Slow Life escrita por thetigas08


Capítulo 4
Capítulo 3 - Chegada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/144066/chapter/4

Depois de olhar pela janela do carro e passar mais de duas horas a ver trânsito, ouvir buzinas e ser penetrado por um desagradável fumo poluente que entrara para o carro através dos vidros semi-abertos, eis que apareceu uma placa que despertou o interesse de todos. Era azul com bordos brancos e nela podia ler-se, entre outras coisas, “Póvoa de Varzim 2Km”. Já faltava pouco.

Tudo o que sentia, desde ilusões, vontades e desejos, ou mesmo desilusões, tinha criado um grande peso no meu interior, tão grande, que se reflectira nos meus olhos. E eles, fracos de cansaço, foram-se fechando. Qual água fresca ou ruidoso despertar, aquela singela placa tinha poderes. Não poderes místicos ou divinos, mas poderes para me arregalar a visão e fazer sentir ânsia por momentos que se avizinhavam. Por uma vez sem precedentes senti-me desejoso da minha nova vida. Era um novo lar e uma nova cidade.

Aliada à minha repentina surpreendente ansiedade, guardava uma sensação de náuseas e tonturas. Talvez consequência de uma viagem longa e demorada, eu não me sentia lá muito bem. Abri um pouco mais o vidro e um vento gelado e forte invadiu-me a face e quase me pôs cego. Fui forçado a fechar o vidro por completo! Adorava vento…

Desiludido, olhei pelo vidro numa tentativa de perceber se ainda faltava muito. Queria sair do carro. Não acreditava no que estava a ver. Depois do vento que me causara arrepios e da passagem precedente por uma placa com capacidades incomuns, estava a ver uma cidade. Provavelmente tinha desmaiado. Aquele dia ficaria marcado por tudo, mas se algo se destacaria, isso seria sem dúvida a estupidez da minha reacção à reviravolta da vida. Um desmaio era apenas mais uma coisa estúpida. Mas não tinha sido isso, eu estava consciente, e se houvesse dúvidas quanto a isso, o meu pai tirou-mas.

- Bem-vindos à Póvoa de Varzim!

- Pai, não faças de porteiro. – resmungou o Nuno, felicíssimo pela chegada.

- E então, que estás a achar Diogo? – inquiriu-me a mãe, com um ar de quem tinha orgulho por regressar à terra natal. De facto eu ainda não tinha visto muito, mas a sua capacidade observadora já avaliara tudo.

- É… grande. – respondi.

A minha resposta teve uma capacidade destruidora máxima. Não fora estúpida, não. Desta vez ultrapassara qualquer limite. Caracterizar uma cidade como grande nunca me passara pela cabeça. Se cidades não fossem grandes, seriam vilas ou aldeias, mas o meu pobre e coitado cérebro precisava de descansar.

Aquela imagem não me saía da cabeça. Prédios erguidos do chão como colunas imponentes, ambulâncias que passavam a grande velocidade deixando para trás um som característico, pessoas de todas as idades sorrindo enquanto, em trajes típicos de dias quentes como aquele, se dirigiam para a praia e um monumento grandioso que aliava o poder de um touro á fragilidade algo sinistra de um ser humano decapitado. A Póvoa era algo diferente. Era uma cidade bonita afinal. Mas algo me deixou a pensar. Era um placar enorme com uma frase destacada a negrito. Nele podia ler-se “Póvoa de Varzim, é bom viver aqui!”.

E não me saiu da cabeça. A frase que apenas fazia parte de uma propaganda intensa ao turismo, em conjunto com tudo o que via, não passaria de uma técnica para alimentar ideias fantasiosas. Jamais seria possível encontrar um lugar melhor do que Nazaré para chamar de lar. Liguei a máquina da consciência e tentei cair em mim. Deixar-me ser manipulado logo da primeira vez, era uma atitude que me desolava (ainda mais) psicologicamente.

O meu pai fez um movimento brusco e estacionou o carro em frente a uma casa.

- Chegámos. - disse.

Mas quando seria que eu ia poder descansar e deixar de lado traumas repentinos como este. Eu estava a conseguir gerir bem a ideia de estar na Póvoa de Varzim, mas daí a me baterem com o conceito de chegada, vai uma grande distância. Bem, tinha de sair do carro, pelo menos, convinha.

Abri a porta e dirigi-me à mala do carro. Tentei não mostrar nem um pouco da pequena vontade que tinha de olhar para a casa e reparar como era. Seria errado demonstrar interesse em algo que não queria. Sem tirar os olhos da rua, pequei nas minhas malas e caminhei lentamente até ao portão. Era agora. Mais um passo e estaria na minha nova propriedade, aliás, propriedade da família Santos. A minha mãe pegou nas chaves, introduziu uma na fechadura, desandou-a e o portão abriu. Agora já não havia nenhum obstáculo. Então entrei e por uma primeira vez olhei a casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Slow Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.