Redemption escrita por SakyChan


Capítulo 6
Capítulo 5




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Capítulo V

Acordei no outro dia com uma dor de cabeça horrorosa. Achei que não seria capaz de me levantar e ir para escola. Mas como sou uma aluna aplicada (piada) me esforcei. Depois de me arrumar com muito esforço desci para tomar café. Vovó estava sentada na mesa com uma caneca de café e olhando alguns papeis. Com o canto do olho percebi que eram contas. Tomei o remédio e fui imediatamente para o seu lado.

– Algum problema?

– Oh. Bom dia querida. – ela disse como se tivesse acabado de perceber que eu estava aqui. – Não á nada. Só algumas contas.

– Vó, está apertado? – perguntei preocupada.

– Não, não. Não está na hora de ir para escola?

– É. Tchau. – peguei minha mochila e minhas chaves.

Agora que eu tinha um carro poderia me dar ao luxo de acordar mais tarde. Mas logo me arrependi de ter pedido aquele dinheiro para comprá-lo. Agora o dinheiro ficou bem mais curto. Porque eu simplesmente não escolhi um carro mais barato? Eu sei que o meu era usado, mas ainda assim foi bem mais caro do que qualquer outro. Senti-me como uma sanguessuga, retirando todo o dinheiro da minha avó.

E com essa dor de cabeça me senti pior ainda.

Ao estacionar na escola olhei para os lados. Já estava cheio. E meus olhos encontraram os de James enquanto saí do carro. Desviei o olhar e fechei a porta. Justo hoje que eu queria ficar aqui fora até bater o sinal, sem fazer nada, um pouco longe da multidão barulhenta. A dor de cabeça tinha diminuído um pouco até ficar suportável. Que besteira, nenhuma dor é suportável.

Sentei no capô do carro com o livro de matemática na mão. Não consegui me concentrar nem um pouco. Já estávamos em Setembro e aquele calor do verão já começava a desvanecer. Eu estava com uma blusa de mangas até o cotovelo, o que ajudava a cobrir um pouco o curativo.

Fechei os olhos, lutando contra o torpor do remédio. Sempre me deixava sonolenta. Escutei passos em minha direção. Suspirei. Se fosse Sun ou Chris com uma barra de chocolate para alegrar o meu dia eu agradeceria aos céus. Por falar em Chris ele não me ligou noite passada. Talvez tenha ligado, porque ficamos fora durante certo tempo. E fui dormir cedo. Esse pensamente me lembrou Evan. Abri os olhos. O que ele estava fazendo aqui?

– Oi. Posso conversar com você? – James perguntou. Só faltava ele levantar uma bandeira branca. Só concordei com a cabeça. – Eu queria me desculpar. De verdade. Sei que não dá para voltarmos, mas queria que tudo ficasse bem entre nós. Não queria que isso tivesse acontecido. Sinto muito.

– Tudo bem. Já passou. – respondi. Não consegui ficar com raiva dele por muito tempo e seria inútil alimentar um rancor.

– Com está todo mundo?

– Bem. Sun e Kay continuam perseguindo garotos. Chris continua enfiado nos livros. – dei de ombros. Pude ver seu olhar abaixar até o meu braço. Ele tocou o meu cotovelo.

– Você se feriu? – ele estava surpreso.

– Um acidente. Sabia que minha sorte tentaria me matar um dia. – brinquei. Escutei o barulho de um motor.

Um conversível estacionou há algumas vagas de onde estávamos e Evan saiu de dentro. Ele veio na minha direção com um sorriso que desapareceu ao ver James. Nos dois observamos ele andar até parar de frente para mim. Podia sentir os olhares de todos no estacionamento.

– Chamando atenção. Como sempre. – sorri.

– Está melhor hoje? Vem cá. – fiquei encarando Evan se aproximar e observar o meu cotovelo. Ele deu um sorriso malicioso. – Não tive chances de perguntar se o beijo de ontem foi inesquecível. – fiz uma careta ao perceber o que ele estava fazendo. Ele pôs o braço novamente sobre os meus ombros e me empurrou até a entrada, enquanto todos olhavam.

