Slow Life escrita por thetigas08


Capítulo 7
Capítulo 6 - Pela Manhã




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Depois de uma noite embalada por um bem-estar obviamente derivado da minha última refeição, acordei por volta das nove horas. Sentia-me muito bem, totalmente energético. Levantei-me velozmente e fui arrumar a cortina que escondia a minha magnífica vista. Estava um lindo dia de sol que encaixava perfeitamente com o perfil do Verão. Era destes dias que eu gostava. Descalço, corri até à casa de banho e abri a torneira do lavatório. Com um gesto brando passei a minha mão esquerda sobre a água límpida e com a minha mão direita levei-a ao rosto. Aquele momento refrescante despertou-me ainda mais. Regressei ao quarto e abri o armário. Tirei uma camisa e uns calções e pousei-os na cama. Despi a t-shirt com a qual tinha dormido e vesti o que escolhera. De seguida, calcei-me. Regressei à casa de banho e dei um jeito ao meu cabelo na esperança que ele ficasse visivelmente mais apresentável. Terminado, desci as escadas e dirigi-me à cozinha.

- Bom dia! – gritei, sem me ter apercebido, ao ver o meu irmão a tomar o pequeno almoço.

- Bom dia puto. – riu-se.

Peguei numa tigela e numa colher e pousei-as em cima de um individual que estava na bancada. Contornei-a e fui sentar-me ao lado do Nuno.

- Nem penses que vais comer destes cereais. – avisou-me assim que viu  minha mão a tocar-lhes na caixa.

- Vou comer croissants mergulhados em sumo. – informei ironicamente.

- Bem bom.

- Cala-te invejoso. - respondi-lhe em tom de brincadeira, enquanto virava os cereais na tigela.

- Come tudo, senão não cresces.

- Só tens mais cinco centímetros que eu, ó grandalhão. – recordei-lhe, enquanto regava os cereais com o leite que também lhe roubara.

- Diogo, um dia vais ser como eu.

- Então espero ansiosamente morrer antes. – olhei-o de lado, abanando com a cabeça, contradizendo o que ele acabara de dizer – Nuno, nunca haverá alguém como tu, és único... e ainda bem!

- Obrigado, eu sei que me admiras. - agradeceu-me  espetando-me um cachaço e eu, desprevenido, engasguei-me.

- Ia morrendo!! – resmunguei.

- Calma! Eu quando te disse para comeres, referia-me aos cereais e ao leite, não á colher.

Olhei-o de canto. Ele sabia como me enervar.

- Vá, eu vou para a praia com uns amigos que estão por aqui de férias. – disse-me, enquanto arrumava a louça e os talheres que usara.

- Fazes bem. A mãe saiu?

- Foi fazer umas compras. Deve voltar pelas onze horas, para preparar o almoço. O pai foi trabalhar, já sabes.

- Ok. Tenho de falar com a mãe sobre a minha matrícula e todas essas burocracias.

- Pois é, e já não falta muito para recomeçarem as aulas. – lembrou-me, enquanto pegava na mochila e na toalha que pousara ao pé da parede.

- Sim, eu sei disso. – concordei - Tchau, aproveita.

- Tchau, não faças asneiras. – alertou-me sarcasticamente.

- Obrigado por me aconselhares. – gritei-lhe assim que ele saiu pela porta.

E lá estava eu, sozinho e sem planos para gastar a energia que guardava em mim, que já começava a transbordar-me, com mais uma recarga, desta vez por parte dos cereais. Não sabia o que fazer, e isso era das coisas que me deixava mais estúpido nas férias. O não fazer nada só fica bem em tempo de aulas.

Começaram a surgir-me ideias: ler, ouvir música, ficar sentado no sofá a ver um filme... não, definitivamente estes eram planos de dias de chuva, não para desperdiçar em dias assim. Talvez devesse... não, isso seria um pouco arriscado... mas era a melhor maneira de ocupar a manhã. Eu devia aproveitar para ir conhecer um pouco da Póvoa.

Acabei os cereais numa colherada e saí a correr pela porta. Estava tão destemido que quase me esquecia de a fechar à chave. Corri até ao portão e abri-o. Desci a rua e segui a direcção que me levava ao mar, a mesma que os meus olhos tomaram através do vitral do meu quarto. Estava feliz por ir ver o mar novamente de perto. Contava em apanhar o Nuno pelo caminho, já que ele ia para a praia a pé também, mas não o vi.

Fui a correr pelo passeio e depois virei á direita. Foi então que olhando em frente pude aperceber-me que era já ali. Curiosamente, estava, na prática, á mesma distância de que o mar, em Nazaré, ficava da minha outra morada. Era a segunda coincidência que encontrava. Então segui para ele, mais uma vez num ritmo acelerado.

- Diogo??

Olhei para trás assim que me chamaram em uníssono. Aquelas duas vozes juntas eram sem dúvida das gémeas. Não estava nos meus planos reencontrá-las...

- Olá... que fazem vocês aqui?

- Férias. – respondeu a Diana.

A Diana era, das duas, a que eu conhecia melhor. Por culpa dos nossos nomes, acabámos sempre na mesma mesa na escola, desde sempre. Era provavelmente a minha melhor amiga, mesmo sem nunca a ter distinguido por esse facto. Vê-la depois de me ter despedido sem explicações, tanto a ela, como à irmã, a Luísa, era de cortar a respiração.

- Dá cá um abraço! – disse correndo para mim, sendo também acompanhada pela sua irmã.

- Oh, pronto... – aquele abraço foi a melhor coisa que me aconteceu desde que cheguei cá. Por um momento senti que estava perto de todos novamente. Elas agarraram-me tão violentamente, de uma forma carinhosamente bruta, que eu não as queria largar. Só tinham passado cinco dias do meu anúncio e parecia mais de um mês sem falar com eles.

- Moras aqui perto? – perguntou-me a Luísa, assim que me largaram, olhando o chão.

- Sim...

- Nós também estamos num hotel aqui perto. – informou-me a Diana.

- Vão estar aqui muito tempo? – perguntei, com alguma ânsia.

- Mais três dias. – respondeu-me uma delas. Tinham uma voz tão idêntica, que nem consegui distinguir qual delas foi.

- Talvez nos voltemos a ver. – disse esperançoso.

- Talvez. – consentiu a Diana – A gente tem de ir andando.

- Foi bom ver-vos. – afirmei, enquanto me despedia delas.

- Passa por Nazaré brevemente! – como eu gostava que fosse já no dia seguinte.

- Vou fazer por isso. Entretanto, vamos mantendo contacto.

- Sim, facebook, já sabes. – lembrou-me a Luísa.

E foram andando, na direcção inversa à que eu fizera até chegar ali. E eu, contrariamente, fiquei parado, a olhar o passeio. Tocar naquela realidade deixava-me assim, morto. Veio-me tudo à cabeça, mais uma vez. E esse retorno, assim que me preencheu, ocupou todo o lugar que a energia que tinha acumulado ocupara. Voltei a ficar triste, cansado.

Voltei repentinamente as costas ao mar e voltei a correr para casa. Estava tão revoltado por não me conseguir controlar...

Assim que entrei no meu lar, corri para o meu refúgio e voltei a ficar com os olhos embaciados. Porquê? Porquê que o meu estado de espírito mudava sem prévio aviso? Não me sabia responder.

Foi um erro ter saído de casa.



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