Relâmpagos iluminavam os céus de Chesord enquanto as nuvens giravam violentamente, como que engolidas por um  imenso tornado. Um certo homem, trajando vestes que indicavam nobreza, observava da sacada de um castelo o fenômeno singular. Embora seus cabelos curtos e sua rala e bem cuidada barba fossem brancos, seu rosto era jovem. Aparentava ter uma idade próxima aos trinta anos.
-???: Consigo sentir a magia estilhaçando e explodindo. Os padrões místicos já não conseguem mais se manter e tornam instável o ar ao redor. A barreira será desfeita em um ou dois minutos, no máximo.
A freqüência e intensidade dos raios aumentava a cada instante, causando a impressão de que o próprio céu estava sendo destruído. Em meio à fúria, as nuvens negras que antes ocultavam a lua e as estrelas agora estavam totalmente dispersas.
-???: Tenho que agir enquanto ainda há tempo.

Inferno sentia as perturbações que a queda da barreira causava, mas ele optou por ignorá-las, ao menos enquanto estivesse diante dos culpados. Lutaria até a morte para defender Chesord dos demônios caso fosse necessário, mas ainda assim sabia que muitos habitantes do reino seriam vitimados. Devido a isso, seu senso de justiça o impelia a castigar Samantha e todos os seus aliados.
-Samantha: Eu destruí todos os dez pilares que sustentavam a barreira. Comparado com eles você não passa de uma árvore pequena e seca.
-Inferno: É mesmo? Mas uma árvore pequena e seca seria capaz de fazer isso?
O líder da ordem lançou duas bolas de fogo negro que seguiram girando em espiral na direção de Samantha. A bruxa saltou e, sabendo que seria perseguida pelos ataques, disparou duas estacas de trevas contra os projéteis. Porém, ela não esperava que as chamas alterassem bruscamente sua trajetória e a atingissem por lados opostos.
-Samantha: “Ele consegue controlar o elemento melhor que eu...”
A bruxa caiu, mas foi deixada em paz por Inferno. Ao invés de continuar a atacá-la, ele se aproximou de William e logo percebeu que o rapaz estava vivo, pois respirava pesadamente.
-Inferno: Você é o mais perigoso de todos, então morrerá primeiro.
O controlador das chamas negras estendeu a mão direita, concentrando seu elemento para carbonizar seu alvo. Contudo, virou-se de súbito e disparou uma rajada ampla e curta de chamas para destruir os dardos negros lançados por Samantha.
-Samantha: William me protegeu quando você tentou me matar. Agora eu vou devolver o favor.
-Inferno: É mesmo? Então tente me impedir!
A espada de Inferno se materializou diante de sua mão esquerda e ele rapidamente impulsionou-a contra o corpo de William para decapitá-lo. O homem mantinha sua mão direita pronta para se proteger, eliminando as chances de Samantha detê-lo. Contudo, a lâmina foi parada por outra.
-Yasmin: Samantha, deixe esse aqui comigo e vá dar uma surra no meu irmão irritante, por gentileza. E não se preocupe, garanto que vou proteger o William.
-Samantha: Hmpf...
Sem esboçar uma reação, a bruxa ignorou Inferno e avançou na direção de Quartzo enquanto materializava suas garras. O líder da ordem não tentou impedi-la e, ao invés disso, dirigiu-se a Yasmin.
-Inferno: Sua atitude é estranha, protegendo o homem que um dia destruiu sua reputação como capitã.
-Yasmin: Não foi nada pessoal, estávamos apenas tentando cumprir nossas respectivas missões. E eu espero que você tenha essa mesma atitude quando eu acabar com sua reputação como líder da Rosa Branca.
-Inferno: Tolice.
-Yasmin: É mesmo, eu esqueci que pra derrubar a barreira eu preciso matar você.

Karin batia a sujeira de sua roupa enquanto Fernand girava seu machado, encarando Sol e Vulcano. Assim como os manipuladores da terra e da luz, os dois guerreiros da ordem estavam lado a lado.
-Sol: Vocês não tiveram nenhuma chance lutando sozinhos, acham mesmo que algo vai mudar lutando em dupla?
-Fernand: Não faz diferença se vamos bater ou apanhar, só estamos distraindo vocês enquanto a Yasmin faz picadinho do seu chefe, otários.
-Sol: Vamos lá, Vulcano, vamos mostrar a beleza de nossas técnicas para estes fracassados.
-Vulcano: Só quero acabar logo com isso...

