Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 6
Cap. 6: Dúvidas e Dor.




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Ligava para Joe... Ele nunca atendia. Queria muito falar com ele sobre a noite passada e  pedi-lo ajuda para encontrar a minha irmã. Antes que minha mãe ficasse louca de vez.


  Minha irmã era muito importante para a minha mãe. Eu tinha uma teoria de que as mães geralmente se apegam mais aos filhos que mais necessitam de sua atenção. Bridget era essa filha. Uma criança muito antissocial para com as outras. Sempre sentava longe das outras crianças, no balanço quando íamos comer nosso lanche. Só ficava perto de mim por eu ser sua irmã, e, creio eu, por eu ser a única pessoa que não a incomodava com barulhos ou frivolidades das demais crianças. Eu era parecida com ela. Porém usava de socialização para conseguir o que desejava, frequentemente. Sem mim, Bridget seria surrada naquela escola onde até as garotas eram brutamontes.


  Sentadas, olhando para o café da manhã, estávamos nós duas.


--- Alguma notícia? –Perguntei.


--- Não, Lottie. –Disse ela, mastigando com uma lentidão miserável o pedaço de pão.


--- Tomou seus remédios para dormir, mãe?


Tomei um pouco de café. O que não era do meu feitio, porém era necessário. Estava sentindo que o dia ia ser longo.


  Olhei a janela por dois segundos.


  Não havia buraco em meu peito. Não havia a falta de Bridget. Não havia nada ali. Só uma preocupação com Joe. Ele que era o único que poderia me acalmar naquele momento.


  Era estranho, mas eu havia me distanciado tanto de Bridget. E percebia aquilo em minhas entranhas, naquele curto tempo, como alguns alfinetes espetando-me o coração de pesar.


  Tinha que cuidar ao menos da minha mãe, era o que restava para atestar meu estado de ser humano.


--- Claro, Lottie.


  Silêncio.


  Tomei mais café e cuidei em acabar de me aprontar pra ir para a universidade.


  Precisava de Joe. Meu coração apertava. Porque ele tinha me deixado com algo que corroia na noite passada. Apesar de não estar muito preocupada com ele e sim com Bridget.


x.x.x


Quando cheguei na universidade fui ao banheiro. Estava com náuseas. Olhei-me no espelho por uns dois segundos rápidos. Molhei o rosto. Vi que havia olheiras em meus olhos.


  Simplesmente não podiam existir olheiras nos olhos de Charllottie Vanderwood. Eu dormia minhas oito horas por dia perfeitas. Acordava com tempo de sobre pra descansar mais um pouco quando queria. Era esse o lema. Não havia sido uma semana normal. Era só isso. Esforçava-me para mentir para mim mesma enquanto baixei a cabeça.


--- Lottie! –A garota ruiva se assomava perto da porta, com um rosto eufórico cheio de sardas.


  Sam estava com um rosto preocupado. Olhava-a por meio do espelho, se esgueirando por trás de mim.


--- Sinto pelo desaparecimento de Bridget... E... Sobre o Joe.


  Virei-me, estupefata.


--- Joe?


--- Sim. Lottie, o Joe não apareceu em casa ontem à noite. Fui à casa dele após a peça, pra ver se ele queria dar uma volta, por ai, sei lá. Você sabe, eu saio com Joe às vezes...


--- Continue.


--- Joe saiu de casa com todos os seus pertences. Sua mãe disse que ele deixou uma carta dizendo que não era para se preocuparem. E que ele não sabia quando voltava. Ou se voltava.


  Tirei Sam do banheiro e sentamos num banco perto de uma das salas.


--- O que? –Perguntei.


--- É o que ouviu, Lottie.


--- Joe não pode ter feito isso. Não pode! –Disse, devagar e baixo.


--- Lottie... –O rosto de Sam se contorcia em uma máscara de visível tristeza por mim.


--- Venha. Sam. –Disse.