– Você é a pessoa mais sacana que já conheci. Ele só estava perguntando algo, veio para pedir desculpas. Não precisava ter dito aquilo. E posso saber a razão daquela frase imbecil?

– Só estou marcando terreno.

– Está querendo. – empurrei seu braço. – E aquele beijo foi idiota. Você foi imaturo.

– Só estava querendo mostrar ao seu ex o que ele perdeu. – ele se apoiou no armário ao lado do meu e ficou me olhando com um sorriso torto.

– A-há. – tentei ignorar o fato de minha bochecha te ficado vermelha.

– Que beijo?! – Sun quase gritou, aparecendo ao meu lado de supetão.

– Mas que saco! Precisa sair por aí matando os outros de susto? – reclamei.

– Desculpe cherrié. Mas responda. Que beijo? Evan? – ela olhou para ele.

– Não digo nada. Com licença. Preciso conversar com alguém. Sun. Ela é toda sua. – ele saiu rapidamente.

– Ok! Beijo. Beijo? Beijo! – ela ficou repetindo.

– Você não vai me deixar em paz se eu não contar, não é? Não precisa responder. – suspirei. – Ontem Evan me levou para casa depois do hospital. Paramos em um lugar para comer, conversamos. Dá para acreditar que três garçonetes diferentes nos atenderam? Fiquei nervosa e quase armei um barraco. Depois ele me levou para casa. Quando fui sair ele quis me dar uma “lembrança” e me beijou. Antes que me pergunte, não, não foi de língua, nem selinho. Um beijo normal. Fiquei sem reação, mas depois ele interrompeu o beijo e saí do carro nervosa de novo. Mas antes percebi que ele estava com uma expressão de quem parecia confuso. Ah, durante o beijo senti uma corrente elétrica passar pelo meu corpo. Está aí o resumo. Gostou ou quer a versão completa? – parei para tomar fôlego e ri da cara dela.

– Uh... Deixe-me ver se entendi. Você saiu com Evan ontem, uma espécie de encontro? – ela começou a juntar as minhas frases despejadas.

– Pense o que quiser. – dei de ombros.

– Hum... Três garçonetes? Choquei. – ela riu.

– Eu tive um ataque lá. Você não sabe o quanto é difícil conversar com ele em público! Aparece um monte de garotas, um bando de urubus sobrevoando a carniça.

– E que carniça. – começamos a andar até a sala. – Querida, se você quiser conquistá-lo terá que lutar com as unhas. – parei surpresa, ao ver que rumo a conversa tinha tomado.

– Não, eu não quero ficar com ele. Não quero nada mais do que amizade. – eu disse isso mais para me convencer do que para convencê-la. – E não tenho ciúmes dele. – ela me olhou com descrença. – Ok, um pouco. Mas não quero pensar que tenho uma chance. Nada de tentar ficar com caras populares novamente.

– Oh, é mesmo. Eu vi você conversando com James lá no estacionamento. Quando eu ia me aproximar aparece Evan. Que entrada! Adorei o jeito em que ele pôs o braço em você, tão possessivo. U-a-u!

– É, mas ele só queria curtir com James. Não tem nada de íntimo. – entramos na sala.

– Você pode até não querer nada, mas será que ele também não quer nada? – ela provocou.

Ao ver Evan conversando com um outro garoto e Lindsay o encarando, meu estômago até embrulhou. Eu tinha me esquecido dela. O que ele deveria ter dito para ela o encarar assim. Quase podia a ver retirando a faca e o ameaçando. Alguém apoiou nos meus ombros e pulou. Quase caí com o susto.

– Oiê! – Kay gritou. A sala se virou para ver o que tinha acontecido. Elas me matavam de vergonha. Fui andando até um lugar no fundão que estava vazio. Podia escutar Sun contando tudo a Kay e os gritinhos abafados que ela dava. Elas se sentaram na minha frente.

– E foi isso. – Sun terminou. Kay me olhou espantada.

– Nossa.

– Eu sei. – respondi. Mesmo que elas fossem meio malucas eu não conseguia ter raiva delas.

