Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 5
Cap. 5: Mal entendido e suas conseqüências.


Notas iniciais do capítulo

Respotando. Melhorado...



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Não acreditara na sensação esdruxulamente incômoda que me dera beijar Peter Uric.

  Mas jamais poderia negar que havia gostado de beijá-lo. Como sempre, não era dada a mentir para mim mesma.

  Olhava-o envergonhada, me sentindo mal. Como se houvesse violado uma regra muito importante. Foi como se a partir dali, eu pudesse perder o controle. Porque eu amava Joe. Mas Peter me deixava estranhamente perturbada.

  Perto dele me sentia triste. Mas impelida a dividir experiências tristes para acalentá-lo. Mas ele não me deixava entrar. Dissecá-lo. E nem eu queria. Porque sabia, em meu intrínseco, que ele tinha mais em comum comigo do que eu imaginava. E que eu poderia ter uma relação de amizade ou algo mais forte inseparável com ele depois.

  Não, eu não queria mais aquilo. Alguém a quem me apegasse tanto a ponto de temer a sua morte.

  Sim, eu já tinha algumas pessoas assim. Porém não queria mais. Tinha medo e relutância infinitos e com motivos concretos para saber que não suportaria mais. A cota já estava cheia...

--- Peter, por que fez aquilo? –Perguntei, indignada.

  Uma lembrança tênue do beijo me veio. Senti-me mal. Não queria pensar naquilo. Me dava um sentimento de medo.

--- Por que você não ia chorar. –Ele respondeu, gentilmente. Seu tom era leve.

  Os seus olhos eram frios como antes. Não como quando me beijou. Quando me beijou, vi uma pequena chama que poderia ser chamada de alma dentro de seus olhos. Uma bem desgastada, porém ainda acesa.

  Mas naquele momento seus olhos eram duros. Apesar de não serem exatamente frios como no começo. Quando o conheci. Tinha tristeza. Que de tão grande ele não conseguia esconder.

--- E o que tinha? Não era necessário tanto. –Eu disse, aborrecida.

  O enjoo me vinha.

--- Confie em mim, essa cena teve de ser feita. –Disse, virando-se para não encarar meu rosto. –Eles... Eles iam te jogar tomates.

  Ele parecia tenso. Parecia revoltado agora. E não parecia ser comigo. Não entendi.

--- Então aquilo não estava mesmo no script? –Perguntei, mais surpreendida ainda.


--- Não. –Respondeu ele, agora virando-se para mim.

  Ele olhava sério. Circunspecto, agora.

  Não entendia as variações de humor rápidas do seu rosto. E jamais havia visto ele fazer aquilo. Era sempre o frio e de sorrisos planejados, Peter Uric.

  Ele tentara dar uma desculpa. Mas de verdade, nós dois sabíamos que nenhum de nós queria uma desculpa, porque sabíamos e tínhamos consciência de que aquele beijo fora mais real do que qualquer beijo técnico, planejado. E que os dois tinham parcelas iguais de culpa.

  Saí do camarim de repente e me assomei ao palco. Era a cena final. Não quis mais falar nada. Aqueles olhos dele me deixavam retraída.

--- “Oh, Will! Eu matei Silver!” - Dizia a minha voz no papel da princesa fingida.

--- “Eu assumirei a culpa por você, Anne.” - Peter disse, ainda com seus olhos duros, mas agora vagantes. Procuravam não encarar diretamente os meus.

  Com gestos sutis, ele andava pelo palco com suas roupas de príncipe deixando-o magnificamente bonito. A luz que pousou sob seu rosto na hora em que disse as palavras, fez-me ver o quanto seus olhos brilhavam dando veemência quase doentia às suas palavras.

  Era como se quisesse que eu entendesse que ele estava falando a verdade. Era como se entrasse em mim para arrancar meus suspiros secos de sentimentos. E ele conseguia.

  As roupas de príncipe não eram daquelas que o deixariam com um ar de idiota, trombadinha. Não, eram roupas de cores sóbrias, sutis. Traços leves. Nada arredondado.

  Olhei para o espelho que estava na minha frente. Não queria fitar o rosto de Peter.

  A cena não estava no script, mas me dirigi a cadeira que estava virada para o espelho.

 Olhei atentamente para mim.

 A plateia esperava ansiosa, atrás de mim. Pude vê-los angustiados, olhando-me a olhar-me no espelho.