--- Para onde? –Olhou-me perdida.


--- Para a aula. Para onde mais iríamos? –Perguntei, com o rosto completamente apático.


--- Lottie, você ainda está muito estranha. –Ela disse.


--- Mais do que eu sou? –Perguntei, sorridente.


 Ela pareceu se assustar.

--- É sério Lottie, estou preocupada. –Ela insistiu.


--- Não é necessário. – Eu disse calmamente.


--- Lottie, eu sei que é difícil perder os dois de uma vez, mas... – Não a deixei terminar.


--- Quem disse a você que os perdi? –Meu rosto estava calmo. - Minha irmã era muito calada e introspectiva. Ela sempre ficava em casa o dia todo, todo o tempo, deve ter saído um pouco para espairecer. Já estava na hora de ela se revoltar. E... Joe, ele deve precisar de um tempo para pensar em algo. Não posso ficar na cola dele sempre. Talvez ele precis - Agora foi Sam quem me interrompeu.


--- Não se engane Lottie. Sua irmã iria sair para espairecer com todas as roupas dela? E Joe iria sair para voltar e dizer que não voltaria mais? Por que eles fariam isso?


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--- Eu... Não sei. Mas tem que haver alguma explicação. É ilógico pensar que eles desapareceriam assim, sem mais nem menos. Ou acha que eu vivo num meio onde as pessoas são duendes que saem para missões seretas? Não é possível... –Disse eu, agora irritada com as coisas que Sam falava. Ela estava me deixando louca...


--- É, deve haver uma explicação para isso, mas você não vai sabê-la assim tão cedo. –Sam disse, vendo que meu rosto não estava nada amistoso.


--- Bom, eu não sou boa em dar conselhos, mas diria que você não pode fazer muita coisa. Mas isso não iria acontecer de uma hora para outra sem que soubéssemos logo a explicação. Tudo que precisamos é de paciência.

--- Sam... Você apenas repetiu o que eu falei. –Disse, secamente.


--- Ei, não precisa me fuzilar por que isso aconteceu com você, eu não tenho culpa!


--- Me desculpe Sam, mas você me dá nos nervos às vezes. –Falei, sem culpa alguma.


--- Sam, eu vou ficar louca...


--- Não fique.


--- Eu vou. Não suporto não saber o que está acontecendo.


--- Espere.


--- É, talvez paciência seja um dom meu. –Falei, aquiescendo.


 Estava andando com Sam e, de repente, vi Peter se aproximar.


 Ia desviar o caminho, num gesto de desviar da responsabilidade de conversar com ele.


 Quando tudo ficou preto.


 x.x.x


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--- Lottie, que bom que você acordou. Tome. – Sam disse me dando um coala de pelúcia.


Olhei em volta. Era um quarto de hospital. Bufei. Sam me olhava com um rosto sorridente. Amistosa.


  Peguei o urso, fazendo uma leve careta.


--- Excêntrico. –Disse.


--- Sim, é. Eu não sei que animal é, mas eu trouxe porque achei bonito. –Ela disse, olhando torto para o coala, que, realmente era bem estranho.


--- É um Coala. – Minha mãe disse, com um rosto cansado.


  Bufei novamente pensando no que ela estaria passando. Uma das filhas desaparecidas. A outra num hospital. Esta última nem sabia o porque de estar ali.


--- Ah.


--- O que aconteceu? –Perguntei.


--- Não lembra? – Minha mãe me fitou surpresa.


--- Não muito bem.


--- Você desmaiou. Peter te trouxe.


  O nome dele rasgou meu ouvido. Mas não quis que aquilo perturbasse mais ainda a minha sanidade perfeita. Ignorei.


--- Ah, bem quero sair daqui agora. Eu já estou bem. –Disse, num daqueles sorrisos falsos.


--- Sim, você pode ir embora, mas só depois que fizerem exames para saber se não tem algo grave. –Disse minha mãe, categórica.