– Poxa.

– Eu sei! – falei mais animada.

– Oh, meu Deus! – elas disseram juntas.

– Eu sei!- quase gritei. Alguns alunos ficaram olhando o nosso ataque. Pude perceber com o canto do olho, que Evan sorria.

– O que foi? – Chris perguntou de repente. Ele havia acabado de chegar e punha a mochila ao lado de um garoto chamado Zach. Era até bom, pois eles eram bem nerds e poderiam conversar sobre nerdices.

– Nada. – Sun me olhou e consegui fazer uma expressão de “não conta”.

– Achei que você ia me ligar. – comecei.

– Acho que esqueci. Desculpa. – ele olhou furtivamente para Evan. – Ele vai sentar aqui? – ele perguntou com nojo.

– Não sei. Preferia sentar sozinha. – apoiei a cabeça na mesa. Ele sentou ao meu lado.

– Tem certeza? – sorri.

– Você fica muito fofo preocupado. – ele ficou visivelmente sem graça. – Está tudo bem. – uma pontada fez surgir uma careta na minha cara. – Na verdade estou morrendo de dor de cabeça. Ah... – gemi. – Achei que estava passando, mas está piorando.

– Já tomou o seu remédio?

– Sim. Mas essa dor é diferente. Acho que preciso ir ao médico. Vai ser horrível descobrir que tenho um tumor no cérebro e poucos meses de vida. – tentei brincar, mas percebi que ele odiava brincadeiras bobas só pela sua careta.

– Você adora fazer bobeiras nos piores momentos. – ele ficou sério.

– Hehe, desculpe. – dei um sorriso amarelo.

– Ela está bem? – escutei Evan perguntar. Gemi. Chris fez uma careta pior ainda.

– Dá para ver que não. – ele foi um pouco grosso, mas Evan pareceu não se importar.

– Zoey. – ele sussurrou. – O que foi?

– Nada. Só dor de cabeça. – segurei a respiração. Ia ser ridículo se eu começasse a ofegar pela súbita aproximação.

– Me avise se piorar. Te levo para a enfermaria.

– Ok. – soltei a respiração. Não precisei me virar para ver se ele tinha se afastado.

– Ele é irritante. – Chris reclamou.

– Não fala assim. Achei que o ódio tinha diminuído por ele ter salvado minha vida. – ele me olhou surpreso.

– Achei que também não o suportava.

– Ah... – fiquei sem ter o que responder. – Acho que o perdoei. Por ter salvado minha vida. Inútil ficar odiando a pessoa que me salvou.

– Não sou tão legal. Principalmente... – ele apertou as mãos. Ele ficou muito nervoso.

– Chris, o que foi? Principalmente o que? – me assustei ao pensar que ele tinha escutado nossa conversa de ontem. Seu rosto se nublou.

– Nada. Só não vou com a cara dele.

– Você me assustou. Nunca o vi ficar tão nervoso.

– Acho que estou... Estressado. – ele sorriu, mas seus olhos não.

Então bateu o sino e a professora entrou na sala.

– Melhoras. – ele foi para o seu lugar. Virei-me e escutei um baque. Uma mochila caiu na mesa ao lado. Fiquei olhando, abismada, Evan se sentar. Fiquei olhando ele e a mochila sem parar. Ele percebeu meu olhar e se afastou.

– Que cara é essa?

– Eu não vou me sentar ao seu lado. – olhei pela sala, procurando algum lugar vazio. Bufei ao ver que não tinha lugar vazio.

– Sinto muito. Terá que me aguentar. – ele apoiou o rosto na mão e sorriu descaradamente.

– Está abusando de uma doente. Quando eu morrer daqui alguns meses, você irá se arrepender.

– Morrer? Não seja tão dramática.

– Quando eu chegar aqui com o resultado do exame, indicando o meu possível tumor no cérebro, vocês irão chorar. Haha. – fiz um muxoxo.

– É. Infelizmente não posso curar um tumor. Anjos não podem mexer no destino de alguém. Se é para você ter um tumor... Adeus. Sinto muito. – ele não parecia nem um pouquinho arrependido.

