Descobrindo Londres escrita por lillylowre


Capítulo 4
Capítulo 4 - Mudanças repentinas




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Lilly desceu do ônibus dando tchau ao mal cheiroso Sticker Man, se sentindo muito bem por ter conhecido gente... legal. Maravilhosa. Entrou em casa esperando se jogar no sofá, e assim fez. Sorriu de olhos fechados, levantou-se e começou a gritar pela casa:

- Pai, mãããe, tenho ótimas novidades, a escola é maravilhosa, conheci muita gente legal, tem a Lauren, a Steph...

- Lilly, pegue uma muda de roupa para o seu pai e alguma coisa para distrair Megan, estamos indo para o hospital AGORA. ANDE!!! – Avin lhe cortou a fala e o caminho, surgindo subitamente das escadas e mexendo na bolsa, pegando o celular e então dizendo “alô?! Hospital?!”

Atrás dela vinham Tom, seu pai, suando e arfando, descendo as escadas com ajuda da sua irmãzinha de oito anos, Megan.

Lilly estava apavorada e sentiu que ia começar a chorar, mas se conteve e ajudou o pai a descer os últimos 3 degraus e se sentar no sofá. Olhou-o por um momento, e então, com o coração apertado e os dentes mordendo o lábio, subiu correndo e pegou uma blusa, uma calça e uma cueca para seu pai, colocou-as numa mochila qualquer, foi correndo até o quarto de Megan e pegou um estojo e o caderno de desenhos. Quando chegou ao primeiro andar enfermeiros já colocavam seu pai na ambulância e ele parecia começar a ficar inconsciente. Avin ia entrar na ambulância, mas os médicos não deixaram as garotas subirem.

- MAS É MEU PAI –Lilly gritava, acima do barulho das sirenes.

Avin lhe entregou algum dinheiro e disse algo como “pegue um táxi com Megan”.

E então a ambulância fechou as portas e saiu. Lilly colocou a mão na testa, girou um pouco em torno de si mesma, e, entre lágrimas, respirou fundo, pegou Megan pelos ombros e a levou pra dentro de casa, foi atrás de sua bolsa, a mochila que preparara e as chaves. Fechou as janelas atordoada, disse para Megan pegar um casaco, fez o mesmo, trancou a casa e saiu com irmã segurando a sua mão. Ventava tanto.

Conseguiram um táxi na esquina da sua quadra. Lilly se segurava para não chorar e assustar Megan, que parecia estar levando aquela situação inocente e calmamente, simplesmente sem entender.

Chegaram ao hospital e alguma força maior conduziu Lilly até as pessoas e caminhos certos, ela estava completamente alvoroçada e quando deu por si estava abraçando sua mãe na sala de espera. Avin chorava, chorava como Lilly nunca a tinha visto fazer, debulhava-se em lágrimas nos ombros da garota e parecia uma criança em prantos. Aquilo teria feito o mundo de Lilly desmoronar, mas ela foi forte e consolou a mãe.

Quando o terror da hora passou e elas aguardavam na sala com a angústia palpável no ar, o médico chegou.

Ele conversou baixinho com Avin, ela pareceu aliviada.

- Meninas, vamos pra casa, não tem muito que a gente possa fazer aqui... – ela dizia enquanto pegava sua bolsa.

- Quê?! NÃO! – Lilly vociferou.

- Sim, Lilly, vamos.

- EU QUERO VER MEU PAI.

Avin fechou os olhos por um momento.

- Lilly... você não pode ver seu pai agora, ele voltará pra casa amanhã...

Lilly se sentiu mal; quis chorar de birra, porque não haviam lhe deixado ver seu pai, quis chorar de vergonha por ser tão egoísta e não pensar na sua mãe, e a sua parte pessimista estava prevendo o pior e só queria saber de chorar mesmo.

Ia murmurar “desculpe”, mas apenas pegou Megan pela mão e seguiu Avin.

Estavam no táxi voltando pra casa quando Megan disse:

- Por que o papai ficou lá?! Por que ele não voltou com agente?! Ele vem jantar!?

Lilly mordeu os lábios. Virou-se para a pequena que era seu perfeito clone com cachos e disse:

- Megan, o papai não está bem... ele está doente. E hoje ele ficou tão mal que teve de ir pro hospital. Lembra quando você quebrou o braço?! Você se machucou... e agora o pai também se machucou e está naquele lugar, ele não vai voltar pra casa hoje de noite.

Megan fez uma cara de “fazer o que né” para Lilly e olhou desolada para o nada. Aquela garotinha era tão madura e tão inocente ao mesmo tempo, isso era o que Lilly mais amava nela. Queria que ficasse assim pra sempre.

Quando chegaram em casa, Avin foi colocar Megan pra dormir, mas Lilly sentou no sofá com o cenho franzido, esperando para conversar com a mãe. Assim que ela desceu as escadas sentou-se do lado de Lilly.

Grande silêncio, Lilly não soube precisar sua duração. Pareceram anos.

- Os médicos não sabem o que é. Ele ficou inconsciente e acordou com máquinas que ajudaram a respiração. Os médicos não sabem o que é... – ela repetiu para si mesma.

Lilly sentiu lágrimas quentes rolarem pelo seu rosto silenciosamente, interruptamente, dolorosamente. Os médicos não sabiam o que seu pai tinha. Isso podia significar tanta coisa! E se ele morresse?! E se outras pessoas morressem por causa dele?! Ela sabia que seu pai estava sofrendo naquele exato momento e isso quebrou seu coração. Fungou e foi para o seu quarto.