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--- Não, mãe. Não devo ter nada. –Disse eu, com certeza.


--- Calma Lottie, se você desmaiou, não podemos arriscar.


--- Mãe... Você está vendo meu fígado sair pela boca? –Perguntei, secamente. –Se não está, então vamos. Chega de preocupações desnecessárias.


  Contra a minha mãe nem meu pai que era do exército poderia ir. Fui obrigada a tirar sangue. Deixar minha genética ali naquele lugar. Naquele hospital fétido em minhas narinas críticas.


   Quando eu cheguei em casa, guardei meu Coala de pelúcia em cima da prateleira de coisas bagunçadas que eu tinha em cima da cama, era o único lugar que eu não conseguia deixar arrumado... Todos os presentes de Sam ficavam lá. Talvez essa fosse a explicação.


   Deitei-me na cama e pensei em todo o meu dia.


  De repente eu suava frio como se fosse um gelo. Não conseguia engolir a água que tentava passar pelo meu esôfago entalado.


  Virava-me a cama e não conseguia ficar quieta. Meus olhos estavam pesados, no entanto, não conseguia dormir. Olhava as paredes do quarto, pensativa. Apreensiva.


  Joseph me abandonara. Sem dizer uma palavra sequer. Aquele rosto amistoso, aquele sorriso impecável jamais voltaria. Sim, ele jamais voltaria. Quem iria querer permanecer com alguém como eu? Com um espírito já tão arrebentado?


  Eu sabia o tempo inteiro. Apesar de amá-lo. Apesar disto, eu sempre havia pensado no dia em que ele ia me abandonar e eu teria apenas a minha mãe e a minha irmã, novamente.


  Porque não era possível para mim acreditar que algo bom iria permanecer.


  E o pior de tudo, minha irmã havia se ido. Tudo estava caindo, e a noite é quando ficamos sozinhos com nossas angústias. Aqueles medos que escondemos tanto.


 Mas eu não conseguia chorar.


 Até ali...


 Afaguei a cabeça com o travesseiro, as lágrimas caíam. E sentia dor. Dor de perda. Aquela mesmo dor de quando eu tinha sete anos e meu pai havia desaparecido. Lembrara-se daqueles dias quando eu ficava escutando o som do vento sentada sob as montanhas, tentando, no fundo no fundo, sentir algo. Senti-lo. Sentir que ele não tinha ido embora permanentemente.


  Mas não adiantava. Só o barulho do vento acompanhava meu silêncio e levava meus cabelos para longe, naqueles fins de tarde. Embora meu coração se confortasse sutilmente, de forma inexplicável com aquele ar puro singelo que me circundava.


  Estava profundamente triste naquela noite. E a angústia  me dominava como um suicídio. Uma aceitação da dor visceral. Eu o queria. Eu queria Joe perto de mim. Não queria perder mais ninguém. Perguntava-me porque Joe estava fazendo aquilo. Porque ele me deixara sozinha a amargar por notícias, dizendo que talvez nem voltasse mais. Ele era muito importante. Ele era a minha vida. E tinha acabado de romper o único laço significativo de amor que eu tinha conseguido criar. Rompera-o de forma brusca, latente. Deixara como se fora cacos de vidros espalhados pelo coração. Que o inflamavam, infeccionavam-no, deixando-o para sempre doente, cheio de mazelas. Gangrenas.


  E me sentia mal. Com o rosto gelado de lágrimas. Com uma mente que não era lúcida. Com uma raiva descomunal. De tudo. Da casa em que vivia. De Joe. De minha irmã. De minha mãe. Até de Peter. Com quem começara a criar um vínculo anormal...


  Afundei a cabeça no travesseiro e sufoquei com vigor aquela dor, que pareceu piorar e piorar e piorar, até que de cansaço, dormi.






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Notas finais do capítulo

Há há. Amanhã, o dia será pior, então aproveite o resto de tristeza menos profunda, hoje. Frase gótica do dia...



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