– Desalmado.

– Já pensou em ser atriz? Interpretaria uma garota chorona com perfeição.

– Evan. – fuzilei-o com o olhar. A professora chamou nossa atenção.

Conversamos durante a aula inteira. Pelo papel, é claro. Evan adorou curtir com a minha cara enquanto eu ficava cada vez mais nervosa a cada provocação. Quando acabou a aula me levantei rapidamente. Dessa vez eu não iria me sentar do lado dele. Oh, não!

Corri até a outra sala e me sentei ao lado de um Chris assustado. Sun e Kay foram para outra aula então sentei ao lado de uma pessoa amiga. Ele me observou jogar a mochila e arrumar minhas coisas com perfeição. Soltei o ar com força. Virei-me para ele.

– Oi Chris.

– Você está bem? Ele fez alguma coisa?

– Não, só é chato demais. Não troque de lugar. Se ele sentar ao meu lado de novo eu irei matar uma pessoa. – ele deu uma risada.

– Voltou a sentir raiva dele? Isso é uma coisa fácil, hein?

– Com certeza.

Pensei que essa seria uma aula mais tranqüila, só que quando a professora Heather entrou na sala bati minha cabeça nos livros. O que me fez perceber que ainda estava com uma dor de cabeça horrível. Quando é que iria parar?

Evan se sentou do outro lado da sala, mas vi que ele às vezes me encarava. Queria voar até lá e esgana-lo, mas com o passar dos minutos minha raiva diminuiu. Toda aula de Heather me deixava tensa. Não consegui relaxar. Principalmente quando ela dirigia o seu olhar para me observar. Ela quase dizia que não confiava em mim. Eu também não confiava nela. E devolvia o olhar na mesma intensidade. O que acabou me estressando ainda mais.

A dor de cabeça piorava. Eu queria sair, tomar um ar puro. O tempo se arrastava lentamente. Parecia que aquela aula não iria terminar nunca. Comecei a fraquejar. Mal conseguia manter minhas pálpebras abertas. Cutuquei Chris.

– Chris. Acho que agora é melhor eu ir até a enfermaria. Senão vou desmaiar aqui. Não dá para aguentar mais.

– Ok. Posso te levar. – ele levantou a mão. – Professora. Zoey está passando mal. Gostaria que a deixasse ir até a enfermaria.

– Claro. – então ela disse algo que me indignou. – Evan, poderia levá-la até lá?

– Sim. – ele respondeu. Tentei dizer algo, mas a fraqueza começava a me dominar. Evan pos meu braço sobre seus ombros.

Ele começou a me rebocar para fora da sala e pude ver Chris o observar nervoso. Enquanto andávamos pelos corredores vazios, suspirei pela qüinquagésima vez naquele dia.

– O que ela estava pensando ao manda-lo me levar até lá? – consegui dizer.

– Eu sou seu anjo. Não posso ficar parado vendo você sucumbir. – ele estava sorrindo. - Eu não tenho culpa se sou tão desejável. – fiz uma careta.

– Poxa, você se ama, não é? – ele deu um sorriso torto, o que evidenciou a tão adorada beleza dele. Oh, se eu ficar reparando demais nele... Ia ser o fim. Aí sim que Evan ia me encher o saco ainda mais.

– Se não amarmos a nós mesmos quem poderá nos amar? – então algo estranho aconteceu. Não que eu tivesse um histórico de saúde ruim, mas raramente eu ficava doente. Ás vezes ocorria um surto de gripe ou qualquer outra coisa, meus colegas adoeciam, mas eu permanecia de boa. Nem chegava a espirrar. Razão de um dos meus apelidos: Supergirl.

Por isso eu achei aquilo muito estranho. Aquele dia estava muito estranho. Uma dor de cabeça insuportável que não passava, fraqueza, agora isso? Manchas negras nublaram minha visão e minha cabeça doeu tanto que achei que havia caído e batido-a com força. Mas eu ainda estava de pé. Não por muito tempo. Cambaleei e pus minhas mãos na cabeça.

