Embora parte da mobília estivesse estragada e as paredes danificadas em vários pontos, aquela casa de madeira era relativamente habitável. O único detalhe que realmente perturbava Luna era a grande mancha de sangue no chão da cozinha, onde a sacerdotisa preparava um ensopado.
Subitamente, a porta se abriu e a garota instintivamente estendeu a mão ao arco que mantinha sobre a mesa, apontando-o para o recém-chegado. Porém, ao perceber que era Fernand quem entrava, Luna abaixou sua arma.
-Fernand: Trouxe visitas.
-Luna: Quem s-
Emoção e espanto cobriram a face da sacerdotisa quando ela viu o rosto de Yasmin e, logo em seguida, o de Samantha. Porém, grande preocupação se abateu sobre Luna quando esta notou que o braço direito da manipuladora das trevas já não era mais de carne e osso, mas sim de metal.
-Luna: Samantha, o que houve com o seu braço?
-Samantha: É uma longa história...
-Fernand: E agora que estamos em um local relativamente seguro, vocês podem começar a falar.
Depois de se certificar que ninguém os seguia, o soldado da terra fechou vagarosamente a porta.
-Fernand: E a primeira coisa que eu quero saber é onde está William.
-Yasmin: Morto...
A ex-capitã respondeu com grande pesar.
-Fernand: Como assim? Você está brincando?
-Samantha: Sinto muito Fernand, mas é verdade.
Fernand esmurrou a parede, quebrando a madeira no local atingido por seu punho, e então gritou informado.
-Fernand: Eu não acredito! Ele não morreria! Não para aqueles demônios desgraçados! O William não deixaria que eles o matassem!!! MALDIÇÃO!!!

Luna acordou suando frio e então se deu conta que era apenas um sonho. Porém, foi tão real que ela mal conseguia se mover.

-Madame Papillon: Eu sinto muito, mas não posso lhe mostrar como funciona o círculo de transporte mágico. Os sábios de Empericia jamais concordariam em utilizá-lo somente para provar que funciona.
Luna seguia a líder das bruxas pelos corredores do esconderijo, um tanto descontente com o que ela dizia. A caminhada chegou ao fim em uma pequena sala onde diversos itens de formatos diferentes estavam espalhados pelo chão, em baús ou em estantes. No centro havia uma esfera prateada sobre um pedestal de pedra.
-Madame Papillon: Mas eu posso lhe mostrar como funciona o Olho de Argenta, se assim você desejar.
-Luna: Tudo bem, vá em frente.
-Madame Papillon: Já está mesmo na hora de passar o relatório diário.
A bruxa colocou a mão direita sobre a esfera, que começou a brilhar levemente. Vinte segundos depois, uma imagem começou a se formar diante de Madame Papillon: um homem velho e barbudo, com belas túnicas cerimoniais, mas totalmente cinzento. A imagem também mantinha sua mão direita sobre a esfera.
-Madame Papillon: Agradeço a presteza, eu tenho informações importantes hoje.
-Imagem: A arma experimental finalmente alcançou seu esconderijo, Madame Papillon?
-Madame Papillon: Sim, ele e seus aliados já estão aqui. Eu lhes instruí a respeito dos nossos planos e os preparativos já estão em andamento.
-Imagem: Quando pretendem atacar o último pilar?
-Madame Papillon: Em breve, provavelmente amanhã.
-Imagem: Muito bem, estou me retirando agora.
O velho removeu a mão da esfera e sua imagem se desfez no ar tão rápido quanto surgiu. Admirada, Luna levou algum tempo até pensar em algo para dizer.
-Luna: Realmente, creio que não há mais o que duvidar sobre sua história...
-Madame Papillon: Sei que é difícil acreditar em tudo, portanto farei o que estiver ao meu alcance para convencer você e suas amigas.
-Luna: Por sinal, onde estão os outros?
-Madame Papillon: Yasmin, Karin e Fernand devem estar conversando com Elbio e Kate. Já William e Samantha saíram hoje cedo e ainda não retornaram, estão ajudando com os preparativos.
-Luna: Certo, então é melhor eu me juntar a Yasmin.
Apesar da demonstração relativamente convincente de que era verdade o que dizia Papillon, as dúvidas de Luna não a abandonavam enquanto a sensação de medo causada por seu pesadelo permanecia vívida no coração.

Sozinho na sala de reuniões da Ordem da Rosa Branca, Inferno recitava algumas palavras enquanto mantinha seus olhos fechados. Eram tão baixas que somente alguém que estivesse ao seu lado poderia ouvi-las.
-Inferno: Que Adriel, o supremo deus da luz, nos proteja na batalha que está por vir...

Na biblioteca do quartel-general da Rosa Branca, Quartzo folheava alguns livros com grande desinteresse enquanto Vortex, sentado diante de uma mesa e com os ombros apoiados sobre ela, demonstrava tremenda concentração.
-Quartzo: Olha, Vortex. Eu cansei de ficar por aqui, vou dar uma volta.
-Vortex: É melhor que vá mesmo, se não calar sua boca eu jamais vou conseguir me concentrar e montar um plano decente.
-Quartzo: Que seja, me conte o que terei de fazer quando tiver algo em mente.
Ignorando seu colega que deixava o local, Vortex esforçava sua inteligência ao máximo para encontrar uma resposta ao seu problema.
-Vortex: Vai ser muito difícil para eles vencer esta última batalha, mas eu tenho que ajudar tanto quanto eu puder. Somente eu posso anular a armadilha que Inferno está preparando sem levantar suspeitas, basta apenas descobrir como...

Caminhando entre as árvores, William e Samantha retornavam com calma para o esconderijo.
-Samantha: Você pretende contar aos outros o que fizemos?
-William: Não. Eles não entenderiam, nem ao menos aceitariam.
-Samantha: E não vai se sentir culpado?
-William: Nem um pouco. Eu fiz o que tinha que fazer e é só isso que importa.
-Samantha: Sim, você está certo.
-William: Ao menos posso contar com você para isso. Mas preciso pensar logo em uma justificativa, ou os outros vão desconfiar.
-Samantha: Não se preocupe, eu tenho certeza de que Madame Papillon já justificou. Agora só precisamos nos preparar psicologicamente para a batalha que está por vir.