 Fitei-me, com um ar da princesa. Um ar infantilmente melancólico.

 Minhas bochechas estavam levemente rosadas. Minha pele muito branca, cheia de pó de arroz. Os olhos verdes mais vítreos, espelhados. Parecia que vagavam. Eu senti-os vagarem por um destino longínquo... Mas eles eram pesadamente fixos.

 A boca era rosada e meu rosto era de uma exímia escocesa. Parecia um boneca. Os lábios, que nunca foram carnudos, tornaram-se levemente bicudos sob a camada grossa de batom rosa. Os cabelos negros reluziam sob a única luz que me iluminava sob o espelho.

  Olhei-o, virando-me, ainda na cadeira.

  Ele ouviria de mim exatamente o que eu sentia. Uma euforia de representar e ao mesmo tempo ser. De ser para ele aquilo pelo qual ele ansiava. Minha amarga fala. Meu amargo sofrimento exacerbado de uma garota mimada demais, enganada pelo próprio veneno da vaidade.

--- ”Eu sumirei pelo mundo e você será preso. Isso não é justo.” –Olhei-o, fixamente.

  A garota não achava aquilo justo. Porém em seu mundinho agora pequeno nada mais era justo e ela sabia disso. Sabia que não tinha direito a reclamar de nada. E também tinha plena consciência de que estava falando aquilo apenas pela moral que seus pais lhe ensinaram, mas que, porém não acreditava mais naquilo, tampouco sentia remorso em assumir a si mesmo que do pecado havia provado e nele permaneceria. E gostava dele, embebia-se nele. E não havia nada que o belo príncipe lhe dissesse, ou houvesse lhe dito em outros outonos, que a dobrasse em empatia por ele.

  A atuação estava perfeita. O público era rígido, com visão reta e curiosidade mórbida.

--- “Você já matou um homem mesmo. –Disse o príncipe tirando o fôlego da pequena e fútil menina - O que espera ser justo daqui pra frente? –Peter rondou o palco, despreocupado.

--- “Vá. Eu nunca suportaria te ver presa morrendo de fome e sem sua beleza intocável.”- Decidiu então o príncipe, indignado consigo por sua postura tão inócua.

  Então o príncipe dirigiu-se até o espelho.

  Iludia-me eu, pensando que ficaria livre das mãos macias e dos olhos cortantes de meu benfeitor. Porém ele sentou-se a meu lado na poltrona de direito que fazia parte do cenário. Acariciou-me o rosto empoado que naquele momento não tinha um resquício visível de sangue, de tanta euforia.

 Porém no espelho continuava vítreo, imóvel. Como uma doce garota, olhando melancolicamente para o espelho. Estava entrando tanto no personagem que não conseguia achar minha apreensão. Só queria interpretar a garota.

   De repente ele me olhava com singeleza.

   A euforia foi-se indo.

  Os olhos furadores eram brandos. E quase me deixei levar por aqueles olhos instantaneamente. Eram olhos não seus. Não era Peter ali. Era o príncipe sentindo muito em ter que deixar sua princesa ser morta, decepada, humilhada, suja, enfeada.

--- “Eu te amo.” –Disse a fala, com dificuldade.

--- “Eu sei que não é verdade.você sempre amou Silver.” – Ele virou-se, ficando de costas para mim.

  Fiz uma cara de espanto, para  que a plateia visse a amarga surpresa de uma garota que sempre havia achado que sua vida era perfeitinha. Mas que porém não tinha ideia de que todos sabiam, na verdade, o quão suja era ela. Desde o começo.

  E seu príncipe. Ah, seu príncipe! Aquele homem lindo, inteligente, respeitoso, leal, amoroso... Ela simplesmente o traíra. E ele sabia, desde o começo.

  Como uma bela raposa sem orgulho, que deixava o leão e o lobo em forma de cordeiro se encontrarem para traí-la.

--- E você nunca poderá esquecê-lo. O único consolo que eu terei, é saber que, mesmo te amando e fazendo isso por você, ele nunca a terá e você nunca o terá também.” –Disse ele, ríspido, rancoroso.

  A garota agora tinha raiva. Daquele que estava fazendo o bem para ela, mas que porem adorava a recompensa de saber que ela estaria mal.

--- “É, eu nunca o amarei mesmo... –Disse, “enojada”- Você é ... sujo. Ao menos o Silver era um homem de honra, que me prometeu a felicidade até o último minuto de sua vida!” –Disse, como a raposa que desdenhava a uva que a fazia sofrer.