– Zoey? – escutei a voz alarmada de Evan. Ele me segurou antes que eu caísse. Gemi. O seu toque nos meus braços queimou.

– Ah... O que está acontecendo... ? ... A minha cabeça vai explodir. Evan! – gritei o nome dele desesperada. Eu já havia tido dores de cabeça horríveis, mas essa era pior. Parecia que eu estava sendo queimada e minha cabeça estava sendo pressionada, mas a pressão dentro dela era enorme. Então ouvi vozes dentro da minha cabeça. As vozes de várias pessoas. Parecia que todos que estavam na sala ao lado estavam gritando.

– Você... escutou algo? – consegui dizer através dos meus dentes cerrados.

–... Não. Por quê? – ele parecia confuso. Não consegui responder. Senti vontade de gritar. Gritar o mais alto o possível. Mas estava fora de questão. Se eu começasse a gritar no meio do corredor, durante as aulas, nos braços de Evan... Isso acabaria com ele suspenso e todos me amparando. E por incrível que pareça eu não queria ser afastada dele, não queria ficar longe dele. Não agora, quando eu mais precisava de ajuda.

– Evan, eu... – eu queria dizer algo! Mas uma sensação de torpor começou a me invadir. Era para a dor ter ido embora, mas não foi.

– Zoey? Zoey?! Responda-me! Diga algo... Por favor... – então não ouvi mais nada.

Quando acordei e escutei a música, imediatamente descobri onde estava. A enfermeira da escola adorava Beatles, e a única vez em que precisei ir até a enfermaria me lembro de ter escutado “All you need is love”. Agora, ouvindo a voz de John Lennon cantando “Here comes the sun”, me senti relaxada. Até de mais. Eu não estava com um dor de cabeça horrorosa? Sentei-me rapidamente e vi que estava em um dos catres. E Evan estava sentado, agora, a centímetros de distância. Assustei-me quando percebi a sua presença.

Também percebi que era a segunda vez que desmaiava sem mais nem menos. Isso começou a acontecer depois dele aparecer. Dei uma risada forçada.

– Você vai me matar um dia desses. – parei de rir ao ver sua expressão séria e preocupada.

– Como assim?

– Segundo desmaio sem nenhuma causa. E comecei a ter essas dores de cabeça depois daquele acidente. – me afastei um pouco dele.

– Quer dizer que você não tinha isso antes? – ele ainda estava sério.

– O que foi que eu fiz para merecer essa cara? – perguntei. Quando Heather apareceu de um pulinho de susto.

– Será, Evan? – ela o olhava com os braços cruzados, mas Evan continuava a me encarar.

– Não tenho certeza ainda. Quem me dera eu ainda fosse arcanjo e pudesse ler os pensamentos dela. Ou de outras pessoas, talvez a avó.

– Ahn? O que está acontecendo?

– Você disse ter ouvido vozes? Que ele não tinha escutado? – ela perguntou.

– Coopere. – ele me disse.

– Foi tão rápido que achei que estava delirando. Pode me responder agora?

– Tenho suspeitas de que você seja descendente de um nefilim. – só fiquei observando-o. – É sério.

– O que o faz pensar assim?

– Depois do acidente você começou a ter essas dores de cabeça. Frequentes? – Heather perguntou.

– Sim. E desmaios sem causa aparente. O que isso significa?

– Acho que com aquele acidente você tenha acordado algo dentro de você. Ainda está se... Acostumando, mas provavelmente daqui alguns dias você irá senti-lo.

– O que exatamente? – fiquei assustada com a idéia.

– Talvez um dom. Não sabemos. Será bom você observa-la. Evan. – ela o cutucou, mas Evan estava imerso em pensamentos. Ela suspirou. – Já vou. Avise-me se algo acontecer.

Depois que ela saiu ficamos em silêncio durante um bom tempo. Evan parecia petrificado. E eu tentava absorver o que haviam dito.

Será que era verdade? Eu era descendente de... Nefilim? Meus pais haviam morrido há muito tempo, a única que deveria saber sobre o meu passado era a minha avó. E será que ela me contaria? Que coisa acordou dentro de mim? E porque eu estava sem dor de cabeça? Isso era meio estranho. Sinistro.