Dirigiu-se imediatamente para o cavalete e pintou pingos pretos na árvore de pensamentos que criara antes do ano letivo começar. A árvore continha pingos azuis que indicavam toda a grandeza do desconhecido que a havia dominado nos últimos tempos. E agora pingos negros indicavam o que ela sentia: medo, tristeza, raiva, solidão, e até a sensação de perda, porque ainda não havia visto seu pai. Fez cinco pingos cor-de-rosa, que eram os novos amigos, que haviam acabado de lhe iluminar. Deitou-se e chorou desesperadamente contra o travesseiro. Adormeceu.

-

Lilly acordou e ficou sentada no parapeito da janela até que o ônibus chegasse. Sua mãe não levantara, ela também decidira não comer nada. Não sabia se contaria para seus novos amigos. Mal sabia explicar. Sua cabeça doía.

Ela entrou no ônibus e logo o quinteto chegou também. Eles conversavam assuntos aleatórios, quando Stephanie perguntou porque ela estava quieta ela disse que era culpa da dor de cabeça. O que era a desculpa perfeita mas era também uma verdade. Sua cabeça estava a ponto de explodir e isso a deixou de mau, péssimo humor. Poderia matar um.

- Minha primeira aula hoje... biologia. Ah, eu sei onde é esta sala, acho que consigo ir sozinha!  - disse ela em frente aos armários, definitivamente seu novo point.

Ela foi e quando olhou pro lado,  já no meio do caminho, um susto: Chad caminhava do seu lado silenciosamente. Ela deu um pulo e ficou meio atordoada no mesmo lugar. Chad parou, virou-se e, pela primeira vez sorrindo – de um modo que parecia verdadeiro – para ela, disse:

- Desculpa, te assustei?! Haha. Eu sei que eu sou feio, mas não é pra tanto né...

“Com esse cabelo escuro e olhos verdes ele é tudo menos feio”. Antes que pudesse impedir, este pensamento cortou a mente de Lilly. Ela olhou para o nada com olhos arregalados e assustada com si mesma.

Chad ficou sério, com uma cara hilária de preocupado.

- Tá... tá tudo bem?! – ele murmurou, perto dela.

- Hã... tá, tá sim. – ela sorriu. – Não foi nada.

 Eles continuaram andando – bem devagar, Lilly pôde reparar – e até conversaram, Chad parecia outro e isso animou Lilly. E então ela apareceu.

Loura, alta, nariz empinado. Melanie vinha no sentido contrário do corredor, milagrosamente sozinha. Parou á frente de Chad com um sorrisinho sarcástico.

- Olha só quem você arrumou de companhia agora, não é mesmo, Twerd?! Parece até que não consegue superar o passado... idiota. – e então ela saiu, depois de cuspir as palavras na cara de um Chad muito sombrio.

- Vamos embora. – ele disse, começando a andar rápido. Lilly não pôde ver seus olhos, porque estavam encobertos pela franja. Foi atrás dele, confusa.

Ele estava andando rápido. Bem rápido, pra falar a verdade. Lilly queria acompanhar. Rápido demais. Estava de bota. Murphy resolveu dar as caras.Ela caiu.

- Ai!!! – exclamou, enquanto os livros caíam em cima dela.

Olhou para a frente. Chad recolhia alguns livros e quando fitou Lilly ficou com cara de quem havia visto assombração. Lilly olhou pro chão e viu sangue.

Sentiu a testa molhada. Sentiu o rosto todo molhado. Contudo,a única parte que doía, ou melhor, ardia, era um pequeno ponto acima de seu olho direito.

Eles se levantaram e continuaram andando, ‘ignorando’ o fato de Lilly estar com a cara lavada em sangue e foram para o banheiro mais próximo. Os corredores estavam desertos. Deveriam estar atrasados para a aula. De novo. Lilly entrou no banheiro e largou os livros e materiais no chão. Olhou seu reflexo no espelho, seu rosto estava, literalmente, coberto de sangue. De uma fina camada de sangue. Ela sentia o gosto de ferro nos lábios e viu o cabelo avermelhado. Avistou o pequeno cortezinho perto da sobrancelha. Que ridículo.

Abaixou a cabeça e lavou o rosto, umas três vezes seguidas sem abrir os olhos. Quando olhou pro espelho de novo, seu susto mereceu um gritinho: Chad estava do lado dela e encarava a Lilly real, não a do reflexo.

- É um banheiro feminino!! – exclamou, num tom aborrecido. Mas na verdade estava contente que ele tivesse ido atrás dela.

- E daí?! – ele parecia estar tentando entender de onde viera tanto sangue. O cortezinho estava escondido por cabelos.

- E daí que... que é um lugar de garotas. O lugar onde eu iria tentar entender porque ficou assim depois do que o Cabide disse.

Ele ficou vermelho. Vermelho?! Que porra é essa?!

- Eu...eu... – aquilo parecia estar sendo realmente difícil para ele.

- Eu disse que eu iria tentar entender. Eu não iria te pedir pra explicar. – ela sorriu.

Ele sorriu.

- Tá. Mas eu fiquei preocupado,você deixou uma poça de sangue no corredor, caramba! Da onde aquilo tudo hein?! – ele disse, já melhor.

Ela levantou o cabelo escuro e mostrou o corte. Fez a mesma cara de “fazer o quê” de Megan.

- Desculpa, eu tava praticamente correndo... – começou ele.

-Tudo bem. – disse Lilly, e eles foram para as suas aulas.


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