  Ou Peter estava interpretando perfeitamente o papel, ou estava incrivelmente triste de verdade. De repente.

  Um triste que sua frieza jamais poderia cobrir. Um triste que era o fim de tudo. Um triste implacavelmente irremediável.

  Nessa hora foi quando algumas lágrimas geladas caíram em meu rosto. Sentia como uma facada a tristeza dele. Tinha empatia. Algo que emanava ali. E tudo de repente ficou real.

  Ele me olhou, estupefato. Foi a primeira vez em que vi seus olhos azuis com alguma emoção verídica de espanto.

  Sentindo a água já fria por sair de minhas pálpebras escorrerem pelo rosto, endireitei-me, com pressa cabal e enxuguei as lágrimas. Mesmo não sendo o artístico a se fazer.

--- “Eu e você...” – Disse ele, “irritado”.

--- “Nós dois estaremos para sempre juntos nessa infelicidade, Will”–Disse, com ar amargo, doído.

  Olhava para ele querendo me desvencilhar daquele sentimento enquanto os violinos tristes e pálidos, tímidos, eram ouvidos pela plateia. E os aplausos ininterruptos me acompanhavam...

Tinha ficado realmente impecável depois de tudo.

 Quando saí, não vi mais Peter. Sumira depois de dizer adeus ao público. Quando sai do camarim, não o vi mais em nenhum lugar ali. Parecia ter ido se isolar em algum lugar lúgubre, pois sua saída havia sido estranha. Não falara comigo e seu rosto era demasiadamente taciturno quando o tinha visto pela ultima vez.

  Somente andava distraída a procura de Joseph.

   Estava feliz em ter participado daquilo e ter feito aquilo tudo bem, por ele. Mas não o havia visto muito, na peça. E nas vezes em que o vira, seu rosto era igual ou pior do que o de Peter, ao fim da peça. Não conseguira perguntá-lo sobre o que acontecia no camarim. As cenas eram muito rápidas.

  E Joe não estava para conversa...

  De repente uma tristeza me invadiu. Um sentimento de culpa, por ter beijado Peter. Um medo invencível de perder Joe para sempre passara como uma facada pelo meu peito, como uma dor que rasga, mas que para, deixando o elemento em que age morto.

  Não sabia se estava frágil por acabar de fazer algo que não era do meu feitio, que era atuar, e de uma forma tão sentimentalmente significativa... Porém meu coração palpitava como quando eu estava nervosa por conseguir passar numa prova difícil. Só que daquela vez era como a morte.

  Como se eu a visse, pertinho de mim, andando ao meu lado como uma amiga de anos... Era uma sensação ruim. A rua estava gelada. Tinha chovido pouquíssimo.

  Em resumo, eu era uma princesa, ainda com o rosto maquiado, suficientemente empoado. Os cabelos ondulados e a maquiagem um tanto berrante ainda sob os olhos. No entanto o vestido eu já havia tirado.

  Andei devagar, afastando-me um pouco do teatro. O frio gelava-me o rosto. Sentia uma fraqueza estranha. Ignorei-a.

  Vi Joe. Um rapaz alto de paletó preto e cabelos negros até os ombros.

 --- Joe! –Disse, retraindo-me, de repente, ao ver que ele virou a cabeça num tom estranho.

  Estava um pouco longe. Corri até ele, sob as poças de água pequenas.

--- Então... Você gostou? –Perguntou-me ele, encostando-se à parede de um muro escuro.

  Aquilo foi como outra faca, que perfurava dessa vez um otimismo severamente pequeno que começava a desabrochar em mim naquelas horas.

--- Sim... Você... Não gostou? –Perguntei, receosa.

--- Por que você beijou o Peter? – Ele perguntou-me calmamente. Os olhos,q eu estavam antes voltados para a rua escura, se voltavam para mim, novamente repressivos.

  Joe olhava para o nada. Numa soturnez que nem mesmo eu, em meus dias mais sombrios poderia ter.

--- Eu não beijei Peter, ele me beijou. –Disse, irritada. –A peça mandou isso, Joe.

--- Por que? Nem estava no script. –Ele perguntou, devagar.

--- Ora, Joe, vai mesmo discutir isso comigo? Acho que não somos mais crianças. Você é um ator, deveria entender essas coisas. - Disse.

