Os pingos caíam sobre meus fios grossos e negros. Joguei-os para trás sentindo os pingos voarem até minha nuca. Abri a porta completamente congelando. Onew me olhou de relance. – Enfim chegou – ele disse. Nem ao menos levantei minha cabeça para respondê-lo, só fui em direção ao banheiro tomar um banho.

            Tirei minha roupa. Olhei-me no espelho por uns poucos segundos olhando meu rosto acabado e branco pelo frio. Nem tinha percebido direito as olheiras fundas e meio roxas debaixo de meus olhos. Esfreguei a mão no rosto tentando tirar aquele cara horrível espantada no espelho e me joguei no chuveiro. Liguei a água deixando-a mais quente possível e aos poucos fui me acostumando com a água queimando meus ombros e minha nuca fria e rígida.

            Saí do banho com a toalha envolvida por volta de meu quadril e molhando o chão todo com pinguinhos de água que caíam de meu cabelo.

            Saí do meu quarto e fui até a cozinha. JongHyun estava lavando os pratos do lado de Key. Eles conversavam e riam bastante – como sempre – então JongHyun jogou um pouco de espuma de sabão em seu nariz fazendo-o abrir a boca para protestar, mas acabou rindo mais ainda.

             - Para com isso, kyung! – ele disse batendo em seu ombro de leve e secando o nariz com o pano mais perto.

             - Mas você ficou fofo! – JongHyun estava quase caindo no chão de tanto rir. Tentou se recuperar e enxugou as lágrimas.

              - Não tem graça! – Key o surpreendeu jogando mais espuma de sabão na sua cara. Ele deu mais um rugido do que uma risada e saiu correndo atrás dele.

              Olhei os dois fugirei para varanda e pararem na rede e se sentarem ali para balançarem um ao outro. Key deitou no colo de JongHyun e ele balançou a rede com os pés enquanto encarava o rosto de Key em seu colo.

              Mas por que eu encarava os pombinhos sendo que isso me fazia ficar muito mais triste? Por que eu ainda não tinha me matado e sumido dessa vida? Eu tinha muitas perguntas para responder ainda. Virei-me tirando meu olhar morto do casal e fui para sala.

              Quando me virei tudo ficou bem pior ao custo de doer meu coração. Onew via televisão com Taemin e ele deitava em seu colo e ele fazia carinho em seus cabelos.

               Minha cara foi de nojo compulsivamente. Aquilo me doeu como uma estaca no peito. Senti minha garganta secar e doer como se o veneno tivesse passado por ali. Meus peitos doíam e eu tinha vontade de gritar. Minha expressão não tentava disfarçar o nojo naquela cena. Minhas sobrancelhas permaneciam levantadas e minha boca estava um pouco escancarada; meus pés não se moviam. Alguém tocou meu ombro. – MinHo? – disse Key.

              Eu olhei para ele irritado. – Sim? – tentei dizer sem nojo.

              - Er... Tem alguma coisa acontecendo que queira me falar? – ele disse.

              Olhei para sua mão que ainda permanecia em meu ombro, ele percebeu meu olhar e a tirou envergonhado. – Bem, - me virei para ele – tem certas coisas que eu ainda não sei se devo contar – engoli em seco e ele concordou com a cabeça concordando.

               - Tudo bem, é que eu estava ali com o hyung e quando eu te olhei você parecia que estava tremendo ou algo assim – ele deu de ombros em sinal de indiferença e me olhou pela última vez. – MinHo, o que aconteceu? Tem certeza que não quer me falar nada?

               “Só sai daqui e vai estar fazendo muita coisa” pensei revirando os olhos. Eu queria fugir daquele olhar piedoso de Key. Eu não aguentava mais aquele olhar me perseguindo por todos os cantos. Olhei para ele com os olhos surpreendentemente em lágrimas. – Não.