Mas eu tentava encontrar uma conexão. Evan disse que não me viu nas visões de Lindsay. Isso tinha a ver com o possível fato da minha descendência? Teria que perguntar a ele, mas isso era óbvio. Lembrei que ele disse que as descendentes tinham dons mentais. Por isso eram confundidas com bruxas, feiticeiras, e essas coisas. Lindsay era uma descendente e talvez nem sabia desse fato. Mas tinha visões. Acho que ela deveria ter enlouquecido ao perceber o que estava acontecendo. E ela não teve um Evan para lhe explicar o que era aquilo. Senti pena dela por um instante. Depois lembrei o que ela havia feito com Sun e minha pena sumiu.

Como o silêncio estava intenso pude ouvir vozes dos alunos no refeitório. Já estavam almoçando? Fiquei desacordada durante uma meia hora? Ah, se eu não segurasse tantas coisas voando pela minha cabeça ficaria com uma outra dor de cabeça.

Não sei quanto tempo se passou enquanto eu pensava sobre tudo isso. Comecei ficar agitada. E Evan não tinha dado sinal de vida. Pus minha mão em seu rosto.

– Evan? Terra chamando Evan? – ele saiu do torpor e me observou. – Está bem?

– Não era eu quem deveria perguntar isso? – ele deu um leve sorriso.

– Você ficou tão absorto que achei que tinha parado de respirar. – me levantei. A sensação de pisar no chão era ótima. Parecia que eu estivera séculos sem andar. – Acho que estou com fome. Me acompanha até o refeitório?

– Como é que você está tão contente? Não estava desmaiada há cinco minutos atrás com uma dor de cabeça insuportável? – ele se levantou.

– Estava. Estou tentando esquecer isso. E estou realmente com fome. Pareço uma porca. Sempre com fome nos piores momentos. – ele riu fracamente.

– Mas você me assustou. De repente desmaia nos meus braços e depois ri por aí. Por um momento achei que tinha morrido e agora teria que enterra-la no jardim da escola.

– Haha. Depois eu que sou dramática. – deu um murro de leve no seu braço enquanto andávamos até o refeitório. Ele revidou com um empurrão com os ombros. – Ai!

– Você está brincando. Foi tão leve. – ele se aproximou e aproveitei para bater meus quadris nos dele. Dei uma risada.

– Nunca socorra seu inimigo senão será um homem morto. – ele cambaleou, mas depois pôs o braço em volta do meu pescoço.

– Nunca perca o seu tempo curtindo com a cara do inimigo. – ele não estava apertando, mas comecei a reclamar. Um grupo de garotas passou pelo o corredor e ficaram nos observando.

– Mandem ele me soltar! – supliquei a elas. Umas deram risadinhas. Dei uma cotovelada no peito dele. Parecia que tinha batido em um muro. – Ahhhh... – gemi. Ele me soltou e apertou onde eu tinha batido.

– Ah? É porque não levou uma cotovelada. – esfreguei o cotovelo. Beleza, o outro estava machucado e acabei de contundir o outro.

– Morra Evan. Morra. – resmunguei. As garotas passaram por nós dando risadas audíveis. Então o sinal bateu. – Só pode estar brincando. Eu estou com fome! – reclamei. A multidão invadiu os corredores e tivemos que virar na direção contrária, seguindo o fluxo.

Fomos empurrados até a sala. Sun e Kay ficaram preocupadíssimas, pois Chris havia dito que eu tinha ido até a enfermaria. Não contei sobre a parte do desmaio nem da conversa, mas foi o suficiente para elas se acalmarem. A pior parte do dia foi que na falta de Chris, sentei novamente ao lado de Evan. Mas ele não ficou me enchendo o saco. Ele ficou estranhamente quieto. Pensei se era sobre aquele fato da descendência, mas não encontrei nenhum motivo para ele se preocupar. E ele estava mais cuidadoso com o meu estado, como se eu fosse desmaiar a qualquer momento. Não achei aquela preocupação fofa. Achei muito melhor. Mesmo não querendo.


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