O ritmo da batalha entre Vortex e Luna permanecia o mesmo, mas as preocupações do controlador de portais agora eram totalmente diferentes.
-Vortex: “Deixá-los morrer agora seria uma grande tolice. Vou nocautear todos e depois convencer Inferno a mantê-los vivos.”
Certo de que teria lábia suficiente para induzir o líder, Vortex gerou um grande portal logo atrás de si e lançou-se dentro do mesmo, surgindo atrás de Luna. A confusa sacerdotisa não teve tempo de reagir antes do inimigo atingi-la brutalmente na nuca com o cotovelo.
-Vortex: “Melhor deixar a ex-capitã por último, senão Inferno pode matar alguém...”
O controlador dos portais passou sobre o corpo de Luna sem pisar nela e continuou andando em direção ao local onde estavam Samantha e Quartzo. Contudo, caiu de joelhos quando sentiu algo atingir seu tornozelo esquerdo. A dor e o som causado pelo ataque não deixavam dúvidas, o osso havia sido fraturado.

Valendo-se de sua grande agilidade, Samantha saltava e fintava atacando com suas garras, forçando Quartzo a manter uma postura defensiva. O irmão de Yasmin sentia-se lutando contra um borrão escuro cheio de lâminas.
-Quartzo: Desgraçada! Eu não tenho nada a resolver com você, deixe-me lutar com a minha irmã!
-Samantha: Será que você pode ficar quieto? Eu também não estou contente por ter de lutar contra você, babaca.

Yasmin foi ao chão, mas se levantou rapidamente, limpando o sangue que escorria pelos seus lábios. Estava admirado com a grande força do oponente, mas não tinha o direito de ser vencida. Precisava derrubá-lo pelo bem de todos os seus aliados.
-Inferno: Jamais entenderei porque nos traiu, mas ao menos vou lhe dar uma morte rápida em respeito ao fato de que um dia já lutou para proteger Chesord.
Dezenas de bolas de fogo começaram a girar ao redor da ex-capitã, aumentando a velocidade a cada segundo. Ela sabia que não tinha condições de evitar todas, portanto só lhe restava se defender cruzando os braços diante do rosto. Contudo, quando as chamas partiram em sua direção, a garota foi protegida por uma barreira circular de vento.
-Inferno: Você ainda consegue lutar, maldito?
Inferno sabia exatamente quem era o responsável por aquilo: William, que novamente estava em pé para lutar.
-William: Nós vencemos, Yasmin. Por que ainda estamos perdendo tempo aqui?
-Yasmin: Inferno ergueu uma barreira ao redor deste pátio e a única forma de escapar é derrubando o suporte dela, ou seja, o próprio Inferno.
-William: Entendo.
Mesmo que seu corpo estivesse dolorido e coberto de queimaduras. Mesmo que seus músculos mal agüentassem mantê-lo em pé. Mesmo que sentisse como se seus ossos fossem despedaçar a qualquer instante, o orgulho de William o impulsionava a lutar. Morrer lá, após tudo o que havia feito, o tornaria verdadeiramente uma arma sem vontade, uma ferramenta que poderia ser descartada quando seu uso terminasse. Isso ele jamais aceitaria. Sobreviveria para mostrar a todos que seu poder era grande, que seu nome não era “arma experimental”, mas sim William Storde.
-William: Para o nosso sucesso e nossa liberdade, esse homem representa o último pilar. E eu diria que temos muita experiência em derrubar pilares.
Sim, liberdade para ele e para seus aliados. Sem o apoio deles, William jamais teria superado todas as provações a que foi submetido. Ele já conseguia se imaginar comemorando a vitória no esconderijo das bruxas, junto com Fernand, Yasmin, Samantha, Karin e Luna. Agora ele possuía algo que jamais imaginou que viria a conseguir quando começou sua jornada: William tinha um futuro, e não deixaria ninguém tirar isso dele.