                  Agora não adiantava mais falar que não havia mais nada acontecendo. Meus olhos estavam em lágrimas e eu estava tremendo de frio de novo. Me virei e passei pela sala e abri a porta saindo de casa querendo respirar e ao mesmo tempo fugir daquele olhar. Meu corpo tremeu mais por causa do frio que ainda fazia por causa da chuva que passara mais cedo.

                  Ouvi Key bater a porta e correr até mim jogando um casaco por cima dos braços e segurar outro em uma mão. – MinHo! Não saia assim, por favor! – ele veio até mim e segurou meu braço me fazendo virar.

                   Meus olhos ainda estavam acumulados de lágrimas e os pelos de meus braços estavam arrepiados. – Mas eu não quero viver, Key – fechei os olhos e lágrimas rolaram por meus olhos.

                  Ele ficou um pouco em choque ao ouvir minhas palavras. Abaixei a cabeça e murmurei: - Eu não quero viver sem ele, Key. Eu quero o ele de volta – senti ele me puxar para perto e ficar nas pontas dos pés para eu poder pousar minha cabeça em seu peito.

                   - Vai ficar tudo bem, MinHo – ele esfregava a mão pelas minhas costas com uma mão e passava a mão em meu cabelo com a outra. – Shh! – disse ele quando eu solucei de dor. – Vai ficar tudo bem MinHo, shh... pare de chorar... shh... vai ficar tudo bem... – ele dizia sem parar enquanto as o vento aumentava e deixava não só a minha, mas sim, nossos pelos do braço arrepiados.

                    Ficamos naquela posição por mais alguns minutos até eu poder me acalmar totalmente. Quando finalmente pude ter certeza de que não iria mais soluçar, tirei minha cabeça de seu peito e funguei enxugando os olhos. – Pronto, acho que estou bem Key – tentei afirmar.

                     - Tem certeza? – ele me olhava preocupado e passou o casaco por cima de meus ombros. – Qualquer coisa me chama que vamos conversar ok? – ele tentou ser o mais cuidadoso possível.

                   - Tudo bem Key. Obrigado pelo apoio – disse fungando de novo.

                   - Que nada, eu tenho que cuidar de meu bebê – ele sorriu. – Sim, não pense que você também não é meu bebê! – ri sem graça e voltei para casa com ele do meu lado.

                    Entrei em casa e vi Taemin e Onew já longe um do outro com JongHyun no meio deles. Key foi ficar no meio de Onew e JongHyun. Só me sobrou ficar do lado de Taemin.

                    Me senti perdido. Meu olhar era meio vazio para tudo aquilo que acontecia a minha volta. – MINHO! – ouvi alguém gritar meu nome. Levantei a cabeça.

                   - Sim? – falei tonto.

                   - Eu estou te chamando já faz um tempão! – JongHyun era quem me chamava. – Está tudo bem? Por que você saiu assim de repente? E por que Key foi atrás? – ele olhou para nós dois.

                   Balancei a cabeça meio que em indiferença. – Pergunte à Key. Ele saberá te responder melhor que eu – menti e fui para meu quarto ignorando o olhar de pena de Taemin enquanto passava do seu lado.

                   Quase corri pelo corredor doentio e sem cores. “Sim, eu estou problemático” pensei a mim mesmo sem ligar em me jogar na cama e chorar mais ainda. Peguei meu celular e liguei para o número que me ligara um milhão de vezes só nessas últimas semanas.

                    - Alô? – ouvi uma voz feminina triste soar ao fundo.

                    - Yuri? É MinHo. Posso ir aí? Eu quero repensar na proposta que me fez – respondi decidido.

                    Ela hesitou meio que sem jeito pelo modo que eu falava. – Min? Você andou chorando? Porque... – ela começou a falar.

                    - Yuri, escute. Eu posso ir aí? – interrompi sem ligar para o que ela iria falar.

                    - Sim, você pode – ela respondeu e eu desliguei.