  Olhei-o, de modo simples. Ele era tão compreensivo geralmente. Eu realmente estava vendo mundos desmoronarem sobre mim e não entendia nada. Primeiro Peter que ficara irremediavelmente introspectivo de uma hora para outra, depois Joe que ficara sombriamente irritado...

 --- Preciso ir, terei um longo dia, amanhã. –Joe disse ainda inexpressivo. Nunca o havia visto tão frio.

  Eu realmente não o conhecia...

--- O quê? –Perguntei, aturdida.

--- Adeus. – Ele me deu um beijo rápido, abriu a porta do carro e acelerou.

--- Mas o que?! –Perguntei-me, baixinho, enquanto a chuva finíssima que caía desempoava meu rosto perplexo.

x.x.x

   Quando cheguei a casa, minha irmã gêmea estava vendo televisão como sempre.

  Sempre a olhava de cima a baixo estranhamente. Era estranho às vezes, ter uma cópia de si mesmo vagando sempre pela casa sem falar muito ou dar bom dia. Principalmente como ela. Se eu era pouco sociável, minha irmã era o cúmulo do antissocialismo.

  Ela nunca saia na luz do sol. Parecia um vampiro.

  Não tinha feito faculdade, mas era especialmente boa em informática. Ela dizia que faculdade era para pessoas fúteis. Trabalhava em bicos e sempre à noite.

  Sempre falava só o necessário e nunca comia na nossa frente. Fazia tudo em seu quarto e odiava que a perturbassem, mas nunca fazia muito escândalo se entrássemos lá de repente para ver se ela ainda não havia morrido e estava se deteriorando. Ficávamos preocupados...

   Ela era mais estranha do que eu.

  Passei para o meu quarto, sem falar com ela. Era melhor assim, ela sempre falava só o necessário e nunca se importava se estávamos tentando conversar.

  No outro dia, acordei meio atordoada sem saber por onde começar o dia. Eu estava tonta. Quase bati na cadeira do lado da minha cama. Eu nunca bebia e sempre parecia estar bêbada.

  Fui até o banheiro e sentei-me de toalha, no chão. Estava muito tonta. Não tinha comido nada quando voltara para casa. Estava muito cansada e confusa. Talvez aquele ato displicente estivesse fazendo efeito...

  Levantei-me e fui olhar no espelho. Molhei minha cabeça, devagar. Olhei o espelho, segurando na pia, debilmente. Mal podia acreditar na minha fraqueza.

  Os olhos pequenos estavam avermelhados. Não tinha dormido muito na noite passada. Tinha sido assombrada por pesadelos. Mas isso já era comum.

  Algumas rugas falsas de cansaço surgiam no rosto molhado e tentei forçar o riso. Os dentinhos estreitos e quadrados extremamente brancos formavam um sorriso tão forçado que desapareceram rapidamente.

  Baixei a cabeça. Peguei o pente, penteei os cabelos, rapidamente. A sensação ruim voltara. Saí do banheiro de toalha.

--- Mãe! – Quase gritei.

  Não houve resposta.

--- Mãe?! Você está ai? – Eu estava vestindo um vestido bem rápido para descer e saber se minha mãe estava surda.

  Descendo as escadas, avistei a porta aberta. Minha mãe de costas, de roupão, olhando um guarda ruivo fazer anotações.

--- Filha... Sua irmã desapareceu. –Disse ela, devagar.

  Olhou-me, aflita.

--- O quê? – Eu disse, levemente perturbada.

  Minhas pernas tremiam um pouco, mas ignorei tal fato, com pressa por notícias.

  Ela me olhava, com um rosto estupefato, mas fincado por rugas de preocupação. A face do desespero.

  --- Hum... –Foi tudo o que respondi. Meus olhos ficaram fixos na rua.


  Fiquei olhando a rua e os policiais fazendo anotações sobre a descrição de minha irmã.

  Anotações sobre a minha forma física.

  Enquanto isso eu me perdia numa teia de pensamentos que não tinham fim. Pior. Não tinha início. Nem meio. Nem fim. Eram descoordenados.

  Assim como os fatos da noite anterior, aos quais fui sensível, e desta manhã, que eram estranhos e talvez não tivessem nenhuma ligação, mas me deixavam desnorteada e intrigada.



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Notas finais do capítulo

Frigir dos ovos...



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