reparar – e até conversaram, Chad parecia outro e isso animou Lilly. E então ela apareceu.
Loura, alta, nariz empinado. Melanie vinha no sentido contrário do corredor, milagrosamente sozinha. Parou á frente de Chad com um sorrisinho sarcástico.
- Olha só quem você arrumou de companhia agora, não é mesmo, Twerd?! Parece até que não consegue superar o passado... idiota. – e então ela saiu, depois de cuspir as palavras na cara de um Chad muito sombrio.
- Vamos embora. – ele disse, começando a andar rápido. Lilly não pôde ver seus olhos, porque estavam encobertos pela franja. Foi atrás dele, confusa.
Ele estava andando rápido. Bem rápido, pra falar a verdade. Lilly queria acompanhar. Rápido demais. Estava de bota. Murphy resolveu dar as caras.Ela caiu.
- Ai!!! – exclamou, enquanto os livros caíam em cima dela.
Olhou para a frente. Chad recolhia alguns livros e quando fitou Lilly ficou com cara de quem havia visto assombração. Lilly olhou pro chão e viu sangue.
Sentiu a testa molhada. Sentiu o rosto todo molhado. Contudo,a única parte que doía, ou melhor, ardia, era um pequeno ponto acima de seu olho direito.
Eles se levantaram e continuaram andando, ‘ignorando’ o fato de Lilly estar com a cara lavada em sangue e foram para o banheiro mais próximo. Os corredores estavam desertos. Deveriam estar atrasados para a aula. De novo. Lilly entrou no banheiro e largou os livros e materiais no chão. Olhou seu reflexo no espelho, seu rosto estava, literalmente, coberto de sangue. De uma fina camada de sangue. Ela sentia o gosto de ferro nos lábios e viu o cabelo avermelhado. Avistou o pequeno cortezinho perto da sobrancelha. Que ridículo.
Abaixou a cabeça e lavou o rosto, umas três vezes seguidas sem abrir os olhos. Quando olhou pro espelho de novo, seu susto mereceu um gritinho: Chad estava do lado dela e encarava a Lilly real, não a do reflexo.
- É um banheiro feminino!! – exclamou, num tom aborrecido. Mas na verdade estava contente que ele tivesse ido atrás dela.
- E daí?! – ele parecia estar tentando entender de onde viera tanto sangue. O cortezinho estava escondido por cabelos.
- E daí que... que é um lugar de garotas. O lugar onde eu iria tentar entender porque ficou assim depois do que o Cabide disse.
Ele ficou vermelho. Vermelho?! Que porra é essa?!
- Eu...eu... – aquilo parecia estar sendo realmente difícil para ele.
- Eu disse que eu iria tentar entender. Eu não iria te pedir pra explicar. – ela sorriu.
Ele sorriu.
- Tá. Mas eu fiquei preocupado,você deixou uma poça de sangue no corredor, caramba! Da onde aquilo tudo hein?! – ele disse, já melhor.
Ela levantou o cabelo escuro e mostrou o corte. Fez a mesma cara de “fazer o quê” de Megan.
- Desculpa, eu tava praticamente correndo... – começou ele.
-Tudo bem. – disse Lilly, e eles foram para as suas aulas.
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